& o vso de diuersas partes do Brasil sera o milhor mestre: o conceito de uso no pensamento linguístico de Anchieta

Leonardo Ferreira Kaltner,
Melyssa Cardozo Silva dos Santos

Resumo

Estudar as línguas indígenas é, de certa forma, apoiar as cauas sociais e políticas atuais dos povos originários. O artigo tem como objetivo debater o conceito de uso segundo o pensamento linguístico de José de Anchieta (1534-1597), a partir do texto Arte de gramática da língua mais usado na costa do Brasil (Anchieta, 1990 [1595]). O termo uso é registrado em diversos momentos em sua gramática que descreve a língua tupinambá empregada nas atividades de catequese intercultural da América portuguesa quinhentista. A fundamentação teórico-metodológica a ser empregada na pesquisa é a Historiografia da Linguística, conforme o modelo de Konrad Koerner (2014) e Pierre Swiggers (2019; Batista, 2019), em que temos como escopo a investigação do pensamento linguístico (linguistic thought) de Anchieta. Como resultado da investigação, encontramos a relação do emprego do termo uso na obra do missionário com concepções teológico-filosóficas e gramaticais que influíram em seu pensamento, o que denota o pensamento linguístico vigente na política missionária da América portuguesa do século XVI, em que a sua obra gramatical se situa.

Referências

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