A dissidência linguística: análise da tendência do termo “gênero neutro” no Brasil (2004 - 2022) no Google Trends

Robert Moura Sena Gomes

Resumo

Ao longo do tempo, as línguas sofrem variações e mudanças em seus diferentes aspectos. Partindo desse princípio linguístico, pode-se observar o papel importante que as pessoas exercem em suas realizações linguísticas e como questões sociais atravessam a língua, promovendo também alterações. Parte disso se dá, pois as pessoas passaram a ver a língua para além da comunicação, mas como uma instituição que as identifica e com a qual colocam suas lutas em prática. As pessoas não binárias, parcela da comunidade LGBTQIAP+, ao longo dos últimos anos, deram início às propostas de adição de uma terceira marca de gênero na língua, o gênero neutro, a qual vai além das identidades binárias masculino e feminino. Para a análise, contou-se com a ferramenta Google Trends, bem como com a Análise do Discurso Foucaultiana e a Linguística Popular para as reflexões. Nesta pesquisa, realizou-se um estudo sobre a tendência de buscas das pessoas brasileiras acerca do termo "gênero neutro", de modo que pudéssemos mapear e compreender como e quando o interesse por esse tema se iniciou em território digital no Brasil, considerando o período de 2004 a 2022. A pesquisa mostrou que, em 2006, o termo "gênero neutro" estava ligado ainda aos estudos comparativos e descritivistas da mudança do gênero neutro do Latim à Língua Portuguesa, interesse ainda limitado ao ambiente acadêmico. A partir de 2020, porém, a tendência mudou e as pessoas começaram a demonstrar interesse e pesquisa sobre "gênero neutro" nas propostas populares e dissidentes de neutralidade de gênero.

Referências

ALAGOAS. Projeto de Lei Ordinário nº 448, de 2020. Alagoas: Assembléia Legislativa do Estado de Alagoas, 2020. Dis-ponível em: <https://sapl.al.al.leg.br/media/sapl/public/materialegislativa/2020/6728/protocolo_20201215_124533.pdf>. Acesso em: 12 fev. 2022.

ALBURY, Nathan John. How folk linguistic methods can support critical sociolinguistics. Lingua. Vol. 199, 2017, p. 36-49, ISSN 0024-3841, Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.lingua.2017.07.008>. Acesso em: 15 dez. 2020.

ARNOULD, Antoine; LANCELOT, Claude. Gramática de Port-Royal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

BARONAS, Roberto; CONTI, Tamires. Notas sobre a Possibilidade de um Trabalho no

Carrefour Epistemológico entre a Linguística Popular e os Estudos do Discurso. Fórum

Linguístico. Vol. 16, Nº 04, 2019, p. 4285-4294.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37.ed. revista, ampliada e atualizada conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.

BÍBLIA, Mateus. IN: BÍBLIA.. Português. Bíblia Online. Disponível em:

<https://www.bibliaonline.com.br/acf/mt/12/31>. Data de acesso: 24 fev. 2022.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis-RJ: Editora

Vozes, 1970b.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. Problemas de lingüística descritiva. 10a. ed. Petrópolis-RJ: Editora Vozes, 1981.

CAMARA JR., Joaquim Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. 4a. ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1985.

CASALEGNO, Alberto. Ler os atos dos apóstolos: estudo da teologia lucana da missão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

COUTINHO, Ismael de Lima. Pontos de Gramática Histórica. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938.

DOSTOIEVSKI, Fiodor Mikhailovitch. Noites brancas. Brasil: Editora 34, 2005.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France. pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio.

ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.

GOMES, Robert Moura Sena. A língua pela qual se fala e da qual se fala: uma análise de alguns sentidos de língua em postagens do Linkedin. Revista da ABRALIN, [S. l.], v. 20, n. 2, p. 1–21, 2022. DOI: 10.25189/rabralin.v20i2.2018. Dispo-nível em: <https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/view/2018>. Acesso em: 20 nov. 2022.

GOMES, Robert Moura Sena. A língua pela qual se fala e da qual se fala: uma análise de alguns sentidos de língua em postagens do Linkedin. Revista da ABRALIN, v. 20, n. 2, p.

-21, 1 maio 2022a.

GOMES, Robert Moura Sena. Por uma linguística (mais) popular: a construção do gênero neutro como dissidência linguística. 2022. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2022b. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/16586.

GOOGLE TRENDS. Lesson 4: Understanding the data. How to interpret Trends results. 2021. Disponível em: <https://storage.googleapis.com/gweb-news-initiative-training.appspot.com/upload/GO802_NewsInitiativeLessons_Fundamentals-L04-GoogleTrends_1saYVCP.pdf>. Acesso em: 20 jan.2022.

LADARIA, Luis Francisco. O Deus verdadeiro. São Paulo: Edições Loyola, 2005.

LAROCA, Maria Nazaré de Carvalho. (1994). Manual de morfologia do português. Campinas: Pontes/UFJF.

LUFT, Celso Pedro. (1979). Moderna gramática brasileira. 3a. ed. Porto Alegre: Globo.

MACAMBIRA, José Rebouças. (1978). A estrutura morfo-sintático do português:

aplicação do estruturalismo lingüístico. 3a. ed. São Paulo: Pioneira.

MELO, Gladistone Chaves de. (1980). Gramática fundamental da língua portuguesa. 3a.

ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S/A.

PASSARO, Juliano. Tiktok campeão: Veja os 10 apps mais baixados no mundo em 2021.

IstoÉ Dinheiro, 2022. Disponível em:

<https://www.istoedinheiro.com.br/tiktok-campeao-veja-os-10-apps-mais-baixados-no-mundo-em-2021/>. Aces-so em: 20 mar. 2021.

PASSOS, J. A., VASCONCELLOS-SILVA, P. R., SANTOS, L. A. S. Ciclos de atenção a dietas da moda e tendências de bus-ca na internet pelo google trends. Cienc Saude Colet. 2020; 25(7):2615-31. Disponível em:

<https://www.scielo.br/j/icse/a/CsZrHQXHHzRGTMgYx8xKSpp/?lang=pt>. Data de acesso:

fev. 2022.

PAVEAU, Marie-Anne. Les normes perceptives de la linguistique populaire. Langage et

société. vol. 119, no. 1, 2007, pp. 93-109. Disponível em: <https://www.cairn.info/journal-langage-et-societe-2007-1-page-93.htm#:~:text=une%20appr

oche%20des%20faits%20langagiers,un%20troisi%C3%A8me%20terme%20%3A%20la%20

perception.>. Acesso em: 30 abr. 2021.

PAVEAU, Marie-Anne.; ESTEVES, Phellipe Marcel da Silva. Não linguistas fazem linguística? uma abordagem antie-liminativa das ideias populares. Revista de Estudos do Discurso, Imagem e Som - Policromias, v. 3, n. 2, p. 21-45, 2018. Disponível em:

<http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/118328>. Acesso em: 30 set. 2020.

PRESTON, Dennis Richard. Content-oriented discourse analysis and folk linguistics.

Language Sciences, 16(2), 1994, 285–331. doi:10.1016/0388-0001(94)90004-3.

RODRIGUES, Marlon Leal. (2004). Flexão nominal: Problemas de gênero e grau, algumas considerações. Ave Palabra (UNEMAT), 52-70. Disponível em: <https://revista.unemat.br/avepalavra/EDICOES/03/artigos/RODRIGUES.pdf>. Data de

acesso: 20 fev. 2022.

SAID ALI, Manoel. Gramática secundária e gramática histórica da língua portuguesa.

Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1965.

SANTOS, V. E. dos; PIRES, L. V. .; ROCHA, V. de S. Search trend on nutrition during

the COVID-19 pandemic in Brazil: Google trends results. Research, Society and Development, [S. l.], v. 10, n. 12, p. e507101220763, 2021. DOI:10.33448/rsd-v10i12.20763.

Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/20763>. Acesso em: 19 fev.

SÃO PAULO. Projeto de Lei nº 531, de 2021. São Paulo: Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, 2021a. Disponível em: <https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000382522&tipo=1&ano=2021>. Acesso em: 12

fev. 2022.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Estatísticas Eleitorais. [s.d.]. Disponível em:

<https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/estatisticas-eleitorais>. Acesso em: 19 fev. 2022.