A língua pela qual se fala e da qual se fala: uma análise de alguns sentidos de língua em postagens do Linkedin
Resumo
Ao longo dos séculos, as pessoas criaram conhecimentos acerca de diversos aspectos de suas vidas, desde sobrevivência e estilo de vida, até conhecimentos mais abstratos. A Língua, por sua vez, constitui não apenas o caráter de auxiliar na produção desses conhecimentos, mas passa também a ser objeto dessa produção. Nos tempos atuais, as redes sociais funcionam não apenas enquanto espaço digital de interação, mas também como espaço de produção de saberes e conhecimentos sobre a Língua, bem como espaço de perpetuação de determinados saberes em detrimento de outros. Este artigo analisou os sentidos de língua em publicações na rede social Linkedin de modo que pudéssemos observar como as pessoas desta rede produzem sentidos e significados sobre a língua em uma rede social voltada ao ambiente laboral. Pautamo-nos na Linguística Popular, segundo a qual todo conhecimento popular deve ser observado e integrado às análises linguísticas, não mais em caráter eliminatório, mas partindo de uma visão integracionista. Assim, foi possível identificar ainda um sentido de língua fortemente ligado à Gramática Normativa, visão esta que coloca em evidência a língua segundo as normas gramaticais e deixa de lado outras variantes. Além disso, um dos sentidos de língua observados foi o de língua enquanto aspecto importante para a acessibilidade no ambiente laboral.
Introdução
Em seu artigo, Constitution du langage en objet du savoir et traditions linguistiques, Jürgen Trabant (2008[2]) lança hipóteses sobre as razões que levaram o homem a estudar a linguagem. Trabant (2008[1,2]) nos mostra que a linguagem se tornou um objeto de saber quando surgem problemas em uma de suas finalidades, cognitiva e comunicativa. Diante disso, diversos conhecimentos de diferentes bases foram construídos sobre a linguagem - não apenas conhecimentos científicos. Além disso, estas produções, em tempos digitais, são diversas e multifacetadas, não apenas em relação à materialidade linguística, mas em sua forma de produção e circulação.
Na internet, as pessoas encontram não apenas um espaço de consumo de informação com as mais variadas formas, verbais ou não verbais, com usos sociais dos múltiplos gêneros textuais e discursivos, como artigos, resenhas, resumos, cartas, poemas etc, mas também tomam esse espaço enquanto espaço de produção de seu próprio conhecimento, impressões, opiniões e crenças.
Pensar nessas produções nos faz lembrar o papel que as redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e WhatsApp, desempenham nos tempos atuais - principalmente no contexto político e social. Mas é importante, para a prática científica, que lancemos olhar também sobre outras redes, como a rede social LinkedIn.
O LinkedIn é uma rede social voltada ao mundo laboral, visa conectar profissionais do mundo todo, das mais diversas áreas de atuação. Ele foi lançado em 2003 e, de acordo com informações de seu site oficial, possui mais de 774 milhões de pessoas registradas e se faz presente em mais de 200 países e lugares do mundo (LINKEDIN, 2021a)[1].
Conforme dito anteriormente, seu principal objetivo é “[...] conectar profissionais do mundo todo, tornando-os mais produtivos e bem-sucedidos” (LINKEDIN, 2021a[1]) e uma das formas mais comuns que permitem que pessoas passem a conhecer outras, é a publicação, que pode acontecer rapidamente. Esta opção é disponibilizada logo acima da linha do feed de notícias, ou seja, logo acima do espaço dedicado à apresentação de outras publicações realizadas por pessoas que determinada pessoa se conectou, com a frase “Começar publicação”, como nos mostra o destaque em vermelho na figura 1.
A funcionalidade permite que as pessoas possam produzir um texto (também chamado de “postagem”) sobre assuntos ligados ao mundo corporativo - esses textos podem variar de assunto, desde textos indicando vagas abertas e suas descrições, textos de pessoas que buscam oportunidades de trabalho, textos sobre experiências de trabalho e denúncias de experiências laborais de abuso, humilhação e descontentamento. Podem também variar de tamanho, o limite de caracteres para esta funcionalidade é de 3000 caracteres (LINKEDIN, 2021b[3]) e podem variar em seu conteúdo, podendo haver imagens, vídeos, documentos, hashtags, hiperlinks, marcação de usuários. Além disso, é possível criar enquetes, fazer comemoração de ocasiões, mostrar que se está em busca de algum especialista para determinado problema, bem como colocar-se à disposição das pessoas de sua rede.
Como podemos notar, a fácil localização desta funcionalidade faz com que a ação de compartilhar um texto, conforme descrito acima, com inúmeras finalidades, seja também rápida e fácil - e é por isso que esta funcionalidade se encontra na parte superior e de forma centralizada na página principal, ou feed de notícias. Com apenas um clique, a pessoa usuária pode dar início à confecção de seu texto e compartilhar suas ideias, opiniões, experiências e muito mais.
Essa facilidade de compartilhamento não é uma atividade trivial, sem intenções ou, no mínimo, sem impacto. Quando se publica algo, consequentemente, espera-se que este conteúdo, que este discurso atinja outras pessoas. Assim, entendemos cada publicação como discurso, ou seja, “longe de ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a política se pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis poderes” (FOUCAULT, 2014, p. 9[4]).
1. A linguística popular: alguns conceitos e explicações
Existe um prec(onc)eito acerca das produções de conhecimentos: a produção científica detém o estatuto de verdade, enquanto, por exemplo, a produção popular (de pessoas não especialistas) é indeferida e tida como produção da simples opinião e externa à ciência. Essa forma de olhar para essas produções acaba por criar uma hierarquização entre estes saberes.
A linguística, enquanto área científica, não fica de fora - principalmente quando consideramos os estudos que caracterizaram seu estatuto de ciência, os estudos saussurianos. Ferdinand de Saussure é comumente considerado o pai da linguística moderna e sua teoria, presente na obra Curso de Linguística Geral (CLG) (2012[5]), serviu de base para a linguística alcançar este estatuto. É mais do que sabido que o CLG (2012[5]) opera dicotomias para descrever aspectos da Teoria Saussuriana sobre a língua e linguagem, como: “langue” e “parole”, “significante” e “significado”, “paradigma” e “sintagma”, “imutabilidade” e “mutabilidade” e o par “sincronia” e “diacronia”, e isso se deve, principalmente, pela preferência de um dos lados, ou seja, “langue”, “significante”, “paradigma”, “imutabilidade” e “sincronia”, considerados os mais estáveis, menos passíveis de atualização e, portanto, centrais para a linguística moderna. Destarte, houve um funcionamento também discursivo para caracterizar estes elementos como “verdadeiros” na área da linguística (enquanto sociedade)1:
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[...] isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro (FOUCAULT, 1979, p.12[6]).
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Sem sombra de dúvidas, escolher elementos mais estáveis foi essencial para dar à linguística seu estatuto de ciência, mas, ao passo que se prefere uns, acaba-se preterindo outros: dessa forma, concomitantemente, criava-se uma visão de segundo plano para estudos linguísticos que pretendiam abordar aspectos ligados ao segundo item desses pares - tidos, portanto, numa relação de oposição.
Outro aspecto da teoria de Saussure (CLG, 2012[5]) alvo de críticas, foi a inconsciência dos “indivíduos” frente ao “sistema linguístico”, uma vez “que os indivíduos, em larga medida, não têm consciência das leis da língua; e, se não as percebem, como poderiam modificá-las?” (SAUSSURE, 2012, p. 113[5]). Este pensamento que fundou a linguística apresenta a língua quase como independente das pessoas, como um objeto de estudo que vai além das pessoas. Nesta concepção, a língua é imperceptível e as pessoas falantes não teriam porquê e nem como refletir acerca da sua língua, devido o fato de que uma língua constitui um sistema e, segundo Saussure (2012, p. 113[5]), "este é o lado pelo qual a língua não é completamente arbitrária e no qual impera uma razão relativa, é também ponto em que avulta a incompetência da massa para transformá-la [...]".
Contudo, quando observamos as ideias linguísticas ao longo do tempo, é possível que, graças ao desenvolvimento de pesquisas, por meio do desenvolvimento de novas teorias e métodos para a observação dos aspectos concernentes à língua e linguagem, são produzidas novas formas de lançarmos olhar sobre estas produções, dentre elas, temos a recente área chegada ao Brasil, a “Folk Linguistics/Linguística Popular” (LP)2.
A abordagem saussuriana ainda faz parte dos estudos linguísticos, principalmente no que concerne à produção popular sobre os aspectos linguísticos, em outras palavras, vemos a produtividade do pensamento saussuriano ainda nos dias de hoje - o que reafirma a máxima de que “o passado informa continuamente o presente” (ALTMAN, 2003, p. 32[7]). Nesta esteira, a tendência em se tomar o conhecimento popular sobre a língua e linguagem como errado e inválido se pauta também na sua carência “[...] de fundamentação científica” (BARONAS e CONTI, 2019, p. 4286[8,9]).
De acordo com Paveau (2018[10]), em resumo, podemos caracterizar o conhecimento popular de 3 (três) formas: (1) são teorias falsas e o conhecimento popular não possui ou presa pela verdade objetiva e, devido a isso, não é um dado válido ou importante e deve ser desconsiderado; (2) ainda que falsas, são importantes para que se possa observar a relação que se estabelece entre as pessoas e a linguagem, contudo, não devem ser vistas como uma teoria da linguagem, sendo “[...] admissível como uma descrição perceptual e organizadora da linguagem [...]” (PAVEAU, 2007, p. 105, tradução nossa[11]) e (3) são teorias verdadeiras, ou seja, devem ser analisadas enquanto o que são e com suas diferenças, visão que se coloca enquanto favorável aos conhecimentos populares e que propõe a inserção desses dados na análise da ciência linguística. Ademais, Paveau (2007, p. 105, tradução nossa) indica que "estamos nos movendo para uma concepção prática e não mais lógica da verdade: há um conhecimento linguístico que independe de suas propriedades científicas e esse conhecimento tem um tipo de operacionalidade”. Partilhamos aqui, portanto, desta última forma de concepção sobre as produções populares sobre língua na rede social LinkedIn.
A Linguística Popular ocupa um papel importante na ciência e reforça um paradigma linguístico: a inserção das produções populares nos estudos científicos da linguagem não mais de forma comparativa e oposta, mas por meio de uma visão de “[...] continuum entre aqueles que fazem da linguística uma ciência una e aqueles que não” (PAVEAU, 2018, p. 25[10]). Além disso, a LP também possui seu estatuto de ciência militante, uma vez que, ao longo do seu desenvolvimento, por meio de sua metodologia e análises, busca e acaba por empoderar as pessoas que falam e refletem sobre sua língua e linguagem, bem como suas produções.
A partir dessa visão de continuum, a LP “[...] tem permitido análises das mais variadas e abordagens pertinentes às muitas formulações de teorias espontâneas e ordinárias sobre a linguagem” (GONÇALVES, 2021, p. 3[12]), uma vez que se abandona a ideia e a visão de hierarquia entre os conhecimentos e passa-se a olhá-los cada um à sua maneira, a partir de sua circulação e, mais importante ainda, nos permite integrar um conhecimento a outro, não mais um em detrimento do outro, deixa-se de lado o pensamento positivista e passa-se a integrar o conhecimento popular nas análises linguísticas (PAVEAU, 2018[10]). No Brasil, a LP tem sido abordada em diferentes análises, como em Baronas (2021[13]), Baronas; Coelho; Almeida (2021[14]), Baronas; Conti (2021[15]), Baronas; Cox (2019; 2021[15]) e Baronas; Gonçalves; Santos (2021[16]).
Vale destacar que a LP não propõe que ambos os conhecimentos sejam iguais em sua produção e circulação ou, ainda, que o conhecimento popular é igual ao conhecimento científico. Para a LP, não se trata de conferir a validade ou não validade de um conhecimento, “não é se o que as pessoas afirmam saber é correto ou confiável de qualquer perspectiva positivista que centraliza a autoridade do conhecimento [...]” (ALBURY, 2017, p. 39, tradução nossa[17]). A LP deseja, assim, “[...] compreender o pensar popular sobre sua língua e linguagem” (PRESTON, 1994, p. 185, tradução nossa[18]).
Partindo desse princípio, nos parece importante e necessária a análise e compreensão de relatos, impressões e discursos sobre a "língua" através de algumas publicações na rede social Linkedin.
2. Os sentidos de “língua” em publicações do LinkedIn
Tomamos como objeto de estudo e análise as publicações na rede social LinkedIn sobre língua, de modo que possamos observar, nas postagens selecionadas, alguns dos sentidos de língua que são produzidos e que circulam na rede. Para que pudéssemos realizar nossa busca na rede social, foi preciso realizar o login em uma conta, caso contrário, não poderíamos ter acesso ao conteúdo e à rede social como um todo. Apesar disso, a busca permite que tenhamos acesso a qualquer publicação de qualquer pessoa, ou seja, não é preciso estar conectado3 a alguém para ter acesso àquele texto. Ademais, ainda que não se faça parte da rede social, através do link da publicação, qualquer pessoa pode acessá-la, apesar de não poder interagir, como reagir ou comentar.
Para a seleção das postagens, utilizamos como termo de busca “língua”, por se tratar de um termo mais geral. Filtramos a pesquisa por “Publicações”, de modo que tivéssemos acesso apenas aos textos compartilhados no feed de notícias e classificamos o resultado por “Mais relevantes”, de forma que tivéssemos acesso às postagens com mais interações, comentários e impacto. Outras exigências foram: a seleção dos textos em Língua Portuguesa de origem brasileira, pois o intuito era observar os sentidos de língua de pessoas brasileiras que não pertencem ao campo da Linguística, pois pretendemos observar os discursos de “não linguistas”4, ou seja, de pessoas cuja formação não fosse no campo linguístico. Para isso, pudemos filtrar pelo próprio perfil da pessoa que realizou a postagem, de modo a entender se ela se enquadra nestes dois últimos aspectos.
A busca inicial resultou em 644 publicações, mas selecionamos apenas as 3 primeiras publicações (de “Maior relevância”). Os textos selecionados e algumas informações sobre eles são apresentados na Tabela 1, todos foram publicados no mesmo ano, em 2021, e possuem apenas uma pessoa como autora. Para esta análise, foi importante considerarmos a profissão dessas pessoas, primeiramente porque nosso intuito é observar os sentidos de “língua” produzidos em postagens de pessoas não linguistas e, em segundo lugar, a partir da teoria da LP, as posições das pessoas que produzem conhecimentos sobre a língua também carregam e produzem sentido.
Título da publicação/ legenda | Ano da publicação | Nome da pessoa autora* | Profissão da pessoa autora |
“Ser fluente e português é uma necessidade profissional” | 2021 | M.G. | Influencer, Escritor e Palestrante |
"Inclusão. Sim há cargos que são necessários mas não todos. E nem para todas as empresas." | 2021 | G.V. | Headhunter |
"Muitos candidatos perdem o #emprego dos sonhos por causa deste motivo!" | 2021 | J.F. | Especialista em Recolocação Profissional e Desenvolvimento de Carreira, Consultora RH e LinkedIn, Psicóloga, Master Coach e Orientadora de Carreira e Palestrante |
A primeira postagem (FIGURA 2), Ser fluente em português é uma necessidade profissional, de M. G., obteve, até o momento desta pesquisa5, 4059 reações - sendo 3634 “Gostei”, 194 “Amei”, 181 “Parabéns”, 44 “Apoios”, 28 “Genial” e 4 “Interessante”, e 181 comentários. As reações produzem informações importantes em uma postagem: (1) é uma das formas da pessoa autora saber qual a visão das pessoas que leram sua publicação6; (2) é uma forma da pessoa que curte a publicação interagir com a outra e sua postagem e, além disso, este segundo ponto tem como consequência (3) a aparição da interação de determinada pessoa para outras pessoas de sua rede, ou seja, quando uma pessoa interage em determinada publicação, seja por meio do botão de reações ou por comentários, aquela publicação passa a ser sugerida às outras pessoas que têm ligação com esta que interagiu, o que faz com o alcance da publicação original vá além das conexões da pessoa autora, dessa forma, outras pessoas da rede poderão ler e interagir por meio das reações e ou comentários.
Tratando-se do LinkedIn, a rede social não dispõe de botões de reação que demonstram ou indicam discordância da publicação, diferentemente, por exemplo, da rede social Facebook, a qual dispõe das reações “Grr” e “Haha” - a reação “Grr” utiliza a onomatopeia “grr” que marca na escrita a representação sonora que indica uma irritação ou braveza de alguém frente à determinada situação e conta com um emoji com feições de “irritado”, já a reação “Haha”, apesar de seu tom e uso risório e bem humorado, contendo também o uso de um emoji dando risada, pode ser usada também com intuito de ironizar ou rir de um absurdo, como uma postagem com uma opinião oposta.
A não disponibilidade de uma ou mais reações com intuito de demonstrar desaprovação ou discordância tira das pessoas que discordam a possibilidade de uso desta opção para a expressão de sua visão - como podemos observar, não existe uma obrigatoriedade ou implicação entre “reagir” e “comentar”, caso contrário, além de 4059 reações, a postagem receberia o mesmo número em comentários. Podemos observar essa falta como uma estratégia, como uma forma de “interdição” digital. Foucault (2014, p. 9[4]) define a “interdição” como um “procedimento de exclusão”, “[...] que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa”. No caso das publicações no LinkedIn, não é possível e permitido demonstrar a expressão de desacordo por meio de uma reação específica no botão, quem pode “dizer” por meio do botão de reação é apenas quem “gostou”, “amou”, “aplaudiu”, “apoiou”, achou “genial” ou achou “interessante”. Esta falta é uma das formas de interdição digital, a qual permite e incentiva certas reações, as amistosas - uma vez que coloca à disposição diversas reações que demonstram concordância, mas que não possibilita outras, as de discordância, já que não disponibiliza botão de reação para isso. Assim, outro efeito possível desejado é que, ao permitir reações positivas, consoantes à postagem, inibe-se também comentários contrários à postagem.
Obviamente, existem comentários em dissonância, mas, ao passo que o efeito da disponibilidade de reações positivas é também gerar comentários positivos, a falta de opções de reações negativas pode gerar o efeito de não haver comentários com opiniões que destoam da publicação. Este funcionamento não está descrito na rede ou em sua política de participação, mas circula de maneira mais pragmática, como um conhecimento prévio, uma vez que vai de encontro às convenções sociais de bom relacionamento. É um conhecimento acumulado da vida em sociedade e que se replica nesta e em outras redes sociais, inclusive as não virtuais - de formas iguais ou diferentes.
Para as pessoas que burlam esse funcionamento, a única opção que resta é comentar - ação esta que pode trazer opiniões diversas, contudo, por se tratar de uma rede social ligada ao ambiente laboral, evita-se qualquer manifestação contrária ou muito incisiva, funcionamento que vai de encontro aos discursos com tom pacificador no ambiente de trabalho, como “é preciso manter o ambiente de trabalho amistoso”, “críticas são bem-vindas, mas têm de ser bem elaboradas” ou, então, “resolva as questões de opinião e discordância entre si, de forma privada”.
Outra informação importante para a maior circulação desta publicação em relação às outras é que se trata de uma figura pública, alguém já conhecido pela sociedade brasileira - principalmente por sua participação na apresentação de quadros televisivos do programa Fantástico, exibido pela emissora Rede Globo. O programa foi inicialmente uma revista eletrônica de variedades, com início em 1973, tendo como duração, 2 horas (MEMÓRIA GLOBO, [s.d][19]). M. G. é autor de 22 livros, suas obras são de temas diferentes, alguns livros falando sobre trabalho, outros sobre sua carreira e outros dois com temas ligados à prescrição e usos da Língua Portuguesa, como Big Max: vocabulário corporativo (Editora Negócios), de 2002, e Quem mexeu no meu trema (Editora e-galáxia), de 2018.
Assim, quando uma pessoa famosa passa a fazer parte de redes sociais, sua interação com a rede passa a ser mais intensa e mais acompanhada pelas outras pessoas, assim, acaba-se reforçando que não é qualquer pessoa que pode falar ou publicar e obter alto número de interações e comentários, ou, ainda, que não é qualquer publicação de qualquer pessoa que será lida, que receberá reações e comentário, muito menos será compartilhada, demonstrando-se assim o procedimento de exclusão (FOUCAULT, 2014[4]).
O autor inicia seu texto dizendo que “ser fluente em português é uma necessidade profissional”, ideia esta que relaciona o domínio de uma língua ao fato de ser “fluente” e, consequentemente, ser “fluente” não é se comunicar e ser entendido, mas é se comunicar com determinada variante de prestígio. Além disso, considerar alguém fluente é uma característica que se atribui, normalmente, ao contexto de aprendizagem de uma língua estrangeira, ou seja, que não seja a língua materna. Dessa forma, o autor cria o sentido de que não basta saber se comunicar em Língua Portuguesa, é preciso saber como se comunicar em Língua Portuguesa, mas não com qualquer variante.
Quando traz o sintagma “E não basta contar com o corretor automático para revisar o currículo”, o autor retoma o sentido gramatical normativo de língua, uma vez que corretores automáticos são produzidos de modo a avaliar as produções escritas no ambiente digital e sugerir melhorias a partir das regras da gramática normativa - ainda que com muita dificuldade. Quando diz que “[...] um jovem, com diploma de curso superior e bom currículo, pode perder uma oportunidade de emprego simplesmente por não se expressar bem no próprio idioma.”, o autor retoma um sentido de língua que segue normas, como o sentido descrito na Gramática Normativa da Língua Portuguesa, “[...] que, em determinada época, representam o ideal da expressão correta” (LIMA, 1972, p. 38[20]). Além disso, o linguista popular, ou seja, esta pessoa sem formação linguística, mas que também se coloca enquanto “linguista amador”, “escritor"8, coloca o saber gramatical como sendo tão ou mais importante que os conhecimentos e formações acadêmicas que determinada pessoa detém. Ocupa, portanto, uma posição de alguém que descreve o funcionamento enunciativo da língua, mas que prescreve uma variante.
Quando pensamos no contexto das pessoas que têm acesso à formação superior no Brasil e que, suposta e imaginariamente, detêm a língua de prestígio, pensamos em pessoas com poder aquisitivo significativo. Aqui, o autor não considera aspectos políticos e sociais como decisivos para o acesso educacional formal e de base, então, acaba, sem intenção, também trazendo à tona uma injustiça social: às pessoas pobres, restam os trabalhos braçais e poucos disputados, já que não possuem meios e formas propícias para que estudem e busquem qualificação, bem como posições de trabalho de prestígio e bem remuneradas. Em certa medida, este é o medo que o autor vem avisando a este “jovem” com “diploma de curso superior e bom currículo”, que está em busca de emprego e que, para tanto, precisa saber falar a variante dita “culta” da Língua Portuguesa.
Aqui, nesta publicação, a “língua” que é regida pelas normas gramaticais recebe a função de abrir portas para o mercado de trabalho e pode se tornar “[...] um empecilho para sua carreira”, caso a língua escrita da pessoa trabalhadora não obedeça aos conhecimentos gramaticais - problema também estendido à performance oral, por meio da língua falada. Assim, a postagem expõe a realidade do mercado de trabalho e um funcionamento e sentido de “língua” ligado ao ambiente profissional: a necessidade de dominar o funcionamento da língua escrita que é prescrita pela gramática normativa e valer-se destas regras para sua língua oral.
A segunda postagem selecionada (FIGURA 3) foi produzida por G. V. e, por sua vez, recebeu 7.572 reações - totalizando 6.697 “Gostei”, 367 “Amei”, 351 “Parabéns”, 100 “Apoios”, 29 “Genial” e 28 “Interessante”, além de 217 comentários. Diferentemente da primeira postagem analisada, esta não foi produzida por uma pessoa que ocupa um lugar de destaque na mídia brasileira e, apesar disso, recebeu um número maior de reações, cerca de 53% a mais de interações por meio das reações. Uma explicação possível se deve ao fato do teor da postagem, ou seja, por se tratar do uso de palavras em Língua Inglesa no ambiente laboral - hoje, é muito comum encontrarmos vagas de trabalhos, de todos os níveis de formação e áreas, que exigem a Língua Inglesa para poder concorrer à vaga9. Tanto a postagem anterior quanto esta retratam o uso da língua no ambiente de trabalho, com o diferencial de que, enquanto a primeira fala sobre a Língua Portuguesa, a segunda também o faz, mas aborda também a Língua Inglesa.
Nesta postagem, diferentemente da anterior, a autora propõe o uso de uma “língua” mais acessível, uma vez que nem todas as pessoas brasileiras possuem oportunidades e condições financeiras de estudar outra língua - principalmente tratando-se do Inglês. Como nos mostra Pennycook (2004[21]), a Língua Inglesa pode funcionar como obstáculo para o acesso de posições mais prestigiadas e, além disso, é utilizada como instrumento para a criação e manutenção da exclusão de pessoas menos favorecidas na sociedade, no mundo acadêmico e no espaço laboral.
Essa acessibilidade se encontra no uso e na preferência de uso de jargões em Língua Portuguesa, justamente por considerar que o acesso educacional, de forma específica, o acesso ao conhecimento e estudo de outras línguas, não é garantido de forma igualitária. Dessarte, utilizar jargões e termos do mercado de trabalho em Língua Portuguesa é permitir que, se não todas as pessoas, a maioria possa se inteirar do assunto e, mais importante, da vida em sociedade.
A postagem vem acompanhada de uma imagem em tons de roxo, de modo a trazer exemplos de jargões utilizados em Língua Inglesa: call, job, deadline, budget, meeting, case, briefing e mindset - respectivamente, em Língua Portuguesa “ligação”, “trabalho”, “prazo”, “orçamento”, “reunião”, “projeto”, “roteiro” e “mentalidade”. As palavras em Língua Portuguesa aparecem em tons mais fortes, em negrito, de modo a reforçar a postagem da autora: a “utilização de termos em inglês pode excluir muitas pessoas. Por mais termos profissionais em português!”, ou seja, a inclusão no ambiente laboral brasileiro vem também com o uso de termos em Língua Portuguesa. Além disso, podemos observar também como uma atitude que vê sua língua, a Língua Portuguesa, com certo preciosismo no ambiente laboral.
A linguista popular, que também ocupa uma posição de falante engajada (PAVEAU, 2018[10]), evoca e cria uma política linguística, a política do acesso, da compreensão. Dessa forma, o sentido de “língua” abordado nesta publicação é a utilização do Português no ambiente profissional, uma vez que, por se tratar do contexto brasileiro e uma de suas Línguas Oficiais ser a Língua Portuguesa, a maioria das pessoas podem se comunicar e compreender umas às outras. Ela demonstra um saber linguístico profundo e que vai de encontro aos princípios da Linguística: saber uma língua é, acima de tudo, compreender e ser compreendido.
A postagem de J. F. recebeu (FIGURA 5), ao todo, 63 reações, sendo 56 “Gostei”, 3 “Apoio”, 2 “Amei”, 1 “Interessante” e 1 “Genial” - sem nenhuma reação do tipo “Parabéns”, além de 25 comentários em sua publicação. Com um sentido muito próximo da primeira postagem analisada, a autora trabalha também com um sentido de “língua” ligado às oportunidades, no caso da dominância de determinada variante, e, caso contrário, com a perda de uma oportunidade muito esperada. Entretanto, diz que “dominar uma segunda língua, ou até mais, é um diferencial e, eu diria, inclusive, uma necessidade em alguns casos”, mas, diferentemente da Língua Portuguesa, não descreve o que seria dominar uma língua estrangeira. Este sentido de dominância das regras gramaticais acaba se estendendo à segunda língua, à Língua Inglesa, uma vez que seu texto vai de encontro com os discursos mais puristas em relação à língua.
Parece ser óbvio imaginar que o ambiente corporativo exige o conhecimento prescritivo da língua, e este sentido acaba se estendendo também para a vida em sociedade, inclusive na rede social. Contudo, ao passo que defende o uso do saber gramatical, a autora também estende às redes sociais e demais etapas da vida profissional quando diz que “desde a análise do seu #currículo até o primeiro contato pelo telefone, o recrutador já está avaliando esse critério. E segue observando sua linguagem na #entrevista e demais etapas do processo seletivo”. É como se a pessoa recrutadora, no momento de seleção de pessoas para determinada vaga, passasse a ser o oráculo da língua, a consultora do dito saber maior: o saber normativo gramatical - afinal, “o mau uso da língua mãe, o português, pode ser um fator de reprovação de um deles”. Ela passa a ocupar um lugar discursivo de “Preparadores-revisores-redatores”, ou seja, de alguém que sugere “descrições e prescrições (incluindo correções)” (PAVEAU, 2018, p. 27[10]).
Concomitantemente, a autora se coloca como porta-voz deste saber, como a figura sábia que aconselha e traz ajuda para os momentos difíceis, uma vez que deseja “[...] ver [as pessoas do LinkedIn e que leem e interagem com a postagem e que contam com seus serviços de consultoria] performando bem nos processos [...].”. Essa posição se reforça à medida que tomamos outras informações, como sua posição de “Especialista em Recolocação Profissional e Desenvolvimento de Carreira”. Desse modo, atua não somente enquanto especialista em uma área profissional, mas também como especialista na língua.
No início de seu texto, a linguista popular traz a Língua Portuguesa em comparação com outra língua estrangeira, mas, enquanto a língua estrangeira é colocada como “[...] uma necessidade em alguns casos”, o domínio da Língua Portuguesa, a partir da gramática normativa, é posto como sendo uma obrigação, ou seja, é “[...] nosso dever dominar o nosso idioma!”. Dominar a Língua Portuguesa da gramática normativa é uma questão de status e até mesmo de patriotismo, saber a língua da gramática é quase uma garantia de bom profissional e de entrega de bons resultados, afinal, “[...] um profissional com sérios problemas de português [...] estará vendendo não só a sua imagem, mas a da empresa.”. Aqui, o saber normativo gramatical é posto como uma característica que valida e chancela os demais saberes de determinada pessoa, esse saber hierarquiza o bom profissional e a boa empresa. Em outras palavras, saber a “boa língua” é também ter boas intenções e qualidades, saber a “boa língua” caracteriza uma pessoa de “bons valores” e “boa índole”.
De modo a exemplificar sua postagem, a autora compartilha seu texto junto a uma imagem (FIGURA 6) que traz a figura masculina em uma posição de recrutador, numa posição de poder e de sabedoria - esta última caraterística é representada pela falta de cabelos do homem, o que indica o passar dos anos e, com eles, a suposta chegada da sabedoria e da experiência. Traz também a figura de uma mulher jovem com lábios grandes, cabelos encaracolados, com cílios alongados, grandes seios e usando um vestido rosa para ilustrar a figura de uma pessoa mais jovem e que se preocupa mais com sua aparência do que o saber gramatical de língua. Ela, por sua vez, se encontra numa posição de submissão em relação ao homem, mas não somente em uma submissão que retoma e atualiza a relação de poder entre os gêneros binários masculino e feminino, mas também numa submissão em relação às suas competências linguísticas.
Nessa imagem, não há a indicação do tipo de vaga que a figura feminina está pleiteando, ela funciona como uma cena genérica e não indica se a posição desejada por ela exige os padrões gramaticais socialmente construídos. Aqui, mais uma cena em que o saber gramatical, o qual está associado ao uso da língua escrita em um contexto formal de enunciação, passa a ser cobrado como norteador para a língua falada, ainda que, como nos mostra Marcuschi (1997, p. 120[22]), “a fala [seja] adquirida naturalmente em contextos informais do dia a dia [e] a escrita, em sua faceta institucional, se adquire em contextos formais: na escola.”. Assim, por ter sua origem em um ambiente de saber, no ambiente escolar, é que o domínio da língua escrita recebe o desejo “[...] prestigioso como bem cultural desejável” (MARCUSCHI, 1997, p. 120[22]).
Além disso, não haveria motivo algum para que o entrevistador fizesse a pergunta “E o português?” pois, até o final da primeira resposta da candidata, ela não cometeu desvios gramaticais do ponto de vista normativo, contudo, sua imagem de zelo e cuidado com o corpo o faz pressupor que ela se preocupa mais com sua aparência do que com seus conhecimentos e sua língua, além de que, ainda que fale de acordo com o conhecimento normativo, não poderia sustentar este conhecimento por muito tempo, como mostra a fala no segundo balão da personagem feminina e o uso excessivo do ponto de exclamação, “Aí varêia!!!”. O uso excessivo de ponto de exclamação é utilizado como reforçador e enfatizador da suposta falta de conhecimento normativo ou da fraqueza em sustentar este saber, além do verbo “variar” estar conjugado como “varêia”, considerada gramaticalmente como flexão “errada”, sendo a forma correta “varia”.
Apesar da autora da postagem ser também uma mulher, ela passa a ocupar este lugar social de poder e de dominância da língua da gramática normativa que, na figura junto à sua publicação, é materializada na figura masculina. Em certa medida, ela quebra com esse lugar social estabelecido de submissão e passa a ter a intenção de ajudar as pessoas que se encontram na mesma posição que a figura feminina da imagem, na busca de emprego e, supostamente, com pouco domínio da Língua Portuguesa. Entretanto, ela reforça a necessidade de se dominar a língua da gramática normativa. Isso também nos mostra que, ainda que se passa a ocupar lugares historicamente atribuídos a uns, homens brancos, cis, heteronormativos e de classe social favorecida, o discurso purista em relação à língua tende a se manter. Assim, o sentido de língua é o sentido gramatical normativo e apenas com o domínio completo desse saber, o qual deve ser posto em prática a todo momento, “desde a análise do seu currículo [...]”, que poderá ser lançado um encanto sobre a pessoa recrutadora. Dessa forma, dominar uma língua é também utilizá-la a seu favor, mas, antes de tudo, é uma “experiência”.
3. Conclusão
A língua recebe não apenas definições teóricas, mas recebe também sentidos atribuídos pelas pessoas que a utilizam, diariamente, em todos os âmbitos e espaços sociais, principalmente quando consideramos os espaços virtuais, como as redes sociais. Dessa forma, parece importante e urgente que a linguística continue a observar essas construções, as quais também significam e devem ser incorporadas à análise linguística.
Quando observamos os sentidos que “língua” recebe em algumas postagens da rede social LinkedIn, voltada às relações virtuais de trabalho, alguns sentidos já construídos ao longo da história e na sociedade são retomados, como a preferência pela língua prescrita pelas gramáticas normativas. Esses dizeres, por sua vez, são movimentados de modo a fazer com que pessoas que pleiteiam vagas de trabalho e que passam por entrevistas de emprego utilizem esta variante de língua não apenas em documentos e produções escritas, mas também em suas interações orais. Assim, este sentido gramatical de língua funciona como determinante para a aprovação, no caso da pessoa candidata usar a língua prescrita pela gramática, ou reprovação, caso os aspectos gramaticais não sejam utilizados desde o primeiro momento de candidatura às vagas de trabalho.
Além disso, esse sentido é construído também junto a outras imposições sociais, como as relações de poder entre os gêneros binários masculino e feminino, nas quais a figura masculina, heteronormativa, branca e classe média, é geralmente utilizada como alguém que detém não apenas o conhecimento gramatical, mas a capacidade para avaliar as competências profissionais e linguísticas de pessoas candidatas. Ademais, retoma a construção social de submissão feminina em relação à figura masculina não apenas em relação às vestimentas e à apresentação visual, mas também enquanto submissa frente às suas competências e habilidades linguísticas, a partir do suposto baixo conhecimento e prática gramatical. Este preconceito linguístico é observado não apenas em publicação de autoria masculina, mas também em publicação de autoria feminina, na qual rompe-se apenas com os papéis socialmente atribuídos e qualificados como ser capaz e experiente na vida profissional, mantendo-se e atualizando-se o saber gramatical como mais importante no mercado de trabalho.
Outra atribuição de “língua” é movimentada: a utilização da Língua Portuguesa no ambiente de trabalho como forma de acessibilidade, como forma de tentativa de garantia de compreensão mútua de todas as pessoas que utilizam o espaço de trabalho. Essa prescrição de intervenção cria uma política linguística popular, a de uso de uma língua enquanto garantia de acessibilidade e compreensão, a Língua Portuguesa, e o abandono das barreiras que podem surgir com o uso da Língua Inglesa no ambiente de trabalho, uma vez que nem todas as pessoas que trabalham em um mesmo ambiente possuem condições de acesso escolar e acesso aos estudos de outras línguas, no caso da postagem, a Língua Inglesa. Esta política linguística popular não foge dos conhecimentos científicos na linguagem, como vemos em Pennycook (2004), por exemplo.
Dessa forma, esses dizeres circulam e se atualizam à medida que a rede social LinkedIn coloca à disposição das pessoas usuárias algumas funcionalidades, muito parecidas com outras redes sociais, como o botão de reação e a opção de comentários. Além disso, certos dizeres são estimulados através dessas opções de interação, o que induz as pessoas que utilizam a rede social às reações em concordância com o teor da postagem a comentarem, reagirem e compartilharem, enquanto outros dizeres são desestimulados, aqueles em que há a dissonância, a discordância da publicação.
Integrar, cada vez mais, o conhecimento popular às análises de linguística permite à ciência acessar os conhecimentos populares e entender o funcionamento e a importância que a língua possui para a vida em sociedade, em sua forma diversa e em meios plurais. Permite que passemos a observar as pessoas não de forma passiva ou como se estivessem para além dos saberes linguísticos. Dá mais oportunidades para que a ciência discuta aspectos práticos e que auxilie também na promoção de uma reflexão ampla - que gere desde análises que mostram o funcionamento preconceituoso e discriminatório na língua e sobre a língua, até mesmo análises que nos mostram que as pessoas possuem também conhecimentos que estão alinhados ao saber científico e que promovem ações e saberes que visam o extermínio de desigualdades sociais que se materializam na língua e falam também sobre a língua.
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