Notas sobre a gramaticalização de conectores causais x-que
Resumo
Este artigo investiga a gramaticalização de três conectores causais formados a partir da associação de uma base léxico-gramatical ao item que: já que, posto que e visto que. Para tanto, adota uma perspectiva funcionalista de análise, que, pautando as relações entre estrutura e usos linguísticos, concebe a gramática como um sistema variável e emergente. Com base em dados recolhidos de uma amostra longitudinal, identifica os principais mecanismos que atuam na gramaticalização desses conectores, quais sejam, reanálise, analogia, metáfora e metonímia. As análises apontam para uma relação complementar entre os mecanismos cotejados, que, no caso dos elementos em pauta, operam tanto na dimensão da forma quanto na dimensão do significado, corroborando a natureza complexa dos processos de gramaticalização.
Introdução1
Na perspectiva funcionalista, os estudos de gramaticalização têm se mostrado bastante profícuos para a compreensão de mudanças nos níveis morfossintático e semântico-pragmático. Nesse ramo de investigação, destacam-se trabalhos que abordam (re)arranjos no paradigma de conectores em diferentes línguas (KORTMANN, 1997; BARRETO, 1999; WANG; HUANG, 2006; FAGARD, 2009; RODRIGUES, 2018). Alinhados a uma visão cognitivo-funcional da linguagem (BYBEE, 2010), esses trabalhos descrevem, em perspectiva sincrônica e/ou diacrônica, processos responsáveis pela emergência de novos (usos de) itens linguísticos que podem atuar no domínio da junção intra- e interoracional.
O presente estudo, de caráter qualitativo, pauta-se pelo método diacrônico (COSERIU, 1979)2 para aventar e discutir hipóteses explicativas sobre a gramaticalização de conectores causais do tipo x-que. Tais conectores, na medida em que são formados pela integração entre uma base léxico-gramatical e o item que, podem ser, por exemplo, de natureza i) nominal: por causa que; ii) verbal: posto que, visto que ou iii) adverbial: já que, pois que. Dessa forma, a partir de dados coletados de uma amostra longitudinal (AMORIM, 2017), são descritos, neste trabalho, processos de mudança formal e funcional envolvidos na emergência de três conectores x-que que expressam causalidade: já que, visto que e posto que.
O surgimento de conectores perifrásticos, a partir da integração entre uma base e o item que (origem latina: quod, quid), tem sido verificado desde o latim tardio. Segundo Baño (2010), os conectores latinos eo quod, pro eo quod e propter quod, utilizados na expressão de relações causais, formaram-se a partir do mesmo modelo construcional – [x-que]conect3 – que se tornou produtivo na formação de locuções conectivas, nas línguas românicas. Assim, no português, a ampliação do paradigma de conectores resulta, principalmente, desse processo por meio do qual nomes, verbos, advérbios e preposições se combinam com a partícula que para recategorizarem-se em locuções conectivas (Cf. SAID ALI, 1971; BARRETO, 1999).
Além desta Introdução e das Considerações Finais, este texto organiza-se em cinco seções. Na seção 1, são abordados os pressupostos teóricos que subsidiam o tratamento da mudança linguística em perspectiva cognitivo-funcional; na seção 2, explicitam-se os aspectos metodológicos que orientam a investigação; as seções 3, 4 e 5 são dedicadas à análise dos processos de gramaticalização, respectivamente, dos conectores já que, posto que e visto que.
1 Comunicação, cognição e gramaticalização
A língua, sob um viés cognitivo-funcional (BYBEE, 2010; MARTELOTTA, 2011), constitui um sistema no qual dados da experiência com o mundo sociofísico são reconfigurados em dados conceptuais e, por fim, codificados como material linguístico. Nessa perspectiva, considera-se, portanto, que o processamento das estruturas linguísticas, cujo ponto de partida encontra-se na realidade exterior, passa por um filtro cognitivo e segue para a codificação no plano linguístico. Dessa forma, o mundo biofísico e a cognição vinculam-se por um processo de retroalimentação: relações da realidade exterior alimentam a cognição do mesmo modo que a cognição alimenta (a percepção de)essas relações exteriores. Na dimensão linguística, destaca-se o papel da pragmática, que, entendida como o componente circunscrito pelo uso, pode afetar/filtrar as relações entre o mundo sociofísico e a cognição.
Dessa maneira, a variação e a mudança linguística podem ser explicadas a partir de aspectos da comunicação – pragmática – e de processos mentais – cognição –, como propõem diversos modelos de análise linguística desenvolvidos no âmbito do paradigma genericamente referido como Funcionalismo (Cf. NEVES, 2018). Um desses modelos é a gramaticalização (HOPPER; TRAUGOTT, 2003[1993]), uma vertente teórico-metodológica dedicada a investigar mudanças morfossintáticas e semântico-pragmáticas que, em sentido amplo, envolvem trânsitos (unidirecionais) do léxico para a gramática. O termo gramaticalização também designa o próprio objeto de investigação dessa vertente, referindo-se, portanto, ao processo pelo qual itens lexicais, em contextos/construções específicos, afastam-se de um polo de lexicalidade e assumem função (mais) gramatical:
-
Existe, assim, inerente aos sistemas lingüísticos, uma tendência à economia interna, que os faz utilizar elementos velhos para expressar idéias novas. Esse é o móvel básico do continuum da gramaticalização, que preenche sentidos/funções advindos das relações estritamente lingüísticas, portanto dos elementos gramaticais, utilizando elementos lexicais, de sentidos/funções advindos das relações entre o mundo exterior e a língua, já disponíveis em dada língua. (COSTA, 2003, p. 67 – grifos da autora)
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A gramaticalização, conforme assinala Diewald (2011, p. 366), “é um tipo de mudança linguística complexo e multifatorial que não consiste de um único processo, mas de um conjunto de processos que interagem entre si”4. Na complexidade desse processo, encontram-se propriedades e mecanismos que evidenciam interrelações entre pragmática e cognição na mudança linguística (Cf. GÖRSKI et al., 2004). No caso da gramaticalização dos conectores aqui investigados, essas relações se revelam nos mecanismos de reanálise, analogia, metonímia e metáfora5.
De natureza essencialmente cognitivo-funcional, esses mecanismos costumam operar, em processos de gramaticalização, de maneira interrelacionada6, impactando diferentes dimensões linguísticas. Assim, reanálise e analogia figuram como mecanismos que atuam, respectivamente, nos eixos sintagmático e paradigmático; a metonímia e a metáfora, por sua vez, representam mecanismos primariamente semânticos, pois acionam mudanças de sentido (HOPPER; TRAUGOTT, 2003).
De maneira bastante sumária, tais mecanismos7 podem ser assim definidos:
- reanálise: opera uma reinterpretação no eixo sintagmático, que, motivada pela contiguidade de duas entidades linguísticas, redefine as fronteiras de constituintes, criando uma nova forma (LANGACKER, 1977).
- analogia: implementa-se pela adoção de um parâmetro, determinado pela alta frequência e regularidade de uma entidade linguística, tomada como modelo para generalização de uma construção ou de uma regra (BYBEE, 2010). Pode, com isso, criar uma nova forma dentro de uma categoria ou promover a migração de uma forma para categoria distinta.
- metáfora: processo de reconceptualização semântica que prevê transferência unidirecional de sentidos de um domínio experiencial (concreto) para domínios mais abstratos (HOPPER; TRAUGOTT, 2003).
- metonímia: aciona sentidos emergentes entre elementos em contiguidade, disparando, assim, por inferência pragmática, a assimilação de novos sentidos em uma construção linguística (HOPPER; TRAUGOTT, 2003).
Os mecanismos da gramaticalização revelam, dessa maneira, o papel decisivo dos usuários da língua na promoção da mudança linguística: seja, por exemplo, reinterpretando fronteiras de constituintes, seja inferindo ou estendendo sentidos, são as suas ações interacionais – e os seus consequentes efeitos cognitivos – que alteram arranjos semânticos e estruturais.
2 Aspectos metodológicos
O material de investigação deste trabalho consiste em uma amostra longitudinal organizada por Amorim (2017), contendo textos datados dos séculos XIII ao XXI8. Inspirando-se em proposta de periodização adotada por Barreto (1999), Amorim (2017) distribui os textos da amostra em quatro sincronias, quais sejam, português arcaico (séculos XIII-XV), português moderno (séculos XVI e XVII), português contemporâneo I (séculos XVIII-XX) e português contemporâneo II (amostra de fala do século XXI). O autor explica que, para a organização do corpus, manteve simetria qualitativa, selecionando textos com padrões semelhantes em termos de gêneros e tradições discursivas, e quantitativa, de modo que cada século dispusesse de um total de 11000 palavras, correspondendo, assim, a 33000 palavras por sincronia, salvo a amostra de fala, que, representada apenas pelo século XXI, totaliza 31000 palavras (AMORIM, 2017, p. 76).
Algumas análises, entretanto, baseiam-se em dados recolhidos do “Corpus do Português” (DAVIES; FERREIRA, 2006), que, dispondo de mais de 45 milhões de palavras, reúne textos (do século XIV ao século XX) escritos e falados, viabilizando, por meio de ferramentas de busca, o levantamento e a aferição da frequência de dados por variedade do português (europeu ou brasileiro), sincronia e tipo textual (oral, ficção, jornalístico e acadêmico). No presente trabalho, os dados desse corpus foram extraídos da subamostra “Gênero/Histórico”, sem que houvesse refinamentos qualitativos ou quantitativos, visto que foi utilizada, paralelamente à amostra de Amorim (2017), apenas para fins de comparação no que concerne à localização temporal dos dados9.
Quanto aos dados, a tabela a seguir exibe, em valores absolutos, um panorama da distribuição diacrônica dos conectores causais x-que, atestando a sua baixa frequência no corpus:
Conector x-que | Português Arcaico (XIII-XV) | Português Moderno (XVI-XVII) | Português Contemporâneo I (XVIII-XX) | Português Contemporâneo II amostra de fala (XXI) | Total |
---|---|---|---|---|---|
Pois que | 10 | 3 | - | - | 13 |
Já que | - | 3 | 2 | 1 | 6 |
Posto que | - | 2 | - | - | 2 |
Visto que | - | - | 3 | - | 3 |
Por cause que | - | - | - | 18 | 18 |
Total | 10 | 8 | 5 | 19 | 42 |
Neste estudo, como já apontado, consideram-se apenas os conectores já que, posto que e visto que.10 Com base em pressupostos teórico-metodológicos da gramaticalização (KORTMANN, 1997; HOPPER; TRAUGOTT, 2003; BYBEE, 2010; DIEWALD, 2011; MARTELOTTA, 2011), busca-se descrever as mudanças formais e semântico-pragmáticas que explicam a emergência dos conectores em pauta, tomando-as como propriedades que, ao longo desse processo, evidenciam a atuação de mecanismos de gramaticalização.
Contudo, a baixa frequência de dados representa uma limitação metodológica – ainda que este trabalho se paute por uma abordagem qualitativa –, já que inviabiliza considerações conclusivas acerca das mudanças experimentadas pelos conectores em estudo; daí apresentarem-se, conforme se registra no título deste texto, “notas” sobre a gramaticalização desses conectores, as quais, muitas vezes, assumem o estatuto de hipóteses explicativas.
3 Gramaticalização de já que
Entre os conectores estudados neste trabalho, já que representa a forma de registro mais antigo, sendo identificada a partir do século XVI11:
(1) ... djzemdo lhe que o podja bem fazer pq dele não auia de aver sospejta ja q o tjnhão em tam boa comta. (CDA, XVI)
Segundo Barreto (1999), a gramaticalização de já que se deve a uma reorganização sintagmática – reanálise – ocorrida em contextos em que o advérbio já e o conector causal que, dispostos em sequência, puderam ser reinterpretados como uma única construção, resultando na recategorização já/que> já que. Em relação à mudança semântica envolvida nesse processo, a autora explica que o item que, tendo sentido causal nos contextos propícios à reanálise, desencadeou uma metonímia pela qual já assimila esse sentido. Assim, conforme proposta de Barreto, a gramaticalização de já que tem a seguinte representação:
No corpus do presente trabalho, não se verifica contexto sugestivo da reanálise que teria dado origem ao conector já que; outras pesquisas, contudo, corroboram a atuação desse mecanismo no seu percurso de gramaticalização, apresentando dados bastante ilustrativos:
(2) ... fazia um tempo já que a gente num tava se entenden::do sabe? (AC-035 apud GALBIATTI, 2008, p. 64)
(2a) [fazia um tempo já] [que a gente num tava se entendendo].
(3) ...e a sua eigreja assi deles livrou, ca os que mal quer ela, ben assi os eixilla. A que por nos salvar ... E porend' a eigreja sua quita é ja, que nunca Mafomete poder y averá. (Cantigas de Santa Maria- séc. XIII apud FERNANDES, 2019, p.103)
(3a) [E porend' a eigreja sua quita é ja] [que nunca Mafomete poder y averá]
Nos exemplos acima, já e que pertencem a segmentos oracionais distintos, não constituindo, portanto, uma forma gramaticalizada. Em (2), já mantém o seu estatuto adverbial, enquanto que é um relativizador. O exemplo (3), identificado em texto do português arcaico, além de ilustrar um estágio primário da gramaticalização de já que, parece corroborar a argumentação de Barreto (1999), segundo a qual o adverbial já, por metonímia, teria assimilado o valor causal de que: “E por isso a sua igreja é livre já, que [pois] nunca Maomé poder nela terá”.
Entretanto, dados apresentados por Galbiatti (2008) revelam que a reinterpretação sintagmática que dá origem a já que instancia-se em contextos nos quais que tem outras funções gramaticais, além da de conector causal apontada por Barreto (1999), podendo representar um pronome relativo, como em (2) acima, ou uma conjunção integrante, como no exemplo a seguir, no qual se observa que o advérbio já figura entre o verbo e a oração que nele se encaixa:
(4) ... assim é pouco distância que têm ... MIL QUILÔMETRO quinhentos metro cê vê já que a montanha: assim:: é alta ... aí:... voltando né? volta pra praia do la::do... (AC-087 apud GALBIATTI, 2008, p. 64)
(4a) [quinhentos metro cê vê já] [que a montanha é alta]
É preciso frisar que, embora a hipótese de Galbiatti (2008) se baseie apenas em dados do português contemporâneo, trata-se de uma proposta pertinente para a compreensão da gramaticalização de já que, pois, segundo o princípio do uniformitarismo (LABOV, 1972), tendências de variação ou mudança verificadas na fase atual da língua estão sob efeito dos mesmos condicionantes que atuaram em sincronias pretéritas12.
Desse modo, considerando a proposta de Galbiatti e o fato de que o emprego causal de que é bastante raro na história do português (Cf. AMORIM, 2017; OLIVEIRA, 2020), pode-se buscar um percurso distinto daquele descrito por Barreto (1999), para explicar a aquisição do sentido causal de já que. Longhin-Thomazi (2004), ao investigar a gramaticalização de conectores de base adverbial, apresenta dado em que já, no português arcaico, carreia sentido ambíguo, podendo indicar tempo ou causa:
(5) E quanto esto souberom em terra de Judea, fezerom gram planto por Jonatas, cuidando que era morto. E os gentijs, que moravam a rredor de Judea, disserom: já os Judeus nom ham princepe, teremo-los do mundo. E ajuntou Triphom sua hoste pêra vijm a terra de Judea para a destroir... (14BMP, p.406 apud LONGHIN-THOMAZI, 2004, p. 229).
A identificação desse dado adiciona uma nova hipótese para a compreensão da mudança semântica efetivada (acionada?)13 pela reanálise que deu origem ao conector já que: dada a produtividade de processos de mudança caracterizados pela trajetória tempo>causa,14 fenômeno que se deve ao fato de a noção de sequencialidade temporal estar implícita na relação de causalidade, o desenvolvimento de sentido causal observado na gramaticalização de já que implementa-se também por metáfora – e não apenas por uma metonímia disparada pelo emprego causal de que, conforme defende Barreto (1999). Assim, como explica Fernandes (2019), a noção de tempo codificada pelo advérbio já (passível ela própria de sofrer deslizes para o domínio de causalidade) representa um domínio-fonte a partir do qual, com a reanálise, emerge o sentido causal (mais abstrato) de já que.
Corrobora essa última hipótese o fato de o advérbio já apresentar a noção aspectual de perfectividade (CÂMARA, 2006), que, ao indicar conclusão/resultado, aponta para uma relação entre o ponto inicial e final de um evento. Esse traço favorece uma leitura causal, que, em sentido estrito, envolve um evento-causa (ponto inicial) e um evento-efeito (ponto final). Nesse caso, o elemento que, seja relativizador, seja conjunção integrante, assimila um sentido que emerge em já, o que remete a um processo metonímico com trânsito contrário aos casos em que o advérbio se liga ao que com função de conector causal:
Dessa forma, metonímia e metáfora atuam como mecanismos complementares na gramaticalização de já que: a primeira acionando a emergência e assimilação de sentidos entre as formas já e que, e a segunda endossando uma transferência desses sentidos para um domínio mais abstrato, ou seja, o da causalidade. Com isso, o esquema da gramaticalização de já que tem a seguinte reformulação:
4 Gramaticalização de posto que
De registro aparentemente mais tardio que já que, o uso causal do conector posto que é encontrado, no corpus desta pesquisa, em textos datados a partir do século XVII15:
(6) Porque o valor do Gouernador Fernam de Sousa, & o grande cuidado, & vigia com que todo este mes, de noyte, & de dia, assistio armado no campo com seus capitaẽs, não deixou lugar a se atreuer o pirata saltar em terra, onde em breues horas tiuera certa sua perdição; mas posto que não leuou aqui o castigo que merecia, não lhe faltou na Capitania do Spirito Santo, 100. legoas da Bahya pera a banda do Sul, onde aportou a 12. de Março de 625...(JVC, XVII)16
Como conector concessivo, observa-se a sua gramaticalização já no século XIV:
(7) E dise-lhe o tirãno que, se nõ cessasse de chamar o nome de Jhesu, que lhe mãdaria talhar a lingua, e dise-lhe Sancto Ignacio: posto que me talhes a lingua, nõ cessarey porem de chamar o nome de Jhesu, porque o tenho scripto emno meu coraçom. (OE, XIV)
Ao abordar o processo de gramaticalização de posto que, Barreto (1999) também reconhece o seu uso causal como mais tardio que o concessivo, apontando a reanálise como o mecanismo responsável por sua emergência:
-
A forma do particípio passado do verbo pôr, posto, inicialmente, seguida de uma oração substantiva subjetiva, introduzida por uma conjunção integrante que, após a reanálise do período, reuniu-se à conjunção, dando origem a uma conjunção concessiva.” (BARRETO, 1999, p. 395).
-
Entretanto, a explicação da autora carece de dados que ilustrem o contexto favorável à reanálise descrita acima. No corpus do presente trabalho, também não é possível identificar ocorrências em que a forma verbal posto integre uma oração matriz na qual se encaixa uma oração subjetiva introduzida por que.17 Assim, dada a aparente escassez de contextos reveladores da reanálise de posto que em sincronias pretéritas, é necessário considerar o princípio do uniformitarismo – como o faz Galbiatti (2008) ao tratar da gramaticalização de já que –, para, a partir de dados do português contemporâneo, entrever os possíveis contextos em que posto que teria sido reanalisado como uma forma conectiva, conforme mostram os exemplos a seguir, obtidos pela consulta ao “Corpus do Português”:
(8) Deus tem posto que, quando o justo comete erros, pecados e males depois de crer em Jesus, eles devem ser lavados de todos esses pecados crendo no batismo... (bjnewlife.org)
(8a) [Deus tem posto] [que quando o justo comete erros...]
(9) Concordo com o texto, sempre foi posto que temos que procurar algo mais, temos que ser melhor. (exoticlic.com)
(9a) [sempre foi posto] [que temos que procurar algo mais...]
Nos dois exemplos, as formas posto e que pertencem a segmentos sentenciais distintos, visto que a primeira, constituindo o núcleo de uma locução verbal (tem posto; foi posto), está no escopo de uma oração matriz, enquanto a segunda introduz uma oração encaixada. No entanto, tendo em vista que a gramaticalização primária de posto que deu origem a um conector concessivo, os exemplos acima parecem ilustrativos apenas para a compreensão de aspectos estruturais desse processo, não revelando como teriam se dado as mudanças semântico-pragmáticas nele envolvidas.
Com base nos dados deste e de outros trabalhos (BARRETO, 1999; MANOLIO, 2018), verifica-se que a mudança nos usos de posto que, entre os séculos XIV e XVII – concessivo > causal –, destoa de uma trajetória de mudança semântica amplamente atestada em diversas línguas, uma vez que, cognitiva e diacronicamente, a noção de causa seria primária em relação a de concessão, e não o contrário, como evidencia o estudo tipológico de Kortmann (1997).
Kortmann (1997) mostra que deslizamentos semânticos, experimentados por conectores adverbiais de uma vasta amostra de línguas europeias, revelam-se diacronicamente unidirecionais. A partir da identificação de quatro grandes sistemas semântico-cognitivos, a saber, Tempo, Modo, Lugar e CCCC (causa, condição, contraste e concessão), o autor explica que a noção de causa é mais básica (cognitivamente menos complexa) que a de concessão; por conseguinte a emergência do sentido concessivo costuma ser, em processos de gramaticalização de uma mesma forma, posterior à do sentido causal. Com isso, pode-se afirmar que, no caso do conector posto que, a trajetória de mudança é bastante inesperada, pois o seu emprego como conector concessivo data do século XIV, enquanto o seu uso como conector causal parece se firmar só a partir do século XVII.
No entanto, cabe salientar que o emprego causal de posto que não surge em detrimento do uso concessivo, que se manteve produtivo (Cf. BARRETO, 1999). É possível, então, que a relação diacrônica entre posto que concessivo e sua variante causal não seja derivativa: a mudança concessão>causa verificada na trajetória desse conector pode estar relacionada a outros correlatos contextuais, e não a um processo diacrônico-metafórico pelo qual um domínio semântico-pragmático serve de fonte para a criação de um novo domínio (espaço>tempo>causa, por ex.). O exemplo a seguir, retirado do “Corpus do Português”, corrobora essa hipótese, na medida em que exibe emprego causal de posto que já no século XV, período, portanto, mais próximo ao que se verifica a sua gramaticalização em conector concessivo:
(10) O grande ffe de molher: a qual creeo seer tanta virtude nas vistiduras de xpistto que soomente por as tocar logo reçeberia saude: a qual pellos phisicos non podia auer posto que tanto despendeo com elles que emproueçeo. (EEER, 1497)
(10a) [a mulher não poderia obter saúde pelos médicos, pois tanto gastou com eles que empobreceu]
Assim, pode-se apontar a morfologia verbal da oração introduzida por posto que como uma das coordenadas contextuais que motivam o seu emprego causal: de acordo com Barreto (1999, p. 396), o surgimento do sentido causal de posto que atrela-se ao fato de ele se conectar a orações com verbo no indicativo, propriedade bastante incomum no seu uso concessivo. Essa observação encontra respaldo na amostra examinada nesta pesquisa, em que o emprego causal de posto que é observado em orações com verbo no indicativo, diferentemente do seu uso como concessivo, o qual, categoricamente, está circunscrito a segmentos com verbo no subjuntivo.
Diversos trabalhos atestam a relação entre causalidade e o modo verbal indicativo. Neves e Braga (2016), em estudo sobre as orações causais no português culto falado, evidenciam que mais de 95% delas apresentam verbo no indicativo. Ao investigar as diferentes formas de codificação morfossintática da noção de causa, Carvalho (2002) mostra que o uso do indicativo figura como a principal convergência entre estruturas causais paratáticas e hipotáticas, corroborando, portanto, que “o indicativo é o modo votado para expressar causa, já que a expressão da causa constitui uma proposição com certo grau de certeza” (NEVES, 2000, p. 818 – destaque da autora)18.
Desse modo, a mudança de sentido observada em posto que pode ser de natureza metonímica: coordenadas contextuais licenciaram uma leitura causal, promovendo uma trajetória inusitada do ponto vista semântico-pragmático, mas compreensível, se considerado que a mudança linguística, operada pela criatividade e imprevisibilidade do discurso, alinha-se a tendências possíveis, e não a padrões absolutos (MARTELOTTA, 2011). Nesse caso, portanto, a mudança é instanciada por inferências que subjazem à morfologia verbal (subjuntivo vs. indicativo).
Outra hipótese explicativa para os diferentes usos de posto que baseia-se na origem latina da sua base. Said Ali (1971) explica que, no latim, particípios como dado, posto e admitido são usados, em construções do ablativo absoluto],19 para indicar relações circunstanciais (causa e concessão, por ex.). Com isso, pode-se supor que os sentidos de posto que representem uma persistência dos usos latinos da sua base verbal. Dados coletados do “Corpus do Português” atestam o emprego da forma participial posto como um conector concessivo, validando a hipótese de que esse sentido já estaria nela semantizado antes da associação ao item que:
(11) E os benefiçiados em ordens menores que posto nam seiam d'ordens sacras viuem como crerigos e por taaees sam aujdos. (Foraes, XIV)
(12) Posto seja esta a primeira vez que nos vemos, há muito que o senhor é meu conhecido. (Távora, XIX)
Esses exemplos conduzem, ainda, a uma nova hipótese quanto ao mecanismo estrutural que resultou no surgimento do conector posto que, já que a função conectiva de posto pode ter sido anterior à sua integração ao que. Dessa maneira, já funcionando como conector, posto se combinaria com a partícula que não por reanálise, mas por analogia. Duas observações sustentam essa hipótese: i) a escassez, como já assinalado, de dados que ilustrem o contexto favorável à reanálise e ii) a produtividade de formas x-que presentes, desde o português arcaico, no inventário dos conectores (Cf. BARRETO, 1999, p. 519-521), que podem ter sido tomadas como modelo para a analogia.
Assim, o esquema a seguir ilustra o processo de gramaticalização de posto que:
5 Gramaticalização de visto que
Assim como posto que, visto que constitui um conector causal x-que de base participial. Seus primeiros registros, no corpus deste trabalho, datam do século XIX:
(13) Perguntou-se-lhe o motivo porque tinhão levado esses cartuxos, visto que sabia terem elles sido avisados para huma revista, e se o seo Commandante do Batalhão não tinha passado a sua primeira revista... (CL, XIX)
Todavia, no “Corpus do Português”, as primeiras ocorrências desse conector podem ser identificadas a partir do século XVII20:
(14) Se isto assim é, visto que nós somos o verdadeiro e geral remédio dos monarcas, nós sós devemos ser seus conselheiros. (AD, XVII)
Uma primeira hipótese explicativa para a gramaticalização desse conector é apresentada com base no mecanismo de reanálise, haja vista os indícios diacrônicos representados por contextos em que as formas visto e que aparecem em contiguidade, mas pertencendo a sentenças distintas, conforme mostram os exemplos abaixo, também coletados do “Corpus do Português”:
(15) A sseptima diz: "que nom sejamos derribados na temptaçom, mas que nos livres de mal". E aquesto bem he visto que aa virtude da fortelleza, que de nosso senhor nos he outorgado, deve perteecer, per a qual nos guardamos e teemos contra todo mal, e nos esforçamos a sseguyr toda virtude. (LC, XV)
(15a) [E aquesto bem he visto] [que aa virtude...]
(16) E que, se aos do seu conselho pareçeo que cõ justiça concediã esta carta de marqua, visto he que sera mao de fazer mudarem-se do que ja lhe tem parecido. (CDJ, XVI)
(16a) [visto he] [que sera mao de fazer...]
Desse modo, o conector visto que pode ter emergido de construções de encaixamento, nas quais visto, base de uma oração nuclear, é seguido do item que introdutor de uma oração encaixada com função subjetiva. No exemplo (16), além do contexto sintagmático favorável à reanálise, observa-se, considerando-se todo o complexo oracional, o estabelecimento de uma relação de causalidade – “se, ao conselho, pareceu que concederam, com justiça, esta carta de marca, é visto que [portanto] será ruim mudarem o que já lhe tem parecido21. O fato de a construção é visto integrar contextos dos quais emergem inferências causais parece sinalizar o gatilho que acionou o sentido causal semantizado por visto que.
Ademais, sendo a causalidade um tipo de relação semântica que sempre apresenta certo grau de subjetividade (AMORIM, 2017; NEVES, 1999; PAIVA, 1996), outro aspecto favorecedor do sentido causal assumido por visto que é a própria construção ser+visto, que pode carrear um alto grau de subjetividade, uma vez que, pragmaticamente, é comparável às construções ser + adjetivo avaliativo/modalizador (é notório, por ex.). Dias (2013) explica que
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no complexo oracional subjetivo, as orações encaixadas subjetivas passam a funcionar como a informação mais relevante e a oração matriz se gramaticaliza e passa a ser um marcador de atitude do falante, assemelhando-se aos advérbios modalizadores que ocupam várias fronteiras entre os constituintes oracionais. (DIAS, 2013, p. 92 – destaque acrescido)
-
Assim, a subjetividade presente na oração matriz ser + visto demonstra-se favorável a um processo metonímico responsável por instaurar inferências pragmáticas que, num segundo momento, são semantizadas:
(17) O ônibus já se preparava para o embarque. Dali em diante enfrentaria mais dezesseis horas de estrada, visto que a cidade onde iria morar ficava no extremo oeste do Estado. (D&G, XX)
(17a) É visto/claro/notório que a cidade onde iria morar ficava no extremo oeste do Estado, portanto, dali em diante enfrentaria mais dezesseis horas de estrada.
Na gramaticalização de visto que, teria ocorrido, então, a reanálise e, por conseguinte, a recategorização do verbo da oração matriz e do que subsequente em uma unidade que passa a funcionar como conector causal, tendo como motivação pragmática o contexto subjetivo da construção, que, além de poder representar um marcador de atitude, pode, ainda, configurar-se como um marcador de assentimento, instaurando, nesse caso, um contexto intersubjetivo: mesmo que se trate da exposição de uma informação nova, o locutor a apresenta como pressuposta, convidando/persuadindo o ouvinte a aceitá-la como facilmente inferível (DIAS, 2013, p. 99). Assim, de acordo com essa hipótese, a gramaticalização de visto que teria a seguinte representação:
No entanto, tanto na amostra deste trabalho quanto no “Corpus do Português”, encontram-se ocorrências que tornam questionável a trajetória acima delineada, uma vez que atestam o emprego de visto, sem associação ao que, como conector causal:
(18) E eu, vendo o que m’a asim mandava pedir, visto ser justo e proveito da dita terra e dos moradores della e serviço do dito Senhor, visto seu regimento que pera ello tenho, lhe concedi a dita terra na maneira abayxo declarada com as condiçõis da berba do dito regimento, que hé o que se segue. (CPJ, XVI)
(19) por tanto conheça o Respeitavel Publico que caso a Le-tra saia a giro, á devem consi- derar como falça, visto elle mes- mo dizer que está pago; O an- | nunciante hade provar sua execu-ção pelos meios que a Lei lhe tem marcado. (CL, XIX)
Considerando que existem ocorrências de visto com função conectiva, em sincronia na qual ainda não se registra a sua variante integrada ao que, pode-se concluir que esse particípio já se encontrava gramaticalizado em conector causal, o que relativiza o papel de uma possível reanálise na determinação da sua nova função gramatical. Como já atua, desde o século XVI, como conector de orações não finitas, a associação ao que, verificada a partir do século XVII, não promoveria uma nova gramaticalização de visto, mas uma ampliação dos seus contextos de uso, na medida em que passou a ligar-se também a orações finitas22, padrão que se tornou mais produtivo.
É válido assinalar que o verbo ver parece apresentar-se como um forte candidato a ser recrutado para processos de gramaticalização, conforme mostram os trabalhos de Carvalho (2011; 2006), por exemplo. O surgimento de visto que representaria, assim, uma das instâncias da gramaticalização de construções com ver: verbo > conector > marcador discursivo.
Segundo Carvalho (2006), existem seis tipos semânticos do verbo ver, que vão do mais concreto/lexical (percepção sensorial) ao mais abstrato/gramatical (emprego como marcador discursivo em contexto de pausa de raciocínio, como em “deixa eu ver”). Entre esses tipos, é possível supor que o sentido causal de visto tenha relação com o uso de ver que flutua entre a percepção sensorial e a percepção intelectual (coocorrência dos sentidos físico e abstrato), o qual favoreceria um processo metafórico: o sentido da forma verbal visto – percebido pela visão, notório – permite a sua leitura como marca de assentimento, que, por sua vez, se estende aos contextos de causalidade. Tal análise corrobora a seguinte observação de Neves e Coneglian (2018):
-
Duas coisas devem ser levadas em consideração ao analisar-se a base de visto que: (i) o valor lexical do verbo ver, que está metaforicamente associado à evidencialidade; (ii) o valor participial de visto, cuja telicidade, como aponta Neves (2006), favorece a noção de causalidade (NEVES; CONEGLIAN, 2018, p. 18).
-
Nesse sentido, o verbo ver constitui uma instância possível de manifestação lexical da evidencialidade, entendida como “a categoria responsável pela indicação da fonte da informação veiculada em um enunciado” (HATTNHER, 2018). Esse traço, em sentido lato, associa-se à causalidade, uma vez que, ao apresentar a causa de um evento, o falante apresenta ao interlocutor um estado de coisas assumido como evidente. Em outras palavras,
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a construção causal com visto que configura-se pelo estabelecimento de um elo causal entre conteúdos mediado pelo ‘conhecimento’, ao qual o falante chega por meio de mecanismos de ‘indução’, com base em algum tipo de evidência, o que significa que o próprio falante, independentemente de quem seja, apresenta-se como “validador” desse conhecimento indutivo. (NEVES; CONEGLIAN, 2018, p. 20).
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A telicidade, por sua vez, representa um traço aspectual que diz respeito a um evento com finitude definida; daí estar presente em formas participiais, cujo sentido, geralmente, liga-se à percepção de ações concluídas. A noção de causalidade, cognitivamente, tem origem na observação de eventos do mundo real em que um precede e determina outro. Ou seja, um evento – concluído – é causa de outro evento. Dessa maneira, ao participarem de construções tradicionalmente tratadas como orações subordinadas reduzidas, essas formas podem expressar, entre outras circunstâncias, a causalidade:
(20) Interditada a ponte, tivemos que optar por um percurso mais longo.
(20a) Visto que a ponte foi interditada, tivemos que optar por um percurso mais longo.
Além disso, como mencionado no estudo de posto que, o emprego causal de visto que pode representar uma atualização de uma estratégia discursiva identificada no latim, pela qual particípios constitutivos de construções de ablativo absoluto indicam circunstância (SAID ALI, 1971, p. 222). Dessa forma, a gramaticalização de visto em conector causal pode ter emergido de construções como a que se destaca no exemplo a seguir:
(21) (Tendo)Visto o aumento das chuvas, as lojas foram fechadas.
Coexistem, no exemplo acima, pelo menos três traços favoráveis ao deslizamento de visto para a categoria dos conectores causais, a saber: i) a sobreposição das percepções sensorial e intelectual, à qual subjaz a evidencialidade; ii) a telicidade, indicando um evento concluído e iii) a noção circunstancial (causal) estabelecida pela construção na qual o particípio visto representa o elemento nuclear, traço que remonta aos usos participiais do latim. A conjugação desses traços também pode ser vista no trecho a seguir, corroborando uma leitura causal de visto:
(22) Que bem considerada a monstruosa variedade que houve entre os filósofos na opinião das coisas que se alcançam com o lume natural e que apenas se achará um entre todos eles que consigo mesmo se não encontre muitas vezes na própria doutrina, visto juntamente quão várias são as leis em todas as províncias e reinos e como se mudam cada dia em cada um deles... (SFX, XV)
Assim, tendo semantizado o sentido causal, visto recategoriza-se em conector e, em estágio posterior de gramaticalização, integra-se ao item que por meio de analogia a outros conectores de base verbal, como dado que e posto que. Como essa última hipótese conta com um maior número de indícios diacrônicos e pragmáticos, a gramaticalização de visto que poderia ser assim representada:
Considerações finais
Neste trabalho, a partir de uma análise diacrônica e cognitivo-funcional, foram investigados processos de gramaticalização de conectores causais que se formaram pela associação ao item que, referidos como conectores x-que: já que, posto que e visto que. Tendo em vista o paradigma dos conectores causais, na história do português, observa-se que os itens investigados, cuja emergência, no domínio da causalidade, é verificada a partir do português moderno, são de gramaticalização mais recente e, em geral, de frequência irrisória, se comparados a conectores simples, como, por exemplo, porque e pois, que já aparecem gramaticalizados, respectivamente, nos séculos XIII e XIV (Cf. AMORIM, 2017; OLIVEIRA, 2020).
Em relação aos mecanismos que operam a gramaticalização desses conectores, identificaram-se a reanálise, a analogia, a metonímia e a metáfora: as análises empreendidas apontam para uma relação de complementariedade entre esses mecanismos, uma vez que podem acionar/intensificar, relativamente à forma e/ou ao significado, diferentes mudanças/estágios na trajetória de gramaticalização dos conectores estudados.
A atuação desses mecanismos, nos casos investigados, é sinopticamente ilustrada no quadro abaixo:
Vale ressaltar que esses mecanismos, atuantes na mudança linguística em geral (Cf. HOPPER, TRAUGOTT, 2003), não são automáticos, isto é, não podem ser ativados apenas por forças inerentes à estrutura da língua, já que a sua operacionalização tem o falante e o contexto de uso como gatilhos. Dessa maneira, o usuário da língua, por motivações cognitivas e interacionais, constrói e altera contextos ou pode ter as suas intenções comunicativas afetadas por contextos já postos (e alterados!) por outros usuários. Nesse sentido, cognição e pragmática configuram forças que, em negociação no processamento linguístico, exercem influência decisiva nos fenômenos de mudança linguística.
As mudanças verificadas na gramaticalização dos conectores estudados são mobilizadas por mecanismos que partem de dimensões externas à estrutura linguística, atrelando-se ao contexto de uso das formas linguísticas e às experiências, percepções e necessidades sociointeracionais dos usuários da língua. Portanto, a gramaticalização dos conectores causais x-que, conforme se cotejou neste trabalho, ilustra como sentidos e formas das construções linguísticas podem ser reinterpretados, reanalisados e/ou integrados, a fim de renovar paradigmas gramaticais e manter otimizada a comunicação.
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