A coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP): aspectos gerais e processos de apagamento

Amanda Macedo Balduino,
Nancy Mendes Torres Vieira,
Shirley Freitas

Resumo

O objetivo deste artigo é descrever a coda no Português Santomense (PST) e Principense (PP), variedades faladas em São Tomé e Príncipe, detectando os segmentos licenciados nesse constituinte e analisando o processo de apagamento. Baseados em um corpus com 20 entrevistas de fala espontânea, realizamos análises acústicas e quantitativas, nas quais utilizamos o modelo estatístico de regressão logística para verificar quais variáveis linguísticas são relevantes para a ocorrência do apagamento. Verificamos que a coda, no PST e no PP, pode ser preenchida, por múltiplas realizações fonéticas de um rótico, uma sibilante, uma lateral ou uma nasal subespecificada (BALDUINO, 2018) – como no português brasileiro e europeu (CÂMARA JR., 1970; MATEUS; D’ANDRADE, 2000). Tendo por foco /r, S, l/, detectamos a presença de alguns processos fonológicos que têm a coda como domínio, como apagamento, velarização e vocalização, os dois últimos característicos à lateral. Tais fenômenos, além de justificarem uma concepção hierárquica para a sílaba, sugerem que a coda é uma posição frágil, dentro dessa estrutura, no PST e no PP, estando propícia a apagamentos e alterações estruturais (SELKIRK, 1982), fato que culmina numa alteração do template silábico para a estrutura CV. Todavia, os dados também indicam que, em decorrência (i) das diferentes proporções de apagamento das codas investigadas; (ii) da diferença entre o conjunto de variáveis relevantes para o apagamento de /r, S, l/; e (iii) dos diversos processos que os acometem individualmente, a resolução atribuída à debilidade da coda tende a variar  segundo a natureza de cada segmento.

Introdução

Este estudo tem como propósito discutir o padrão consonantal licenciado em coda, focando nas consoantes /r, S, l/, em duas variedades do português falado em São Tomé e Príncipe (STP): o português falado em São Tomé e o português falado em Santo Antônio do Príncipe, doravante PST e PP.1 Para tanto, descrevemos os segmentos licenciados em tal constituinte e examinamos o processo de apagamento, uma vez que tal fenômeno promove reestruturação do template silábico e pode ser um argumento para confirmar uma tendência tipológica ao padrão aberto CV no PST e no PP.

O PST e o PP são falados em São Tomé e Príncipe, país da Costa Oeste africana localizado no Golfo da Guiné e cuja população conta com aproximadamente 187 mil pessoas (INE, 2012[1]). STP é um país multilíngue, onde três línguas autóctones que detêm o estatuto de línguas nacionais, o santome, o lung’Ie e o angolar, bem como uma quarta língua, o kabuverdianu2 convivem com o português. Apesar dessa diversidade linguística o português é, desde 1975, ano em que São Tomé e Príncipe torna-se politicamente autônomo em relação a Portugal, a única língua oficial do arquipélago. Atualmente, pouco mais de 98% da população se autodenomina como falante do português e, por ter caráter oficial, além de ser a língua mais prestigiosa em STP, em especial a variedade europeia, a língua portuguesa é ensinada nas escolas e transmitida, majoritariamente, como primeira língua, sendo, inclusive, a única língua de parte da população (ARAUJO; AGOSTINHO, 2010[2]; GONÇALVES, 2010[3]; BOUCHARD, 2017[4]; ARAUJO, 2020[5])3.

O PST e o PP, foco deste artigo, embora apresentem semelhanças estruturais com outras variedades, como o PB e o PE, possuem características inerentes, firmando-se como variedades efetivas do português. O PST e o PP não são, assim, versões destoantes do PE, apesar deste configurar o modelo linguístico institucionalizado e disseminado pela mídia e pela escolarização no arquipélago. Os processos em coda sistematizados neste artigo pretendem, justamente, enfatizar e contemplar a necessidade de descrição e documentação linguística do PST e do PP enquanto variedades legítimas da língua portuguesa.

Considerando, portanto, o ambiente multilíngue no qual o PST e o PP estão inseridos e compreendendo a carência de descrição linguística de variedades de português africanas, o intuito deste trabalho é descrever o preenchimento consonantal da coda do PST e do PP, focando, além disso, em processos fonológicos que tenham como domínio esse constituinte, de modo que possam (i) justificar a presença de sílabas do tipo CVC nessas variedades; (ii) abrir margem à discussão sobre um padrão silábico aberto CV menos marcado; e (iii) propiciar comparações futuras com o português brasileiro (PB), o português europeu (PE) e outras variedades de português na África, como o português de Cabo Verde, da Guiné-Bissau e, inclusive, com as demais variedades congêneres do português falado em São Tomé, como o português falado pelos caboverdianos e pelos angolares.

Este artigo está organizado em quatro seções. Na primeira seção, caracterizamos o corpus empregado e definimos a metodologia de análise para, então, a partir da seção 2, iniciarmos a discussão efetiva do padrão consonantal licenciado em coda. Para tanto, dedicamos a seção 2.1 para o rótico, a seção 2.2 para a sibilante e a seção 2.3 para a lateral; a seção 2.4 apresenta uma comparação entre as três codas analisadas quanto ao apagamento. Por fim, as considerações finais são apresentadas na seção 3.

1. Corpus e metodologia

Para o desenvolvimento deste estudo, utilizamos dados de um corpus coletado in loco na cidade de São Tomé e de Santo Antônio do Príncipe, em São Tomé e Príncipe, constituído por entrevistas gravadas em 2016 e em 2019. No total, trabalhamos com vinte entrevistas, sendo dez para o PP e dez para o PST. Cada entrevista tem uma duração de aproximadamente 60 minutos, porém descartamos os 15 primeiros minutos, de modo a operar com uma produção menos controlada da fala vernacular dos informantes.

No caso do PP, os informantes foram cinco homens e cinco mulheres, com idades variando entre 22 e 50 anos, todos naturais da ilha do Príncipe. Quanto ao PST, foram entrevistados quatro homens e seis mulheres, com idades entre 18 e 52 anos, todos naturais da ilha de São Tomé. Em ambas as variedades do português, os informantes tinham o português como língua materna e níveis de escolaridade que variam entre quatro anos de escolarização e o ensino superior. Assim, os fatores sociais: sexo, idade e nível de escolaridade podem influenciar os resultados deste estudo. Nosso objetivo, todavia, é sugerir uma descrição introdutória da coda consonantal, no PP e no PST, a partir de uma perspectiva exclusivamente estrutural, de modo a avaliarmos o comportamento da sílaba CV(C) em tais variedades, então, analisamos apenas variáveis estruturais.

O corpus é composto por todas as ocorrências das palavras com coda preenchida por róticos, sibilantes e lateral – desde que estas não houvessem sofrido ressilabificação em fronteira de palavra morfológica.4 Esse método tem como propósito registrar as possíveis realizações de um mesmo item lexical, posto que um mesmo falante pode pronunciar uma mesma palavra de formas distintas (CHRISTOFOLETTI, 2013[6]). No total, para o PP, contabilizamos 3.990 ocorrências, sendo 1.784 para rótico, 1.469 para sibilante e 737 para lateral. Já para o PST, o total de ocorrências contabilizado foi de 3.282, sendo 1.324 para o rótico, 1.207 para a sibilante e 751 para a lateral. Essas ocorrências foram submetidas a uma análise acústica, de modo a identificarmos as variantes observadas, bem como a ocorrência de possíveis processos fonológicos sob o domínio da coda. Para isso, nos valemos do programa Praat (BOERSMA; WEENINK, 2020[7]), por meio do qual, considerando as formas espectrais geradas, delimitamos as possíveis realizações fonéticas na coda dentro do corpus analisado.

Após os exames espectrais que identificaram os casos de apagamento – bem como de outros processos –, realizamos a análise quantitativa. Apesar de não adotarmos os pressupostos teóricos da sociolinguística, aplicamos o modelo estatístico empregado por tal teoria: a regressão logística, e o tratamento quantitativo dos dados foi realizado pelo Rbrul5, um software que roda na plataforma R ou na sua interface RStudio6. A regressão logística é um tipo de modelagem dos dados que possibilita a verificação do efeito simultâneo de múltiplas variáveis independentes na aplicação de uma regra variável. Nesse caso essa regra é o apagamento do segmento consonantal em coda, assim, foram realizadas seis análises, sendo uma para cada um dos três segmentos consonantais: o rótico, a sibilante e a lateral nas duas variedades do português em observação.

As variáveis controladas, em todas as análises, foram: a classe gramatical da palavra (verbo e não-verbo), a tonicidade da sílaba (átona e tônica), a posição do segmento na palavra morfológica (final e medial), e o contexto fonológico precedente ([a, ɛ, ɔ, i, e, o, u] e a coda /N/). Nas duas análises de apagamento da sibilante foi acrescentada uma quinta variável: função morfológica (singular e plural), a fim de verificar se o apagamento da sibilante possui uma interface morfológica, já que a sibilante pode portar a informação gramatical de plural em sintagmas nominais.

O Rbrul calcula o peso relativo, para cada fator de uma variável7, que consiste num valor probabilístico – proporção de ocorrências da variante de interesse em relação ao total – numa escala que vai de 0 a 1 em que 0 representa uma chance nula de algo ocorrer (0%), 1 representa certeza de que vai ocorrer (100%) e 0,5 é o ponto neutro, já que equivale a 50% de certeza de que algo aconteça. Além disso, também calcula o input, que representa o nível geral de uso de determinado valor da variável dependente, nesse caso, o apagamento de um segmento consonantal em coda. O valor do input deve se aproximar da frequência de aplicação da regra, calculada para a amostra total e quando isso não ocorre, é um indicativo de que a distribuição dos dados, através dos fatores analisados, não é equilibrada. Os pesos relativos são calculados em relação a esse nível geral. (GUY; ZILLES, 2007[8]; OUSHIRO, 2017[9]; VIEIRA; BALDUINO, no prelo[10]).

O software também fornece o valor de significância do modelo, também chamado valor-p, que é a probabilidade de se observar determinada distribuição em caso de a hipótese nula ser verdadeira - no caso, que não há relação entre a variável dependente (o apagamento da coda) e as variáveis independentes. Se tal probabilidade for muito baixa, a distribuição dos dados observada é estatisticamente significativa. Nesse caso, o efeito que está sendo testado é verdadeiro, já que, a probabilidade de ocorrer por acaso é muito pequena, assim, quanto menor o valor de p mais significativo é o modelo. A comunidade científica costuma usar o limite de 0,05 (ou 5%) para considerar algo como muito pouco provável para acontecer ao acaso (GUY; ZILLES, 2007[8]; OUSHIRO, 2017[9]; VIEIRA; BALDUINO, no prelo[10]).

Nas seções a seguir, descrevemos os resultados da análise proposta. Primeiramente, demarcamos, com base no corpus, a constituição consonantal da coda no PST e no PP e, posteriormente, sugerimos uma caracterização geral, tanto fonológica, como fonética, das consoantes alvo nessa posição, examinando, paralelamente, alguns processos fonológicos que promovem reestruturação silábica como a ressilabificação e, principalmente, o apagamento segmental. Para tanto, apoiamo-nos no modelo teórico da fonologia autossegmental (GOLDSMITH, 1990[11]), bem como na literatura dedicada à descrição silábica do PB e do PE (BISOL, 1999[12]; MATEUS; D’ANDRADE, 2000[13]).

2. A coda no português vernacular santomense e principense

Nesta seção, delimitamos quais consoantes são licenciadas em coda no PST e no PP, e, em seguida, identificamos alguns processos fonológicos observados dentro desse domínio. Para tanto, a exemplo de Araujo e Balduino (2019[14]), Balduino (2019[15]), Balduino e Vieira (2020[16]) e Vieira e Balduino (2020[17]), que atestam a relevância de uma estrutura hierárquica para análise da sílaba no PST e no PP, assumimos que a sílaba, nessas variedades, é formada pelos seguintes constituintes: onset (O) e rima (R), a qual se subdivide em núcleo (Nu) e coda (Co) (SELKIRK, 1982[18]; BLEVINS, 1995[19]). A figura 1 indica a estrutura silábica de forma geral:

Figure 1. FIGURA 1 - Estrutura silábica hierárquica (SELKIRK, 1982[18]; BLEVINS, 1995[19])

Com base no corpus formado por 7.272 ocorrências (3.990 para o PP e 3.282 para o PST) e considerando o trabalho de Balduino (2018[20]), estabelecemos, na figura 1, as consoantes possíveis na coda para o PST e o PP. Semelhante ao PB e ao PE, com exceção da sibilante, todas as consoantes identificadas na fronteira silábica são [+soantes], totalizando quatro segmentos fonológicos distintos: (i) uma nasal /N/ (BALDUINO, 2018[20]); (ii) uma sibilante /S/; (iii) um rótico /r/ e (iv) uma lateral /l/.

Figure 2. FIGURA 2 - Coda fonológica no PP e no PST

Tendo por foco as consoantes apontadas na figura 1, observamos, no corpus, que tais segmentos, quando opostos na coda: (i) podem promover distinção de significado, como em mar /mar/ ['maɾ] x mal /mal/ ['maɫ] x mas /maS/ ['maʃ], /laN/ ['lɐ̃] x lar /lar/ ['laɾ], entre outros, e (ii) são possíveis tanto em sílabas tônicas quanto em sílabas átonas (quadro 1). Como pode ser observado no quadro 1, há, foneticamente, diferentes realizações na coda, havendo variação em relação ao ponto de articulação e, no caso da sibilante, ao vozeamento.

Figure 3. QUADRO 1- Codas em PP e PST

Os segmentos /N/, /S/, /l/, /r/, licenciados na coda do PST e do PP, também podem ocorrer no onset, com a ressalva de que a nasal e a sibilante quando em coda não possuem o ponto de articulação especificado8. Observa-se então que a coda é um subconjunto do onset, comportamento que, segundo Goldsmith (1990[11]), ocorreria pelo fato de a coda ser um licenciador secundário, permitindo menos contrates que o onset, este um licenciador primário por se ligar diretamente ao nó silábico.

Durante a silabificação, a coda só seria desenvolvida após o onset, em consonância com o Princípio de Maximização do Ataque (SELKIRK, 1982[18]). Assim, nas línguas, como é o caso do português, primeiro haveria a formação do núcleo, seguida do mapeamento dos segmentos à esquerda (gerando o onset) e, só ao final, a coda seria estabelecida (BISOL, 1999). Como reflexo dessa formação mais tardia, a coda seria a posição mais fraca da sílaba, estando sujeita a mudanças que preconizam o molde CV (SELKIRK, 1982[18]).

Após essa caracterização geral da coda consonantal fonológica do PST e do PP e considerando que essa posição silábica sofre diversos processos de enfraquecimento (tal qual ocorre no PB e no PE), nas seções seguintes, serão apresentadas as realizações fonéticas das codas /r/, /S/ e /l/ presentes no corpus sob análise, passando em seguida para a discussão de processos fonológicos que atingem essa posição.

2.1 O rótico

No PST e no PP, o rótico, quando na coda, pode ser foneticamente realizado como um tepe [ɾ], uma vibrante [r], uma fricativa glotal surda [h] ou sonora [ɦ], uma fricativa uvular sonora [ʁ] ou mesmo uma vibrante uvular sonora [ʀ]. Ademais, o rótico pode, ainda, sofrer processos como lambdacismo e vocalização, sendo produzido, de modo menos frequente, como uma lateral velar [ɫ] ou um glide [w]. Em (1), apresentamos as alternâncias fonéticas supracitadas que foram observadas nos dados:

(1)

a. ma[ɾ] ~ ma[ʁ] ~ ma[r] ~ ma[h]

b. co[ɾ]da ~ co[ʁ]da ~ co[ʀ]da ~ co[ɦ]da

c. pe[ɾ]to ~ pe[ʁ]to ~ pe[h]to ~ pe[r]to ~ pe[ɫ]to

d. ne[ɾ]vosa ~ ne[ɫ]vosa ~ ne[w]vosa

Um mesmo falante pode oscilar entre a realização de um r-fraco ou tepe e de um r-forte, comumente realizado como uma fricativa uvular ou mesmo uma vibrante alveolar, ou até empregar um e tender a não empregar o outro, quer em posição de coda (2.a), quer em posição de onset como primeiro segmento no início de palavra (2.b), no onset em meio de palavra e, por isso, intervocálico (2.c), ou antecedido por uma sílaba fechada por coda (2.d), ou no segundo elemento de um onset complexo (2.e).9

(2)

a. ma[ɾ] ~ ma[ʁ]

b. [ɾ]oda ~ [ʁ]oda ~ [r]oda

c. ca[ɾ]o ~ ca[ʁ]o ~ ca[r]o “carro ou caro”

d. hon[ɾ]a ~ hon[ʁ]a

e. p[ɾ]imo ~ p[ʁ]imo

Como observado em (2), a alternância entre um r-fraco [ɾ] e um r-forte, aqui representado como [ʁ], culmina, inclusive, na neutralização sonora de alguns pares mínimos, que passam a ser homônimos. Este é o caso de carro e caro, ambos produzidos como ['kaɾʊ] ou ['kaʁʊ] a despeito de manterem a distinção semântica. Embora a alternância e a instabilidade na produção do rótico nas variedades do português faladas em STP venham sendo recentemente documentadas (AGOSTINHO, 2016[21]; BRANDÃO et al., 2017[22]; BOUCHARD, 2017[4]; AGOSTINHO; SOARES; MENDES, 2020[23]), essa é uma questão que ainda precisa ser mais discutida, já que pode contribuir com o debate em torno do estatuto do rótico no estabelecimento do quadro consonantal do PST e do PP.

De acordo com Bouchard (2017[4]), a alternância dos róticos possui a faixa etária como variável relevante, posto que o uso de [ʁ] é favorecido pelas gerações mais jovens de São Tomé, fato que seria um indício de mudança linguística em curso: [ɾ] > [ʁ]. Essa hipótese é examinada por Agostinho, Soares e Mendes (2020[23]) que, mediante experimentos, defendem a perda de contraste dos róticos no Português do Príncipe (AGOSTINHO; SOARES; MENDES, 2020[23]). Os trabalhos de Bouchard (2017[4]) e de Agostinho, Soares e Mendes (2020[23]) indicam instabilidade no inventário fonológico do PST e do PP no que se refere ao rótico. Neste estudo, a exemplo de Vieira e Balduino (no prelo), analisaremos o rótico em coda, bem como seu apagamento, considerando a existência de [ɾ] e [ʁ] como formas concorrentes, as quais serão referidas como /r/, dado que não temos uma mudança já consolidada e nem são constatados pares mínimos que atestem a existência de dois róticos distintos no quadro consonantal do PST e do PP. Assumindo que a representação /R/ pressupõe a neutralização de um fonema numa determinada posição, esta não será adotada, pois, como indicado em (1), a alternância entre os róticos não é determinada por fatores estruturais.

Além da profusa variabilidade fonética, o rótico em coda, quando realizado, pode desencadear um processo de sândi, ou tapping (TENANI, 2002[24]), a depender do contexto segmental da palavra seguinte. Caso a palavra seguinte seja iniciada por uma vogal, o rótico é ressilabificado e passa a ocupar a posição de onset na sílaba, sendo produzido, nesses casos, como tepe (3) ou como uma fricativa (4)10.

(3) Fortalecer a fé = fortalece[ɾa]

(4) Melhor ainda = melho[ʁa]inda

Ainda sobre a ressilabificação, observamos que a fronteira de palavra é relevante, já que somente quando está em final de palavra, o rótico pode ser dissociado da coda e, em seguida, ser associado a um onset, formando uma sílaba CV com a vogal em início de palavra do item seguinte. O mesmo processo é realizado em casos de produção de vogal paragógica em final de palavra. No PST e no PP, em alguns casos, constatamos a presença de uma vogal alta, ora [i], ora [u], em outrora fronteira de palavra, seguindo o rótico em coda, como indicado em mar ['maru], buscar [buʃ'kaɾi] e puder [pu'dɛɾi]. Nesses exemplos, observamos que o rótico é reinterpretado em decorrência da inserção da vogal paragógica e, por isso, passa a ocupar o onset da sílaba.

Dentre os processos observados com o rótico em coda, o fenômeno mais recorrente foi o apagamento, processo que altera a estrutura silábica CVC em CV. Esse processo será discutido na seção 2.1.1 a seguir considerando variáveis estruturais que podem favorecê-lo ou não.

2.1.1 Apagamento de rótico em coda

Considerando um total de 3.108 ocorrências (1.324 para o PST e 1.784 para o PP), constatamos que o apagamento do rótico foi um processo recorrente, sendo identificado em 57,4% dos dados investigados no PST e em 57,9% no PP, como discriminado no quadro 2.

Figure 4. QUADRO 2 - Apagamento do rótico em coda no PST e no PP

Ademais, no quadro 2, notamos, ainda, que as variáveis relevantes para o apagamento do rótico, no PST, foram a posição e a classe gramatical, ao passo que, para o PP, além de tais variáveis, o contexto vocálico precedente também se mostrou importante.

Na tabela 1, é possível observar que, dentre as variáveis testadas, a posição do segmento foi a variável mais relevante para a aplicação da regra de apagamento do rótico no PST (range de .3411), sendo que o apagamento do rótico é favorecido em fronteira de palavra (76,3%; P.R. .67) e desfavorecido em posição medial (35,7%; P.R. .33). Quanto à classe gramatical, o maior índice de apagamento encontra-se entre os verbos (73,7%; P.R. .58), e o menor está entre não-verbos (40,2%; P.R. .42).

Figure 5. TABELA 1- Variáveis atuantes no apagamento do rótico em coda no PST

A tabela 2 mostra que o PP apresenta resultados semelhantes ao PST, já que os maiores índices de apagamento ocorrem em final de palavra (79,5%; P.R. .69) e em verbos (78,3%; P.R. .64), sendo o processo ainda mais favorecido no PP do que no PST em verbos. O apagamento é desfavorecido em meio de palavra (26,5%; P.R. .31) e em itens não-verbais (30,4%; P.R. .36). No que diz respeito ao contexto vocálico precedente, as vogais [a] (74,3%; P.R. .62) e [ɛ] (51,6%; P.R. .61) favoreceram o fenômeno e [o] (25,3%; P.R. .36) e [ɔ] (27,3%; P.R. .36) o desfavoreceram, diferente do que ocorreu no PST, uma vez que, o contexto precedente não foi selecionado como uma variável relevante para o apagamento do rótico.

Figure 6. TABELA 2 - Variáveis atuantes no apagamento do rótico em coda no PP

O apagamento do rótico, como discutido nessa seção, é um processo produtivo tanto no PST (57,4%) quanto no PP (57,9%), atingindo, em ambas as variedades do português, uma proporção superior a 50%12. Essa produtividade do cancelamento do rótico na coda, em consonância com as diferentes realizações do rótico nesse constituinte, as quais alternam de uma vibrante múltipla alveolar a um zero fonético, podem ser interpretadas, a priori, como um processo de enfraquecimento segmental em direção à simplificação silábica para uma estrutura CV (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002[25]). De acordo com essa perspectiva, as possibilidades fonéticas do rótico em coda, inclusive sua vocalização e, principalmente, seu apagamento, poderiam ser explanadas conforme uma simplificação articulatória, em que os sons que envolvem articulações mais complexas variam com sons menos complexos até serem apagados (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002[25]). O cancelamento do rótico, assim como a ressilabificação desse segmento em onset, seja sintaticamente ou pela inserção de uma vogal paragógica, apontaria, então, a uma tendência do PST e do PP, à semelhança do PB, em buscar o padrão CV, ao contrário do PE, que, no geral, mantém a estrutura CVC (BRANDÃO; MOTA; CUNHA, 2003[26]; VIEIRA; BALDUINO, 2020[17]).

De modo a avaliar o comportamento da coda no PST e no PP e avaliar a hipótese de que tais variedades podem apresentar uma tendência a alterar o template silábico CVC em CV, é preciso avaliar se o apagamento também é recorrente em outras consoantes licenciadas em coda. Assim, discutida a realização do rótico em coda, examinaremos, na próxima seção, além das possíveis realizações da sibilante, a possibilidade de apagamento de /S/, verificando, caso sua ocorrência seja atestada, quais são os fatores que favorecem para o apagamento da fricativa.

2.2 A sibilante

A sibilante em coda, representada, neste trabalho, como /S/ por ter o ponto de articulação subespecificado neste constituinte (MATEUS; D’ANDRADE, 2000[13]), pode ser produzida como uma fricativa pós-alveolar [ʃ], por meio do preenchimento de [coronal, -anterior], ou como uma fricativa alveolar [s], decorrência do preenchimento de [coronal, +anterior], ambas possuindo suas contrapartes sonoras [ʒ] e [z].

No geral, quando /S/ é seguido por qualquer consoante [+vozeada], é realizado como uma fricativa sonora em decorrência do espraiamento do traço de vozeamento do segmento contíguo, como indicado em mesmo [ˈmezmʊ] ~ [ˈmeʒmʊ], exemplo no qual a fricativa é [+vozeada] em decorrência de [m], uma consoante sonora que se comporta como gatilho do vozeamento (5.a). Esse espraiamento é sempre regressivo e, portanto, não é promovido pelo segmento anterior à coda fricativa. Logo, em itens como buscar [buʃˈka], /S/ é produzido como uma fricativa surda, independentemente do segmento anterior ser uma vogal (5.b). O compartilhamento de traços parece ser um fator favorecedor, também, para a produção de uma fricativa alveolar na coda, já que, nos casos em que [s, z] foram identificadas em coda, a consoante seguinte geralmente era uma oclusiva [coronal] e [+anterior], como em cesto ['sestʊ] (5.c), porém este nem sempre era um fator necessário, como indicado em (5.a). Em final de palavra, em contexto que não engatilha sândi consonantal, [ʃ] e [s] são produzidas (5.d).

(5)

a. me[ʒ]mo ~ me[z]mo

b. bu[ʃ]car ~ bu[s]car

c. ce[ʃ]to ~ ce[s]to

d. ma[ʃ] ~ ma[s]

As sibilantes na coda foram identificadas, ademais, em fronteira de palavra. Assim como delimitado para os róticos, quando a palavra seguinte era iniciada por vogal, esse ambiente correspondia a um locus de sândi consonantal, e, por isso, a consoante era ressilabificada para a posição de onset como em (6) e (7).

(6) bons alunos = bon[za]lunos

(7) mais é vizinho = ma[ʒɛ]vizinho

Por meio dos exemplos em (6) e (7), notamos que, com a ressilabificação, /S/, ao passar de coda para onset, tem seu ponto de articulação preenchido como [coronal, +anterior] ou [coronal, -anterior], adquirindo, por assimilação, o vozeamento da vogal que o sucede. A possibilidade de realização de [ʒ], como onset ressilabificado, por um lado, constitui uma inovação do PST e do PP em relação ao PB, variedade na qual, em contextos como esse, a consoante ressilabificada é produzida em sua forma default [coronal, +anterior]. Por outro lado, essa é uma propriedade que aproxima as variedades de STP do PE, já que estudos recentes vêm apontando a possibilidade da produção da fricativa pós-alveolar em contexto de ressilabificação também em variedades faladas em Portugal, contudo, na variedade europeia do português, esse processo ocorre de maneira pouco frequente, sendo mais comum na fala de pessoas mais jovens (RODRIGUES, 2012[27]).

A esse respeito, Rodrigues (2012[27]) pontua que a realização da sibilante palatal em PE está condicionada, ainda, ao contexto seguinte à vogal inicial do item lexical contíguo à sibilante em fronteira de palavra. Para a autora, a produção de [ʃ] em ambiente propício à ressilabificação ocorre, sobretudo, no encontro de /S/, momento em que há a fusão das duas sibilantes e a realização adotada é a da consoante do ataque subsequente, resultando na produção de apenas uma fricativa como em vamo[ʃ]perar (RODRIGUES, 2012[27]). Esse processo também é observado no PST e no PP. Frequentemente, notamos a realização de [ʃ] como resultado de uma possível fusão entre as fricativas em sequências de codas distintas. Esse processo pode ser exemplificado a partir de sintagmas como mas espera, o qual é realizado, no corpus, como ma[ʃ]pera (nesse caso, é possível também a realização com [i] ma[iʃ]pera, contudo essa não é a forma mais comum).

Nas ocasiões em que a fusão é verificada, a realização da fricativa recebe o vozeamento da sibilante da segunda palavra, o que nos leva a indagar se, de fato, estamos diante de uma fusão, ou se o processo é resultado do apagamento da coda da primeira palavra, mais o apagamento da vogal inicial da segunda palavra. No PST e no PP, a aférese da vogal pretônica inicial [i], quando seguida por uma coda sibilante, é recorrente, demarcando pronúncias como escala [ˈʃkalɐ] e explicar [ʃpliˈka], mesmo quando a palavra precedente não termina com coda /S/ como em todo esforço [ˈʃfoɾsʊ]. Fatos como esses nos levam, então, a assumir a hipótese que privilegia o apagamento em detrimento da fusão.

Reforçando essa interpretação, no corpus analisado, constatamos que o apagamento de /S/, em coda, é possível no PST e no PP. Assim, de modo semelhante ao rótico, a sibilante, em fronteira de palavra, além de ser ressilabificada, pode ser elidida. Esse processo é discutido na seção 2.2.1.

2.2.1 Apagamento da sibilante em coda

A partir de um total de 2.676 ocorrências (1.207 para o PST; 1.469 para o PP), o apagamento da sibilante foi observado em 10,4% dos dados no PST e 17,4% no PP (quadro 3). Distintamente do rótico, que possui uma proporção de apagamento superior a 50%, a sibilante é apagada com menor frequência no PST e no PP, demonstrando que a fragilidade da coda, assim como comprovado para o PB e para o PE (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002[25]; HORA; PEDROSA; CARDOSO, 2010[28]; RODRIGUES, 2012[27]), não é idêntica para todas as consoantes nessas variedades (BALDUINO; VIEIRA, 2020[16]; VIEIRA; BALDUINO, 2020[17]).

Figure 7. QUADRO 3 - Apagamento da sibilante em coda no PST e no PP

O quadro 3 apresenta as variáveis selecionadas como relevantes para o apagamento da sibilante: posição, função morfológica, classe gramatical e tonicidade. Assim como para os róticos, a posição da coda na palavra é uma variável importante para o apagamento de /S/, entretanto, as demais variáveis selecionadas são distintas, reforçando a hipótese de que o fenômeno não é implementado de modo idêntico a todas as codas.

Ainda em relação ao quadro 3, é possível verificar que o apagamento da sibilante, no PST e no PP, possui interface morfológica, relacionando-se à marcação de plural, já que a variável função morfológica foi selecionada como relevante para implementação do processo, inclusive, na tabela 3, verifica-se que o apagamento da sibilante é favorecido quando esta, além de estar na coda, contém a informação morfológica de plural (22,6%; P.R. .65), ao passo que, quando essa relação morfológica não é estabelecida, o apagamento é desfavorecido (2,9%; P.R. .35). O apagamento de /S/ em coda, no PST e no PP, é, assim como no PB, um processo de interface morfológica (BRESCANCINI, 2002[29]), no entanto, do mesmo modo que nesta variedade, ocorre, também, em itens cuja fricativa não marca o plural de sintagmas nominais como em (8).

(8)

a. mesmo [ˈmezmʊ] ~ [ˈmeʒmʊ] ~ [ˈmemʊ]

b. antes [ˈɐ̃tɪʃ] ~ [ˈɐ̃tɪ]

c. Jesus [ʒeˈzuʃ] ~ [ʒeˈzu]

d. mais [ˈmaɪ̯s] ~ [ˈmaɪ̯ʃ] ~[ˈmaɪ̯]

Dados nos quais o apagamento da sibilante é identificado de forma independente da função gramatical de plural indicam que, embora a informação morfológica seja uma variável relevante para análise do fenômeno no PST e no PP, este se sustenta, outrossim, como um processo fonológico independente. Isso é reforçado em dados em que o plural é mantido apesar de a sibilante ser elidida, como exposto em (9).

(9)

a. vezes [ˈvezɪ]

b. meses [ˈmezɪ]

Em itens como (9), o plural é marcado pelo sufixo –es [ɪʃ]. Considerando que o apagamento da sibilante fosse um fenômeno exclusivamente morfológico de não demarcação do plural, além de não serem esperados os dados em (8), o apagamento do sufixo –es seria previsto em (9). No entanto, como exemplificado em (9), é possível haver apagamento da sibilante sem que isso acarrete perda de informação gramatical. Isto é: o template silábico CVC é desfeito e reestruturado em uma sílaba CV, mas a concordância plural é mantida.

Justificada a interface morfológica e ainda com base na tabela 3, sobre o PST, notamos que a posição da fricativa, na palavra morfológica, também é uma variável que influencia o apagamento da sibilante: a fronteira de palavra favorece o fenômeno (16,9%; P.R. .65) e a posição medial o desfavorece (2,5%; P.R. .35). Quanto à Tonicidade, sílabas átonas favoreceram o apagamento (13,9%; PR. .63), ao passo que as tônicas o desfavoreceram (3,6%; P.R. .37). Sílabas tônicas, no geral, por portarem a proeminência da palavra são, acusticamente, mais fortes, sendo mais longas e intensas em relação às sílabas átonas (MASSINI-CAGLIARI, 1992[30]). Essas características fonéticas e fonológicas as tornam mais estáveis: isto é, por serem proeminentemente mais fortes, tendem a preservar sua estrutura. Dessa forma, fenômenos como neutralizações e apagamentos não são tão recorrentes em sílabas tônicas quanto em sílabas átonas.

Figure 8. TABELA 3 - Variáveis atuantes no apagamento da sibilante em coda no PST

O PP, embora apresente variáveis selecionadas semelhantes ao PST, possui um range diferente para cada uma destas (tabela 4). Distintamente do PST, a variável mais relevante foi a posição do segmento na palavra final: P.R. .65 e medial: P.R. .35, seguida pela tonicidade átona: P.R. .60 e tônica: P.R. .40. Em relação à Função morfológica, assim como no PST, o índice de apagamento das sibilantes que marca plural foi maior (32,9%; P.R. .60) em detrimento às sibilantes que não portavam essa função (7,2%; P.R. .40). Por fim, para a variável classe gramatical, não-verbos (19,8%; P.R. .59) favoreceram o processo.

Figure 9. TABELA 4 - Variáveis atuantes no apagamento da sibilante em coda no PP

Comparado ao apagamento do rótico, detectado em mais de 50% dos dados, podemos pontuar que o apagamento da sibilante, em coda silábica, é menos frequente no PST e no PP, sugerindo que: (i) o apagamento da coda é um fenômeno amplo nas variedades de STP e não possui somente o rótico como alvo; e (ii) embora o cancelamento das codas seja um processo comum nessa variedade, não ocorre de forma uniforme entre os diferentes segmentos licenciados em tal posição. Ademais, distintamente do rótico, a variação das formas fonéticas da sibilante é mais sutil, restringindo-se à produção de [s] e [ʃ] e de suas contrapartes sonoras [z] e [ʒ], as quais são produzidas em decorrência do contexto de vozeamento do onset seguinte. Isso posto, na seção 2.3 a seguir, discutiremos a distribuição da lateral e a possibilidade de apagamento de tal segmento.

2.3 A lateral

A consoante lateral /l/, além de licenciada no onset de sílabas CV e como o segundo segmento consonantal de uma sílaba CCV, é observada na coda do PST e do PP. Assim como o rótico e a fricativa, diferentes realizações são observadas, como a forma velarizada [ɫ] e vocalizada [w] (BALDUINO; VIEIRA, 2020[16]), como indicado em (10).

(10)

a. ma[ɫ] ~ ma[w]

b. fi[ɫ]me ~ fi[w]me

c. bo[ɫ]so ~ bo[w]so

d. potáve[ɫ] ~ potável[w]

Conforme Balduino e Vieira (2020[16]), a velarização e a vocalização no PST, a exemplo do PB (QUEDNAU, 1993[31]; MATEUS; D’ANDRADE, 2000[13]), são explicadas a partir de uma concepção autossegmental de organização dos segmentos, o mesmo é observado para o PP. Observando as produções de [ɫ] e [w] no PST e no PP em coda, assumimos que a lateral, em posição de onset e coda, a exemplo do PB e do PE, além de [+lateral], [+consoante] e [+soante], tem o ponto de articulação consonantal preenchido como [coronal, +anterior], informação atribuída por regras defaults do português (MATEUS; D’ANDRADE, 2000[13]). Essas regras defaults são justificadas, por exemplo, ao observamos regras de sândi consonantal, como em (11) e (12).

(11) seiscentos e tal alunos= seiscentos e ta[la]lunos

(12) a principal é de fiscalização = a principa[lɛ] de fiscalização

Em ambos os casos em (11) e (12), a lateral em coda, por ser ressilabificada em onset, é realizada como um segmento [coronal, +anterior], sem ter o ponto de articulação vocálico licenciado, resultando em uma sílaba CV. A ressilabificação ou não de /l/, uma regra pós-lexical implementada no nível sintático, sugerem que tanto a velarização quanto a vocalização correspondem a regras definidas em níveis lexicais anteriores no PST e no PP (VIEIRA; BALDUINO, 2020[17]). Nesse caso, a ressilabificação apenas é possível se o segmento gerado for a velar [ɫ]. Caso contrário, se a vocalização [w] é implementada, o contexto de ressilabificação é desfeito, impossibilitando o sândi consonantal: * manua[w]escolar.

Nos casos em que a lateral é licenciada no onset, a lateral mantém os traços [coronal, +anterior]. De outro modo, ao ser licenciada na coda em sua forma velar, esta adquire uma articulação secundária, preenchendo o traço [dorsal, + posterior] ao nó vocálico (QUEDNAU, 1993[31]). Para Quednau (1993[31]) e Mateus e D’Andrade (2000[13]), a velarização de /l/ é um fenômeno de articulação secundária, sendo necessário o licenciamento de traços de consoante e de traços de vocálicos (GOLDSMITH, 1990[11]). A lateral velar, portanto, seria formada a partir do preenchimento dos traços [coronal], enquanto ponto de articulação consonantal, e [dorsal] como ponto de articulação vocálico. A vocalização, de outro modo, decorre do desligamento de traço [coronal] e, consequentemente, do traço [+lateral] que confere ao segmento a característica de consoante, caracterizando, assim, um processo de enfraquecimento.

Do mesmo modo que apontado por Balduino e Vieira (2020[16]) para o PST, observamos que, nos dados investigados do PST e do PP, há alternância de produção entre a forma velar e vocalizada na fala de um mesmo indivíduo. Esse fato, distingue as variedades de STP do PE, posto que vocalização raramente é reportada na literatura desta variedade (MATEUS; D’ANDRADE, 2000[13]), e do PB, variedade em que a variação entre [ɫ] ~ [w] é diatópica (HORA; PEDROSO; CARDOSO, 2010[28]). Esse fato, a princípio, sugere que variáveis sociais podem ser relevantes no favorecimento de uma forma ou outra, podendo, inclusive, em trabalhos futuros, ser testada a hipótese de haver uma mudança linguística em curso.

Alguns autores pontuam ser a oscilação entre [ɫ] e [w] uma regra de telescopia, a qual reflete uma mudança em curso, indicando a perda de um estágio intermediário: l > ɫ > w (TASCA, 1999[32]; QUEDNAU, 1993[31]). A vocalização seria o último estágio dessa mudança, refletindo a concretização do processo de enfraquecimento da coda lateral em português, a qual está em curso no PE e bem consolidada em diferentes dialetos do PB (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002[25]). Todavia, neste estudo, não temos dados suficientes para sustentar essa hipótese, já que, como ambas as formas são empregadas pelos mesmos informantes, podemos ter a influência de fatores segmentais e suprassegmentais, como a tonicidade da sílaba, sobre o fenômeno, demarcando-o como um processo sincrônico. Dessa forma, o exame dos contextos segmentais circundantes a /l/ pode caracterizar, de modo mais claro, os processos de velarização e vocalização no PST e no PP, entretanto, como o foco deste trabalho é descrever, de modo mais geral, o comportamento da coda nessa variedade, e não focar, exclusivamente, em um único processo, essa etapa não será realizada no momento.

Além da vocalização, processo que configura uma alteração no template silábico de CVC para CVV, mediante enfraquecimento, o apagamento também é um fenômeno que atinge a lateral em coda, resultando em uma sílaba CV. Dedicamos a seção 2.3.1, à discussão desse processo tendo /l/ como alvo.

2.3.1 Apagamento da lateral em coda

Com base em 1.488 ocorrências (751 para o PST e 737 para o PP), constatamos que a lateral /l/ foi apagada em 28,2% dos dados no PST e em 23,2% dos dados no PP. As variáveis selecionadas como relevantes para o apagamento foram: contexto anterior e tonicidade para o PP, ao passo que para o PST, além dessas, a posição do segmento e classe gramatical também se mostraram significativas, como indicado no quadro 4.

Figure 10. QUADRO 4 - Apagamento da lateral em coda no PST e no PP

No PST, o contexto vocálico precedente foi a variável mais relevante para o apagamento (range .97), sendo o fenômeno favorecido por todas as vogais com exceção da média-baixa anterior [ɛ] (P.R. .00), em que a realização de [l] é categórica. É interessante notar o descompasso entre o input (.06) e a taxa geral de aplicação do apagamento (28,2%) que pode ser explicado em decorrência da distribuição, não equilibrada, dos dados através dos fatores dessa variável, visto que o único contexto que desfavorece o apagamento aparece apenas em 26 de um total de 751 dados examinados. Em relação à Posição, as laterais mediais foram mais apagadas (38,9%; P.R. .62) em relação às laterais finais (18,4%; P.R. .38); assim como as laterais que estavam em sílabas átonas (42,5%; P.R. .58). Por fim, o fenômeno foi favorecido em verbos (50,5%; P.R. .57) e desfavorecido em itens não-verbais (tabela 5).

Figure 11. TABELA 5 - Variáveis atuantes no apagamento da lateral em coda no PST

Conforme a tabela 6, distintamente do PST, no PP, embora o contexto vocálico precedente tenha sido selecionado como uma variável relevante, as vogais que mais favoreceram o apagamento foram: [i] (48,8%; P.R. .75) e [ɔ] (25,9%; P.R. .67), ao passo que [e] (25%; P.R. .37), [a] (13,4%; P.R. .36) e [o] (18,9%; P.R. .33) desfavoreceram o processo. Por fim, considerando a Tonicidade, notamos que o maior índice de apagamento da lateral ocorre nas sílabas átonas (34,6%; P.R. .65), enquanto o menor ocorre nas tônicas (13,8%; P.R. .35).

Figure 12. TABELA 6 - Variáveis atuantes no apagamento da lateral em coda no PP

Até o momento, analisamos, individualmente, o apagamento dos segmentos /r, S, l/ licenciados na coda no PST e no PP. Como demonstrado, o apagamento é um processo comum a todos os segmentos investigados, promovendo a alteração de um template silábico CVC em CV. Esse fato em consonância com outros processos de enfraquecimento consonantal como a vocalização, ou de reestruturação silábica como o sândi consonantal externo e mesmo a paragoge, corroboram nossa hipótese inicial de que, assim como no PB, sílabas CV são preferidas entre os falantes de PST e PP. Ainda assim, o fenômeno não é uniforme e não atinge as consoantes do mesmo modo. Na subseção 2.4 a seguir, comparamos as taxas percentuais de aplicação do apagamento nas duas variedades do português identificadas no corpus.

2.4 Apagamento das codas /r, S, l/ e ressilabificação em sílabas CV

Contrastando o percentual de apagamento das codas analisadas, reconhecemos que o rótico é o segmento mais elidido, seguido pela lateral e pela sibilante, como indicado na figura 3.

Figure 13. FIGURA 3 - Proporção de apagamento de /r/, /S/ e /l/ no PST e no PP

A proporção de apagamentos observada na figura 3 indica que o apagamento, na coda silábica, é um processo recorrente no PST e no PP, sendo aplicado às consoantes examinadas neste estudo. No entanto, se, por um lado, a frequência deste fenômeno, em consonância com os processos de vocalização das líquidas /r/ e /l/ corroboram a hipótese de que a fronteira silábica é o constituinte mais frágil da sílaba (SELKIRK, 1982[18]), por outro, indicam que tal debilidade não é homogênea para todos os segmentos no PST e no PP (RODRIGUES, 2012[27]; VIEIRA; BALDUINO, 2020[17]). Ademais, nem sempre há uma coincidência entre as variáveis que favoreceram o apagamento entre as consoantes examinadas, podendo estas alternarem, inclusive, entre as variedades analisadas. A variável posição, por exemplo, embora tenha sido relevante para a maior parte dos apagamentos, favorecendo o apagamento do rótico e da sibilante em final de palavra morfológica, não foi uma variável selecionada para a lateral no PP. Já no PST, embora selecionada, o meio da palavra morfológica foi o fator mais significativo para o fenômeno, e não o final. Dentre as demais variáveis testadas, não houve, portanto, uma que fosse consistentemente selecionada para todas as consoantes.

Além de serem apagados da coda, o rótico, a sibilante e a lateral também são alvos de outros fenômenos que privilegiam a sílaba CV em detrimento à estrutura CVC. Esse é o caso do sândi consonantal externo, da paragoge em palavras findas por rótico, ou mesmo pelo enfraquecimento consonantal de /r/ e /l/, os quais são realizados como [w]. Somando-se a isso e, embora não tenha sido tratada neste artigo, a coda nasal /N/, pode ser apagada no PST e no PP (BALDUINO, 2018[20]). Conforme Balduino (2018[20]), em ambas as variedades de STP, caso a coda /N/ seja apagada depois do espraiamento regressivo da nasalidade, a vogal tautossilábica nasalizada torna-se mais longa em relação às suas contrapartes orais, mantendo a temporalidade de uma sílaba CVC, mas compondo uma sílaba CV. De modo distinto, se a nasal for elidida da coda, antes da nasalização, a vogal tautossilábica permanece oral e sem qualquer alongamento. Notamos assim, que de forma semelhante às demais codas, /N/ também pode ser apagada gerando uma alteração de template silábico CVC > CV.

É preciso ressaltar, ainda, que o apagamento, no PST e no PP, não é um fenômeno cujo domínio seja exclusivamente a coda. Estruturas complexas do tipo CCV também são, frequentemente, alteradas para uma forma CV: primo [ˈpɾimʊ] ~ [ˈpʁimʊ] ~ [ˈpimʊ] (CCV > CV). Esses fatos, quando analisados em conjunto, sugerem que estruturas silábicas complexas, por fugirem ao padrão CV, estrutura considerada tipologicamente menos marcada nas línguas naturais (ZEC, 2007[33]), são marcadas e, por isso, podem ser submetidas a processos cujo resultado é, justamente, a forma menos marcada: CV. Faz-se necessário, portanto, discutir a sílaba no PST e no PP tendo em vista outros fenômenos da língua e outras estruturas silábicas, tema para pesquisas futuras.

3. Considerações finais

A coda, no PP, pode ser preenchida por /N, r, S, l/, fonemas que apresentam diferentes realizações fonéticas e são apagados em proporções distintas. Isso, em conjunto com os processos de ressilabificação e de enfraquecimento consonantal detectados, nos levam a concluir, a exemplo de estudos anteriores dedicados ao PB e ao PE (CALLOU; LEITE; MORAES, 2002[25]; RODRIGUES, 2012[27]), que, no PST e no PP, a coda é um domínio suscetível a apagamentos e variações, sendo o constituinte mais débil da sílaba (SELKIRK, 1982[18]) – ainda que tal fragilidade não atinja todas as codas com a mesma intensidade ou do mesmo modo. A partir da discussão proposta neste estudo, que foca nos segmentos /r, S, l/ em coda, pretendemos contribuir, então, com alguns aspectos da descrição fonológica do PST e do PP, variedades do português faladas em São Tomé e Príncipe, ainda pouco estudadas. Como este trabalho configura uma análise pioneira da coda em tais variedades, algumas questões permaneceram sem respostas e, por isso, ressaltamos a necessidade de maior aprofundamento na análise dos processos elencados, ampliando, especialmente, a discussão em torno da preferência pelo padrão silábico CV – estrutura que, tipologicamente, é referida na literatura como menos marcada nas línguas naturais.

Agradecimentos

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento que permitiu a condução dessa pesquisa e elaboração deste artigo: processos 2015/25332-1 e 2017/26595-1.

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