Línguas e heranças africanas no Brasil: articulando política linguística e sócio-história

Cristine Gorski SEVERO

Abstract

O texto aborda o lugar atribuído às línguas africanas nos discursos coloniais e modernistas brasileiros. Para tanto, articula-se sócio-história e políticas linguísticas, com vistas a se averiguar os significados e papeis atribuídos a essas línguas em contextos políticos e sociais específicos. Assume-se que no contexto colonial tais significados envolveram tanto representações gramaticais e jesuíticas, como o uso “simplificado” da língua portuguesa pelos africanos escravizados. No contexto modernista, os significados atribuídos às línguas africanas estiveram a reboque de uma dada representação bipolarizada de português brasileiro, em que as africanidades linguísticas estiveram associadas às ideias de popular, regionalismo e oralidade. Além disso, o texto discorre sobre o complicado conceito de mestiçagem aplicado às línguas africanas. Por fim, defende-se a importância de uma análise sócio-histórica e política das línguas e heranças africanas no Brasil de forma a se evidenciar as relações de poder envolvidas, como a relação entre língua e raça.

Full-text of the article is available for this locale: Português (Brasil).

References

AMARAL, Amadeu. O dialeto caipira. 1920. Disponível em: http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao13/pdfs/dialeto.pdf. Acesso em: 05 jan. 2018.

AMARAL, Azevedo. O problema eugênico da immigração. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EUGENIA. Actas e Trabalhos do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia. Rio de Janeiro: Academia Nacional de Medicina, 1929. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AceBibCOC_R&PagFis=10172. Acesso em: 06 jan. 2019.

ANDRADE, Mario de. Compêndio de história da música. São Paulo: Chiarato, 1929.

ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 1982 [1711].

AROUX, Silvain. A revolução tecnológica da gramatização. Campinas: editora da Unicamp, 2009.

BLUTEAU, Rafael. Vocabulario Portuguez e latino – v. 2 e 5. Lisboa: Officina de Pascoal da Sylva, Impressor de Sua Magestade, 1716.

BURKE, Peter. A arte da conversação. São Paulo: editora da UNESP, 1995.

CALVET, Louis-Jean. As políticas linguísticas. São Paulo: Parábola/IPOL, 2007.

CARNEIRO, Levi. Educação e Eugenia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE EUGENIA. Actas e Trabalhos do Primeiro Congresso Brasileiro de Eugenia. Rio de Janeiro: Academia Nacional de Medicina, 1929. Disponível em: http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=AceBibCOC_R&PagFis=10172. Acesso em: 06 jan. 2019.

CASTRO, Yeda Pessoa de. Das línguas africanas ao português brasileiro. AfroÁsia, n. 14, 1983. p. 81-106.

CASTRO, Yeda Pessoa de. O português do Brasil, uma intromissão nessa história. In: GALVES, Charlotte; GARMES, Helder; RIBEIRO, Fernando Rosa. África-Brasil: caminhos da língua portuguesa. Campinas: editora da Unicamp, 2009. p. 175-184.

COOPER, Robert. Language planning and social change. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.

DIAS, Pedro. Arte de grammatica da lingua de Angola. Lisboa: Miguel Deslandes, 1697.

DIAS, Pedro. Arte de grammatica da lingua de Angola. In: ROSA, Maria Carlota. Uma língua africana no Brasil – colônia de seiscentos. Rio de Janeiro: 7Letras, 2013. p. 111-226.

ERRINGTON, Joseph. Colonial Linguistics. Annual Review of Anthropology, v. 30, 2001. p. 19-39.

FANON, Franz. Pele negra, máscaras brancas. Tradução de Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008 [1952].

FERNANDES, Gonçalo. A Língua Geral de Mina (1731/1741), de António da Costa Peixoto. Confluência - Revista do Instituto de Língua Portuguesa, n. 42, 2012. p. 23-46.

FISHMAN, Joshua. Critiques of language planning: A minority languages perspective. Journal of Multilingual and Multicultural Development. v. 15, n. 2-3, 1994. p. 91-99.

FISHMAN, Joshua. Nationality-Nationalism and Nation Nationism. In: FISHMAN, J. A.; FERGUSON, Charles A.; GUPTA, Jyotirindra Das (orgs.). Language Problems of Developing Nations. New York: John Wiley & Sons, 1968. p. 39-51.

FREYRE, G. Casa-grande e senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. São Paulo: Global, 1933.

FREYRE, G. O mundo que o português criou. Rio de Janeiro: José Olympio, 1940.

GARCIA, Tania da Costa. O “it verde e amarelo” de Carmen Miranda (1930-1946). São Paulo: Annablume/Fapesp, 2004.

LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Tomo 1. Lisboa: Livraria Portugália/Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938.

MAKONI, Sinfree; PENNYCOOK, Alastair (orgs.). Disinventing and Reconstituting Languages. Clevedon: Multilingual Matters, 2006.

MATTOSO, Katia M. de Queiroz. Ser escravo no Brasil. 3. ed./2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2003.

MELO, Gladstone Chaves. A língua do Brasil. Fundação Getúlio Vargas, 197 [1946].

MENDONÇA, Renato. A influência africana do Português no Brasil. Brasília: FUNAG, 2012 [1935].

NETO, Serafim da Silva. O dialeto brasileiro (1936). In: PINTO, E. P. O português do Brasil: textos críticos e teóricos 2 (1920-1945). Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1981.

PEIXOTO, Antonio. Obra nova da língua geral de mina (1731/1741). Publicado e apresentado por Luís Silveira. Lisboa: Agência Geral das Colónias, 1944. Disponível em: http://purl.pt/16608/3/#/1.

PILLER, Ingrid. Linguistic Diversity and Social Justice: An Introduction to Applied Sociolinguistics. Oxford: Oxford University Press, 2016.

RAIMUNDO, Jacques. O elemento afro-negro na língua portuguesa. Rio de Janeiro: Renascença, 1933.

PINTO, Edith Pimentel. A gramatiquinha de Mário de Andrade. São Paulo: Duas cidades, 1990.

QUEIROZ, Sonia. Remanescentes culturais africanos no Brasil. ALETRIA, v. 9, 2002. p. 48-60. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/poslit. Acesso em: 05 jan. 2019.

RAJAGOPALAN, Kanavillil. Política Linguística: do que é que se trata, afinal? In: Nicolaides, C. et. al .(orgs.). Política e Políticas Linguísticas. SP: Pontes, 2013. p. 19-42.

RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 2008 [1933].

SCHIFFMAN, Harold. Linguistic culture and language policy. London: Routledge, 1996.

SEVERO, Cristine Gorski; ELTERMANN, Ana Claudia F. Língua e brasilidade no pensamento linguístico dos anos 1940-1960. Investigações (Online), v. 31, 2018. p. 410-428.

SEVERO, Cristine Gorski; MAKONI, Sinfree. B. Políticas Linguísticas BrasilÁfrica: Por uma perspectiva crítica. Florianópolis: Insular, 2015.

SEVERO, Cristine Gorski. Os jesuítas e as línguas. 2019 (no prelo).

SEVERO, Cristine Gorski. Políticas Patrimoniais e Projetos Nacionalistas: Línguas e Brasilidade em tela. In: FREITAG, Raquel Meister Ko.; SEVERO, Cristine Gorski; GÖRSKi, Edair Maria (orgs.). Sociolinguística e Política: Linguística Olhares Contemporâneos. São Paulo: Blucher, 2016. p. 189-203.

SEVERO, Cristine Gorski. Língua portuguesa como invenção histórica: brasilidade, africanidade e poder em tela. Working Papers em Linguística (ONLINE), v. 16, 2015. p. 35-61.

SHOHAMY, Elana. Language Policy: Hidden Agendas e New Approaches. Londres/Nova York: Routledge, 2006.

SILVEIRA, A. F. de Souza. A denominação do idioma nacional no Brasil. In: BECHARA, Evanildo (org.). Estudo da língua portuguesa: textos de apoio. Brasília: FUNAG, 2010 [1946].

SPOLSKY, Bernard. Language Policy. Anais do 4º Simpósio Internacional de Bilinguismo [4th International Symposium on Bilingualism]. Cascadilla Press, Somerville: 2004. p. 2153-2164.

VELLOSO, Mônica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, 1987.

VIDE, d. Sebastião Monteiro da. As Constituições do Arcebispo da Bahia de 1707. São Paulo: Typographia de Antonio Louzada Antunes, 1853.

VIANA FILHO, Luis. A Língua do Brasil. Bahia: A Gráfica, 1936.

VIERA, Antônio Padre. Maria Rosa Mística: sermões XIV e XX. Edição de referência: Sermões, Padre Antônio Vieira. Erechim: Edelbra, 1998 (1686-1688). Texto-base digitalizado por NUPILL. Disponível em: https://www.literaturabrasileira.ufsc.br/documentos/?action=midias&id=144104. Acesso em: 05 jan. 2019.