Explorando pistas sociolinguísticas em obras literárias: o diálogo literário e a construção de personas sociais através de traços variáveis da língua

Keila Vasconcelos Menezes

Resumo

Nesse artigo, objetivamos contemplar teorias e métodos para o estudo da variação linguística no diálogo literário, e para isso apresentamos os direcionamentos teórico-metodológicos e os resultados de três pesquisas sociolinguísticas que tomaram como fonte de dados obras literárias: (i) – A literatura como fonte de dados: um olhar sociolinguístico sobre a obra História da Minha Infância, de Gilberto Amado (Correia, 2014), na qual se observa o uso de marcas linguísticas da língua falada como ferramentas de construção de personas sociais; (ii) – “Atos de fala não-declarativos de comando na expressão do imperativo: A dimensão estilística da variação sob um olhar funcionalista” (Reis, 2003), que correlaciona as relações sociopessoais dos interlocutores à variação linguística no imperativo; e, “Monitoramento e identidade linguística: Um estudo de palavrões em duas versões de uma obra literária itabaianense” (Menezes, 2022), que contempla valores e crenças observados em sociedade reverberados nos palavrões presentes nas falas de personagens. Evidenciamos que o texto literário fornece valiosas pistas acerca da consciência sociolinguística de seus autores/escritores, que selecionam traços linguísticos que lhes são salientes e os associam a pessoas e grupos sociais, evocando e contribuindo para o que se tem sido chamado de Linguística Folk, e a análise dos aspectos contextuais disponibilizados na narrativa e sua correlação com o uso das variantes, em uma abordagem quantitativa e qualitativa de tratamento de dados, mostrou-se bastante produtiva e promissora, especialmente em uma perspectiva de terceira onda da Sociolinguística.

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