Linguística popular: questões sobre práticas emancipatórias

Livia Maria Falconi Pires,
Lígia Mara Boin Menossi de Araujo

Resumo

A linguística popular, campo de estudos da linguagem já bem constituído no contexto estadunidense, a partir dos trabalhos de Niedzielski e Preston (2003) e no francês, a partir dos trabalhos de Paveau (2008 e 2019), começa a produzir os seus primeiros resultados no Brasil, a partir dos trabalhos de Baronas e Cox (2020); Baronas (2021); Baronas, Gonçalves e Santos (2021) e Baronas, Matos e Almeida (2021). Esse campo de estudos se debruça, reflexivamente, entre outras coisas, sobre as práticas linguísticas dos não-linguistas, isto é, busca entender o funcionamento de práticas descritivas, prescritivas, intervencionistas e militantes de sujeitos que não tem formação em letras ou em linguística, mas mesmo assim produzem saberes sobre a própria língua e a língua dos outros. Essas práticas abarcam um conjunto de fenômenos linguísticos que vão da percepção, passando pela avaliação e chegam aos metadiscursos produzidos pelos sujeitos sobre a sua língua e a língua dos outros. Neste trabalho, procuramos levantar um conjunto de práticas linguistas emancipatórias que circulam no ambiente digital, buscando compreendê-las de modo a empreender uma tipologia específica para tais práticas em virtude do corpus de análise selecionado, denominamos como práticas originárias. Em última instância, nossa questão de fundo é verificar em que medida, para além do politicamente correto, as práticas militantes produzem reconfigurações linguísticas nas falas das pessoas.

Referências

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