A contribuição de Amélia Mingas para uma história linguística angolana: contextualizações iniciais

Eduardo Ferreira dos Santos

Resumo

O presente artigo tem como objetivo contextualizar e analisar a produção da linguista angolana Amélia Mingas (1940-2019), em específico seu trabalho Interferência do kimbundu no português falado em Lwanda – 2000 (1988). A partir dessa obra, pretendemos apontar sua contribuição na delimitação de uma história linguística transatlântica subequatorial e descolonizada, nos termos de Negrão (2020) e Coelho; Finbow (2020), contemplando, assim, ecologias ainda pouco privilegiadas em abordagens majoritariamente eurocêntricas. Utilizando-se dos pressupostos teórico-metodológicos da Historiografia Linguística, disciplina responsável pela descrição, análise e interpretação do conhecimento sobre as línguas e a linguagem, produzidos por diferentes agentes e em diferentes intervalos temporais (BATISTA, 2019, p.9), buscamos evidenciar o contexto em que a obra de Mingas foi produzida, isto é, o clima de opinião que permeou o desenvolvimento da obra em questão. Desse modo, valemo-nos das reflexões de Swiggers (2013, 2019) sobre os instrumentos conceptuais da Historiografia Linguística, assim como o princípio da contextualização de Koerner (1996, 2014) para alcançarmos nosso objetivo

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