Origem e consolidação da gramática tradicional: historiografia de uma tradição discursiva
Resumo
O presente artigo tem por tema a origem e consolidação da gramática tradicional, em uma abordagem inovadora, que promove um diálogo entre a Historiografia Linguística e as Tradições Discursivas. O seu objetivo é apresentar reflexões acerca da possibilidade de situá-la temporalmente como uma tradição discursiva, considerando a sua consolidação ao longo dos séculos, desde seu surgimento na Grécia helenística. Para tanto, partiu-se dos postulados de duas áreas fundamentalmente históricas: a Historiografia Linguística (Koerner, 1996, 2014; Swiggers, 2012, 2019) e as Tradições Discursivas (Kabatek, 2005, 2015; Koch, 2008; Barbosa, 2012; Andrade e Gomes, 2018). Com relação à metodologia, seguiram-se os princípios de Koerner (1996; 2014) e Swiggers (2012; 2019). O corpus selecionado para análise é composto pelas seguintes gramáticas: a Téchne grammatiké, de Dionísio Trácio, possivelmente do século II-I a.C., e a Grammatica da lingua portuguesa, de João de Barros, que veio a lume no século XVI d.C. O exame empreendido das obras, com base nas categorias de análise definidas, aponta para a possibilidade de se considerar a gramática tradicional como uma tradição discursiva, que se mantém no curso da história do pensamento sobre a linguagem
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