As molduras argumentativas do Instagram: design descritivo-analítico de interação multimodal

Ana Paula de Sousa Bacelar,
Rubens Damasceno-Morais

Resumo

A análise apresentada neste artigo busca dimensionar os comentários on-line do perfil @escolasempartidooficial num plano teórico metodológico que articula princípios da Netnografia ao aparato teórico do modelo dialogal da argumentação. Para a construção do design de interação multimodal do Instagram, conjugamos contribuições teóricas da Argumentação e da Retórica (PLANTIN, 2002, 2005, 2008, 2009, 2011, 2016; GRACIO, 2013) à literatura específica das mídias digitais (DIONÍSIO, 2011; ROJO, 2012; NEIVA, 2013; SLOAN; QUAN-HAASE, 2017; KOZINETS, 2014). Partimos da ideia de que, na página analisada, a identidade profissional docente é posta em questão quando ocorre o choque de posicionamentos dos docentes e do Escola Sem Partido sobre “o que é ser professor”. Conforme buscaremos mostrar a seguir, a partir dessa estase, os usuários (seguidores e não-seguidores) passam a manifestar as suas avaliações através de ícones de interação específicos da plataforma e, principalmente, dos comentários que, no deslinde da discussão, fundam cadeias de interação organizadas em molduras argumentativas.

Introdução

O objetivo deste artigo é propor um design de interação multimodal construído a partir do layout do Instagram e das formas de interação que subjazem a dinâmica dos comentários on-line. Nesse empreendimento, chamamos de moldura argumentativa a configuração resultante de um emaranhado complexo de recursos e de movimentos das redes sociais, tais como: comentários, curtidas, reposts, menções, hashtags etc. Salientamos, de início, o caráter particular e circunstancial dessa organização, dado que, em função das idiossincrasias de cada plataforma e dos seus aparatos organizacionais, as “molduras” são continuamente submetidas a atualizações e, por conseguinte, propensas a reformulações.

Nosso texto está dividido em três partes: na primeira (Netnografia e comportamento digital), nos dedicamos à revisão da literatura sobre mídias digitais e Netnografia; na segunda (As formas de interação na rede e a multimodalidade), mobilizamos as noções de “questão argumentativa”, “papéis actanciais” e “estase argumentativa” da teoria dialogal e os conceitos de “interação”, “interatividade”, “interação multimodal” e "engajamento” os quais subsidiarão a nossa análise; na terceira (Molduras argumentativas e interação multimodal), a partir da verticalização teórica, procederemos com a articulação das noções constitutivas do modelo plantiniano no plano metodológico netnográfico para a construção das “molduras argumentativas”, conceito que explanaremos em detalhes e aplicaremos à análise apresentada na seção final.

O modelo descritivo-analítico adotado neste estudo resultou de um exercício de imersão nos dados prospectados do perfil oficial do Escola Sem Partido (doravante ESP) no Instagram. O referido movimento, criado em 2004 pelo procurador paulista Miguel Nagib, conta com uma ampla rede de difusão que inclui ainda um site oficial e páginas no Facebook, Twitter, Telegram e YouTube. Investindo nas redes sociais, o ESP obteve ágil disseminação de pautas e captação de apoiadores e de seguidores arregimentados em torno de um projeto que propaga, no seu ideário, o combate à ideologia de gênero, a defesa da prevalência familiar sobre a educação religiosa e moral dos seus filhos e a denúncia da doutrinação partidária e ideológica nas escolas.

Segundo declarado na página oficial do ESP, é papel de todos os membros da comunidade combaterem a ação de “um exército de militantes travestidos de professores que abusa da liberdade de cátedra e se aproveita do segredo das salas de aula para impingir-lhes [aos estudantes] a sua própria visão de mundo1”. Dito de outro modo, para o movimento, o docente conta com a audiência cativa do aluno e, nesse sentido, ao manifestar opiniões e preferências pessoais, viola a liberdade de consciência e de crença dos discentes.

É oportuno frisar que a questão da ação docente para a doutrinação ideológica sempre esteve no centro das discussões promovidas pelo movimento Escola Sem Partido e, nas redes sociais, o assunto se tornou tema contínuo nas publicações por ele compartilhadas. Como consequência, nas postagens, nas legendas e nos comentários, são constantes os choques de entendimentos sobre a função da escola e, principalmente, a respeito da concepção do “ser professor”. Nesse passo, é relevante a discussão sobre a constituição da identidade profissional docente e o seu redimensionamento no contexto sócio histórico-político-econômico de atuação do ESP2.

Dada a amplitude epistemológica dos termos identidade e identidade profissional, esclarecemos que, para os fins deste estudo, “a identidade resulta de sucessivos processos de socialização” (DUBAR, 2005, p. 105, grifo nosso)[1] sobre o qual incidem duas dimensões: a dimensão de autorreconhecimento (imagem de si; uma perspectivação do ethos – como o indivíduo se vê e diz o que se é) e a dimensão de alter-reconhecimento ou heterorreconhecimento (imagem coletiva/social – como o outro o vê e diz como ele é).

Sumariamente, a identidade profissional é marcada pela contingência das dimensões individual e coletiva. Assim, pensar o “ser professor”, numa perspectiva do autorreconhecimento, implica observar como o sujeito se reconhece, qual é o valor que ele atribui ao ofício que exerce. Sob a ótica do heterorreconhecimento, por sua vez, pressupõe articular o sujeito aos diversos condicionantes que definem o seu papel e o seu lugar na sociedade. Discutir os aspectos relacionados à identidade do professor envolve considerar ainda a cena educacional como campo de tensão e espaço de disputa entre grupos sociais com posicionamentos claramente antagônicos frente à questão “O que é ser professor?”. Destarte, a construção identitária é um empreendimento complexo, no qual perspectivas particulares e coletivas colidem, constituindo uma questão argumentativa por excelência.

Sendo assim, ao tratar da identidade profissional, é primordial ponderar sobre a assunção dos valores que subsidiam o ethos e a imagem docente. Trata-se, portanto, de um processo de identificação de valores e de análise dos discursos que sustentam a configuração do “ideal”, do “preferível” e do “bom” no que diz respeito ao professor. Considera-se, nesse contexto, como “ideal” o conjunto de anseios que se constroem a partir do possível. Para Marcelo (2009, p. 112)[2], “a identidade não é um atributo fixo para uma pessoa, e sim um fenômeno relacional”. Outrossim, é na intersubjetividade que a identidade se desenvolve e se caracteriza, de acordo com o mesmo estudioso, como um processo evolutivo, de interpretação de si mesmo como pessoa inserida em determinado contexto.

Portanto, diante da questão “O que é ser professor?”, a definição, como ponto focal do desacordo, não é uma construção prototípica, estável, formal. Conforme mostraremos adiante, quando a atividade de definir envolve uma identidade profissional, prevalece seu caráter bidimensional, constituído pelos elementos qualificadores (características reconhecíveis e atributos ideais) e pelos elementos funcionais (relativos à atuação e ao papel social) que servem à sua formulação. Uma vez apresentadas essas considerações iniciais sobre o ideário do ESP e expostas as explanações nocionais sobre ethos, imagem, identidade e identidade profissional e definição, na sequência esclarecemos o itinerário metodológico da pesquisa e os pressupostos da Netnografia, um plano metodológico desenvolvido por Robert Kozinets.

1. Netnografia e comportamento digital

A descrição dos aspectos metodológicos que orientam estudos da argumentação desenvolvidos a partir de dados prospectados nas redes sociais é sempre um empreendimento desafiador em vários aspectos (desde o volume dos dados à complexidade da organização multimodal do espaço digital). Para Silva (2005, p. 19)[3], a pesquisa é “um conjunto de ações, propostas para encontrar a solução para um problema, que têm por base procedimentos racionais e sistemáticos”. Nesse passo, pesquisar cientificamente pressupõe levar em consideração diferentes variáveis que viabilizem a busca pelo conhecimento, apoiando-se em procedimentos capazes de garantir a confiabilidade dos resultados. No que tange às redes sociais, Sloan e Quan-Haase (2017)[4] argumentam que, embora alguns estudiosos tenham examinado a mídia social como uma esfera separada da ‘vida real’, esses aplicativos precisam ser abordados como parte integrante da sociedade em geral. Segundo os mesmos autores, “É míope pensar que os dados da mídia social surgem no vácuo” (SLOAN; QUAN-HAASE, 2017, p.03)[4].

Nesse mesmo passo, na obra Handbook of Social Media Research Methods (SAGE), ao descrever uma experiência de abordagem qualitativa dos dados do Instagram, Laestadius (2017)[4] propõe a análise a partir dos padrões de uso das ferramentas digitais, tais como: reposts, likes, comentários, hashtags e, em última instância, as variáveis de engajamento. Sendo assim, a extrapolação de dados do Instagram, na perspectiva da pesquisadora, se debruça sobre a relação do seu conteúdo com eventos exógenos.

De forma geral, todos esses autores postulam que a pesquisa acadêmica utilizando mídias sociais não deve ser confundida com as fontes primárias tradicionais, tampouco ser submetida a metodologias que não consideram seu regimento próprio e sua dinâmica de organização e de engajamento. Urge, pois, que sejam instauradas novas propostas voltadas às particularidades e idiossincrasias desses agrupamentos “virtuais” (aqui adotados como redes de indivíduos espontaneamente reunidos, por motivações distintas, em grupos que não interagem in praesentia).

Neste artigo, apresentamos um breve recorte de uma pesquisa maior cujo corpus, ao qual denominamos POST_ESP, é constituído, em sua integralidade, por 9 publicações e 482 comentários produzidos por 283 usuários/seguidores diferentes no perfil @escolasempartidooficial no Instagram. Para a melhor organização das informações, utilizamos abreviações e, a fim de facilitar o reconhecimento de cada turno e a mudança de interlocutores, os comentários, os tópicos de comentários e os usuários foram enumerados (ex. US1 – usuário/seguidor/comentarista 1; C1- comentário 1; TC1 – tópico de comentário 1).

Aqui, conforme já definido, iremos nos restringir à formulação das cadeias de interação e, portanto, recorreremos ao banco de dados pontualmente. Esclarecemos ainda que, nas primeiras tabulações, partimos do levantamento do número de curtidas e de comentários para o exame do engajamento. Também consideramos o número de publicações no período mensal como forma de observarmos o crescimento da página do ESP desde a sua fundação até o momento do levantamento dos dados. Destarte, esta pesquisa, ao adotar como variáveis para a validação de hipóteses os índices ou quantificadores de interação, recorre à metodologia quantitativa.

Oportunamente, na busca pela adequada abordagem metodológica, utilizando-nos dos postulados de Gil (1991)[5], do ponto de vista dos procedimentos técnicos, conduzimos nossos estudos como uma pesquisa bibliográfica (visto que recorremos ao inventário de materiais já publicados, especialmente livros e artigos disponíveis em periódicos) e documental (posto que instituímos fontes primárias, isto é, dados e informações que ainda não foram tratados científica ou analiticamente). Assumimos um direcionamento misto, ou seja, consideramos aspectos quantitativos (os índices de engajamento, especialmente, o número de comentários e de curtidas) e aspectos qualitativos (na medida em que adotamos uma metodologia flexível, considerando dados concretos, correlacionando-os a pressupostos teóricos e lançando sobre eles um constante olhar interpretativo). Como parte desse investimento no tratamento dos dados coletados, reconhecido o caráter predominantemente descritivo, buscamos amparo na Netnografia.

Em termos gerais, a Netnografia, termo cunhado pelo pesquisador canadense Robert Kozinets em 2010, é um estudo oriundo da Etnografia e, assim como a sua disciplina base, observa o comportamento humano. O investigador, no entanto, direciona o seu olhar à interação social mediada pela tecnologia, especificamente aos websites, jogos em rede, fóruns, blogs, podcasts e plataformas de redes sociais. Para Cristine Hine (2000)[6], uma etnografia da internet pode olhar em destalhes para as formas pelas quais a tecnologia é experenciada em uso. Amaral (2010)[7], por sua vez, define a Netnografia como uma forma de investigação interpretativa e empírica aplicada a ambientes on-line a fim de desvendar padrões de comportamento social e cultural.

Kozinets (2014)[8], de forma sumária, define a Netnografia como

.

uma abordagem da pesquisa online de observação participante que segue um conjunto de procedimentos e protocolos distintos. A netnografia é apropriada para o estudo tanto de comunidades virtuais quanto de comunidades e culturas que manifestam interações sociais importantes virtualmente. Considerações norteadoras do uso e coordenação do campo de trabalho netnográfico e etnográfico incluem: o grau de integração de comportamentos sociais online e face a face focais, a relativa importância da observação corporificada em vez da autorrepresentação verbal ou de outro tipo, e a necessidade de identificação individual (KOZINETS, 2014, p.72, grifo nosso)[8].

.

A Netnografia, portanto, estuda o comportamento das comunidades virtuais e, nesse sentido, é bastante promissora no que tange à exploração do universo social ou das relações sociais estabelecidas entre membros de uma comunidade virtual. Nos estudos sobre autorreconhecimento e alter-reconhecimento dentro das comunidades virtuais, a Netnografia põe em evidência o interesse pela interação e coleta de dados inteiramente on-line. Além disso, sugere a avaliação da natureza das interações (síncronas e assíncronas), das convenções e das técnicas de comunicação próprias do meio, fatores responsáveis pelo estabelecimento dos regimentos da comunicação mediada pelo computador, universo do qual foi extraído o corpus a ser analisado nesta pesquisa.

2. As formas de interação na rede e a multimodalidade

A interação é a essência das redes sociais. Os usuários das plataformas digitais, organizados em torno de interesses comuns, atuam ativa e colaborativamente nos espaços conversacionais nos quais interagem. No ciberespaço, a interação é sinalizada pelo engajamento evidenciado por ações como curtir, comentar, repostar e mencionar pessoas nas publicações e nos comentários. Por consequência, os indivíduos continuamente produzem conteúdos, respondem a publicações e/ou menções e avaliam as postagens compartilhadas utilizando para isso ícones de interação ou comentários e repostagens no feed (quando um usuário replica no próprio perfil um conteúdo originalmente publicado em outra página). Dessarte, agem como “programadores culturais que retalham, reformatam, reconcebem, num processo de reinterpretação interminável, o que está disponível nas redes de informação, agora montadas em escala global” (NEIVA, 2013, p. 298)[9].

Diante do flagrante protagonismo da interação nas plataformas, as teorias sobre mídias digitais destacam a relevância das redes sociais no estabelecimento e na manutenção das relações humanas. Conforme dito anteriormente, os agentes (usuários) são organizados sob novas formas de socialização num processo contínuo de construção identitária. Frente à impossibilidade da interação presencial, nas redes sociais, os indivíduos são reconhecidos a partir do conteúdo que compartilham, ou seja, do discurso que enunciam nos perfis das suas redes sociais. Sendo assim, o universo multimodal das redes sociais e seu alto potencial interativo exigem novas formas de significar e de interagir. Para Dionísio (2011)[10], a multimodalidade é um traço constitutivo do discurso e, na contemporaneidade, uma pessoa letrada deve ser alguém capaz de atribuir sentidos a mensagens oriundas de múltiplas fontes de linguagem.

Desse modo, ler e escrever no ciberespaço pressupõe capacidades e práticas de compreensão e de produção de textos multimodais compostos de muitas linguagens, ou modos, ou semioses (ROJO, 2012)[11], o que permite, inclusive, a mobilização de argumentos a partir da mescla entre diversas semioses, por exemplo na combinação do verbal com o visual. Esse investimento plurissemiótico contribuirá para a construção de uma “mensagem argumentativa lisível” (DOURY, 2016, p. 172)[12], exatamente como apontaremos, a partir de molduras argumentativas.

É importante que se compreenda que a opção desta pesquisa pelo Instagram em detrimento das outras redes de difusão do ESP se deve às formas de organização, à grande adesão dos usuários e ao elevado grau de interatividade da plataforma e, certamente, pela riqueza plurissemiótica daquele ambiente virtual. Em análise prévia do Instagram, é possível observar que o aplicativo permite o compartilhamento de conteúdo de imagens e vídeos que são visualizados e avaliados pelos seguidores (usuários vinculados ao perfil e, no caso de contas abertas, qualquer outro usuário da rede) através de curtidas, de comentários e de compartilhamentos. O conteúdo depositado no Instagram pode ser mantido em sua originalidade ou editado a partir de filtros fornecidos pelo próprio aplicativo.

No âmbito organizacional, a referida rede conta com os recursos gráficos computacionais os quais, como mostra a imagem 1, servem à composição multimodal integradora de diferentes modos e recursos semióticos no Instagram.

Figure 1. IMAGEM 1 – Organização multimodal Fonte: elaborada pelos autores.

Nesse espaço virtual, representado pela imagem 2, temos os ícones de interação (curtir, comentar, salvar/guardar e enviar). Ali destacamos as estratégias de interação (ou convocação ao debate) e os recursos que envolvem as hahstags, isto é, palavras-chave que promovem a associação de conteúdos e o monitoramento de publicações. A hashtag funciona para indexar um tópico ou assunto nas redes sociais. Assim, é possível criar redes de diálogos entre usuários e estabelecer uma hierarquia de temas de acordo com a sua relevância (ou recorrência). Desse modo é constituído um trending topic, ou seja, um ranking de tags mais usadas no aplicativo. Para além disso, esse recurso serve como forma de “exteriorizar ideais, sentimentos, preferências, indignações e posicionamentos variados dos indivíduos que compõem o ciberespaço” (MOURA; MANDAJI, 2014, p. 7)[13].

Conforme já exposto, as redes sociais constituem domínios virtuais de adensamento flutuante (não fixo) de usuários reunidos em torno de valores compartilhados. Esses “espaços conversacionais” estão organizados em diversos ambientes construídos a partir de objetivos definidos, em atendimento a públicos específicos. Nesses domínios, o desenvolvimento de aplicações multimodais é fundamental para possibilitar uma maneira menos superficial de comunicação, ou seja, interfaces mais eficientes, intuitivas e, de certa forma, mais inteligentes. Essa oferta de diversas formas de interação permite uma melhor adaptação do usuário ao aplicativo. Outrossim, a articulação desses recursos de múltipla natureza e semioses promove a interação multimodal, bastante característica do Instagram. O uso de múltiplos recursos garante a permanência do usuário na rede e o seu engajamento, o que também é feito na busca pelo aumento do algoritmo, quer dizer, pelo crescimento dos números no sistema de recolhimento automático de informações e inteligência artificial que determina a ordem de posicionamento dos posts e a relevância dos perfis.

Aqui propomos que a interação multimodal pode ser compreendida sob dois enfoques: a) como a combinação de sensores que possibilitam a interação entre o usuário e o dispositivo ou software; b) como a articulação de recursos que viabilizam a interação entre o usuário e a plataforma ou a rede social. É para essa segunda perspectiva que estamos voltados, posto que é a partir desse investimento no desenvolvimento de recursos que se promove o debate e se prestigia o engajamento no trato de assuntos controversos. Nessa dinâmica, é gerado um tipo de “caleidoscópio” formado pelas combinações de variadas perspectivas defendidas por agentes (ou interlocutores) que se movimentam na dinâmica interacional on-line. Para a compreensão dessa movimentação, urge, pois, que conheçamos o layout do espaço de interação do Instagram, apresentado a seguir na imagem 2:

Figure 2. IMAGEM 2 – Layout do espaço de interação no Instagram Fonte: elaborada pelos autores.

A imagem 2 utiliza como conteúdo visual a publicação 1 do Post_ESP. Nela, além dos elementos fundamentais da configuração de um post (publicação e legenda), visualizamos um comentário reativo e um comentário-resposta. Um comentário reativo é uma avaliação inicial do seguidor/usuário a uma publicação compartilhada no feed. O comentário-resposta, por sua vez, é identificado a partir de uma atualização do aplicativo chamada tópico de comentário. De modo geral, o tópico de comentário (TP) é um agrupamento de conteúdos que passa a se organizar não mais em torno da publicação, mas sim a partir de um comentário inicial ou comentário reativo.

Por isso, no início de um comentário-resposta, é feita a menção ao identificador (id) do comentário reativo, o que serve para convocá-lo ao debate. O comportamento dos indivíduos de uma rede, manifestado nas publicações, nas reações e nos comentários, pôde ser examinado, tanto qualitativa quanto quantitativamente, para o estabelecimento de tendências e, nos termos deste trabalho, para a formação e funcionamento das molduras de interação no Instagram.

Antes, contudo, da exposição da proposta moldura, destacamos que sua arquitetura está amparada na ideia de que é na confrontação de perspectivas antagônicas sobre uma mesma questão que a interação argumentativa se concretiza. Sendo assim, para a nossa pesquisa, a perspectiva dialogal é mais produtiva em relação às perspectivas lógica, retórica e dialética dos estudos da Argumentação. Para Plantin (2002; 2005; 2008; 2009; 2011; 2016)[14-19], a fim de que a atividade comunicativa seja plenamente argumentativa, devem ser reconhecidos papéis actanciais (proponente, oponente e terceiro) gestados segundo três atos argumentativos (propor, opor, julgar). Saliente-se que é na definição do terceiro que está a inovação do modelo.

No contexto do Post_ESP, a identidade docente é posta em questão quando as publicações, feitas pelos professores nas suas páginas pessoais ou nos comentários de perfis com os quais interagem, são reportadas pelo ESP. Tais conteúdos originalmente argumentam em favor do que os professores/proponentes consideram “ser professor”. Quando tornados postagens do Escola Sem Partido, os mesmos argumentos são refutados pelo administrador do perfil do ESP/oponente e apresentados como evidências de doutrinação e de militância. É estabelecido, nesse ponto, um confronto de perspectivas em torno de uma mesma pergunta: o que é ser professor? Estabelecida a questão, são apresentadas as validações dos usuários. Por fim, dispostos os comentários nos planos de interação e observados os papéis de atuação dos interactantes, a interpretação dos conteúdos dos comentários se torna mais ágil, precisa e eficaz.

Para Plantin (2002, p. 229)[14], a argumentação é “uma forma de interação problematizante formada por intervenções orientadas por uma questão”. Por conseguinte, uma situação de interação, vista sob o ponto de vista dialogal, não pode apenas inventariar, estruturar e tipificar os argumentos. É necessário não perder de vista, além do assunto em questão, os sujeitos argumentadores em cena, os seus valores e a dinâmica argumentativa a partir da qual assumem diferentes papéis actanciais (proponente, oponente e terceiro) em constante mutação. Assim, nessa perspectiva, não se deve partir “de uma teoria que define a priori o que é argumento, mas considera-se que os argumentos são emergentes e que sua emergência e força não podem ser dissociadas do contexto específico da interação polarizado num assunto em questão” (GRÁCIO, 2013, p. 95)[20].

De modo geral, e sob a ótica do modelo dialogal de Christian Plantin, podem-se oferecer subsídios para a investigação dos fenômenos sociais e das relações estabelecidas entre membros de comunidades virtuais. Posto isso, nossa pesquisa se apresenta como uma proposta analítica que, numa perspectiva imediata, busca responder aos questionamentos inicialmente propostos e, num espectro mais amplo, tem a intenção de contribuir para novas pesquisas no campo de estudo da Argumentação e da Retórica, a partir da mobilização de conceitos do modelo dialogal da argumentação. Interessa-nos daqui por diante, além de observar e descrever a organização das redes de interação, examinar em que medida as dinâmicas de interação nas redes deslocam e ampliam os papéis actanciais, numa interação multimodal.

3. Molduras argumentativas e interação multimodal

Partamos de uma primeira constatação, ancorada na perspectiva dialogal de Christian Plantin na qual a argumentação não se restringe ao convencimento ou à tentativa de mudar as formas de agir e de pensar do interlocutor. Desse modo, a atividade argumentativa, num espectro mais amplo, deve considerar a interação entre os interlocutores de modo a articular pontos de vista distintos numa situação sociodiscursiva concreta. Isso nos leva a entender que a concepção plantiniana articula a argumentação ao regimento cultural e ao contexto. Conforme propomos nesta seção, a identidade profissional docente é dimensionada, no perfil @escolasempartidooficial, a partir da colisão de dois posicionamentos sobre “O que é ser professor?”: de um lado, está o professor (que define a si mesmo e o seu ofício na publicação original) e, do outro lado, está o ESP (que constrói, com o uso de “elementos qualificadores” e “elementos funcionais” uma imagem – ou heterorreconhecimento do profissional docente).

De modo sintético, a arquitetura da interação no Instagram pode ser diagramada da seguinte forma:

Figure 3. DIAGRAMA 1 – A moldura do campo de interação no Instagram Fonte: elaborado pelos autores.

Segundo o diagrama, uma publicação (em associação com a sua legenda) é submetida à avaliação dos seguidores (e não-seguidores, no caso de perfis públicos). Estes manifestam aprovação ou desaprovação através de curtidas, de comentários e de repostagens (ou seja, da replicação da publicação em outros perfis). Na dinâmica interacional, contudo, surgem desdobramentos relacionados ao conteúdo de alguns comentários (não mais da publicação inicial) que são igualmente avaliados, gerando reações (curtidas e comentários-resposta) que complexificam a rede de interação, reorganizando-a bidimensionalmente em: plano principal (publicação, legenda, curtida, comentário) e plano secundário (tópico de comentário, comentário-resposta, curtida), em perspectiva interacional multimodal.

De forma sintética, essas observações podem ser descritas tal como exposto no diagrama 2:

Figure 4. DIAGRAMA 2 – Modelo de moldura no Post_ESP Fonte: elaborado pelos autores.

Segundo o diagrama 2, uma publicação (em associação com a sua legenda) é submetida à avaliação dos seguidores (e não-seguidores, no caso de perfis públicos). Esses manifestam aprovação ou desaprovação através de curtidas, de comentários e de repostagens (ou seja, da replicação da publicação em outros perfis). Nesse sentido, na cena inicial, atuam o administrador da página e os seus seguidores, arregimentados em torno da produção e da apreciação de um mesmo conteúdo. Na dinâmica da interação multimodal, entretanto, surgem desdobramentos relacionados a conteúdo de alguns comentários (não mais da publicação inicial) que são igualmente avaliados, gerando reações (curtidas e comentários-resposta) que complexificam a rede de interação, reorganizando-a bidimensionalmente em: plano principal (publicação, legenda, curtida, comentário) e plano secundário (tópico de comentário, comentário-resposta, curtida), por meio de múltiplas semioses: imagens, sons, emoticons etc.

Aplicando esse modelo organizacional proposto na avaliação do corpus do Post_ESP, temos:

Figure 5. DIAGRAMA 3 – Modelo de moldura e descrição do conteúdo no Post_ESP Fonte: elaborado pelos autores.

O diagrama 3 apresenta a aplicação do que identificamos como a “moldura argumentativa” da interação no Instagram ao conteúdo geral do Post_ESP. Dessa forma, no organograma, temos a articulação das questões específicas do espaço interativo multimodal (plano principal, plano secundário, publicação, legenda, comentários reativos, tópico de comentário e comentário-resposta) aos conceitos mobilizados nas diferentes etapas da pesquisa (ethos, imagem, proponente, oponente, terceiro e definição identitária ou definição da identidade profissional). A novidade está na inclusão da “questão argumentativa secundária”. Nesse sentido, na próxima e última seção, procederemos com o tracionamento ou testagem do modelo e a exemplificação da questão argumentativa secundária.

À guisa de exemplificação, recorremos ao Post_ESP para a formulação da diagramação que segue:

Figure 6. DIAGRAMA 4 – Modelo de interação na aba de comentários Fonte: elaborado pelos autores.

No diagrama 4, é expressa a crítica ao Escola Sem Partido, apresentado pelo professor como uma “Escola da mordaça”, uma definição comumente usada pelos opositores do ESP para se referir ao silenciamento do pensamento crítico (ou como declarado pelo proponente – o professor – o “pensamento social”). No Instagram, o texto original é submetido a um deslocamento do “assunto em questão” (a discussão sobre o ESP é substituída pela crítica ao “professor doutrinador”). Logo, alternam-se os papéis de avaliador e avaliado (de professor/ESP para ESP/professor).

Além da avaliação explicitamente expressa na legenda, no espaço dos comentários, o perfil @escolasempartidooficial volta a atuar destacando a qualificação negativa suscitada pelo uso do verbo “doutrino” pelo professor. Interagindo diretamente com um dos usuários (US26) que manifesta desaprovação ao “pseudo-professor imbecilizado” (C37), o ESP reforça: “... e veja que eles assumem que doutrinam e continuarão a doutrinar” (C39). Assim, a representação do professor feita pelos usuários está alinhada à ideia do “professor militante”, coadunando, portanto, com a ancoragem descritiva do ESP (uma seção específica do capítulo subsequente).

Pelo exemplo exposto, já estabelecemos que, no perfil @escolasempartidooficial, o plano principal da interação multimodal é constituído pela interdependência discursiva do autorreconhecimento (do professor) e do heterorreconhecimento (do ESP) e se inscreve na perspectiva dialogal da argumentação com a formação do trílogo argumentativo a partir da inserção do terceiro no plano dos comentários. Agora, vamos voltar a nossa atenção ao espaço destinado à interação de comentários no primeiro plano (observando os comentários reativos) e no segundo plano (com a articulação entre o comentário reativo e o comentário-resposta).

Está claro que professores e Escola Sem Partido assumem polos diametralmente opostos na discussão e, tal como propôs Plantin no Dictionnaire de l’argumentation (2016), ocorre uma estase de definição quando o discurso e o contradiscurso são baseados em definições incompatíveis de um mesmo objeto. O acirramento do embate sobre o que é “ser professor” pode ser facilmente identificado pela articulação dos conteúdos dos dois planos de interação multimodal. No contexto dos dados do Post_ESP, as implicações mais imediatas dessa polarização são a avaliação negativa do ethos e a radicalização nas formas de definir a imagem profissional do professor.

Nas legendas das publicações analisadas, os professores são associados a termos como “doutrinadores” e “bandidos” (legenda da publicação 2), dotados de uma “mente criminosa” (legenda da publicação 6) e que exercem “abuso de poder” (legenda da publicação 7) enquanto atuam em sala de aula e nas redes sociais. Nas legendas “Confessando o crime” (legenda da publicação 1), “Não são professores, são bandidos!” (legenda da publicação 2), “Doutrinador confesso” (legenda da publicação 3), “A mente criminosa de um militante disfarçado de professor” (legenda da publicação 6) e “Confissões militantes” (legenda das publicações 7, 8 e 9), reconhecemos elementos ou atributos qualificadores que descredibilizam e criminalizam o professor.

As agressões por meio de qualificadores pejorativos podem ser observadas repetidas vezes nos comentários, deixando clara a intenção agressiva do usuário/comentarista. Cabral e Lima (2017)[21] ponderam que, no contexto das redes sociais, os indivíduos se sentem pertencentes a um grupo, o que lhes deixa à vontade para insultar e desqualificar o outro, instaurando uma situação de violência verbal. As mesmas autoras sugerem ainda que as interações nas redes sociais são pautadas muito mais pelo conflito do que pela harmonia. Por meio dos diagramas, é possível distinguir com clareza o layout do campo de interação dos comentários (comentários reativos e comentários-resposta) no Instagram e a organização do espaço em dois planos (principal e secundário).

Em termos gerais, a dinâmica proposição/refutação/avaliação, no Post_ESP, pode ser analisada no plano principal (publicação/legenda/comentário reativo), no plano secundário (comentário reativo - tópico de comentário/comentário-resposta/novo comentário ou nos dois planos paralelamente). As interconexões entre essas diferentes cadeias de interação constituem aquilo que chamamos de molduras argumentativas da interação no Instagram, a partir de uma análise netnográfica de interações multimodais como aqui tentamos, muito brevemente, apresentar.

4. Considerações finais

A partir de uma descrição analítica da interação multimodal no ambiente virtual, neste artigo, tentamos mostrar o tipo de engajamento que se passa no Instagram. Nesse passo, dispusemos os dados num plano metodológico netnográfico, a partir de pressupostos dos estudos da argumentação, dentre os quais os que concernem ao modelo dialogal proposto por Christian Plantin, associado à esfera da cibercultura, mormente aqueles que forem aplicáveis à avaliação das formas de interação na citada plataforma. Por fim, fundamos e formamos cadeias de interação ou molduras argumentativas a partir da configuração dos comentários e dos tópicos de comentários no perfil do ESP, ressaltando a importância e eficácia da interação multimodal.

Buscamos, ainda, descrever a interação dos comentários reativos com as publicações e as legendas e dos comentários-resposta com os comentários reativos que inauguram os tópicos de comentários. Essa arquitetura pressupõe o reconhecimento da questão argumentativa principal (e, se houver, da questão argumentativa secundária), bem como a identificação do papel de atuação de cada interactante (professor, ESP e usuários). Nesse processo, a moldura de interação no Instagram, desenvolvida especificamente para a execução da nossa análise, pode ser aplicada ou adaptada na investigação de outras postagens. Dispostos os comentários nos planos de interação e observados os papéis de atuação dos interactantes, a interpretação dos conteúdos dos comentários se torna mais ágil, precisa e eficaz.

Em trabalhos futuros, além das postagens (imagens e vídeos), dos comentários (e suas articulações em tópicos de comentários) e dos ícones de interação, pretendemos ampliar as molduras com a inserção dos stories (conteúdos de breve compartilhamento – como textos, músicas e GIFs, por exemplo), dos reels (vídeos) e de outras possíveis atualizações da plataforma. Para mais, observaremos a dinâmica de páginas geradoras de conteúdos distintos do perfil aqui analisado, uma vez que, as formas de interação e as estratégias de engajamento variam de acordo com o perfil ideal dos seguidores e, em especial, segundo os propósitos estabelecidos pelos administradores (ou ADM’s). O que persiste, dentro dessas variáveis, é a percepção das redes sociais como ambientes com forte tendência à interação multimodal, como, de forma breve, expusemos nesta publicação.

Referências

AMARAL, A. Etnografia e pesquisa em cibercultura: limites e insuficiências metodológicas. Revista USP, São Paulo, n.86, p. 122-135, junho/agosto 2010.

BACELAR, A.P. S. Mobilizações do @escolasempartidooficial no Instagram: análise netnográfica da interação on-line a partir do modelo dialogal da argumentação. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Goiás, 2021.

CABRAL, A. L. T.; LIMA N. V. Argumentação e polêmica nas redes sociais: o papel de violência verbal. Signo, Santa Cruz do Sul, v. 42, n. 73, p. 86-97, jan.-abr. 2017.

DIONISIO, A. P. Gêneros textuais e multimodalidade. In: KARWOSKI, A. M.; GAYDECZKA, B.; BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São Paulo: Parábola, 2011.

DOURY, M. Argumentation – Analyser textes et discours. Paris: Armand Colin, 2016.

DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Tradução: Andreia Stahel M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.

GRÁCIO, R. A. Vocabulário crítico de argumentação. Prefácio de Rui Pereira. Coimbra: Grácio Editor/Instituto de Filosofia da Linguagem da Univ. Nacional de Lisboa, 2013.

HINE, Christine. Virtual Ethnography. London: Sage, 2000.

KOZINETS, R. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Porto Alegre: Penso, 2014.

MARCELO, C. A identidade docente: constantes e desafios. Autêntica, Belo Horizonte, v. 01, n. 01, p. 109-131, ago./dez. 2009.

MOURA, K. F.; MANDAJI, C. F. da S. A relação das hashtags com as palavras de ordem presentes nas Manifestações Brasileiras de 2013. In: Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul, 15., 2014. Anais. Palhoça (SC), 2014. Disponível em: http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2014/resumos/R40-1334-1.pdf. Acesso em: 20 maio. 2017.

NEIVA, E. Dicionário de comunicação e multimídia. São Paulo: Publifolha, 2013.

PLANTIN, C. Analyse et critique du discours argumentatif. In: KOREN, R.; AMOSSY, R. (Orgs.) Après Perelman: quelles politiques pour les nouvelles rhétoriques? Paris: L‟Harmattan, 2002. p. 229-263.

PLANTIN, C. L’argumentation. Paris: PUF, 2005.

PLANTIN, C. A argumentação: histórias, teorias, perspectivas. Trad. Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

PLANTIN, C. A Argumentação biface. Muniz Proença Lara G., Machado I. L., Emediato W. Análises do discurso hoje, v. 2, Lucerna, pp.14-26, 2009.

PLANTIN, C. Les bonnes raisons des émotions: Principes et méthode pour l'étude du discours émotionné. Peter Lang Publishing Group, 2011.

PLANTIN, C. Dictionary of argumentation: an introduction to argumentation studies. Milton Keynes: Lightning source, 2016.

ROJO, R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola, 2012.

SILVA, E. L. da. MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4. ed. rev. atual. Florianópolis: UFSC, 2005.

SLOAN, L.; QUAN-HAASE, A. SAGE: Handbook of Social Media Research Methods. City Road, London: SAGE Publications Ltd, 2017.