Sintagmas indefinidos com função de foco no português brasileiro: uma análise experimental
Resumo
Este artigo tem como objetivo investigar, a partir da realização de um experimento psicolinguístico, se variáveis como tipo de pergunta (sim/não ou de constituinte) ou tipo de resposta (com deslocamento ou sem) influenciam na aceitabilidade de sentenças do português brasileiro (PB) com sintagmas indefinidos de foco. Consideramos aceitabilidade o nível de adequação da resposta em relação à pergunta dada, a partir da percepção do falante. Assumimos como base teórica para a semântica de perguntas, Hamblin (1973). Já para a semântica de foco, adotamos a proposta de Rooth (1985; 1995), e para os sintagmas indefinidos, Heim (1982; 1991). A pesquisa foi motivada a partir da análise teórica desenvolvida por Rosa-Silva (no prelo). A autora defende que o tipo de pergunta ou estratégias de deslocamento influenciam na aceitabilidade de respostas com foco indefinido. A fim de verificar se estes resultados se confirmam empiricamente, desenvolvemos um experimento psicolinguístico, realizado por meio de um questionário off-line. O experimento teve como objetivo analisar o grau de aceitação de respostas com foco indefinido, tanto deslocado quanto não deslocado, em diálogos com perguntas sim/não e de constituinte. Participaram desta pesquisa 84 indivíduos. Os resultados estatísticos mostraram que a variável pergunta influencia na aceitabilidade do enunciado. Diálogos com pergunta de constituinte receberam mais notas altas, se comparados com pergunta sim/não. A variável deslocamento, por outro lado, não apresentou resultados estatisticamente relevantes que pudessem a considerar preponderante para a aceitabilidade. Entretanto, alguns apontamentos e tendências indicam que, se houver uma amostragem maior, este quadro possa se alterar.
BORGES NETO, J. A semântica das perguntas. (Texto apresentado em simpósio durante o LV Seminário do GEL - Franca/SP, julho de 2007)
BÜRING, D. On D-trees, beans, and B-accents. Linguistics & Philosophy, n.26 (5): p. 511-545, 2003.
DERWING, B. & DE ALMEIDA, R. G. Métodos Experimentais em Linguística. In: MAIA, M. & FINGER, Processamento da Linguagem, Pelotas: Educat, 2005, pp. 401-442.
FERREIRA. M. Curso de Semântica Formal (Textbooks in Language Sciences 6). Berlin: Language Sciences Press, 2019.
FREGE, G. "Über Sinn und Bedeutung." Zeitschrift für Philosophie und philosophische Kritik, pp. 22-50. English translation in P. Geach and M. Black, eds., Translations from the Philosophical Writings of Gottlob Frege (Oxford: Blackwell, (1980). Reprinted in A. P. Martinich, ed., The Philosophy of Language (Oxford: Oxford University Press, 1985), 1892.
GAZDAR, G. Pragmatics, implicature, presupposition and logical form. Universidade da California: Academic Press, 1979
GROENENDIJK, J.; STOKHOF, M. Studies on the Semantics of Questions and the Pragmatics of Answers.Tese (Doutorado) - University of Amsterdam. 1984.
HAMBLIN, C. Questions in Montague English. Foundations of Language 10, 1973. p. 41-53 (Reprinted in Partee. B. (ed.). Montague Grammar, Texas: University of Texas Press)., 1976.
HEIM, I. The Semantics of Definite and Indefinite Noun Phrases. Boston, 1982. Thesis (PhD) – University of Massachusetts.
HEIM, I. (1991). Articles and Definitenes, Published in German as "Artikel und Definitheit," in A. v. Stechow & D. Wunderlich (eds.) Semantics. An International Handbook of Contemporary Research, Berlin: de Gruyter.
KARTTUNEN, L. The syntax and semantics of questions. Linguistics and Philosophy. 1: 3 – 44, 1977.
KENEDY, E. O status tipológico das construções de tópico no português brasileiro: uma abordagem experimental. In: Revista da Abralin, v.13, n.2, p. 151-183, jun./dez. 2014.
KENEDY, E. Psicolinguística na descrição gramatical. In: MAIA, M. (Org.). Psicolinguística, psicolinguísticas: uma introdução. SP: Contexto, p. 143-156, 2015.
KRIFKA, M. The semantics of questions and the focusation of answers. LEE, C.; GORDON, M.; BÜRING, D. Topic and Focus: cross-linguistic perspectives on meaning and intonation. Springer. 2007.
LIMA-SILVA, L. A manifestação das noções de ignorância e de conhecimento no português brasileiro: os casos de algum e (um) certo. Tese de doutorado. USP, 2012.
MONTAGUE, R, 'English as a Formal Language' ,in: Linguaggi nella societd e nellatecnica (Bruno visentini et al.), Milan, Edizioni di comunitir, 1970, p. l8-223.
MULLER, A. A expressão de Genericidade no Português do Brasil. In: Revista Letras. Editora da UFPR, n.55, p. 153-165, jan/jun 2001.
MÜLLER, A. Genericity and denotation of common nouns in Brazilian Portuguese. In: DELTA. São Paulo, v. 18, p. 287-308. n. 2, 2002.
QUADROS-GOMES; A. P; SANCHES-MENDES. L. S. Para conhecer: semântica. São Paulo: Contexto. 2018.
ROBERTS, C. Information Structure in Discourse: Towards an Integrated Formal Theory of Pragmatics. In: YOON, J. H. & KATHOL, A. (Org.) OSU Working Papers in Linguistics 49: Papers in Semantics, 1996. p. 91–136, 1996.
ROOTH, M. Association with focus. Doctoral Dissertation, University of Massachusetts, Amherst, 1985.
ROOTH, M. Focus. In: S. Lappin (Org.). Handbook of Contemporary Semantic Theory London: Blackwell, 1995. p. 271-298
ROSA-SILVA, F. Deslocamento de tópico e foco no português brasileiro: Uma análise semântico-pragmática. 149 f. Tese (Doutorado em Letras / Linguística) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2017.
ROSA-SILVA, F. Sintagmas indefinidos com função informacional de foco no português brasileiro: uma investigação teórica das particularidades semânticas e pragmáticas. (no prelo).
RUSSELL, B. On denoting. Oxford University Press, Oxford, Mind New Series, v. 14, n. 56. p. 478 − 493, 1905.