Sintagmas indefinidos com função de foco no português brasileiro: uma análise experimental

Fernanda Rosa da Silva

Resumo

Este artigo tem como objetivo investigar, a partir da realização de um experimento psicolinguístico, se variáveis como tipo de pergunta (sim/não ou de constituinte) ou tipo de resposta (com deslocamento ou sem) influenciam na aceitabilidade de sentenças do português brasileiro (PB) com sintagmas indefinidos de foco. Consideramos aceitabilidade o nível de adequação da resposta em relação à pergunta dada, a partir da percepção do falante. Assumimos como base teórica para a semântica de perguntas, Hamblin (1973). Já para a semântica de foco, adotamos a proposta de Rooth (1985; 1995), e para os sintagmas indefinidos, Heim (1982; 1991). A pesquisa foi motivada a partir da análise teórica desenvolvida por Rosa-Silva (no prelo). A autora defende que o tipo de pergunta ou estratégias de deslocamento influenciam na aceitabilidade de respostas com foco indefinido. A fim de verificar se estes resultados se confirmam empiricamente, desenvolvemos um experimento psicolinguístico, realizado por meio de um questionário off-line. O experimento teve como objetivo analisar o grau de aceitação de respostas com foco indefinido, tanto deslocado quanto não deslocado, em diálogos com perguntas sim/não e de constituinte. Participaram desta pesquisa 84 indivíduos. Os resultados estatísticos mostraram que a variável pergunta influencia na aceitabilidade do enunciado. Diálogos com pergunta de constituinte receberam mais notas altas, se comparados com pergunta sim/não. A variável deslocamento, por outro lado, não apresentou resultados estatisticamente relevantes que pudessem a considerar preponderante para a aceitabilidade. Entretanto, alguns apontamentos e tendências indicam que, se houver uma amostragem maior, este quadro possa se alterar.

Introdução

O presente artigo tem como objetivo, a partir de uma perspectiva empírica (ARUNACHALAM, 2013[6]; DERWING & ALMEIDA, 2005[7], KENEDY, 2014[8], 2015[9], entre outros), verificar se em diálogos do PB em que as respostas apresentem sintagmas indefinidos com função informacional de foco, há diferença de aceitabilidade por parte dos falantes quando o sintagma indefinido é deslocado, comparando com sintagma indefinido não deslocado. Ainda, a pesquisa propõe-se a investigar se diferentes tipos de perguntas: sim/não ou de constituinte, também são fatores preponderantes na aceitabilidade ou não da resposta. Observe os exemplos abaixo1:

(1) A: O João leu os artigos do Chomsky?

B: Ele leu UM ARTIGO.

(2) A: O João leu os artigos do Chomsky?

B: UM ARTIGO, ele leu.

(3) A: O que o João leu?

B: Ele leu UM ARTIGO DO CHOMSKY.

(4) A: O que o João leu?

B: UM ARTIGO DO CHOMSKY, ele leu.

Enquanto os diálogos em (1) e (2) apresentam pergunta sim/não, em que as respostas esperadas seriam a afirmativa ‘sim’ ou a negativa, ‘não’, os diálogos (3) e (4) são compostos de perguntas de constituinte SN ou pergunta aberta (cf. Borges-Neto, 2007[10])2. Este tipo de pergunta insere um conjunto de proposições no contexto e a resposta esperada é que o falante responda afirmativamente ou negativamente a pelo menos uma dessas proposições.

No que diz respeito às respostas, há duas possibilidades. Uma delas é a canônica linear, em que o sintagma indefinido com função de foco aparece em sua posição sintática original, como ocorre nos diálogos (1) e (3). E a resposta com o sintagma indefinido com função de foco deslocado, como em (2) e (4).

É importante destacar que a análise teórica de diálogos como os acima descritos foi desenvolvida por Rosa-Silva (no prelo[11]), a partir de uma perspectiva lógico-formal (cf. HAMBLIN, 1973[1]; KARTTUNEN, 1977[12]; GROENENDIJK & STOKHOF, 1984[13]; ROBERTS, 1996[14]; BÜRING, 2003[15]; ROOTH, 1985[2], 1995[3]). A autora concluiu que o tipo de pergunta e o conjunto representado por ela influenciam diretamente na aceitabilidade da resposta. Além disso, critérios semânticos de congruência entre pergunta e resposta são necessários, mas não suficientes para a aceitabilidade. Em alguns casos, são necessárias estratégias pragmáticas. Segundo a autora, enquanto diálogos introduzidos por pergunta sim/não, para serem adequados, em alguns casos necessitam de estratégias pragmáticas como responder parcialmente, ou contrastivamente ao perguntado, diálogos com pergunta de constituinte, por inserirem um conjunto aberto de alternativas, não necessitam de estratégias pragmáticas. Desta maneira, a hipótese é de que diálogos com perguntas de constituinte terão um maior nível de aceitabilidade do que diálogos com pergunta sim/não. Por outro lado, respostas com deslocamento ou sem deslocamento apresentam a mesma denotação semântica e, em alguns casos, o deslocamento auxilia na aceitabilidade, mas na maioria, não há distinção3. Diante disso, espera-se que a variável resposta deslocada ou não deslocada apresente uma diferença de aceitabilidade menor do que a variável pergunta. Os resultados da análise de Rosa-Silva subsidiaram a presente pesquisa experimental.

A proposta experimental é, a partir destas duas variáveis independentes: (i) tipo de pergunta: sim/não ou de constituinte; (ii) tipo de resposta: com foco deslocado ou com foco não deslocado; verificar se há diferenças de aceitabilidade das respostas pelos falantes do português brasileiro, doravante PB.

Nas seções seguintes, serão apresentados o background teórico, o desenho experimental, os resultados do experimento e a análise estatística desses resultados, tanto descritiva quanto inferencial. Ainda, esses serão discutidos, considerando a hipótese inicial e as previsões teóricas apresentadas a seguir.

1. Perspectiva teórica

1.1 Semântica dos sintagmas indefinidos

O sintagma nominal indefinido já foi bastante investigado em diversas línguas, e destacamos aqui algumas pesquisas em português brasileiro: LIMA-SILVA, 2012[16]; MÜLLER, 2001[17], 2002[18]).

A discussão em torno do sintagma nominal indefinido é bem antiga e remonta grandes filósofos da linguagem, como Frege (1892[19]) e Russell (1905[20]). Para os autores, o artigo indefinido denota, na lógica de predicados, um quantificador existencial. Uma sentença declarativa que apresenta um sintagma indefinido como abaixo, em (5), possui, na lógica de predicados, a denotação (6).

(5) O João leu um artigo do Chomsky.

(6) ∃x [artigo do Chomsky (x) & João leu x]

A denotação formal acima pode ser parafraseada por: existe uma entidade que possui duas propriedades, “ser artigo do Chomsky” e “ter sido lida por João”. O sintagma indefinido ‘um’ parece apresentar uma interpretação de que existe um único “artigo do Chomsky”. Heim (1991[5]), para o sintagma indefinido em inglês, defende que tal interpretação é possível a partir de uma implicatura escalar (cf. GAZDAR, 1979[21])4. Essa explicação parece ser adequada para o indefinido em PB também.

A questão mais discutida sobre o sintagma indefinido é que a leitura existencial, própria do quantificador existencial e representada por ∃, nem sempre ocorre com este tipo de sintagma. Há contextos nos quais a leitura é universal, como abaixo:

(7) Um artigo do Chomsky foi lido por cada aluno de linguística.

A sentença em (7) possui ao menos duas leituras possui ao menos duas leituras. A primeira é que existe um único artigo do Chomsky e este foi lido por todos os alunos. A segunda leitura é que cada aluno leu um artigo distinto. Essa última apresenta uma interpretação universal. Heim (1982[4], 1991[5]), ao observar as duas possibilidades de leitura, propõe que sintagmas nominais indefinidos não possuem uma força quantificacional própria. Essa força, seja existencial ou universal, será determinada pelo contexto. Abaixo, apresentamos a denotação semântica das duas interpretações, existencial e universal, respectivamente:

(8) x: x é artigo do Chomsky & y: y é aluno de linguística  y leu x

(9) y: y é aluno de linguística  x: x é artigo do Chomsky & y leu x

Nas representações lógicas dadas acima, a primeira, em (8), apresenta uma leitura existencial, em que o mesmo artigo do Chomsky foi lido por todos os alunos. E a segunda, dada em (9), representa uma leitura universal, em que cada aluno de linguística leu um artigo diferente.

No nosso caso, a maioria dos diálogos apresenta um contexto de força existencial para o sintagma indefinido. No entanto, por ser possível haver contextos nos quais a força quantificacional do sintagma indefinido é universal, assumimos com Heim que o sintagma indefinido não possui força quantificacional própria, e que esta será dada pelo contexto.

1.2 Semântica de perguntas

Nossas condições experimentais são formadas por diálogos com perguntas sim/não e de constituinte. Para analisar os resultados do experimento, assumimos a teoria formal para semântica de perguntas proposta por Hamblin (1973[1]).

O filósofo afirma que é possível propor uma denotação semântica às questões, a partir da gramática categorial de Montague (1970[22]). Enquanto as sentenças declarativas podem ser avaliadas como verdadeiras ou falsas, às interrogativas não pode ser atribuído um valor de verdade. Para o autor, diferentemente de uma sentença declarativa, em que é necessário saber as condições para que esta seja verdadeira ou falsa, o significado de uma questão está relacionado ao falante saber que tipos de respostas são possíveis para ela.

A semântica de uma questão, de acordo com Hamblin, é denotada por um conjunto de proposições que representam possibilidades de resposta à esta. O autor defende que o valor semântico ordinário das questões é o conjunto de proposições possíveis para determinada pergunta. Em uma pergunta sim/não, por exemplo, a semântica é representada por um conjunto de alternativas formado por duas proposições

(10) O João leu o artigo do Chomsky?

Para a pergunta acima a representação lógica pode ser dar pelo conjunto de duas proposições alternativas: {O João leu o artigo do Chomsky, O João não leu o artigo do Chomsky}.

A pergunta de constituinte ou pergunta aberta (cf. Borges-Neto (2007[10])), apresenta em sua estrutura sintática um pronome interrogativo QU, que pode desempenhar várias funções. Um exemplo de pergunta de constituinte, já apresentada anteriormente, é:

(11) O que o João leu?

Para perguntas como a acima, o conjunto de alternativas não apresenta um número determinado de proposições, já que é sensível ao contexto de uso. No exemplo acima, o contexto vai delimitar os elementos que podem ter sido lidos pelo “João”. Se considerarmos que no domínio haja apenas três elementos: “o artigo do Chomsky”, “o artigo do Parsons”, “o artigo da Heim”, o conjunto de alternativas para a pergunta em (11), então será:

(12) {O João leu o artigo do Chomsky, O João leu o artigo do Parsons, O João leu o artigo da Heim}

Rosa-Silva (no prelo), a partir de uma análise teórica, concluiu que em diálogos com pergunta sim-não, cujo conjunto de alternativas é mais restrito, uma resposta com sintagma indefinido, seja ele em sua posição canônica ou deslocado, para ser adequada deve ser acompanhada de uso de estratégias pragmáticas, como responder parcialmente ou contrastivamente à questão dada. Um diálogo iniciado por uma pergunta de constituinte, por apresentar um conjunto aberto de alternativas, não apresenta restrições para o uso de respostas com sintagma indefinido. Ainda, em relação à distinção sintagma indefinido deslocado e sintagma indefinido não deslocado na resposta, Rosa-Silva, não encontrou diferenças significativas. No que diz respeito às características semânticas, ambas apresentam a mesma denotação. Em relação às interferências pragmáticas, em quase todos os contextos em que a resposta canônica era inadequada, a deslocada também era, embora apresentou-se uma pequena diferença de aceitabilidade para as sentenças com indefinido deslocado. Desta forma, espera-se que no experimento as condições experimentais com pergunta de constituinte terão um maior nível de aceitabilidade do que as com pergunta sim-não. Em relação às condições experimentais relacionadas ao tipo de resposta, a hipótese é de que haja uma diferença de aceitabilidade para sentenças com deslocamento, porém menor se comparado à variável pergunta.

1.3 Foco como um conjunto de alternativas

Outra noção importante, que é ponto de partida em nossas condições experimentais, é a semântica de foco. Foco pode ser investigado em diferentes perspectivas, sejam elas: fonológica, sintática, semântica ou pragmática. Na presente pesquisa, assumimos a teoria de Rooth (1985[2], 1995[3]), que apresenta uma proposta semântica para foco, considerando a semântica de perguntas defendida por Hamblin (1973). Ainda, o autor explora as características fonológicas e pragmáticas para defini-la.

Para Rooth, foco é uma marcação fonológica sobre um constituinte que evoca um conjunto de alternativas5. As sentenças com marcação de foco possuem dois valores semânticos: ordinário e de foco. O valor ordinário consiste no valor proposicional da sentença. Já o valor de foco denota o conjunto de alternativas relevantes no contexto. No diálogo que segue, a primeira representação, em (14), corresponde ao valor ordinário da resposta em (13)B, enquanto a segunda, em (15), apresenta o valor de foco desta mesma resposta, se considerarmos que estejam disponíveis no domínio as entidades: o artigo do Chomsky, o artigo do Parsons, o artigo da Kratzer.

(13) A: O que o João leu?

B: O João leu O ARTIGO DO CHOMSKY.

(14) [[O João leu O ARTIGO DO CHOMSKY]]0 = É verdadeira sse João leu o artigo do Chomsky

(15) [[O João leu O ARTIGO DO CHOMSKY]]f = {João leu o artigo do Chomsky João leu o artigo do Parsons, João leu o artigo da Heim}6

Observe que o valor ordinário representado em (14) diz respeito a um valor de verdade para (13) B. Por outro lado, o valor de foco, em (15), representa a um conjunto de entidades com a propriedade de “O João ler x”. Ainda, vale ressaltar que a asserção em (13)B é um elemento do conjunto de alternativas dada pelo seu valor de foco. Ou seja, a alternativa “O João leu o artigo do Chomsky” pertence ao conjunto do valor de foco.

Essa relação entre o valor ordinário e o valor de foco da sentença é investigada, além de Rooth, por autores como Büring (2003[15]), Krifka (2007[23]), entre outros. Se observarmos a pergunta inserida no diálogo, pode-se perceber que seu valor ordinário é correspondente ao valor de foco da resposta. Observe o valor semântico da pergunta em (13)A, como vimos anteriormente.

(16) [[O que o João leu?]]0 = {João leu o artigo do Chomsky, João leu o artigo do Parsons, João leu o artigo da Heim}

O valor de foco dado em (15) é correspondente ao valor ordinário da pergunta dado em (16). Tal correspondência entre o valor de foco da resposta e o valor ordinário da pergunta é definida por congruência (ROOTH, 1985[2], 1995[3]; ROBERTS,1996[14]; BÜRING, 1999, 2003[15]). Essa noção é indispensável para entender a relação estabelecida entre os diálogos que são objeto de investigação do experimento. A congruência nada mais é do que a adequação entre a pergunta disponível no contexto e sua resposta assertada. Em termos mais formais, uma resposta é congruente com uma pergunta se o valor ordinário da primeira pertence ao conjunto de alternativas de foco. Além disso, para ser congruente, o valor ordinário da pergunta deve estar contido no valor de foco da resposta (cf. ROOTH, 1985[2], 1995[3]; BÜRING, 2003[15]; KRIFKA, 2007[23]). Estes dois critérios são essenciais para a relação de congruência entre pergunta e resposta, como apontado por Rosa-Silva (no prelo). Espera-se que diálogos nos quais os critérios de congruência são satisfeitos possuem um maior nível de aceitabilidade por parte dos falantes.

2. Experimento

2.1 Design experimental7

O objetivo deste experimento foi verificar o grau de aceitabilidade de sentenças que apresentem deslocamento ou não de sintagmas indefinidos com função informacional de foco, comparando com o tipo de pergunta dada no contexto: pergunta sim/não ou pergunta de constituinte.8

Rosa-Silva (2017[24]) defende que sintagmas indefinidos podem assumir tanto a função informacional de tópico quanto de foco na sentença. E quando o sintagma com função de foco é deslocado para a periferia esquerda, a contribuição para a interpretação do significado é de ordem pragmática, em que o deslocamento tem a função de destacar um indivíduo, ou conjunto de indivíduos, no contexto, para posteriormente atribuir uma propriedade a este. Rosa-Silva (2017[11], no prelo) apontou, ainda, que o tipo de pergunta e o conjunto inserido por ela é preponderante para a aceitabilidade da sentença.

O experimento, a partir destes levantamentos teóricos, busca investigar se há diferença de aceitabilidade por parte do falante em contextos nos quais o sintagma indefinido com função de foco é deslocado para a periferia esquerda da sentença, comparando-os com sentenças em que o sintagma indefinido permaneça em sua posição canônica, in-situ. Também foram comparados os diálogos que apresentam perguntas sim/não com pergunta de constituinte.

A escolha destas duas variáveis independentes foi motivada pelos resultados obtidos na análise teórica de Rosa-Silva (no prelo[11]), em que há uma diferença substancial de aceitabilidade em diálogos com pergunta QU, se comparados com perguntas de constituinte. Por outro lado, ainda que haja diferença de aceitabilidade entre respostas com deslocamento do sintagma indefinido, comparando com sentenças sem deslocamento, esta é menor. Como esses resultados foram obtidos a partir de uma análise teórica e julgamento da autora, optou-se por realizar o experimento psicolinguístico, a fim de verificar se essas conclusões se mantêm empiricamente.

A técnica experimental utilizada foi um questionário de aceitabilidade desenvolvido na plataforma Google Forms. Para não se perder as peculiaridades prosódicas envolvidas em sentenças que apresentem marcação de foco, os diálogos foram todos gravados. Na tarefa, os participantes foram convidados a ouvir um conjunto de diálogos e avaliar se a resposta era apropriada ou não para a questão, em uma escala de 1 (menos aceitável) e 5 (mais aceitável). Os participantes são classificados como independentes, pois foram divididos em 4 grupos, um para cada condição experimental. Como os dados foram registrados após o processamento, trata-se de um experimento off-line. Para perguntas de constituinte, a presente pesquisa limitou-se a criar diálogos apenas com pronomes interrogativos que ocorrem em posição sintática de sintagma nominal SN na posição e objeto.

2.2 Hipóteses e previsões

Nossa hipótese é de que a aceitabilidade da resposta vai depender da delimitação de conjunto dada pelo contexto e essa delimitação é identificada a partir da semântica da pergunta (cf. Hamblin (1973[1])). Desta maneira, a hipótese alternativa é de que diálogos que apresentam pergunta de constituinte terão maior aceitabilidade, se comparados com diálogos de pergunta sim/não, de acordo com a proposta de Rosa-Silva (no prelo[11]). Ainda, prevemos que haja uma maior aceitabilidade em respostas que apresentem o sintagma indefinido deslocado para a periferia esquerda da sentença do que com sentenças nas quais o foco indefinido seja in-situ. Acreditamos, entretanto, que a diferença será muito mais significativa entre a variável “pergunta” do que entre a variável “resposta”, dado que na análise teórica, Rosa-Silva já apontou que diálogos com perguntas de constituinte, por satisfazerem totalmente critérios semânticos de congruência, não necessitam de estratégias pragmáticas e, portanto, espera-se que apresentem um maior nível de aceitabilidade.

2.3 Variáveis e condições

O experimento foi desenhado a partir de duas variáveis independentes: (i) o tipo de pergunta (sim/não; de constituinte); (ii) a posição do sintagma indefinido com função de foco (não deslocado; deslocado). O design experimental apresenta o formato 2X2, em que há 4 condições que serão comparadas entre si.

1. Pergunta sim/não; resposta com foco não deslocado

2. Pergunta sim/não; resposta com foco deslocado

3. Pergunta de constituinte; resposta com foco não deslocado

4. Pergunta de constituinte; resposta foco deslocado

Para realizar a tarefa, os participantes foram distribuídos em 4 grupos diferentes entre as condições, de maneira que cada participante ouvisse somente os diálogos de uma dessas. Este tipo de distribuição é denominado between subjects, em que os sujeitos são independentes. Seguem, abaixo, as condições para cada grupo:9

Condição 1: Com pergunta sim/não e foco não deslocado

(17) A: O João leu os artigos do Chomsky?

B: Ele leu UM ARTIGO.

Condição 2: Com pergunta sim/não e foco deslocado

(18) A: O João leu os artigos do Chomsky?

B: UM ARTIGO, ele leu.

Condição 3: Com pergunta de constituinte e foco não deslocado

(19) A: O que o João leu?

B: Ele leu UM ARTIGO DO CHOMSKY.

Condição 4: Com pergunta de constituinte e foco deslocado

(20) A: O que o João leu?

B: UM ARTIGO DO CHOMSKY, ele leu.

O experimento possui como variáveis dependentes as notas dadas pelo sujeito (em uma escala de 1 a 5), de acordo com o nível de aceitabilidade, considerando que 1 é nada aceitável e 5 totalmente aceitável.

2.4 Participantes

Para a realização deste experimento, foram considerados 21 participantes para cada grupo, perfazendo um total de 84 indivíduos. Optamos por deixar cada grupo equilibrado, com a mesma quantidade de participantes, visto que alguns possuíam muito mais sujeitos do que outros. Assumimos como critério para eliminar os indivíduos a mais, excluir aqueles que responderam com notas 1 ou 2 para diálogos distratores adequados, em que se esperava notas positivas, ou 4 ou 5 para diálogos distratores não adequados, em que, ao contrário, esperava-se notas negativas.

A maior parte dos participantes possui ensino superior completo (52%), com idade de 18 a 53 anos, 84% mulheres e 16% homens. A maioria é residente do Estado de São Paulo. Todos contribuíram voluntariamente com o experimento e receberam um certificado de participação.

2.5 Materiais

O experimento foi composto por 5 diálogos experimentais para cada grupo, sendo que cada sujeito poderia emitir 5 julgamentos para cada condição experimental. Cada diálogo era composto por um áudio com uma pergunta e um áudio com uma resposta, como o exemplo a seguir:

(21) A: O João leu os artigos do Chomsky?

B: UM ARTIGO, ele leu.

Além dos diálogos experimentais, para cada grupo, foram incluídos 3 diálogos teste e 10 diálogos distratores, sendo que estes eram divididos em diálogos inadequados, em que se espera uma nota baixa, e diálogos adequados, em que se espera uma boa aceitação por parte dos participantes. No total, foram 20 diálogos experimentais e 52 diálogos distratores, sendo 48 apropriados e 44 não apropriados. É importante destacar que todos os diálogos tinham um tema em comum: o ambiente acadêmico e escolar. Entretanto, não eram necessariamente sequenciais.10

A seguir, são dados exemplos de um diálogo distrator adequado e um diálogo distrator inadequado, respectivamente, que compuseram o experimento.

(22) A: Como foram as disciplinas do semestre?

B: Foram bastante DIFÍCEIS.

(23) A: Teve interação nas aulas de linguística?

B: O JOÃO estava casado.

Em (22), o diálogo apresenta adequabilidade, isto porque a resposta em B é considerada uma resposta esperada para a pergunta (22) A. No diálogo em (23), por outro lado, a resposta em B, ‘O João estava casado’ não é adequada para a pergunta. Desta maneira, espera-se que o participante atribua notas positivas (4 ou 5) para diálogos adequados como (22), e negativas para inadequados como (23). Os diálogos distratores serviram para apontar o envolvimento e a assertividade por parte dos sujeitos.

2.6 Procedimentos

Os participantes foram convidados a participar do experimento através de um e-mail. Neste, havia as orientações detalhadas para a participação, bem como o link de acesso ao formulário elaborado na plataforma Google Forms. No formulário, também havia informações sobre os procedimentos necessários para a realização do experimento. Além disso, o sujeito foi convidado a informar dados socioeconômicos, como idade, local em que morou maior parte da vida, grau de escolaridade, e sexo11.

Os participantes foram, em seguida, direcionados a fazer um treinamento antes de efetivamente responder às questões experimentais. O treinamento era composto por três diálogos, sendo dois apropriados e um inapropriado. Ao fim de cada diálogo, o participante deveria atribuir uma nota de 1 a 5, de acordo com a sua intuição de adequabilidade entre pergunta e resposta. O formato dos diálogos de treinamento é exatamente igual ao dos diálogos experimentais. O treinamento teve como objetivo familiarizar o participante com a tarefa solicitada. Em seguida, dava-se início ao experimento, sempre respeitando a sequência de ouvir a pergunta primeiro, para depois ouvir a resposta e, por fim, atribuir uma nota à adequabilidade da resposta em relação à pergunta. Optamos por exibir tanto o áudio com a pergunta, quanto o áudio com a resposta, seguido da grade para nota na mesma tela, por acreditar que esta forma daria mais dinamicidade ao experimento. A seguir, apresentamos imagens do formulário, com a sequência de telas às quais o participante tinha acesso:

Figure 1. Apresentação do questionário Fonte: elaborada pela autora

A tela acima consiste na apresentação do experimento. Esta, com uma sequência de outras delas, teve como objetivo dar informações necessárias para que o participante tivesse claro qual seria sua tarefa. Em seguida, foi apresentado o formulário com questões socioeconômicas como idade, sexo, local de residência, nível de escolaridade. Ao preencher o questionário socioeconômico, o sujeito era direcionado aos diálogos testes, que tinham o mesmo formato dos experimentais. Após realizar o teste com três diálogos, era avisado de que a tarefa seria iniciada e direcionado a uma tela como a abaixo.

Figure 2. Tela com o diálogo (pergunta e resposta) e a grade de notas (de 1 a 5) Elaborada pela autora

Após o participante atribuir a nota ao diálogo, imediatamente era direcionado ao diálogo seguinte. No total, cada participante atribuiu nota a 18 diálogos, sendo 5 experimentais, 3 de teste e 10 distratores. Os diálogos foram apresentados de forma aleatória, com o cuidado de intercalar os experimentais, os distratores adequados e os distratores inadequados.

2.7 Discussão dos resultados

Os resultados do experimento foram sistematizados e os cálculos estatísticos foram executados a partir do programa Action Stat para Excel, versão 3.7. Os testes utilizados foram o qui-quadrado (χ2) e a análise do qui-quadrado de Kruskal-Wallis. A opção pelo teste do Kruskal-Wallis se deu por se tratar de uma análise com quatro condições experimentais, de dados numéricos discretos ordenados (nota de 1 a 5) e não paramétricos, de distribuição livre. O Kruskal-Wallis analisa as condições de duas a duas, indica onde há diferença significativa, e agrupa essas condições por semelhanças e diferenças.

Primeiramente, apresentaremos os resultados absolutos, a fim de fazer uma análise descritiva dos dados. Tal análise contemplará tanto medidas de concentração: como média e mediana, quanto medidas de dispersão: como variância, desvio padrão e quartis. Segue, abaixo, uma tabela descritiva, com os resultados absolutos, além da média para cada condição.

Figure 3. Tabela 1 - frequência absoluta de aceitabilidade Fonte: elaborada pela autora

Ao observar a tabela acima, que apresenta os resultados brutos do experimento, pode-se identificar que todas as condições possuem um nível de aceitabilidade considerável, acima de 3. Entretanto, as condições da pergunta de constituinte apresentam uma aceitabilidade muito maior, se comparada às condições da pergunta sim/não. Nenhum participante atribuiu nota 1 ou 2 (notas negativas) para as respostas destas condições. As notas máximas, por sua vez, principalmente para respostas com deslocamento, foram predominantemente a opção dos participantes (89 números absolutos, 85% das notas). Se somamos à nota 4, que também é positiva, temos 98% da preferência.

Podemos identificar, ainda, um comportamento homogêneo entre as condições. Se compararmos as respostas com foco deslocado, ambas condições, com resposta de constituinte e sim/não, apresentam uma nota maior do que as respostas canônicas, sem deslocamento. O que indica que, mesmo que menos substancial do que a variável pergunta, a variável resposta com deslocamento influencia na aceitabilidade.

A primeira medida de concentração que observamos é a média. A partir dela, identifica-se uma escala ascendente, que vai desde a pergunta sim/não com resposta não deslocada, menor média, até a pergunta de constituinte com resposta deslocada, maior média. Ainda, as médias da variável pergunta estão próximas, sendo que para a pergunta sim/não as médias estão na casa dos 3 pontos, enquanto as médias para a pergunta de constituinte encontram acima de 4 pontos. O gráfico a seguir ilustra melhor este comportamento:

Figure 4. Gráfico 1 - resultado por média de notas Fonte: elaborado pela autora

É necessário ponderar, no entanto, que a média é muito sensível aos dados individuais e não capta nuances como as já comentadas anteriormente. Ainda, por mais que as médias da condição 1 e 2 sejam próximas, 3.66 e 3.70, respectivamente, há um comportamento distinto entre elas, sobretudo no que diz respeito às notas negativas. Houve um número maior de ocorrências negativas (notas 1 e 2) para a condição 1. Observe, a seguir, uma tabela com as notas agrupadas, entre negativas (1 e 2), neutras (3) e positivas (4 e 5):

Figure 5. Tabela 2 - Frequência de aceitabilidade agrupada por notas positivas e negativas Fonte: elaborada pela autora

Observe que 20% das notas para a condição 1 foram negativas, enquanto para a condição 2, este número cai para 10%. As notas positivas, por outro lado, são muito próximas, 61% para a condição 1 e 59% para a condição 2. Ainda, se olharmos para as condições relacionadas à pergunta de constituinte, estas não tiveram nenhuma ocorrência de nota negativa. E as notas neutras foram significativamente baixas. A condição 3 recebeu 4% de nota 3 e a 4, com deslocamento de foco, apenas 2%. Se compararmos os gráficos abaixo, essas constatações ficarão mais claras.

Figure 6. Gáfico 2 - resultados por condição e notas positivas x negativas Fonte: elaborado pela autora

Estes dados apontam que os falantes, em geral, aceitam respostas com sintagma indefinido em função de foco como resposta para uma pergunta sim/não. Entretanto, há uma quantidade maior de indivíduos que rejeitam uma resposta sem deslocamento. Comparando as condições 3 e 4, há também uma maior porcentagem de notas altas para a condição que apresenta resposta com foco deslocado. Estes comportamentos indicam que há certa influência do fenômeno de deslocamento de sintagmas indefinidos com função de foco na aceitabilidade do enunciado. Se compararmos a variável pergunta, a aceitabilidade em diálogos com pergunta de constituinte é muito maior do que a de com pergunta sim/não. Estes resultados estão de acordo com a hipótese de que a semântica da pergunta influencia na aceitabilidade.

Outra medida de convergência importante de ser observada é a mediana. Essa representa o ponto central em termos de valores dos dados e é mais estável do que a média. Desta maneira, podemos identificar se há comportamentos distintos entre as condições analisadas. A tabela comparativa nos mostra que há um comportamento mais homogêneo em condições experimentais com a mesma pergunta.

Figure 7. Tabela 3 - comparação entre média e mediana Fonte: elaborada pela autora

Conforme já apontado, as medidas de concentração, apesar de serem essenciais para a descrição dos dados coletados, podem mascarar alguma informação que seja importante para a análise mais ampliada. Desta forma, é imprescindível que medidas de dispersão, como amplitude, variância, desvio padrão e quartis também sejam consideradas12. Abaixo, apresentamos uma tabela com as medidas de dispersão do experimento aqui analisado.

Figure 8. Tabela 4 - medidas de dispersão Fonte: elaborada pela autora.

Podemos destacar que há um índice de desvio padrão e variância mínimos para as condições relacionadas às perguntas de constituinte, o que demonstra que os dados para essas condições apresentam um comportamento mais homogêneo. Com perguntas sim/não, apesar dos valores serem também próximos, apresentam um nível de dispersão maior. 1,01 para resposta deslocada e 1,33 para não deslocado. Essa gradação, que vai desde um desvio padrão menor para a condição 4 até um desvio padrão maior para a condição 1, é ilustrada no gráfico a seguir.

Figure 9. Gráfico 3 - desvio padrão entre as condições Fonte: elaborado pela autora

O comportamento de dispersão ou concentração dos dados fica mais claro quando observamos um gráfico do tipo boxplot. A linha inferior indica o valor mínimo atribuído. A 2ª linha de cima para baixo, o 1º quartil, 3ª mediana, 4º terceiro quartil e, a última, o valor máximo atribuído.

Figure 10. Gráfico 4 - boxplot por condição (com outliers) Fonte: Elaborado pela autora

O boxplot nos mostra que enquanto há uma dispersão maior entre as condições 1 e 2, de pergunta sim / não, há uma concentração dos dados referentes às condições 3 e 4, de pergunta de constituinte. Ainda, a condição 4, com foco indefinido deslocado coincide em relação aos valores máximo, mediana, primeiro e terceiro quartil. Além disso, o cálculo estatístico considerou as notas 3 (2 ocorrências) e 4 (14 ocorrências) como outliers, ou dados discrepantes, conforme indicam os pontos escuros no gráfico.

Até o presente momento, fizemos uma análise estatística descritiva, que considera medidas de concentração e dispersão para descrever os dados absolutos de nossa amostra. A partir de agora, realizaremos cálculos estatísticos que dizem respeito a uma análise inferencial, a qual busca, a partir de dados amostrais, fazer previsões e generalizações. Para realizar estes cálculos, como já apontado, utilizamos o teste Kruskal-Wallis, disponível no programa Action Stat. O primeiro teste realizado teve como objetivo identificar se as condições experimentais apresentam diferença significativa entre si. A partir deste teste, pudemos observar que a diferença é estatisticamente significativa entre as condições, visto que o índice estatístico é alto e o p-valor, que representa a chance de erro, é baixo (x2 = 110,41, p-valor < 0,05)13. Desta maneira, podemos rejeitar a hipótese nula e aceitar a hipótese alternativa de que há diferença de comportamento entre as condições analisadas.

Se observarmos as comparações múltiplas entre as quatro condições, entretanto, veremos que os resultados apontam para diferenças entre as probabilidades de erro da amostragem.

Figure 11. Tabela 5 - comparações múltiplas entre condições Fonte: elaborada pela autora

A tabela acima mostra que as comparações entre condições com perguntas distintas apresentam diferença significativa (combinação 01: x2 = 10,27, p-valor < 0,05; combinação 02: x2 = 6,49, p-valor < 0,05). Já as comparações entre as condições de mesma pergunta e respostas distintas, com foco indefinido deslocado ou não deslocado, apresentam p-valor maior do que 0,05. No entanto, a combinação 04 apresenta um p-valor muito próximo do limite 0,055. Essa proximidade do limite pode indicar que se a amostragem fosse maior, a tendência seria deste p-valor ser menor do que 0,05 e o índice estatístico ser relevante.

Ainda, o teste Kruskal-Wallis realiza um agrupamento a partir da dispersão ou da proximidade dos dados. Ao observar a tabela a seguir, gerada pelo teste, podemos observar que as condições com o mesmo tipo de pergunta formam um grupo homogêneo: grupo A, para a as condições de pergunta de constituinte e grupo B para as condições com pergunta sim/não.

Figure 12. Tabela 6 - agrupamentos Fonte: elaborada pela autora

Considerando os dados acima, poderíamos concluir, precipitadamente, que a variável tipo de resposta, deslocada ou não deslocada, não influencia na aceitabilidade do enunciado. Porém, é importante considerar que o gráfico boxplot, apresentado anteriormente, indicou que as notas 3 e 4 para a condição 4 (pergunta de constituinte com resposta de foco indefinido deslocado) são discrepantes, dado o índice alto de notas máximas, 85%. Desta maneira, realizamos o teste Kruskal-Wallis, desconsiderando as notas 4 e 5, a fim de observar se os resultados se alteram. A tabela de comparação múltipla abaixo, com os resultados gerados após o descarte das ocorrências discrepantes, confirma a tendência de que há relevância estatística na comparação entre as condições com pergunta de constituinte.

Figure 13. Tabela 7 - comparações múltiplas entre condições (sem outliers) Fonte: elaborada pela autora

Este dado mostra que há influência na aceitabilidade quando há estratégia de deslocamento de sintagma indefinido com função de foco para a periferia esquerda da sentença, se estamos diante de uma pergunta de constituinte. Ainda, a tabela a seguir indica que há um agrupamento não de dois, mas de três grupos, em que as condições com pergunta de constituinte formam grupos distintos.

Figure 14. Tabela 8 - tabela de agrupamentos (sem outliers) Fonte: elaborada pela autora

As condições com pergunta sim/não apresentam resultados homogêneos, o que indica que a variável tipo de resposta não esteja influenciando na aceitabilidade. Entretanto é importante ressaltar que, mesmo em proporção menor, há uma diferença na média de notas entre as condições 1 e 2, sendo que a condição 2, com resposta de foco indefinido deslocado, apresenta uma média um pouco maior (3,66 para a condição 1 e 3,70 para a condição 2). Ainda, o número de notas negativas é bem maior na condição 1 do que na 2, o que indica que o falante rejeita mais uma resposta com sintagma indefinido in-situ do que o deslocado.

2.8 Algumas considerações

A partir dos dados coletados pelo experimento psicolinguístico e das análises estatísticas realizadas, podemos confirmar a hipótese alternativa, na qual a variável pergunta influencia na aceitabilidade do enunciado. Estes resultados estão de acordo com as previsões de Rosa-Silva (no prelo), em que a autora afirma que o tipo de pergunta e o conjunto inserido por ela influencia na aceitabilidade da resposta com foco indefinido. Em relação à variável tipo de resposta, com foco indefinido deslocado ou não deslocado, entretanto, os dados estatísticos demonstram que essa não é tão predominante assim na aceitabilidade, sobretudo quando estamos diante de uma pergunta sim/não. Porém, se observarmos mais detalhadamente para a quantidade de notas negativas de cada uma, podemos concluir que há uma pequena tendência do falante em considerar respostas com foco deslocado mais aceitáveis do que sem deslocamento.

Para as perguntas de constituinte, respostas tanto com deslocamento quanto sem possuem um nível de aceitabilidade muito significativo. Isto demonstra que o tipo de pergunta possui alta relevância na aceitabilidade, o que confirma a nossa hipótese de que a aceitabilidade da resposta está intimamente relacionada à semântica da pergunta. Perguntas de constituinte apresentam uma denotação semântica de um conjunto de proposições alternativas. Esse conjunto é aberto e delimitado pelo contexto (cf. Hamblin (1973), Rosa-Silva (no prelo)). Desta maneira, qualquer tipo de proposição é aceitável. Perguntas sim/não, por outro lado, apresentam uma semântica mais restrita, em que o conjunto é formado por duas alternativas: uma proposição afirmativa e uma negativa. Ao apresentar uma resposta com sintagma indefinido, a aceitabilidade dependerá de uma estratégia pragmática, em que o ouvinte interpreta que o falante esteja fazendo uso de uma estratégia de resposta, por isso há um índice de aceitação menor para as condições com pergunta deste tipo.

Ainda sobre a variável resposta, cremos que há um apontamento de que ela seja relevante para o índice de aceitabilidade. Isto por que a comparação entre as condições 3 e 4, de pergunta de constituinte, quando desconsideradas as ocorrências discrepantes, apresenta um p-valor baixo (p-valor< 0,05). Talvez, se a amostragem for maior, confirme-se essa tendência. Este desafio fica para pesquisas futuras.

Agradecimentos

Agradeço imensamente ao Prof. Dr. Eduardo Kenedy por disponibilizar tutoriais tão esclarecedores sobre Estatística Descritiva e Inferencial. Agradeço também à Profa. Dra. Luciana Sanchez Mendes pelas discussões e imprescindíveis contribuições para a minha pesquisa. Sem eles, seria impossível trilhar por este caminho tão complexo. Ambos são integrantes do GEPEX, Grupo de Pesquisa em Linguística Teórica e Experimental, da Universidade Federal Fluminense.

Agradeço, também, ao CNPQ por apoiar financeiramente esta pesquisa, a partir da bolsa de pós-doutorado júnior, processo nº 150248/2019-9. Agradeço ao apoio da Universidade de São Paulo, através do Departamento de Linguística, onde realizei o estágio de pós-doutorado. Por fim, agradeço imensamente às orientações, conversas, conselhos de minha supervisora, Profa. Dra. Ana Lucia de Paula Müller.

Os eventuais erros constantes no trabalho são de minha inteira responsabilidade.

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