O imperativo em variação na escrita mineira: o papel do sujeito e das seções das cartas

Luiz Fernando de Carvalho

Resumo

O estatuto variável do imperativo de 2ª pessoa do singular, fenômeno profícuo no português brasileiro (PAREDES SILVA et al., 2000; SCHERRE, 2003; 2007; 2012; RUMEU, 2016; 2019; CARVALHO, 2020) é o tema central deste artigo. Assim, a partir do exame de cartas mineiras oitocentistas e novecentistas (1868-1993) autografadas por escritores cultos, procura-se averiguar o efeito que a referência ao sujeito de 2ª pessoa (CARDOSO, 2012; DINIZ, 2018) e às seções do gênero carta pessoal (SILVA, 2017) pode exercer sobre o fenômeno. Essa análise, orientada pelos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística (LABOV, 1972; ROMAINE, 1982; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012), comprova essa influência, tendo em vista a força da tradição gramatical (ROCHA LIMA, 2013 [1972]) sobre os escreventes e a presença de Tradições Discursivas (KABATEK, 2006) do gênero textual.

Introdução

Esta pesquisa1, orientada pelos princípios metodológicos da Sociolinguística Histórica (ROMAINE, 1982[1]; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012[2]) que, por sua vez, inspira-se na Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 1972[3]), analisa cartas mineiras produzidas por escritores ilustres entre os anos de 1868 e 1993, com o intuito de depreender o estatuto variável do imperativo de 2ª pessoa do singular (doravante 2SG) no português brasileiro (doravante PB). Nesse sentido, com base em diferentes estudos sobre o assunto (PAREDES SILVA et al., 2000[4]; SCHERRE, 2003[5]; 2007[6]; 2012[7]; CARDOSO, 2012[8]; RUMEU, 2016[9]; 2019[10]; SILVA, 2017[11]; DINIZ, 2018[12]; CARVALHO, 2020[13]) e a partir da utilização de métodos quantitativos de análise linguística (GUY; ZILLES, 2007[14]; ANTHONY, 2013[15]), o fenômeno é analisado, tendo em vista a incidência do contexto de sujeito (tu, você, tu/você e outras formas nominais de tratamentoFNT) e das seções das cartas (saudação inicial, captação de benevolência, núcleo, saudação final e post scriptum) na expressão imperativa.

O imperativo de 2SG no PB manifesta-se, cf. Scherre (2007[6]), por formas verdadeiras, associadas ao indicativo (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai), e supletivas, associadas ao subjuntivo (deixe/receba/abra/dê/diga/vá), que, segundo a tradição gramatical (BECHARA, 2009 [1961[16]]; ROCHA LIMA, 2013 [1972][17]; CUNHA; CINTRA, 2007 [1985][18]), devem estar alinhadas aos sujeitos de 2SG tu e você, respectivamente. Entretanto, o avanço do você em relação ao espaço funcional do tu (LOPES, 2007[19]; LOPES; CAVALCANTE, 2011[20]) afetou essa distribuição e promoveu a emergência do imperativo abrasileirado (forma imperativa verdadeira em contexto de você-sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000[4]), uma construção comumente utilizada no PB como no conhecido slogan comercial Vem pra Caixa você também! Vem!. Sendo assim, é possível afirmar que o imperativo no PB consiste em uma expressão variável, podendo ser verdadeiro ou supletivo, como em (01) e (02), respectivamente, e, a depender da referência de sujeito de 2SG, abrasileirado, como em (03)2. Os exemplos (01), (02) e (03) encontram-se a seguir, ilustrados com seus respectivos fac-símiles representados pelas figuras (01), (02) e (03).

(01) Nada li até hoje tão bom, tão bem escrito, tão profundo. [...] Dize ao [...] estou á espera dos cobres. Não mandes a carta do Cashley, que já paguei. (AR. Belo Horizonte, 15.01.1930)

Figure 1. FIGURA 1 – Trecho fac-similar da carta de AR. Belo Horizonte, 15.01.1930 Fonte: Acervo dos Escritores Mineiros (AEM)

(02) Você tem escrito? A Lucia Miguel Pereira gostou muito do seu livro, – o que não é de admirar. Adeus; mande-nos notícias da sua saúde. (AM. Rio de Janeiro, 12.07.1944)

Figure 2. FIGURA 2 – Trecho fac-similar da carta de AM. Rio de Janeiro, 12.07.1944 Fonte: Acervo dos Escritores Mineiros (AEM)

(03) Recebeu o berço? Como é que você diz que eu não lembro [...] Manda o Raymundo despachar o meu clach como encommenda pela estrada de ferro [...]. (JP. Ouro Preto, 09.11.1890)3

Figure 3. FIGURA 3 – Trecho fac-similar da carta de JP. Ouro Preto, 09.11.1890 Fonte: Arquivo Público Mineiro (APM)

A carta pessoal, um gênero de natureza dialógica (BAKTHIN, 2003 [1953][21]; MARCUSCHI, 2008[22]), apresenta-se geralmente com as seções de saudação inicial, captação de benevolência, núcleo, saudação final e post scriptum (MARCOTULIO, 2008[23]; SILVA, 2017[11]). Essas seções, que podem ser mais fixas ou mais livres a depender da presença ou não de tradições discursivas (KABATEK, 2006[24]), podem influenciar a expressão variável do imperativo, tendo em mente que, conforme Silva (2017[11]), o imperativo verdadeiro é favorecido por contextos mais livres (núcleo e post scriptum) e o imperativo supletivo é impulsionado por contextos mais fixos (saudação inicial, captação de benevolência e saudação final). Para tecer essa reflexão, Silva (2017[11]) se apoia em Scherre (2007[6]), segundo a qual contextos menos formais e mais dialógicos (seções livres) favoreceriam o imperativo verdadeiro, ao passo que situações mais formais e menos dialógicas (seções fixas) impulsionariam o imperativo supletivo.

Nesse sentido, no intuito de verificar a expressão variável do imperativo de 2SG nas cartas mineiras, testando ainda a influência do contexto do sujeito de 2SG e das seções das cartas em que as formas imperativas atuariam na escrita mineira de sincronias passadas, apresentam-se as seguintes questões norteadoras desta análise:

I. Em que medida o contexto de sujeito (tu, você, tu/você e outras formas nominais de tratamentoFNT) influenciaria a distribuição das formas imperativas nas cartas, com base nos resultados de Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12])?

II. Em que proporção as seções da carta pessoal (saudação inicial, captação de benevolência, núcleo, saudação final e post scriptum) atuariam sobre a expressão variável do imperativo, tendo em mente o estudo de Silva (2017[11]) apoiada, por sua vez, em Scherre (2007[6])?

As hipóteses em relação a essas questões são duas. A primeira, à luz de Cardoso (2012[8]) e de Diniz (2018[12]), é que as referências de sujeito das cartas teriam um papel na variação do imperativo, de modo que o contexto de tu-sujeito favoreceria o imperativo verdadeiro e o contexto de você-sujeito deflagraria o imperativo supletivo, como um possível reflexo da atuação da norma padrão (BECHARA, 2009 [1961][16]; ROCHA LIMA, 2013 [1972][17]; CUNHA; CINTRA, 2007 [1985][18]) na escrita dos missivistas mineiros em questão. A segunda, à luz de Scherre (2007[6]) e de Silva (2017[11]), é que as seções do gênero “carta pessoal” influenciariam a manifestação do imperativo de 2SG, de forma que as seções mais livres (núcleo e post scriptum) impulsionariam o imperativo verdadeiro e as seções mais fixas (saudação inicial, captação de benevolência e saudação final) estimulariam o imperativo supletivo, em decorrência de evidências de tradições discursivas presentes em expressões formulaicas (KABATEK, 2006[24]).

Assim, a fim de promover a análise que aqui se propõe, sobre o estatuto variável do imperativo de 2SG, este artigo apresenta 5 seções além das considerações iniciais e finais. Após uma breve abordagem do tema da pesquisa com os objetivos, as questões e as hipóteses nas considerações iniciais, passa-se para a primeira seção, em que são expostos alguns resultados de pesquisas sociolinguísticas sobre o fenômeno em relação à referência de sujeito. Posteriormente, na segunda seção, são feitas algumas considerações sobre o gênero carta pessoal com base nas tradições discursivas, e, em seguida, na terceira seção, são apresentados os procedimentos metodológicos voltados para a organização da amostra de cartas pessoais. Por fim, na quarta e na quinta seção, os dados de imperativo são analisados, respectivamente, segundo os contextos de sujeito de 2SG e a seção da carta, para, enfim, nas considerações finais, tecerem-se algumas generalizações acerca de uma possível influência da norma-padrão e das tradições discursivas em relação à manifestação variável do imperativo do 2SG.

1. O imperativo de 2SG e a referência de sujeito: estudos norteadores

O modo imperativo caracteriza-se, conforme Searle (1969[25] apud FARIA 2006[26]), pela presença de uma força ilocucionária própria de situações interativas que exprimem a semântica da ordem, do pedido e da súplica. Em contexto de 2SG, à luz de diversos estudos sociolinguísticos (PAREDES SILVA et al., 2000[4]; SCHERRE, 2003; 2007; 2012[5-7]; RUMEU, 2016; 2019[9,10]; CARVALHO, 2020[13]), esse modo realiza-se no PB por meio de formas verdadeiras (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai) ou supletivas (deixe/receba/abra/dê/diga/vá) em variação com tu e você como opções de sujeito. Nesse sentido, a partir de um breve resgate histórico (CAMARA JR., 1976[27]; FARIA, 1958[26]) e normativista (BECHARA, 2009 [1961][16]; ROCHA LIMA, 2013 [1972][17]; CUNHA; CINTRA, 2007 [1985][18]) relativos ao uso dessas formas e suas referências de sujeito, analisam-se os resultados de Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12]) sobre o papel do sujeito no estatuto do imperativo.

Desde o latim, Câmara Jr. (1976[27]) salienta que a utilização das formas indicativas e subjuntivas já se intercambiavam na expressão de ordens no modo imperativo. Nesse sentido, cf. Faria (1958[26]), na língua latina o imperativo de 2SG se expressava por formas verdadeiras (indicativo) quando formalmente alinhado à segunda pessoa, como em (04), e por formas supletivas (subjuntivo) quando formalmente alinhado à terceira pessoa, como em (05), usos que perpetuaram no português na visão prescritiva das gramáticas normativas.

(04) Cura, amabo te, ciceronem nostrum. (Cíc., At., 2,2,1) – Por favor, peço-te, olha pelo nosso querido Cícero. (cf. FARIA, 1958, p. 381)

(05) Cautus sis, mi Tiro. (Cíc., Fam., 16,9,4) – Sejas cauteloso, meu caro Tirão. – (cf. FARIA, 1958, p. 382)

Os gramáticos da tradição (BECHARA, 2009 [1961][16]; ROCHA LIMA, 2013 [1972][17]; CUNHA; CINTRA, 2007 [1985][18]) são unânimes ao afirmar que as formas imperativas verdadeiras, advindas do indicativo com apócope do morfe número-pessoal “-s”, são utilizadas em contexto de tu-sujeito, enquanto as formas imperativas supletivas, emprestadas do subjuntivo sem nenhuma alteração mórfica, são empregadas em contexto de você-sujeito. Apesar da força que a tradição gramatical pode exercer sobre os indivíduos quanto à complementariedade entre forma imperativa e referência de sujeito, essa influência não é determinante ao ponto de impedir a variação. Afinal, pesquisas sociolinguísticas (PAREDES SILVA et al., 2000[4]; SCHERRE, 2003; 2007; 2012[5-7]; RUMEU, 2016; 2019[9,10]; CARVALHO, 2020[13]) atestam que não existe uma correlação absoluta entre forma imperativa e sujeito de 2SG no uso corrente da língua, fato que propiciou a emergência do imperativo abrasileirado (forma imperativa do indicativo com você-sujeito, cf. Paredes Silva et al. 2000[4]). Ainda assim, a perspectiva normativa parece atuar com intensidade nesse fenômeno, como atestam os estudos de Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12]).

Cardoso (2012[8]) dedica-se ao entendimento da expressão variável do imperativo no Sul do Brasil em uma pesquisa com 464 dados de fala de 48 entrevistas do Varsul relacionadas às cidades de Lages e Florianópolis. Levando em consideração que na região Sul o tu (com ou sem concordância) predomina sobre o você (SHERRE, 2012[7])4, Cardoso (2012[8]) encontra os seguintes resultados quanto ao efeito da referência de sujeito sobre o fenômeno. Com o imperativo associado ao indicativo como valor de aplicação, o tu (87%, 41 oco, 0.60) determinou decisivamente a expressão do imperativo verdadeiro, ao passo que o você (59%, 29 oco, 0.21) parece ter favorecido o imperativo supletivo. Nessa pesquisa, o linguista também avaliou a incidência de formas tratamentais na deflagração do fenômeno, evidenciando que as formas nominais (77%, 34 oco, 0.57) e as formas de tratamento não explícito (82%, 241 oco, 0.56) impulsionaram o imperativo verdadeiro enquanto as formas senhor/senhora (68%, 11 oco, 0.24) tenderam a propiciar o imperativo supletivo.

Ao passo que Cardoso (2012[8]) aborda a variação do imperativo na fala dos sulistas da atualidade, Diniz (2018[12]) volta seu olhar para o passado em uma pesquisa com base 226 cartas cariocas em que foram encontrados 732 dados de imperativo. Tendo em vista que no Rio de Janeiro o você parece prevalecer sobre o tu predominantemente sem concordância (SHERRE, 2012[7])5, Diniz (2018[12]) expõe resultados percentualmente semelhantes aos de Cardoso (2012[8]) sobre a relação entre sujeito das cartas e a expressão imperativo. Nas cartas de tu (70%, 161 oco) houve a preferência pelo imperativo verdadeiro, enquanto nas cartas de você (86%, 266 oco) ocorreu a prevalência do imperativo supletivo. Além disso, embora nas cartas com outras formas nominais de tratamento tenha sido encontrado tão somente 1 dado referente, nesse caso, ao imperativo supletivo, nas cartas mistas verificou-se uma significativa alternância entre imperativo verdadeiro (45%, 85 oco) e o imperativo supletivo (55%, 106 oco).

As duas pesquisas (CARDOSO, 2012[8]; DINIZ, 2018[12]) atestam o efeito da referência de sujeito sobre a expressão variável do imperativo de 2SG no PB. Nesse caso, a complementaridade entre as formas indicativas e o sujeito tu bem como entre as formas subjuntivas e o sujeito você, existentes nos corpora analisados, parecem ser um indício da influência da tradição gramatical sobre os indivíduos, que, apesar da variação, ainda tende a exercer uma forte atuação sobre a expressão imperativa. Assim, de modo semelhante aos estudos realizados por Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12]), procura-se averiguar como as formas imperativas das cartas mineiras se comportarão diante do contexto de sujeito. Antes disso, entretanto, passa-se, na seção seguinte, à abordagem sobre a carta pessoal, tendo em vista as tradições discursivas próprias desse gênero.

2. A carta pessoal: gênero e tradição discursiva

A carta pessoal constitui um gênero textual na medida em que apresenta características formais e discursivas relativamente estáveis tendo em vista sua composição estrutural e sua situação comunicativa (BAKTHIN, 2003 [1953][21], MARCUSCHI, 2008[22]). Esse gênero surge da necessidade de estreitamento das relações entre interlocutores que se encontram a distância (BERLINK et al., 2008[28]) por meio de uma estrutura básica composta por seção de contato inicial, núcleo e seção de despedida (PAREDES SILVA, 1988[29]; MARCOTULIO, 2008[23]). Nesse sentido, a fim de depreender o papel de cada uma das partes constitutivas do gênero (SILVA, 2017[11]) na expressão binária do imperativo (verdadeiro vs. supletivo, cf. SCHERRE, 2007[6]), a carta pessoal é abordada como um gênero que apresenta uso recorrente de algumas tradições discursivas (KABATEK, 2006[24]) constantes em expressões formulaicas.

Existe uma distinção terminológica fundamental entre gênero discursivo (BAKTHIN, 2003 [1953][21]) e gênero textual (MARCUSCHI, 2008[22]). Rojo (2005[30]) entende que, enquanto a Teoria dos gêneros discursivos enfatiza os aspectos sociointeracionais, a Teoria dos gêneros textuais destaca a materialidade do texto. Neste trabalho, porém, considerando os aspectos discursivos e estruturais que compõem a carta pessoal, usa-se o termo “gênero textual” para dar conta dessas duas abordagens teóricas, por entender que essa diferença não afeta os propósitos desta pesquisa. Desse modo, a carta pessoal é entendida como um gênero que se realiza por meio de enunciados relativamente estáveis (BAKHTIN, 2003 [1953][21]) concretamente realizados em situações comunicativas (MARCUSCHI, 2008[22]) com o objetivo de estabelecer um diálogo a distância entre interlocutores (BERLINK et al., 2008[28]).

A estabilidade dos enunciados que contribuem para a constituição do gênero carta pessoal pode ser analisada segundo o conceito de tradições discursivas (KABATEK, 2006[24]). Como explica Kabatek (2006[24]), tradições discursivas são elementos recorrentes que adquirem um valor significativo próprio dado seu uso que evoca determinados elementos linguísticos ou determinadas formas textuais. Assim, as tradições discursivas podem constituir desde uma estrutura simples, como a expressão “Bom dia!”, passando por elementos que compõem um texto, como as seções de um artigo acadêmico, até uma estrutura complexa, como o próprio gênero textual. Neste artigo, entende-se que a carta pessoal tende a apresentar algumas tradições discursivas em sua composição estrutural que evocam esse gênero, tornando-a, desse modo, facilmente reconhecida.

A carta pessoal é composta basicamente por seção de contato inicial, núcleo da carta e seção de despedida (PAREDES SILVA, 1988[29]; MARCOTULIO, 2008[23]). No contato inicial, é comum encontrar o local e data, a saudação inicial com o destinatário e captação de benevolência; no núcleo, localiza-se o assunto a que o texto se dedica; e, por fim, na despedida, é possível observar geralmente a saudação final e a assinatura, seguida, algumas vezes, por uma observação na forma de um post scriptum (PS). Essas seções estão ilustradas através da figura (04) de uma carta do jovem mineiro João Pinheiro cuja edição se deu por Luz (2015, p. 17[31]), sendo também tal carta parte do corpus em análise.

Figure 4. FIGURA 4 – Transcrição de carta de João Pinheiro com destaque para as seções do gênero Fonte: Elaboração do autor com base na edição de Luz (2015, p. 17[31])

Na carta em questão, percebe-se na seção de contato inicial que o texto se remete ao tio de João Pinheiro (saudação inicial), tendo sido escrito em Nossa Senhora do Porto em janeiro de 18686 (local e data), e que o sobrinho espera que o tio esteja saudável e feliz (captação de benevolência). No núcleo, nota-se que a carta tem como objetivo pedir que o seu parente lhe faça uma visita e, na seção de despedida, que o sobrinho e seus pais lhe recomendam muito bem (saudação final). Nesta seção, ainda se observa um comentário sobre a escrita do texto (observação ou post scriptum) acompanhada da assinatura do remetente. Em geral, as cartas utilizadas nesta pesquisa tendem a seguir essa disposição, entretanto é relevante pontuar que essa estrutura não deve ser vista de maneira rígida, uma vez que as amostras analisadas nem sempre apresentam as seções nessa ordem e que algumas seções, como a captação de benevolência e o post scriptum, podem não estar presentes.

A explicitação dessa estrutura é relevante, na medida em que por meio dela é possível entrever a presença de tradições discursivas em algumas seções da carta que se manifestam em expressões formulaicas. É muito comum que, na captação de benevolência, ocorram frases semelhantes à exposta em (06) e que, na seção de saudação final, estejam pressentes sentenças similares à que se observa em (07), com seus respectivos fac-símiles representados pelas figuras (05) e (06).

(06) Muito heide estimar que estas tortas linnha vá encontrar a Vossa merce; gozando perfeita saude pois é o que de coração lhedezejo. (JP. Ouro Preto, 21.12.1869)

Figure 5. FIGURA 5 – Trecho fac-similar da carta de JP. Ouro Preto, 21.12.1869 Fonte: Arquivo Público Mineiro (APM)

(07) Disponha dos nossos préstimos aqui. Aceite os afetuosos abraços de Saüdade do seu velho amigo e admirador Murilo. (MM. Roma, 26.10.1960)

Figure 6. FIGURA 6 – Trecho fac-similar da carta de MM. Roma, 26.10.1960 Fonte: Acervo dos Escritores Mineiros (AEM)

Esses excertos podem ser tomados como exemplos de tradições discursivas (KABATEK, 2006[24]), na medida em que apresentam estruturas recorrentes que evocam o gênero carta pessoal. Expressões, como “Muito heide estimar que estas tortas linnha vá encontrar a Vossa merce; gozando perfeita saude” ou “Aceite os afetuosos abraços de Saüdade do seu velho amigo” que se cristalizaram pelo uso ao longo do tempo, constituem expressões formulaicas próprias desse gênero textual. Nesse sentido, considerando a recorrência de fragmentos assim, as seções saudação inicial, captação de benevolência e saudação final tendem a apresentar uma rigidez formal maior do que as seções núcleo e post scriptum, nas quais há uma maior liberdade criativa por parte do escrevente. Nesse caso, a hipótese, aventada por Silva (2017[11]) apoiada em Scherre (2007[6]), é que as seções da carta influenciariam a expressão do imperativo de modo que as mais livres (núcleo e post scriptum) deflagrariam o imperativo verdadeiro e as mais fixas (saudação inicial, captação de benevolência e saudação final) impulsionariam o imperativo supletivo.

Em sua pesquisa sobre essa atuação, Silva (2017[11]) apresenta resultados instigantes em relação às seções de saudação final, núcleo e post scriptum com base na análise de 772 dados de construções imperativas de 2SG retiradas de cartas cariocas produzidas no século XIX e XX. A linguista dividiu a amostra em 4 fases conforme a manifestação das formas imperativas (I–1861-1900: leve favorecimento do imperativo verdadeiro; II–1901-1920: coexistência entre o imperativo verdadeiro e supletivo; III–1921-1940: forte predomínio do imperativo verdadeiro; IV–1941-1980: aumento do imperativo supletivo). A predominância das formas imperativas supletivas na saudação final ocorreu, como previsto, na fase II (53%, 24 oco) e na fase IV (83%, 47 oco), mas não na fase I (39%, 27 oco) e na fase III (23%, 23 oco). Já no núcleo, o imperativo verdadeiro prevaleceu, como estipulado, na fase I (61%, 43 oco), na fase II (51%, 62 oco) e na fase III (80%, 88 oco); só na fase IV (10%, 15 oco) que essa prevalência não ocorreu. Por fim, quanto ao post scriptum, o imperativo verdadeiro mostrou-se proeminente somente na fase III (16%, 25 oco), uma vez que, se, na fase I, houve uma alternância entre as formas imperativas indicativas (50%, 2 oco) e subjuntivas (50%, 2 oco), nas fases II (110 %, 5 oco) e IV (100%, 8 oco), o imperativo supletivo predominou. Assim, mesmo não sendo em todos os casos, fica atestado, através da pesquisa de Silva (2017[11]), o papel das seções da carta sobre o estatuto variável do imperativo do PB.

Desse modo, de maneira semelhante à proposta de Silva (2017[11]), busca-se neste trabalho, tendo em vista os graus de rigidez das tradições discursivas manifestos em expressões formulaicas, evidenciar a atuação das seções da carta pessoal para a expressão variável do imperativo nas cartas mineiras dos séculos XIX e XX. Mas, antes, procede-se a seguir à abordagem metodológica aplicada ao corpus deste estudo.

3. Cartas mineiras em foco: o tratamento do corpus

O corpus da pesquisa, compilado por Carvalho (2020[13]), apresenta 202 cartas autógrafas com dados de imperativo produzidas por escritores mineiros cultos, durante os séculos XIX e XX (1868-1993). Essas cartas, disponíveis em acervos públicos (Acervo dos Escritores Mineiros – AEM, Arquivo Público Mineiro – APM, Museu Abílio Barreto – MAB, Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais – IHGMG, Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte – APCBH), passaram por um rigoroso processo de edição pelos integrantes do projeto de pesquisa Para uma sociolinguística Histórica do português brasileiro: variação sincrônica e mudança diacrônica.7 Nesse sentido, são trazidos à cena os desafios metodológicos que cercam os sociolinguistas no trabalho com amostras históricas (LABOV, 1972[3]; ROMAINE, 1982[1]; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012[2]; JENSET; McGILLIVRAY, 2017[32]) bem como o tratamento computacional utilizado para a obtenção dos dados da pesquisa (GUY; ZILLES, 2007[14]; ANTHONY, 2013[15]).

No trabalho com corpora de natureza histórica, o linguista vai ao “reino das traças” (LOBO, 2009, p. 307[33]) em busca de documentos que resistiram à ação impetuosa do tempo. Nesse movimento, o aforismo de Labov (1972, p. 100[3]), segundo o qual a arte de linguista histórico consiste em fazer “o melhor uso dos maus dados”8 ecoa na mente daqueles que retornam às sincronias passadas para a realização de um trabalho desafiador. De fato, como explica o linguista, os “maus” dados não devem ser tomados como “ruins”, tratando-se, na verdade, de dados fragmentados, corrompidos e distantes do vernáculo. Ainda assim, não se pode perder de vista que toda pesquisa linguística envolve desafios que não devem ser encarados de maneira pejorativa, mas sim como singulares em termos de sua realização sincrônica ou diacrônica.

No caso das pesquisas históricas, que não lidam com corpora orais, coube a Romaine (1982[1])9 a proposição de um aporte metodológico eficiente para lidar com amostras pretéritas. Nesse contexto, é relevante destacar, como desafios que se impõem ao pesquisador, a questão da autenticidade, da autoria e da validade social e histórica, propostas por Hernández-Campoy e Schilling (2012[2])10, que se relacionam à pesquisa desenvolvida com as cartas mineiras. A autencidade se refere à dificuldade de rastrear o vernáculo nos textos históricos, que, uma vez escritos, não refletiriam o uso real da língua; a autoria está relacionada à necessidade de constatação de que os manuscritos são escritos pelo próprio autor (autógrafo), já que na diacronia é comum encontrar textos produzidos copistas (apógrafos); por fim, a validade social e histórica faz referência à necessidade de reconstituir os perfis sociais dos escreventes, mesmo diante da dificuldade de se obter informações sobre a estrutura social da época. Na pesquisa com as cartas mineiras, a questão da autencidade está assegurada pelo gênero carta pessoal utilizado, que, dada a sua natureza dialógica, permite entrever rastros do vernáculo na escrita (AGUILAR, 1998[34]); a autoria está certificada pelo aporte filológico utilizado para a produção de edições conservadoras que atestam que a assinatura presente nas cartas pertencem de fato aos seus autores; e, enfim, a questão da validade social e histórica está garantida pelo reconhecimento dado aos assinantes desses textos, escritores como Carlos Drummond de Andrade, João Pinheiro e Henriqueta Lisboa, mineiros ilustres cujos perfis biográficos podem ser levantados nos acervos públicos em que as cartas estão armazenadas11. Dessa maneira, a pesquisa atende, em termos metodológicos, às proposições feitas pela Sociolinguística quando está voltada para a realização de estudos de natureza histórica.

Neste artigo, entendendo à luz de Jenset e McGillivray (2017[32]) que a linguística histórica não pode prescindir do aparato tecnológico para análise de corpora históricos, as cartas pesquisadas foram submetidas ao tratamento de dois programas computacionais. São eles o Antconc (versão 3.5) e o GoldVarb (versão 3.0). O Antconc12, como explica seu criador Anthony (2013[15]), executa com rapidez e precisão uma diversidade de corpora, oferecendo tratamento de tags, metadados e codificações de linguagem e uma variedade de funções e recursos. Esse programa foi utilizado no processo de identificação e codificação dos dados do imperativo através da análise das concordâncias das formas imperativas encontradas, tendo em mente a variável dependente e as variáveis independentes. A variável dependente consistiu na expressão binária do imperativo (verdadeiro vs. supletivo). As variáveis independentes estão representadas através da análise do contexto de sujeito de 2SG prevalente na missiva como um todo – cartas de tu-sujeito, cartas de você-sujeito, cartas de tu/você-sujeito e as de FNT – e do controle das seções das cartas (saudação inicial, núcleo, saudação final, post scriptum). De acordo com Guy e Zilles (2007), o pacote de programas Goldvarb13 é voltado principalmente aos cômputos estatísticos e probabilísticos em análises multivariadas de uma dada regra variável. Neste trabalho, o programa foi utilizado para gerar as frequências de uso (makecell) e os pesos relativos (binomial) referentes à expressão variável e a seus grupos de fatores.

Assim, uma vez abordadas as questões metodológicas que “atormentam” os linguistas no trabalho com amostras históricas bem como descritas as ferramentas computacionais utilizadas para análise das construções imperativas presentes no corpus, procede-se à seção seguinte com a primeira parte da análise dos resultados.

4. O imperativo de 2SG em análise: a influência da referência de sujeito

Na pesquisa com as 202 cartas mineiras (1868-1993), foram encontrados 375 dados de formas imperativas com prevalência do imperativo supletivo (deixa/recebe/abre/dá/diz/vai: 81%, 304 oco) sobre o imperativo verdadeiro (deixe/receba/abra/dê/diga/vá: 19%, 375 oco)14. A distribuição das formas imperativas em correlação aos contextos de sujeito das cartas (tu, você, tu/você, FNT) com os pesos relativos associados ao subjuntivo pode ser averiguada na tabela (01) produzida com base em Carvalho (2020[13]). A hipótese, cf. Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12]), é que as referências de sujeito das cartas influenciariam a expressão do imperativo de maneira que o contexto de tu impulsionaria o imperativo verdadeiro (indicativo) e o contexto de você propiciaria o imperativo supletivo (subjuntivo).

Sujeitos de 2SG Construções imperativas de 2SG
Indicativo Subjuntivo Total Peso relativo[1] (subjuntivo)
Cartas de tu 22/39 (56%) 17/39 (44%) 39/375 (10%) 0.097
Cartas de você 8/190 (4%) 182/190 (96%) 190/375 (51%) 0.760
Cartas de tu e você 21/33 (64%) 12/33 (36%) 33/375 (9%) 0.074
Cartas de FNT 20/113 (18%) 93/113 (82%) 113/375 (30%) 0.394
Total 71/375 (19%) 304/375 (81%) 375/375 (100%) - -
Table 1. TABELA 1 – Distribuição dos dados de imperativo de 2SG em função do contexto de sujeito das cartas Fonte: Elaboração do autor com base em Carvalho (2020, p. 120[13])

Os dados da tabela (01) confirmam as hipóteses de Cardoso (2012) e Diniz (2018) na medida em que o contexto de tu (peso relativo: 0.097) deflagrou o imperativo verdadeiro (56%, 22 oco) sobre o supletivo (44%, 17 oco) e o contexto de você (peso relativo: 0.760) favoreceu o imperativo supletivo (96%, 182 oco) sobre o verdadeiro (4%, 8 oco). De (08) a (11) são ilustradas algumas ocorrências dessas formas imperativas no corpus com destaque para o contexto de sujeito.

(08) Podes reformar o Dirictorio consulte o Dr Jose Pedro Araujo, consulte a quem quizer ve si o Sabino entra na rasã tudo combinado me-passe um telegramma pedindo as medidas communicando e Dirictorio criado. (JP. s/local, s/ data) – imperativo verdadeiro em contexto de tu-sujeito

(09) Quanto ao dinheiro que necessitas e que me encarregaste de arranjar-t'o aqui com alguns de meus amigos, não me foi possivel obtel-o [...] Tenha a bondade de mandar-me noticias de Mandinha, aquem muito me recommendo. (FAPJ. Caeté, 14.10.1916) – imperativo supletivo em contexto de tu-sujeito

(10) Caso Você não queira falar-lhe, provoque um encontro delle com o Baêta, deixando-os a sós para que o Baêta lhe fale novamente. (AR. Belo Horizonte, 06.06.1936) – imperativo supletivo em contexto de você-sujeito

(11) Aposto sem medo de perder como foi voce quem pintou o palhacinho no cartão? [...] Recebe lembranças do Barbosa Regina, Levy e muitos beijinhos. [...] Abraça por mim a tia Sinhá e as meninas. (L. Thebas-MG, 24.01.1925) – imperativo verdadeiro em contexto de você-sujeito

Nesse caso, a relação entre as formas imperativas (verdadeiras vs. supletivas) e os contextos de sujeito (tu vs. você) pode ser vista como uma forte influência da tradição gramatical sobre os escreventes. A gramática normativa (CUNHA; CINTRA, 1985[18]; ROCHA LIMA, 2010 [1972][17]; BECHARA, 2009[16]) prescreve que o imperativo verdadeiro se construa com forma indicativa em contexto de tu-sujeito e que o imperativo supletivo se manifeste com forma subjuntiva em contexto de você-sujeito. Assim, tendo em vista que os escreventes mineiros, tal como descrito por Carvalho (2020[13]), sejam legítimos representes da escrita culta, é lícito pensar que eles tenham sido impulsionados pela norma-padrão no uso das formas imperativas, promovendo o imperativo supletivo em correlação com o você e o imperativo verdadeiro em correlação com o tu.

De todo modo, salta aos olhos a predominância significativa do imperativo supletivo (81%, 304 oco) sobre o imperativo verdadeiro (19%, 375 oco). Essa prevalência pode ser vista como um possível efeito da inserção do você no sistema pronominal (LOPES, 2007[19]; LOPES; CAVALCANTE, 2011[20]) como um fator impulsionador da utilização do subjuntivo com valor imperativo. Nesse sentido, cabe ressaltar as análises de Silva (2017[11]) e Rumeu (2019[10]) sobre a expressão do imperativo em correlação às referências de sujeito de 2SG em cartas de escritores cariocas cultos com base nas pesquisas de Souza (2012[35]) e Diniz (2018[12]). Nesses trabalhos, Rumeu (2019[10]) e Silva (2017[11]) confirmam que a expressão do imperativo verdadeiro e do imperativo supletivo acompanha pari passu as modificações no sistema pronominal ao longo do tempo com o ingresso do você nos espaços do tu, indicando o papel da tradição gramatical sobre os escritores cultos.

Os dados da tabela (01) também permitem analisar a influência dos outros casos de contexto de sujeito na expressão do imperativo. Tendo tu e você juntos na referência de sujeito, prevalecem as formas indicativas (64%, 21 oco) sobre as subjuntivas (36%, 12 oco), consistindo em um fator pouco propulsor do imperativo supletivo (0.074). Além disso, com as formas nominais de tratamento (FNT) na posição de sujeito, caso também pouco retentor do imperativo supletivo (0.394), houve predominância das formas subjuntivas (82%, 93 oco) sobre as indicativas (18%, 20 oco). Essa aparente contradição entre predominância quantitativa e peso relativo provavelmente se deve à correção da falta de equilíbrio numérico entre as amostras, situação muito comum em corpora históricos. De (12) a (15), essas ocorrências estão exemplificadas com os contextos de sujeito (nulos ou plenos) devidamente demarcados.

(12) Tambem foram logo aproveitadas as photographias dos vasos que Você mandou. [...] Desculpa o cumprimento da carta. Ao menos verás que as ideias aqui fructificão logo, e não se-transformão em conversa fiada. (JP. Caeté, 28.01.1901) – imperativo verdadeiro em contexto de tu/você-sujeito

(13) Adelaide, como sabes, é nervosa em excesso e está em uso de remedios; eu; por minha vez, sou tambem nervoso, a nossa casa é pequena e mal nos comporta; o que hei depois fazer?! [...] Você não deixe de vir aqui passar uns dias connosco. (FAPJ. Caeté, 02.08.1913) – imperativo supletivo em contexto de tu/você-sujeito

(14) Bôa Quequeta, Recebi meus livros e com eles tua cartinha ha muito já, desejava que me informasse sobre si “Pandora” Do Da Costa e Silva ficou alí porque não recebi e veiu fracturada da Livraria. Manda-m’a, sim? (JCL. Pouso Alegre, 03.05.1927) imperativo verdadeiro em contexto de FNT

(15) Bondosa d. Alice, Saúdo- a affetuosamente. [...] Não se incomode com a importância das passagens para as empregadas, porque darei a D. Bellinha o que fôr preciso. (AR. Belo Horizonte, 02.10.1925) – imperativo supletivo em contexto de FNT

Ainda que não tenha sido o foco deste artigo, é válido ressaltar que os exemplos (11) e (12) expostos anteriormente evidenciam os rastros do imperativo abrasileirado (forma imperativa indicativa em contexto de você-sujeito, cf. PAREDES SILVA et al., 2000[4]), uma construção imperativa que emergiu a partir do ingresso do inovador você que invadiu os ambientes do tu no sistema pronominal (LOPES, 2007[19]; LOPES; CAVALCANTE, 2011[20]).

Assim, tendo analisado a distribuição geral das formas imperativas no corpus, confirmando a hipótese de Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12]), procede-se à próxima seção com a análise da influência das seções das cartas sobre o fenômeno.

5. O imperativo de 2SG em análise: a atuação das seções da carta

Na análise do papel das seções da carta (núcleo, saudação final e post scriptum)15 sobre a expressão binária do imperativo de 2SG (verdadeiro vs. supletivo), é possível chegar aos resultados expostos na tabela (02). A hipótese, à luz de Silva (2017[11]) que toma por base Scherre (2007[6]), é que as formas supletivas predominem na saudação final, seção mais fixa com maior presença de tradições discursivas comuns em expressões formulaicas, e as formas verdadeiras predominem no núcleo e no post scriptum, seções que oferecem maior liberdade de expressão ao escrevente.

Figure 7. TABELA 2 – Distribuição dos dados de imperativo de 2SG em função do contexto de sujeito das cartas Fonte: Elaboração do autor

À primeira vista, os dados da tabela (02) não parecem corroborar totalmente a hipótese, uma vez que, embora na saudação final (indicativo: 17%, 25 oco; subjuntivo: 83%, 118 oco) as formas supletivas tenham sobreposto as formas de imperativo verdadeiro, diferentemente do que se supunha, essa sobreposição também ocorreu no núcleo (indicativo: 20%, 43 oco; subjuntivo: 80%, 174 oco), e no post scriptum (indicativo: 20 %, 3 oco; subjuntivo: 80%, 12 oco) com níveis de variação semelhantes. De (16) a (21), são ilustradas as ocorrências do imperativo de 2SG por seção da carta.

(16) Dize ao J. Carlos que apreciei escrever a peça de ontem. O Sonho das Esmeraldas, como composição e interpretação - D. Fernão estava adimiravel [...]. (MJLB. Lambari, 04.08.1941) – imperativo verdadeiro no núcleo da carta

(17) Peço que telephone (48495 ou 20334) a Maria Casasanta e diga a ella que ainda não retornei porque C. M. está doente e só agora começa a melhorar. (AR. BH, 05.07.1960) – imperativo supletivo no núcleo da carta

(18) Recebe lembranças do Barbosa Regina, Levy e muitos beijinhos 55 das meninas. (L. Thebas-MG, 24.01.1925) – imperativo verdadeiro na saudação final

(19) Abrace, por nos, todos os parentes e amigos comuns. (CLB. Santiago, 19.07.1967) – imperativo supletivo na saudação final

(20) Guarda na geladeira. (AR. BH, 05.07.1960) – imperativo verdadeiro no post scriptum

(21) Post Scriptum Procure ver a 1 pagina do supplemento do “Correio da Manhâ”, de hoje. (HL. RJ, 09.07.1933) – imperativo supletivo no post scriptum

Ainda que tenda a não se confirmar quanto aos dados gerais, a hipótese a respeito do núcleo e do post scriptum pode ser comprovada em alguns contextos ao conjugar os dados de imperativo das seções da carta com a referência de sujeito. Enquanto no núcleo, isso ocorre de modo expressivo nas cartas mistas (indicativo: 71%, 17 oco; subjuntivo: 29%, 7 oco); no caso do post scriptum, ainda que com ínfimos dados, isso acontece nas cartas de tu-sujeito (indicativo: 100%, 2 oco). Nesses contextos a hipótese sobre o predomínio do imperativo verdadeiro pode ser comprovada muito provavelmente em razão da referência de sujeito que, juntamente às seções das cartas, parece ter influenciado a expressão do imperativo. De todo modo, cabe salientar os contextos em que essa hipótese não se confirmou: núcleo das cartas de tu-sujeito (indicativo: 46%, 11 oco; subjuntivo: 54%, 13 oco – alternância expressiva), de você-sujeito (indicativo: 3%, 3 oco; subjuntivo: 97%, 111 oco) e de outras formas nominais de tratamento (indicativo: 22%, 12 oco; subjuntivo: 78%, 43 oco); post scriptum das cartas de você-sujeito (subjuntivo: 100%, 5 oco) e das cartas de outras formas nominais de tratamento (indicativo: 12%, 1 oco; subjuntivo: 88%, 7 oco). Nesses casos, a referência de sujeito de 2SG, principalmente em relação ao você, parece ter atuado de modo mais significativo do que essas seções da carta na variação do imperativo.

Desse modo, uma vez analisada a incidência das seções das cartas sobre a expressão do imperativo, confirmando ainda que parcialmente a hipótese de Silva (2017[11]) apoiada em Scherre (2007, p 207[6]), procede-se, enfim, às considerações finais deste trabalho.

Considerações finais

Esta pesquisa analisou o estatuto variável do imperativo de 2SG (verdadeiro vs. supletivo) em cartas mineiras históricas (1868-1993) assinadas por escritores ilustres. O trabalho, orientado pelos princípios teóricos e metodológicos da Sociolinguística Histórica (ROMAINE, 1982[1]; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012[2]) inspirada, por seu turno, na Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 1982[3]), examinou o corpus por meio de ferramentas computacionais (GUY; ZILLES, 2007[14]; ANTHONY, 2013[15]), a fim de averiguar o efeito da referência de sujeito (CARDOSO, 2012[8]; DINIZ, 2018[12]) e das seções das cartas (SCHERRE, 2007[6]; SILVA, 2017[11]) sobre as formas variantes do imperativo. Desse modo, tendo em vista a demarcação do alcance das generalizações, que devem se limitar às missivas analisadas, retomam-se as questões propostas.

I. Em que medida o contexto de sujeito (tu, você, tu/você e outras formas nominais de tratamentoFNT) influenciaria a distribuição das formas imperativas nas cartas, com base nas pesquisas de Cardoso (2012[8]) e Diniz (2018[12])?

Nas cartas mineiras o contexto de sujeito foi relevante para a distribuição das formas imperativas. Enquanto o tu-sujeito conduziu a prevalência do imperativo verdadeiro (56%, 22 oco, 0.097), o você-sujeito (96%, 182 oco, 0.760) levou ao predomínio do imperativo supletivo. Essa disposição pode ser vista como um reflexo da tradição gramatical sobre os escreventes, que, uma vez cultos, parecem ter obedecido à distribuição complementar entre formas imperativas e contexto de sujeito segundo a prescrição gramatical (BECHARA, 2009 [1961][16]; ROCHA LIMA, 2013 [1972][17]; CUNHA; CINTRA, 2007 [1985][18]). Ainda assim, cabe ressaltar que essa atuação não foi determinante a ponto de impedir a variação, haja vista as evidências imperativas em cartas mistas (tu/você-sujeito) e os rastros de imperativo abrasileirado na amostra (imperativo verdadeiro em contexto de você-sujeito). Cabe ressaltar, entretanto, a necessidade de mais pesquisas sobre a influência das formas nominais de tratamento (FNT) sobre a expressão variável, para as quais as relações de Poder e Solidariedade (BROWN; GILMAN, 1960[36]), tal como proposto por Marcotulio (2008[23]) e Cardoso (2012[8]), poderiam conduzir uma linha de investigação.

II. Em que proporção as seções da carta pessoal (saudação inicial, captação de benevolência, núcleo, saudação final e post scriptum) atuariam sobre a expressão variável do imperativo tendo em mente o estudo de Silva (2017[11]) apoiada em Scherre (2007[6])?

No corpus analisado, as seções do gênero carta pessoal contribuíram para a manifestação do imperativo, de modo que a saudação final impulsionou o imperativo supletivo (83%, 118 oco), ao passo que o núcleo e o post scriptum estimularam o imperativo verdadeiro, respectivamente, nas cartas de tu/você-sujeito (71%, 18 oco) e nas cartas de tu-sujeito (100%, 2 oco). A predominância do imperativo supletivo na saudação final se deve à presença de tradições discursivas (KABATEK, 2006[24]) que podem constituir expressões formulaicas (“Muito heide estimar que estas tortas linnha vá encontrar a Vossa merce; gozando perfeita saude” ou “Aceite os afetuosos abraços de Saüdade do seu velho amigo”), tornando essa seção mais fixa e menos dialógica, diferentemente do que ocorre no núcleo e no post scriptum, seções mais dialógicas que permitem uma maior liberdade do escrevente, favorecendo, assim, o imperativo verdadeiro (Scherre, 2007[6]). O fato de que, a depender do contexto de sujeito, as formas imperativas não foram influenciadas pelas seções do gênero textual do modo como previsto carece maior investigação. Uma possível pista a ser seguida para compreensão dessa atuação seria, conforme proposto por Silva (2017[11]) com base em Bybee (2003[37]), a correlação do fenômeno com a frequência de dado (token frequency) e frequência de tipo (type frequency) dos verbos encontrados nessas seções.

Desse modo, considerando essas generalizações em relação ao fenômeno estudado nas cartas mineiras sob uma perspectiva histórica, foi possível atingir os objetivos pretendidos pelo artigo e responder às questões propostas, asseverando as hipóteses. A expressão variável do imperativo constitui um fenômeno instigante, fonte para inúmeras pesquisas que ajudam a entender a diversidade linguística do português brasileiro.

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