A luta pelo poder dizer “impeachment” e “golpe” na narrativa midiática do impedimento de Dilma Rousseff
Resumo
O processo de impedimento de Dilma Rousseff foi um dos acontecimentos históricos mais emblemáticos e tensos de nossa história política recente, sendo marcado por uma luta acirrada pelo poder e pelo poder dizer. Diante desse confronto discursivo, surgiu o objetivo central da presente pesquisa, que é analisar os processos de designação desse acontecimento histórico na narrativa midiática do Jornal O Globo e das revistas Veja e Carta Capital, em suas versões online, observando os funcionamentos discursivos que produziram os sentidos de legalidade (efeito parafrástico) e de golpe (efeito metafórico), para o termo “impeachment”. Para tanto, filiamo-nos à teoria da Análise de Discurso Pecheuxtiana, a partir da qual desenvolvemos nossos gestos de análise sobre o funcionamento da memória discursiva nas narrativas midiáticas dos referidos órgãos de imprensa. Para efeitos de conclusão, podemos dizer que a narrativa midiática produzida sobre o evento de 2016 foi determinada por um jogo de forças que acabou institucionalizando o discurso da legalidade, o qual foi construído, essencialmente, por meio do funcionamento da paráfrase discursiva, que (re)atualizou os saberes da FD do impeachment, cristalizados no imaginário social brasileiro, após o processo de impeachment de Collor. Por seu turno, a narrativa midiática do golpe foi construída, essencialmente, por meio do efeito metafórico, que produziu a deriva dos sentidos em torno do significante “impeachment” que, em meio ao jogo de forças existentes, gradativamente, tem se descolado do sentido de legalidade e tem funcionado como paráfrase de golpe.
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