A descrição das línguas ‘exóticas’ e a tarefa de escrever a história da linguística

Maria Cristina Altman

Resumo

Do ponto de vista da história do conhecimento sobre a natureza da linguagem, ninguém negaria que o contato do homem europeu com a diversidade linguística ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX trouxe uma contribuição considerável ao alargamento — quantitativo e qualitativo — do conhecimento empírico sobre as línguas (cf. Swiggers 1997, Law 2003). Ao longo de quatro séculos, franciscanos, dominicanos, agostinianos e, principalmente, jesuítas participaram da empresa colonial americana com o objetivo de exercer a dupla função do trabalho missionário: catequese e ensino da leitura e escrita. Não por acaso, já que a condição, oficial ao menos, para que tanto Portugal quanto Espanha pudessem expandir seus domínios territoriais era ampliar a fé católica, o que significava granjear fiéis em cada canto do mundo e, por suposto, em cada língua. A missão de conversão religiosa passava, pois, pela tarefa prévia de fazer a mensagem religiosa ser compreendida pela população ‘infiel’, fosse através da tradução da bíblia e do auxílio de intérpretes — estratégia preferida pelos protestantes — fosse através da aprendizagem e utilização da língua nativa — estratégia preferida do missionário católico.