Aquisição prosódica inicial: uma proposta de estágios

Andressa Toscano Moura de Caldas Barros de Almeida,
Ester Mirian Scarpa,
Marianne Carvalho Bezerra Cavalcante

Resumo

Atenção crescente tem sido dada, nos últimos anos, aos estudos que privilegiam a prosódia, reconhecendo o valor deste aspecto da linguagem na interação. Sabe-se, portanto, que a prosódia não só abrange as estruturas suprassegmentais das línguas, mas que também é responsável pelo sistema de ritmo, tom e entonação (SCARPA, 1999).  Dessa forma, elegemos a prosódia como um todo, e a entonação em particular, como objeto de estudo dentro de aquisição de linguagem. Buscamos, assim, tratar do primeiro sistema entonacional da fala de uma criança em quatro momentos de funcionamento (balbucio, jargões, primeiras palavras e blocos de enunciado), caracterizando e mapeando o seu desenvolvimento entonacional de 1;0 a 1;6 de vida. Assim, em nossas análises, observamos que mesmo os enunciados de uma sílaba do nosso sujeito não são produzidos num vácuo entonacional. Ao analisar o desenvolvimento tonal do nosso sujeito, percebemos que os primeiros contornos distintivos do seu sistema entonacional são do tipo ascendente ou descendente, e foi só a partir de 1;4 que as primeiras palavras da criança tiveram variação de altura reconhecidas como diferentes atos de fala, e apenas aos 1;6 mapeamos uma expansão de tons, com variações ascendentes, descendentes, ascendentes-descendentes e descendentes-ascendentes em sua fala. 

Referências

BALOG, H. L; ROBERTS, F. D.; SNOW, D. Discourse and intonation development in the first-word period. Enfance, n°3, 2009 p. 293- 304.

CARRANZAS, J. A. et al. De las palabras aisladas a las combinaciones de palabras. Secretariado de Publicaciones e In-tercambio Cientifico, Universidad de Murcia, Murcia (España). Anales de psicologia, 1991, 7 (2), 163-180.

CAVALCANTE, M. C. B. Da voz à língua: a prosódia materna e o deslocamento do sujeito na fala dirigida ao bebê. Tese de Doutorado em Lingüística. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1999.

CAVALCANTE, M. C. B.; SCARPA, E. M. Prosódia e Aquisição da Linguagem. In: OLIVEIRA JUNIOR, M. Prosódia, prosó-dias: uma introdução. Contexto, 2022, p.

CRYSTAL, D. The Cambridge Encyclopedia of the English Language. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.

CRUTTENDEN, A. Intonation. Cambridge University Press. 2 ed. 1997.

D’ODORICO, L. Non-segmental features of prelinguistic communication: an analysis of some types of infant cry and non-cry vocalizations. Journal of Child Language 11, 1984, p. 17–27.

DROMI, E. Babbling and early words. In: SALKIND, N.J.( ed). Child development. Macmillan psychology reference se-ries. MCmillan, 2002.

FERNALD, A. KUHL, P. Acoustic determinants of infant perception for motherese speech. Infant Behavior and Devel-opment, 10, 1987.

GRICE, M.; BAUMANN, S. An introduction to intonation: functions and models. In: J. Trouvain, Jürgen, U. Gut Non-Native Prosody Phonetic Description and Teaching Practice New York Mouton de Gruyter, 2007.

HART, J.’t; COLLIER, R.; COHEN, A. A Perceptual Study of Intonation: An Experimental-Phonetic Approach. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

KAPLAN, P.S. BACHOROWSKI, J. SMOSKI, M. J. HUDENKO, W. J. Infant of depressed mothers, although competent learners, fail to learn in response to their own mother’s infant-directed speech. American Psychological Society, v.2, n.3, 2002.

LOCKE, J. L. Desenvolvimento da capacidade para a linguagem falada. In: P. FLETCHER; B. MACWHINNEY (eds.) Com-pêndio da Linguagem da Criança. Trad. M. A . G. Domingues. Artes Médicas. Porto Alegre, 1995.

NESPOR, M.; VOGEL, I. Prosodic phonology. Dordrecht: D. Reidel Publishing Co. 1986.

OLLER, D. K. The emergence of the sounds of speech in infancy. In: Yeni-Komshian, Kavanaugh; Ferguson,1980, p. 93-112.

OLLER, D. K.; EILERS, R. 1982. Similarity of babbling in Spanish- and English- learning babies. Journal of Child Lan-guage 9: 565-77.

OLLER, D. K.; EILERS, R. A Aquisição da prosódia: dupla face, dupla vocação. In: Em-Tom-Ação: a prosódia em perspec-tiva. AGUIAR, M.A.M. MADEIRO, F. (orgs). Recife: Editora Universitária da UFPE, 2007.

OLLER, D. K.; EILERS, R. Sons preenchedores e guardadores de lugar: relações entre fatos sintáticos e prosódicos na aquisição da linguagem. In: SCARPA, E. (org) Estudos de Prosódia. Campinas: UNICAMP, 1999.

OLLER, D. K.; EILERS, R. Learning External Sandhi: Evidence For A Top-Down Hypothesis Of Prosodic Acquisition. In: GALA'97 Conference on Language Representation and Processing, 1997. Proceedings of GALA´97 Conference on Lan-guage Acquisition: Knowledge Representation and Processing. Edimburgo, Escócia.

SELKIRK, E. The Syllable. In: HULST; SMITH. (eds.). The Structure of Phonological Representations (Part II). Dordrecht Foris. 1982, p. 337-383.

SNOW, K. Mothers’ speech research: From input to interaction. In C.E. Snow & C.A. Ferguson (Eds.), Talking to children: Language input and acquisition. Cambridge, England: Cambridge University Press, 1977.

TOMASELLO, M. Acquiring linguistic constructions. In: KUHN, D.; SIEGLER, R. (eds.), Handbook of Child Psychology. New York: Wiley, 2006.

VIHMAN, M. M; VIHMAN, V. From first words to segments: A case study in phonological development In: Arnon, Inbal and Eve V. Clark (eds.), Experience, Variation and Generalization: Learning a first language. 2011, p. 109–134.