Aquisição de adjetivos no português brasileiro: um estudo experimental

Fernanda Torrão Monteiro,
Luciana Sanchez-Mendes

Resumo

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise de dados obtidos a partir de um experimento feito com crianças e adultos sobre a aquisição de adjetivos no português brasileiro. O estudo se filia à abordagem da Semântica Formal, em especial à Semântica Escalar a partir do estudo de Kennedy e McNally (2005), que assume uma subdivisão na classe dos adjetivos entre graduáveis e não graduáveis. Ainda, os adjetivos graduáveis se dividem em relativos e absolutos. Tendo por base esses conceitos, a presente pesquisa investigou como acontece a aquisição dos adjetivos pelas crianças, especialmente no que concerne à diferenciação dos relativos e absolutos. Para isso, foi realizado um experimento psicolinguístico com crianças de 3 a 5 anos, falantes de português, baseado no de Syrett et al. (2005) para a aquisição do inglês. A atividade consistia na apresentação de um par de objetos e na demanda “Por favor, me dê o X”, em que X era o adjetivo testado. Os resultados apontam para a postulação de universal semântico. Isso porque os adjetivos graduáveis, na forma positiva, em português brasileiro, têm comportamente igual ao de adjetivos do inglês, ou seja, eles têm a mesma natureza e a mesma estrutura escalar. Percebeu-se que, no caso dos adjetivos relativos testados (“grande” e “comprido”) os participantes analisaram a demanda aplicando uma lógica de comparação implícita, o que era esperado, já que a vagueza inerente desses adjetivos faz com que o parâmetro de comparação fosse buscado no contexto. Já os adjetivos absolutos testados (“manchado” e “cheio’), assim como no experimento em inglês, como apresentam um parâmetro definido lexicalmente, os casos de escolhas que apresentem divergência com esse parâmetro são explicados por conta da imprecisão. A interpretação desse comportamento se baseia em propriedades pragmáticas, já que se embasa no uso da língua em seu contexto de aplicação regido pelo Princípio de Cooperação entre os falantes, que direcionou a tomada de decisão dos participantes.

Referências

GRICE, H. P. Logic and Conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J.L. (Eds.), Syntax and Semantics, Vol. 3, Speech. New York: Academic Press, 1975, p. 41- 58.

GOMES, A. Q.; SANCHEZ-MENDES, L. Degree modification in Brazilian Portuguese and in Karitiana. ReVEL, edição especial n. 9, 2015.

GOMES, A. Q.; SANCHEZ-MENDES, L. Para conhecer: Semântica. São Paulo: Contexto, 2018.

KAIL, M. Aquisição de Linguagem. São Paulo: Parábola, 2012.

KARTTUNEN, L. Presuppositions of Compound Sentences. Linguistic Inquiry 4, p. 167–193, 1973.

KENNEDY, C. Vagueness and grammar: the semantics of relative and absolute gradable adjectives. Chicago, 2007.

KENNEDY, C., & LEVIN, B. Measure of change: The adjectival core of degree achievements. Adjectives and Adverbs. Chicago, 2008.

KENNEDY, C.; MCNALLY, L. Scale Structure, Degree Modification, and the Semantics of Gradable Predicates. Language 81, n.2, p. 345-381, 2005.

LASERSOHN, P. Pragmatic halos. Language 75, p. 522–551, 1999.LENNEBERG, E. Biological foundations of language. Nova Iorque: John Wiley, 1967.

STALNAKER, R. Presuppositions. The Journal of Philosophical Logic 2, p. 447–457, 1973.

SYRETT et al. Shifting Standards: Children’s Understanding of Gradable Adjectives. 2005.