O modelo de dependências universais: assentando bases teóricas e revisando diretrizes metodológicas

André Vinicius Lopes Coneglian

Resumo

As Dependências Universais (UDs) são um modelo de anotação morfossintática de línguas naturais. Este artigo parte do pressuposto de que na base do modelo ficam previstas a adequação computacional (que se liga ao processamento de língua natural), a adequação tipológica (que se liga à proposta geral do modelo de comparação interlinguística) e a adequação descritiva (que se liga à anotação de línguas individuais). A discussão concentra-se nos dois últimos tipos de adequação. A proposta que se defende aqui é a de que os pressupostos teóricos subjacentes ao modelo das UDs necessitam ser claramente explicitados, uma vez que são exatamente tais pressupostos que determinam a construção de quadros categoriais que chancelam as anotações realizadas para línguas individuais. Para tanto, procede-se a uma discussão sobre a concepção do quadro categorial e a formulação da definição das categorias. A avaliação geral a que se chega é que, por um lado, do ponto de vista da proposição de diretrizes gerais, tal quadro categorial deve constituir um conjunto de “conceitos comparativos” (HASPELMATH, 2010), por outro, do ponto de vista da proposição de diretrizes para anotação de línguas individuais, esse quadro deve constituir um conjunto de “categorias descritivas”. Essa dupla visão sobre o quadro categorial das UDs pode garantir isonomia e equivalência teórico-metodológica, de modo a tanto otimizar a realização de tarefas de análise e descrição linguísticas assistidas por modelos computacionais quanto a construção de modelos computacionais baseados em anotação linguística consistente do ponto de vista descritivo e tipológico.

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