A linhagem empirista na gramaticografia do século 18

Carlos Alberto Faraco,
Francisco Eduardo Vieira

Resumo

Neste artigo, apresentamos alguns resultados do projeto de pesquisa “Historiografia da Sintaxe no Brasil: teoria, norma e ensino”, em desenvolvimento no grupo de pesquisa HGEL – Historiografia, Gramática e Ensino de Línguas (UFPB/CNPq). Embora as fontes primárias do projeto sejam gramáticas escritas por autores brasileiros e/ou publicadas no Brasil a partir do século 19, investigamos também alguns temas de sintaxe geral e seu surgimento e desenvolvimento na gramaticografia não brasileira de língua portuguesa e na gramaticografia de outras línguas e de outras épocas. Nesse sentido, discutimos aqui aspectos do pensamento gramatical francês do século 18 pelo seu impacto na gramaticografia de língua portuguesa. No século 18, predominou uma postura epistemológica fortemente empirista que refletiu diretamente nos estudos gramaticais, dando origem a uma linhagem a que classificamos como empirista. Uma historiografia da gramaticografia de língua portuguesa deve levar em consideração a natureza epistemológica dessa linhagem empirista, tanto quanto das outras duas, a latinizada e a racionalista. Portanto, neste artigo, apresentamos primeiramente alguns aspectos da linhagem latinizada, em especial na gramaticografia de língua portuguesa, e alguns gestos (sobretudo retóricos) de refutação a essa linhagem realizados por gramáticos considerados racionalistas. Em seguida, caracterizamos a linhagem empirista e ilustramos suas diretrizes a partir da análise de uma obra singular da gramaticografia de língua portuguesa que encerra o século 18: os Rudimentos da Grammatica Portugueza, cómmodos á instrucção da Mocidade, e confirmados com selectos exemplos de bons Autores, de Pedro José da Fonseca (1799)

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