Direitos e deveres em tempos de fluxos migratórios: uma conversa sobre a obra Estranhos à nossa porta com alunos do PLAc no CEFET-MG

Adriana do Carmo Figueiredo

Resumo

Este estudo tem como objetivo apresentar um relato de experiência sobre a nossa participação no Programa Português como Língua Estrangeira (PLE) oferecido pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), por meio de uma palestra ministrada no Curso de Português como Língua de Acolhimento (PLAc). Esse relato será analisado à luz de categorias específicas da Análise do Discurso (AD) de vertente francesa, tais como os conceitos de narrativas de vida, como propõe Machado (2016), as noções de hiperenunciador e aforização, de acordo com Maingueneau (2008, 2010), e as relações entre identidades e imaginários socioculturais, conforme teoriza Charaudeau (2015). A metodologia é de natureza qualitativa e emprega uma abordagem transdisciplinar com discussões entre o Direito, a AD, a Teoria Social de Jürgen Habermas (2000, [1985]), sobre a noção de “reificação da sociedade”, e a proposta sociológica de Zygmunt Bauman (2017 [2016]) desenvolvida em sua obra Estranhos à nossa porta. O corpus analisado é composto por fragmentos da obra de Bauman, trechos da legislação vigente sobre Direitos Humanos e relatos de alunos participantes do PLAc. Como resultado, identificamos a relevância das narrativas de vida para reflexões sobre identidades e para o enfrentamento de conflitos gerados em situações de fluxos migratórios. Observamos, ainda, a importância do entrecruzamento teórico transdisciplinar como estratégia de condução discursiva nas aulas de conversação do PLAc

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