A retórica do neorracismo no debate francês sobre imigração: análise de artigos de opinião do Le Figaro

Frederico Rios Cury dos Santos

Resumo

O presente trabalho, produto de parte de uma pesquisa mais abrangente ainda não publicada, tem por objetivo averiguar os traços retóricos do neorracismo em artigos de opinião do jornal francês Le Figaro inseridos no debate sobre imigração na França no lapso temporal entre as eleições presidenciais do país de 2012 e 2017. Procurou-se, em um primeiro momento, descrever quantitativamente, com o auxílio do programa Excel, os 345 artigos consultados do referido jornal, segundo algumas variáveis, importando para este trabalho a variável sobre qual o principal grupo social visado nas estratégias retóricas do neorracismo e sobre se o artigo apresenta ou não traços considerados teoricamente relacionados a esse tipo de retórica. Em seguida, procedeu-se à análise qualitativa e crítica dos resultados, com o auxílio de categorias das ciências sociais, como o conceito de neorracismo; bem como das ciências da linguagem, com a tipologia do argumento da retorsão e ad personam; do conceito de ethos, epíteto e metáfora, e da contribuição da teoria das faces. Na parte da pesquisa que concerne a esta publicação, foram encontradas algumas constantes da linguagem do neorracismo (que futuramente podem ser testadas por outros pesquisadores por meio de outros corpora), como o raciocínio “diferencialista” e hierarquizante, o argumento da retorsão, a denúncia de um suposto racismo antibranco e, não necessariamente, em maior ou menor grau, outros traços retóricos, como o uso de metáforas maniqueístas, a ausência de estratégias de polidez e um anti-intelectualismo/antiacademicismo de base

Referências

AMOSSY, R. L’argumentation dans le discours. Armand Colin: Paris, 2006.

ANGENOT, M. Dialogues de sourds: traité de rhétorique antilogique. Paris: Mille et une nuits, 2008.

BALIBAR, É. Y a-t-il un “néo-racisme”?. In: BALIBAR, É.; WALLERSTEIN, I. Race, nation, classe: les identités ambiguës. Paris: La Découverte, 2007.

BAZERMAN, C. Gêneros, agência e escrita. São Paulo: Cortez, 2011.

BRÄKLING, K. L. Trabalhando com o artigo de opinião: revisitando o eu no exercício da palavra do outro. In: ROJO, R. (Org.). A prática da linguagem na sala de aula: praticando os PCNs. Campinas: Mercado de Letras, 2000.

BLANDIN, C. Le Figaro et le gaullisme en Mai 68. Médiamorphoses, Paris, 2008. Disponível em: < http://documents.irevues.inist.fr/bitstream/handle/2042/28326/2008_HS_145.pdf?sequence=1 >. Acesso em: 23 ago. 2016.

BRÉZET, A. Le Figaro se réinvente. Le Figaro, Paris, 28 mar. 2013. Disponível em: < http://www.lefigaro.fr/mon-figaro/2013/03/27/10001-20130327ARTFIG00729--le-figaro-se-reinvente.php >. Acesso em: 23 ago. 2016.

BROWN, P.; LEVINSON, S. Politeness. Cambridge: Cambridge University Press, 1987.

CHARAUDEAU, P. O discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2010.

CHARAUDEAU, P. Du discours politique au discours populiste. Le populisme est-il de droite ou de gauche ? In: CORCUERA, F. et al. (dir.). Les discours politiques: regards croisés. Paris: L’Harmattan, p. 32-43, 2016.

COPÉ, J. F. Copé dénonce l’existence d’un “racisme anti-Blanc”. Le Figaro, 26 set. 2012. Disponível em: < https://www.lefigaro.fr/politique/2012/09/26/01002-20120926ARTFIG00428-cope-denonce-l-existence-d-un-racisme-anti-blanc.php >. Acesso em: 18 jun. 2020.

CRÉPON, S. Copé et “l’empiétement sémantique” sur le FN. Europe1, 26 set. 2012. Disponível em: < https://web.archive.org/web/20170811012351/http://www.lejdd.fr/Politique/Actualite/Racisme-anti-blanc-Cope-reprend-une-expression-du-FN-interview-560852 >. Acesso em: 18 jun. 2020.

CUNHA, D. A. C. O funcionamento dialógico em notícias e artigo de opinião. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. São Paulo: Parábola, 2010, p. 179-193.

DONOT, M.; EMEDIATO, W. La construction de la figure des leaders: ethos, identité et charisme en perspective comparé. Revue française des sciences de l’information et de la communication, n. 7, 2015. Disponível em: < https://journals.openedition.org/rfsic/1588?lang=en >. Acesso em: 18 de nov. 2019.

DOURY, M. Argumentation: analyser textes et discours. Paris: Armand Colin, 2016.

ESTEVES, O. L’énorme ficelle du “racisme anti-Blanc. Le Monde, 01 out. 2012. Disponível em: < https://www.lemonde.fr/idees/article/2012/10/01/l-enorme-ficelle-du-racisme-anti-blanc_1768069_3232.html >. Acesso em: 18 jun. 2020.

FAYE, O. Comment l’extrême droite a fait du “racisme anti-blanc” une arme politique. Le Monde, 26 set. 2012. Disponível em: < https://www.lemonde.fr/politique/article/2012/09/26/comment-l-extreme-droite-a-fait-du-racisme-anti-blanc-une-arme-politique_5981843_823448.html >. Acesso em: 18 jun. 2020.

FRANÇOIS, S. Racisme anti-blanc: la question se pose-t-elle ailleurs en Europe (e comment)? Atlantico, 01 out. 2012. Disponível em: < https://www.atlantico.fr/decryptage/497323/racisme-anti-blanc--la-question-se-pose-t-elle-ailleurs-en-europe-et-comment--stephane-francois-michel-wieviorka-hugh-schofield >. Acesso em: 18 jun. 2020.

GOFFMAN, E. Les rites d’intéraction. Paris: Éditions de Minuit, 1974.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

JARRASSÉ, J. Le racisme anti-Blanc, un concept hérité du FN. Le Figaro, 26 set. 2012. Disponível em: < https://www.lefigaro.fr/politique/2012/09/26/01002-20120926ARTFIG00647-le-racisme-anti-blanc-un-concept-herite-du-fn.php >. Acesso em: 18 jun. 2020.

KERBRAT-ORECCHIONI, C. Déambulation en territoire aléthique. Stratégies discursives. Lyon: Presses universitaires de Lyon, 1978.

LE FIGARO s’assume du centre et de droite. Europe1, 21 set. 2008. Disponível em: < http://www.europe1.fr/culture/le-figaro-s-assume-du-centre-et-de-droite-76851 >. Acesso em : 23 ago. 2016.

LE PEN, M. Pour que vive la France. Paris: Grancher, 2012.

LE PIANISTE furtif de l’IS. Archives & documents situationnistes, Paris, n. 1, 2001.

LECOEUR, E. Dictionnaire de l’extrême droite. Paris: Larousse, 2007.

LÉVI-STRAUSS, C. Race et histoire. Paris: Folio, 2007.

MAINGUENEAU, D. Cenas de Enunciação. Curitiba: Criar, 2006.

MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MASSERA, J. C. Cessons d’utiliser des expressions dévalorisantes et stigmatisantes. Le Monde, 01 abr. 2016. Disponível em: < https://www.lemonde.fr/idees/article/2016/04/04/cessons-d-utiliser-des-expressions-devalorisantes-et-stigmatisantes_4894933_3232.html >. Acesso em: 01 ago. 2020.

PERALVA, A. Médias et violences urbaines: débats politiques et construction journalistique. Paris: La Documentation Française, 2002.

PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado de argumentação: a Nova Retórica. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

PETERS, G. Racismes et races: histoire, science, pseudo-science et politique. Paris: Éditions d’en bas, 1986.

PINTO, R. B. W. S. Argumentação e persuasão em gêneros textuais. EID&A, n. 9, jul./dez., p. 102-112, 2015. Disponível em: < http://periodicos.uesc.br/index.php/eidea/article/view/839 >. Acesso em: 18 nov. 2019.

REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia: a patrística e a escolástica, v. 2. São Paulo: Paulus, 2005.

RODRIGUES, R. H. Os gêneros do discurso na perspectiva dialógica da linguagem: a abordagem de Bakhtin. In: MOTTA-ROTH, D. et al. Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2007, p. 152-183.

SLAMA, A. G. Le Figaro, ou l’éclectisme libéral. SciencesPo, Lyon, 25 set. 2006. Disponível em: < http://doc.sciencespo-lyon.fr/Ressources/Bases/DP/articleDP.html/160794?id_fnsp%5B0%5D=354&orderby=auteur+DESC&limit=10&position=40&suite=1&npos=45 >. Acesso em: 23 ago. 2016.

SOUID, S. L’imposture du racisme anti-blanc! Le Point, 2013. Disponível em: < https://www.lepoint.fr/invites-du-point/sihem-souid/l-imposture-du-racisme-anti-blanc-14-11-2013-1756841_421.php >. Acesso em: 18 jun. 2020.

TAGUIEFF, P. A. Les présuppositions définitionnelles d’un indéfinissable: le racisme. Mots, n. 8, mar., 1984.

TYLER, K. A summary of findings of a project that examined public understandings of race and genetics in the UK. L’Observatoire de la génétique, n. 24, 2005.

VAN DIJK, T. A. Discurso e poder. São Paulo: Contexto, 2015.

VANDERFORD, M. L. Vilification and Social Movements: a case-study of pro-life and pro-choice rhetoric. Quarterly Journal of Speech, 75, 1989, p. 166-182.

ZANINI, M. Artigo de opinião: do ponto de vista à argumentação. In: ANTÔNIO, J. D.; NAVARRO, P. (Org.). Gêneros textuais em contexto de vestibular. Maringá: Eduem, 2017, p. 42-58.