A leitura plataformizada na mídia digital: da sobrecarga informacional à perda do pensamento crítico

Débora Liberato Arruda Hissa

Resumo

Neste artigo, partimos da hipótese de que o leitor de plataformas digitais como o Instagram constrói sentido por meio de frames organizados em metaenquadramentos visíveis na tela do celular. Cada frame se apresenta em porções textuais fragmentadas, ordenadas e alinhadas à barra de rolagem do feed presente na timeline de cada perfil. Examinamos o processo de agrupamento sequenciado por frames temáticos multissemióticos presentes em cada enquadramento retirado de prints da tela da plataforma pelo celular. Analisamos 120 postagens publicadas no Instagram, as quais foram divididas em seis grupos, cada um com vinte frames sequenciais. Os grupos foram separados em dois blocos: sessenta postagens de três contas pessoais; e sessenta postagens de três contas profissionais. Para descobrir padrões discursivos e relações lógico-semânticas nas plataformas, analisamos o material coletado a partir das categorias de referência, diálogo, estrutura da imagem, situação e intenção; e dos eixos especificidade da imagem, conexão, organização, referências visuais e interpretação. Vimos que cada frame é percebido pelo leitor como uma unidade autônoma de sentido, como se cada fatiamento encapsulado por um texto (notícia, propaganda, divulgação científica, meme) tivesse por si só a propriedade de significar com um alto grau de autonomia. A estratégia persuasiva de manutenção do leitor na plataforma é a constante ativação de novos referentes, além do alto teor de novidade e de imprevisibilidade de cada frames na plataforma. Esta combinação de novidade e imprevisibilidade promove um estado permanente de estimulação, o que pode gerar uma fragmentação da percepção, da memória e da compreensão leitora.

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