O modelo de dependências universais: assentando bases teóricas e revisando diretrizes metodológicas

André Vinicius Lopes Coneglian
PDF

Resumo

As Dependências Universais (UDs) são um modelo de anotação morfossintática de línguas naturais. Este artigo parte do pressuposto de que na base do modelo ficam previstas a adequação computacional (que se liga ao processamento de língua natural), a adequação tipológica (que se liga à proposta geral do modelo de comparação interlinguística) e a adequação descritiva (que se liga à anotação de línguas individuais). A discussão concentra-se nos dois últimos tipos de adequação. A proposta que se defende aqui é a de que os pressupostos teóricos subjacentes ao modelo das UDs necessitam ser claramente explicitados, uma vez que são exatamente tais pressupostos que determinam a construção de quadros categoriais que chancelam as anotações realizadas para línguas individuais. Para tanto, procede-se a uma discussão sobre a concepção do quadro categorial e a formulação da definição das categorias. A avaliação geral a que se chega é que, por um lado, do ponto de vista da proposição de diretrizes gerais, tal quadro categorial deve constituir um conjunto de “conceitos comparativos” (HASPELMATH, 2010), por outro, do ponto de vista da proposição de diretrizes para anotação de línguas individuais, esse quadro deve constituir um conjunto de “categorias descritivas”. Essa dupla visão sobre o quadro categorial das UDs pode garantir isonomia e equivalência teórico-metodológica, de modo a tanto otimizar a realização de tarefas de análise e descrição linguísticas assistidas por modelos computacionais quanto a construção de modelos computacionais baseados em anotação linguística consistente do ponto de vista descritivo e tipológico.

Referências

ABNEY, Steven Paul. The English noun phrase in its sentential aspect. 363 ff. Tese (Doutorado em Linguística) – Massachusetts Institute Technology, MIT, Cambridge, MA, 1987.

ÁNGEL, Vilmos et al. (orgs.). Dependency and valency: an international handbook of contemporary research. 2 vols. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003.

BICKEL, Balthasar. Distributional typology: statistical inquiries into the dynamics of linguistic diversity. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (orgs.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. 2 ed. Oxford: Oxford University Press, 2015, p. 901-924.

BORBA, Francisco da Silva. (coord.) Dicionário gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 1990.

BORBA, Francisco da Silva. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Editora Ática, 1996.

BRESNAN, Joan. An approach to Universal Grammar and the mental representation of language. Cognition, vol. 10, n. 1, p. 39-52, 1981.

CARNIE, Andrew et al. (orgs.). The Routledge Handbook of Syntax. New York: Routledge, 2014.

CHAFE, Wallace. Significado e estrutura linguística. Tradução de Maria Helena de Moura Neves et al. São Paulo: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1979.

COLOMBAT, Bernard. The notion of dependency in Latin grammar in the Renaissance and the 17th century. In: IMRÉNYI, András; MAZZIOTTA, Nicolas (orgs.). Chapters of dependency grammar: a historical survey from Antiquity to Tesnière. Amsterdam: John Benjamins, 2020, p. 59-84.

CROFT, William. Syntactic categories and grammatical relations: the cognitive organization of information. Chicago: The University of Chicago Press, 1991.

CROFT, William. Parts of speech as typological universals and as language particular categories. In: VOGEL, Petra Maria; COMRIE, Bernard. Approaches to the typology of word classes. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000, p. 65-102.

CROFT, William. Radical construction grammar. Syntactic theory in typological perspective. Oxford: Oxford University Press, 2001.

CROFT, William. Typology and universals. 2 ed. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2003.

CROFT, William. Morphosyntax: constructions of the world’s languages. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2022.

CROFT, William. Word classes in Radical Construction Grammar. In: VAN LIER, Eva (org.). The Oxford Handbook of Word Classes. Oxford: Oxford University Press, 2023.

DE MARNEFFE, Marie-Catherine et al. Universal Stanford Dependencies: a cross-linguistic typology. In: Nineth International Conference of Language Resources and Evaluation (LREC), 2014. Proceedings… Reykjavik: ACL, p. 1585-1592.

DE MARNEFFE, Marie-Catherine et al. Universal dependencies. Computational Linguistics, vol. 47, n. 2, p. 255-308, 2021.

DE MARNEFFE, Marie-Catherine; NIVRE, Joakim; ZEMAN, Dan. Tutorial on Universal Dependencies. Apresentação em 1st Webminar UniDive Cost, 19 de junho de 2023. Disponível em: https://github.com/UniDive/2023-unidive-webinar/blob/main/ud-tutorial/01-intro.pdf. Acesso em 10 de julho de 2023, às 15h55.

DIXON, Robert M. W. Basic Linguistic Theory. vol. 1 – Methodology. Oxford: Oxford University Press, 2010a.

DIXON, Robert M. W. Basic Linguistic Theory. vol. 2 – Grammatical Topics. Oxford: Oxford University Press, 2010b.

DIXON, Robert M. W. Basic Linguistic Theory. vol. 3 – Further Grammatical Topics. Oxford: Oxford University Press, 2012.

DRYER, Matthew S. Large linguistic areas and language sampling. Studies in Language, vol. 13, n. 2, p. 257-292, 1989.

DRYER, Matthew S. Descriptive theories, explanatory theories, and Basic Linguistic Theory. In: AMEKA, Felix; DENCH, Alan; EVANS, Nicholas (orgs.). Catching language: the standing challenge of grammar writing. Berlin: Mouton de Gruyter, 2006, p. 207-234.

DURAN, Magali. Manual de anotação de POS tags: orientações para anotação de etiquetas morfossintáticas em língua portuguesa, segundo as diretrizes da abordagem Universal Dependencies. Relatório Técnico, n. 434, 2021. Disponível em: https://sites.google.com/icmc.usp.br/poetisa/annotation-material. Acesso em 10 de julho de 2023, às 15h50.

DURAN, Magali. Manual de anotação de relações de dependência – versão revisada e estendida. Relatório Técnico, n. 440, 2022. Disponível em: https://sites.google.com/icmc.usp.br/poetisa/annotation-material. Acesso em 10 de julho de 2023, às 15h50.

FREDDI, Maria. Corpus methods in syntax. In: LURAGHI; Silvia; PARODI, Claudia (orgs.). The Bloomsbury Companion to Syntax. Londres: Bloomsbury, 2013, p. 51-62.

GERDES, Kim; KAHANE, Sylvain. Dependency annotation choices: assessing theoretical and practical issues of Universal Dependencies. In: Proceedings of the 10th Linguistic Annotation Workshop, 2016. Anais… Berlin: ACL, p. 131-140.

GIVÓN, Talmy. Functionalism and grammar. Amsterdam: John Benjamins, 1995.

GREENBERG, Joseph. Some universals of grammar with particular reference to the order of meaningful elements. In: GREENBERG, Joseph (org.). Universals of language. Cambridge, MA: The MIT Press, 1963, p. 73-113.

GREENBERG, Joseph. Language universals. Berlin: Mouton de Gruyter, 1966.

HAJIČOVÁ, Eva; SGALL, Petr. Dependency syntax in functional generative description. In: ÁNGEL, Vilmos et al. (orgs.) Dependency and valency: an international handbook of contemporary research. 2 vols. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003, p. 570-593.

HASPELMATH, Martin. Comparative concepts and descriptive categories in crosslinguistic studies. Language, vol. 86, n. 3, p. 663-687, 2010.

HASPELMATH, Martin. How to compare major word-classes across the world’s languages. UCLA Working Papers in Linguistics, vol. 17, p. 109-130, 2012.

HASPELMATH, Martin. Framework-free grammatical theory. In: HEINE, Bernd; NARROG, Heiko (orgs.). The Oxford Handbook of Linguistic Analysis. 2 ed. Oxford: Oxford University Press, 2015, p. 287-310.

HASPELMATH, Martin. Word class universals and language-particular analysis. In: VAN LIER, Eva (org.). The Oxford Handbook of Word Classes. Oxford: Oxford University Press, 2023.

HELBIG, Gerhard; SCHENKEL, Wolfgang. Wörterbuch Zur Valenz Und Distribution Deutscher Verben. Berlin: Mouton de Gruyter, 1991 [1983].

HENGEVELD, Kees; MACKENZIE, J. Lachlan. Functional Discourse Grammar. Oxford: Oxford University Press, 2008.

HERINGER, Hans Jürgen. Basic ideas and the classical model. In: STEGER, Hugo; WIEGAND, Herbert Ernst (orgs.). Syntax: an international handbook of contemporary research. vol. 1. Berlin: Mouton de Gruyter, 1993a, p. 298-316.

HERINGER, Hans Jürgen. Formalized models. In: STEGER, Hugo; WIEGAND, Herbert Ernst (orgs.). Syntax: an international handbook of contemporary research. vol. 1. Berlin: Mouton de Gruyter, 1993b, p. 316-329.

HUDSON, Richard. Word grammar. In: ÁNGEL, Vilmos et al. (orgs.). Dependency and valency: an international handbook of contemporary research. vol. 1. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003, p. 508-526.

HUDSON, Richard. An introduction to Word Grammar. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2010.

JING, Yingqui; WIDMER, Paul; BICKEL, Balthasar. Word order variation is partially constrained by syntactic complexity. Cognitive Science, vol. 45, p. 1-25, 2021.

KERTÉSZ, András et al. (orgs.). Current approaches to syntax: a comparative handbook. Berlin: Mouton de Gruyter, 2019.

LANGACKER, Ronald. Structural syntax: the view from Cognitive Grammar. Sémiotiques, n. 6-7, p. 69-84, 1994.

LEVSHINA, Natalia. Cross-linguistic trade-offs and causal relationships between cues to grammatical subject and object, and the problem of efficiency-related explanations. Frontiers in Psychology, vol. 12, p. 1-20, 2021.

LEVSHINA, Natalia. Frequency, informativity, and word length: insights from typologically diverse corpora. Entropy, vol. 24, n. 280, p. 1-16, 2022.

LURAGHI; Silvia; PARODI, Claudia (orgs.). The Bloomsbury Companion to Syntax. Londres: Bloomsbury, 2013.

LUHTALA, Anneli. Syntactic relations in ancient and medieval grammatical theory. In: IMRÉNYI, András; MAZZIOTTA, Nicolas (orgs.). Chapters of dependency grammar: a historical survey from Antiquity to Tesnière. Amsterdam: John Benjamins, 2020, p. 23-58.

MAZZIOTTA, Nicolas; IMRÉNYI, András. Aspects of the theory and history of dependency grammar. In: IMRÉNYI, András; MAZZIOTTA, Nicolas (orgs.). Chapters of dependency grammar: a historical survey from Antiquity to Tesnière. Amsterdam: John Benjamins, 2020, p. 1-21.

MEL’ČUK, Igor. Dependency syntax: theory and practice. Albany: State University of New York Press, 1988.

MEL’ČUK, Igor. Calculus of possibilities as a technique in linguistic typology. In: AMEKA, Felix; DENCH, Alan; EVANS, Nicholas (orgs.). Catching language: the standing challenge of grammar writing. Berlin: Mouton de Gruyter, 2006, p. 171-206.

MEL’ČUK, Igor. Dependency in natural language. In: POLGUÈRE, Alain; MEL’ČUK, Igor (orgs.). Dependency in linguistic description. Amsterdam: John Benjamins, 2009, p. 1-110.

MIESTANO, Matti; BAKKER, Dik; ARPPE, Antti. Sampling for variety. Linguistic Typology, vol. 20, n. 2, p. 233-296, 2016.

MORAVCSIK, Edith. Introduction. In: KERTÉSZ, András et al. (orgs.). Current approaches to syntax: a comparative handbook. Berlin: Mouton de Gruyter, 2019, p. 1-21.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. 2 ed. São Paulo: Editora Unesp, 2011.

NIVRE, Joakim et al. Universal Dependencies v1: a multilingual treebank collection. In: 10th International Conference on Language Resources and Evaluation (LREC), 2016. Proceedings… Portorož: ACL, p. 1659-1666.

NIVRE, Joakim et al. Universal Dependencies v2: an evergrowing multilingual Treebank collection. In: 12th Conference on Language Resources and Evaluation (LREC), 2020. Proceedings… Marseille: ACL, p. 4034-4043.

OSBORNE, Timothy. Dependency Grammar. In: CARNIE, Andrew et al. (orgs.). The Routledge Handbook of Syntax. New York: Routledge, 2014, p. 604-626.

OSBORNE, Timothy. A dependency grammar of English: an introduction and beyond. Amsterdam: John Benjamins, 2019a.

OSBORNE, Timothy. Dependency grammar. In: KERTÉSZ, András et al. (orgs.). Current approaches to syntax: a comparative handbook. Berlin: Mouton de Gruyter, 2019b, p. 361-388.

PARDO, Thiago et al. Porttinari ¬– a Large Multi-genre Treebank for Brazilian Portuguese. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Informação e da Linguagem Humana. Anais... Porto Alegre: SBC, p. 1-10, 2021.

PERCIVAL, W. Keith. Reflections on the history of dependency notions in linguistics. Historiographia Linguistica, vol. 17, n. 1-2, p. 29-47, 1990.

RAUH, Gisa. Syntactic categories: their identification and description in linguistic theories. Oxford: Oxford University Press, 2010.

RIJKHOFF, Jan et al. A method of language sampling. Studies in Language, vol. 17, n. 1, p. 169-203, 1993.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 27. ed. Tradução de José Paulo Paes, Antônio Chelini, Izidoro Blikstein. São Paulo: Edifora Cultrix, 2006 [1916].

SOUZA, Elvis et al. PetroGold – Corpus padrão ouro para o domínio do petróleo. In Simpósio Brasileiro de Tecnologia da Informação e da Linguagem Humana. Anais... Porto Alegre: SBC, p. 29-38, 2021.

STASSEN, Leon. Intransitive predications. Oxford: Oxford University Press, 1997.

STEGER, Hugo; WIEGAND, Herbert Ernst (orgs.). Syntax: an international handbook of contemporary research. vol. 1. Berlin: Mouton de Gruyter, 1993.

TESNIÈRE, Lucien. Elements of structural syntax. Tradução de Timothy Osborne e Sylvain Kahane. Amsterdam: John Benjamins, 2015 [1959].

THOMPSON, Sandra. A discourse approach to the cross-linguistic category ‘adjective. In: HARKINS, John (org.). Exploring language universals. New York: Blackwell, 1988, p. 167-185.

THOMPSON, Sandra. Property concepts. In: BOOJI, Geert et al. (orgs.). Morphology: an international handbook of inflection and word-formation. Berlin: Mouton de Gruyter, 2000, p. 1111-1117.

VAN LANGENDONCK, Williy. The dependency concept and its foundation. In: ÁNGEL, Vilmos et al. (orgs.). Dependency and valency: an international handbook of contemporary research. 2 vols. Berlin: Mouton de Gruyter, 2003, p. 170-188.

ZEMAN, Daniel. Universal Dependencies. Apresentação NPFL075 Dependency Grammars and Treebanks, 23 de março de 2023. Disponível em: https://ufal.mff.cuni.cz/~zeman/vyuka/deptreebanks/ud1-intro-morpho.pdf. Acesso em 10 de julho de 2023, às 15h48.