Argumentação multimodal nas mídias digitais
Resumo
A proposta deste trabalho é buscar compreender a estrutura de textos multimodais que se apresentam nas mídias digitais, em especial no Facebook, no que diz respeito à orientação argumentativa que apresentam. O método utilizado é o qualitativo e as categorias de análise correspondem aos elementos verbais que encaminhem à qualificação ou desqualificação de referentes e que envolvam, muitas vezes, a construção e a desconstrução de frames – e aos elementos visuais, como o dado e o novo que, utilizados estrategicamente na construção dos referentes, promovam a persuasão dos interlocutores. Teoricamente, embasamo-nos em Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958]), entre outros, no que diz respeito às Teorias da Argumentação e procedemos à correlação com a Semiótica Visual a partir das posições de Kress e van Leeuwen (2001) sobre o conceito de multimodalidade, com o objetivo de compreendermos como se materializa a dimensão argumentativa em um texto multimodal. Entendemos com Silva e Marchon (2021) a ocorrência da argumentação multimodal em textos produzidos a partir de mais de uma modalidade (verbal e imagética) que formam um todo coeso, para alcançar a persuasão do interlocutor. O corpus selecionado constitui-se de cinco postagens do Facebook do período das eleições presidenciais de 2018 no Brasil. Os resultados corroboram a tese defendida, destacando-se, porém, que podem ocorrer nuances referentes às posições diversificadas dos interlocutores frente a essa estrutura a que denominamos argumentação multimodal
Introdução
A crescente importância dos textos multimodais em todas as mídias na sociedade contemporânea é indiscutível; entretanto, pouco se conhece sobre a possibilidade de correlação entre teorias da argumentação e de multimodalidade. Nessa direção, buscamos retomar os trabalhos de alguns pesquisadores que se destacaram nessas duas vertentes de pesquisa, tendo em vista o que consideramos necessário para a ampliação da discussão teórica no que diz respeito aos textos veiculados pela mídia digital. Em razão do contexto – época de eleições presidenciais de 2018 no Brasil – entendemos a importância de selecionarmos uma das redes sociais de proeminência, como o é o Facebook, e cinco de suas postagens que nos serviram como corpus. O método qualitativo foi utilizado nas análises, por entendermos a necessidade de nos atermos ao conteúdo multimodal em consonância com o teor argumentativo que carregam.
As teorias que nos serviram de base correspondem aos trabalhos de Kress e van Leeuwen (2001)[1], especialmente sobre a Gramática do Design Visual e a multimodalidade, além da obra clássica voltada à Teoria da argumentação, a partir de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2]. Como categorias de análise selecionamos elementos verbais que encaminhem à qualificação ou desqualificação de referentes e que envolvam, muitas vezes, a construção e a desconstrução de frames – e elementos visuais - como o dado e o novo - que, utilizados estrategicamente na construção dos referentes, promovam a persuasão dos interlocutores.
Os resultados são indicativos de que o teor argumentativo dos textos multimodais merece ser observado, tendo em vista que a intencionalidade e a busca da persuasão do interlocutor são os fios condutores da produção desses textos. Sem dúvida, as postagens do Facebook que se apresentam como textos multimodais têm reforçado seu viés persuasivo na junção entre linguagem verbal e visual que se inter-relacionam e que são interdependentes, tendo em vista a unidade textual que encaminha à construção do sentido dessas postagens.
1. A multimodalidade no ambiente digital
A consolidação do uso dos meios de comunicação visual ocorreu com o surgimento das novas mídias, principalmente pela maior facilidade na transmissão de grandes quantidades de informação. Essa mudança possibilitou tanto no meio impresso quanto no digital uma variedade de configurações de textos multimodais, que combinam linguagem escrita, imagens, sons, cores, entre outros, com o objetivo de comunicar e representar ideias, potencializando o foco na multimodalidade.
Considerando essa realidade, Bateman (2014)[3] destaca a existência de uma estreita relação entre os modos de expressão verbal e visual, que resulta no uso de sistemas semióticos, constituídos por um todo coerente e coeso que se torna a base para a realização do ato comunicativo multimodal. Para o autor, um texto multimodal forma uma única unidade textual, devido à ideia de coesão, decorrente da composição das linguagens visual e verbal, por exemplo. As duas operam juntas (uma auxiliando na construção do significado da outra), sobretudo no meio digital, no qual se destaca essa dinamicidade da relação texto-imagem.
Kress e van Leeuwen (2001)[1], ao tomarem como base esse mesmo contexto, procuram explorar os princípios comuns nos textos multimodais, que se definem pela combinação de diferentes modos semióticos (verbal, visual, sonoro etc.), com o objetivo de contemplar a prática semiótica contemporânea. Apesar de a imagem sempre estar presente na comunicação, houve o domínio do texto monomodal durante muitos séculos.
Sobre a relevância dos elementos visuais, Kress (1998)[4] elenca algumas observações: a) o aspecto visual na tela do computador para onde o indivíduo olha, possibilitando a produção de textos escritos com ênfase na imagem, como a adição de tamanhos e tipos de letras, layout, entre outros recursos ao texto linguístico; b) a facilidade de combinar diferentes modos de representação (som, imagem, vídeo etc.) com a linguagem verbal, por meio do uso das tecnologias na produção textual; c) o contexto de desenvolvimento tecnológico como produtor de convergência entre diferentes tecnologias; d) finalmente, o processo como um todo que resulta da globalização e internacionalização.
Desde a década de 90, Kress (1998)[4], detectava a expansão do uso de diferentes modos de composição do texto, unindo elementos verbais e visuais, por exemplo, como podemos observar na citação a seguir:
.
A produção de multimídia requer níveis altos de competência multimodal, com base no conhecimento da operação de modos diferentes e habilidades de design altamente desenvolvidas para produzir ‘textos’ semióticos complexos. (KRESS, 1998, p. 56-57[4], tradução nossa)1.
.
Assim, a multimodalidade se torna um “estado normal da comunicação humana” (KRESS, 2010, p. 1)[5], em razão desse contexto de mudanças que nos permitiram chegar até a identificação da competência multimodal, trazendo diferentes composições semióticas de um texto. Por isso, a inter-relação entre dois ou mais modos semióticos, como, por exemplo, o visual e o verbal, oferece uma diversidade de possibilidades de representação do mundo, de argumentação, de revelação da expressão humana e do contexto sociopolítico. Nessas múltiplas variedades de combinações, as imagens se destacam pela sua organização, ao mesmo tempo, simultânea e espacial, na qual emerge uma lógica, cujas características essenciais são a exibição e a disposição dos elementos (KRESS, 1998; 2010)[4,5].
Coadunando-se com Kress na concepção de infinitude de composição semiótica, Jewitt, Bezemer e O’Halloran (2016)[6] formulam três premissas da multimodalidade, destacando a importância da produção do sentido, a partir do uso de recursos semióticos diversos, compondo um todo que deve ser levado em consideração. Os autores ressaltam que, em uma perspectiva multimodal, a língua tem potenciais diferentes para compor o significado, direcionando a atenção tanto para o geral quanto para o particular.
Hoje, o texto multimodal circula nas mídias tradicionais e novas, veiculando um todo coeso, coerente, com uma natureza dinâmica e complexa, além da presença do teor argumentativo (SILVA; MARCHON, 2021)[7]. Nessa direção, entendemos que o sentido do texto multimodal emerge das relações construídas a partir da interação entre os diferentes modos semióticos que permitem observar o texto como uma unidade, que trata de um tópico específico e que apresenta um teor persuasivo.
Com base na teoria da multimodalidade, Kress e van Leeuwen (2001)[1] estabelecem quatro domínios: discurso, design, produção e distribuição. Eles se inter-relacionam, constituindo uma unidade de texto multimodal, que revela a presença de aspectos ideológicos, identitários e culturais.
O primeiro domínio é o discurso, que pode ser entendido como conhecimento socialmente construído e desenvolvido em contextos sociais específicos, de acordo com a intencionalidade dos interlocutores. No discurso, temos a produção e organização do sentido que se materializa em diferentes modos semióticos, refletindo sua indissociabilidade com aspectos identitários e ideológicos (KRESS, 2010)[5].
Como segundo domínio, temos o design, que se caracteriza por ser o meio no qual se materializa o discurso em uma determinada situação interacional. Ele permite o acréscimo do novo na relação entre conteúdo e expressão, concretizado por meio do discurso. Além disso, ele necessita de um conhecimento da relação entre a linguagem verbal e as imagens, visto que ele remodela, transforma os diferentes modos semióticos em discurso (KRESS; VAN LEEUWEN, 2001)[1].
Kress (2010)[5] compreende o design como transformativo, por se caracterizar pelas mudanças sociais e tecnológicas constantes. O pesquisador acrescenta que ele é uma projeção imaginada, que se insere em um conjunto de aspectos sociais complexos, inter-relacionados, produzindo significados e contribuindo na transformação das identidades individuais e coletivas dos interlocutores envolvidos nos atos de interação.
A produção representa o terceiro domínio, sendo definida como o uso comunicativo da mídia, dos recursos materiais e diretamente conectada ao discurso. Além disso, refere-se à organização da expressão, à articulação material do evento semiótico ou à produção material do artefato semiótico, envolvendo um conjunto de habilidades.
O último domínio constitui a distribuição, que representa a possibilidade do uso das tecnologias para a preservação e transmissão tanto quanto a transformação do que é gravado ou transmitido ou ainda a viabilidade de se criarem novas representações e interações, no lugar de manter as existentes. Esse domínio se caracteriza pela dinamicidade, pela velocidade na produção e transmissão dos textos multimodais.
Concebendo esses domínios como interdependentes e complementares, van Leeuwen (2001)[8] nos apresenta as camadas de significado na Semiótica Visual: a) a denotação, que se constitui na ação de reconhecer o que ou quem está sendo descrito, o que está fazendo etc.; b) a conotação que se refere aos conceitos, às ideias e aos valores mais amplos, representando pessoas, lugares, coisas etc. O autor ressalta a existência de contextos, nos quais há uma multiplicidade de leituras permitidas, a partir das infinitas possibilidades de combinações das camadas.
Nesse sentido, van Leeuwen (2001)[8] apresenta, além de procedimentos gerais para interpretação de uma imagem, por meio da Semiótica Visual, a necessidade de se considerar o contexto cultural, ideológico e identitário, a questão da intertextualidade e do simbolismo. Para o autor, um ato comunicativo pode reunir, coerentemente e estilisticamente, imagem, linguagem verbal, tipografia, por isso se torna imprescindível compreender a estrutura multimodal.
Entendendo que a multimodalidade amplia o potencial de estudo dos signos que são naturais e motivados pelo contexto, Kress e van Leeuwen (2006)[9] ressaltam que os recursos visuais auxiliam nas interações sociais e que a escolha da forma visual ou verbal afeta o significado, ou seja, há diferença quando se opta por uma linguagem ou pela outra. Os pesquisadores concebem as estruturas visuais como “[...] interpretações particulares da experiência e formas de interação social. Até certo ponto elas podem ser expressas linguisticamente [...]”2 (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p.19)[9]. Eles observam que o texto multimodal, materializado no meio digital, caracteriza-se por ser uma estrutura visual, ou seja, mesmo que diferentes modos semióticos estejam combinados, o ambiente digital auxilia no destaque do aspecto visual.
Um dos objetivos dos pesquisadores corresponde à associação da linguagem visual com os aspectos socioculturais, a qual se baseia: na comunicação, que requer dos interlocutores a elaboração de mensagens passíveis de serem compreendidas em determinado contexto; na representação, que exige dos criadores dos signos a forma do que eles desejam expressar e que estão inseridos de modo plausível em um determinado contexto. Para os autores, esses textos se caracterizam pela construção do significado que ocorre por meio de mais de um código semiótico (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006)[9].
A linguagem verbal e a representação visual podem ser analisadas tanto subjetiva como objetivamente e se tornam presentes nos eventos interacionais, principalmente no meio tecnológico. Além disso, as duas expressam significados que pertencem ou são estruturados pelas culturas em uma determinada sociedade. Assim, os significados expressos nas mensagens, sejam com linguagem verbal ou visual ou as duas, ao mesmo tempo, apresentam como base o aspecto social, ou melhor, são antes de tudo “significados sociais” (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 19)[9].
Os autores focalizam sua atenção na descrição de como as funções são percebidas pelo modo visual e entendem que as relações semânticas entre os elementos expressam-se com mais facilidade visualmente, no entanto, a complexidade da composição imagética aumenta e, como consequência, amplia a categorização dos elementos. Além disso, a intencionalidade de quem produz esses textos torna-se relevante para a composição da imagem no processo de escolha dos sistemas, considerando o efeito, a reação que o produtor deseja causar em quem as vê. Todo esse processo se caracteriza pela dinamicidade e fluidez, conforme observa Pinto (2020)[10].
As imagens formadas pela composição, ou seja, a combinação entre o visual e o verbal, constitutivas do texto multimodal, relaciona os significados interacionais e representativos por meio de três sistemas inter-relacionados:
.
1. Valor de informação: a colocação dos elementos (participantes e sintagmas que os relacionam e o leitor) os dota de valores informacionais específicos anexados às várias zonas de imagem: esquerda e direita, topo e base, centro e margem.
2. Saliência: Os elementos[...] são feitos para atrair a atenção do leitor em diferentes níveis, para perceber fatores como localização em primeiro plano ou fundo, tamanho relativo, contrastes em tons (cores), diferenças de nitidez, etc.
3. Enquadramento: A presença ou ausência de dispositivos de enquadramento [...] conecta ou desconecta elementos da imagem, significando se eles pertencem ou não juntos de alguma forma. (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006, p. 177[9], tradução nossa)3.
.
2. O teor argumentativo do texto multimodal
Para a leitura de um texto multimodal, parece importante empregar os três sistemas, isto é, valor da informação, saliência e enquadramento, apresentados por Kress e van Leeuwen (2006)[9], de forma interativa, permitindo a construção de seus sentidos, tornando-o visível aos interlocutores em um ato interacional. Entendemos que essa posição possa ser ampliada por observarmos que a análise dos recursos semióticos combinando os três sistemas pode possibilitar o entendimento do teor argumentativo presente em um texto multimodal.
Sabemos que a própria junção dos eixos horizontal e vertical, indicados na teoria de Kress e van Leeuwen (2001)[1], pode encaminhar para a localização do argumento. Porém, dado o dinamismo da orientação argumentativa, observamos ser necessário ir além e entender o jogo que se instaura a partir das várias estratégias argumentativas selecionadas ao mesmo tempo, sendo, pois, possível dizer que ocorre uma inter-relação entre o dado e o novo, e ressaltamos, entre os elementos visuais e os verbais. Assim, o texto multimodal orienta a construção de sentidos por meio de um jogo intrincado de articulações que buscam encaminhar à persuasão.
Na formulação dos enunciados, localizam-se os que enaltecem as características positivas do referente (determinado político, no caso), em oposição aos que evidenciam características negativas do outro (político adversário). Assim, um grupo político pode postar textos de representação positiva de seu candidato, enquanto este mesmo grupo lança mão de representação negativa do outro candidato que esteja se apresentando como passível de vencer o pleito. Van Dijk (2003)[11] faz referência a quatro princípios que norteiam questões dessa ordem num jogo de polarização entre enfatizar e esconder dadas características dos participantes: 1. enfatizar nossas características positivas; 2. ressaltar as características negativas do outro; 3. esconder nossas características negativas. 4. esconder as características positivas do outro.
Na formulação do texto multimodal, em relação aos elementos verbais, destacam-se as expressões que podem bem auxiliar nessa caracterização acima indicada e que cumprem, usualmente, um papel estratégico na argumentação.
A respeito das considerações sobre o auditório, item tão bem proposto por Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2], especialmente para a modalidade falada da língua, entendemos que, no caso do texto multimodal postado na mídia digital, o produtor deverá considerar a complexidade que se apresenta quanto ao auditório – no caso do corpus sob análise, temos um auditório dividido, com crenças e valores específicos a cada grupo, dado o contexto pré-eleitoral.
Sabemos que qualquer produção textual poderá persuadir ou não todos os interlocutores; entretanto, o contexto pré-eleitoral é sui generis nesse sentido, uma vez que se cria um contexto de confronto que organizará e promoverá a continuidade das discussões. Esse confronto, à época eleitoral brasileira de 2018 das postagens sob análise, constitui-se a partir da bipartição dos grupos bolsonarista e petista, dada a diferença de posicionamento político.
Tenta-se persuadir o eleitor que votaria no adversário a mudar seu voto – então, o grau de persuasão deverá ser elevado, para que se consiga este intento. É preciso considerar crenças e valores possíveis daquele auditório específico, dado que eles fazem parte da construção de sentidos – fator relevante na argumentação. A respeito dos valores, destacamos a posição de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2], que lhes atribui papel de extrema importância para a persuasão:
.
[...] nos campos jurídico, político filosófico, os valores intervêm como base de argumentação ao longo de todo o desenvolvimento. Recorre-se a eles para motivar o ouvinte a fazer certas escolhas em vez de outras e, sobretudo, para justificar estas, de modo que se tornem aceitáveis e aprovadas por outrem. (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996 [1958], p. 84)[2]
.
Há uma disputa de “verdades”, numa construção discursiva da realidade que se quer apresentar ao interlocutor. Trata-se, segundo Palumbo (2007)[12] de uma percepção cognitiva da realidade. Neste sentido, observamos a importância dos frames construídos e desconstruídos durante o processamento da leitura, momento em que se formula o próprio texto a partir do texto fonte, no caso o texto postado. Entendemos, com Palumbo, Aquino e Bentes (2019, p.7)[13] que
.
Os frames podem ser instrumentalizados como parte de projetos argumentativos no campo político no interior do qual existem frames de natureza complexa que moldam as instituições políticas e suas práticas e que podem favorecer mudanças de ordem social quando alterados.
.
Além disso, o frame que um interlocutor emoldura o auxilia a reconhecer o do outro interlocutor e isto ocorre por meio de pistas linguísticas ou visuais, ou pela inter-relação de ambas.
As estratégias argumentativas utilizadas podem variar, mas a criação de frames específicos que tentem marcar fortemente e de modo negativo quem é o outro, o antagonista, o candidato adversário, é muito utilizada, como vimos observando por resultados de análises do discurso político já há algum tempo (AQUINO, 1997)[14].
Parece necessário também ter em vista o que diz Koch (2006)[15] sobre a progressão textual, acrescentamos que, no texto multimodal, essa progressão faz-se a partir do que consideramos oscilações de base e que se dá pela seleção do que se apresenta à esquerda (dado) e do que se insere à direita (novo) do texto, além do que é sugerido (as alusões). São também de Koch (2006)[15] as observações sobre o alto teor argumentativo que comportam determinadas expressões, como as pronominalizações, enfim, como salientaram Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2], deve-se dar atenção à seleção lexical, para que se alcancem os propósitos da persuasão.
A partir de pesquisas desenvolvidas por Aquino (1997)[14], destacamos algumas estratégias que se apresentaram de modo recorrente quando estamos em meio a produções que envolvam o domínio do discurso político. Entendemos que não há um modelo ideal que comporte um sistema de regras, mas há regularidades no discurso que se processam a partir de uma rede de estratégias. Assim, retomamos algumas que entendemos serem as estratégias mais utilizadas nas postagens da mídia digital: desqualificação do outro, muitas vezes por meio de acusações e de seleção lexical específica, inclusive que mexa com crenças e valores do interlocutor, especialmente os que se voltem à nação, à política, à religião, ativação de frames, visando desconstruí-los, utilização de perguntas retóricas ou assimiláveis à negação, entre tantas outras estratégias possíveis.
Entendemos que, no texto multimodal, os enunciados encaminham para a construção de referentes a partir da realidade do produtor desses textos, ou seja, trata-se de um construto cognitivo que busca persuadir o interlocutor a partir da correlação de elementos específicos que se inter-relacionam na composição, imprimindo ao texto um grau de complexidade e uma dimensão argumentativa determinada.
3. Análise dos dados
O corpus coletado e que se constitui de cinco postagens do Facebook refere-se ao período pré-eleitoral correspondente às eleições presidenciais de 2018 no Brasil. As bases para essas eleições construíram-se em um panorama de disputa política intensa nas mídias sociais que culminou no embate, no segundo turno, entre o candidato do PT, Fernando Haddad, simbolizando a luta pela igualdade social, e o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, representando a defesa do liberalismo econômico e do conservadorismo.
A repulsa ao PT, as denúncias de corrupção da Petrobrás, a operação Lava Jato, entre outros fatores levaram à vitória do PSL. O discurso de ódio disseminou-se nas redes sociais, desde o período eleitoral até o presente momento. Apresenta-se, principalmente no Facebook, uma arena permanente de confronto entre forças que se opõem. Inseridos nesse cenário bastante complexo, propusemos analisar as postagens, a fim de verificar a presença da argumentação multimodal, por meio da composição verbo-visual.
A foto da capa da Página Verdade sem Manipulação, reproduzida na Figura 1, capturada em abril de 2018 apresenta um cartum do Mundo Avesso do cartunista Carlos Ruas e retrata uma imagem bíblica da crucificação de Jesus Cristo. Tomando como base o valor de informação (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006)[9], verificamos que, à esquerda, encontram-se os discípulos, os seguidores de Jesus chorando e olhando para o soldado romano que aparenta estar aborrecido e diz4: “Porque essa comoção toda? Ele defendia bandido!”5. Ao fundo da imagem, do lado direito, visualiza-se Jesus crucificado no topo de um vale. Essa composição nos permite visualizar uma conexão entre política e religião, pois percebemos a presença das camadas de significação, denotação e conotação (VAN LEEUWEN, 2001)[8], que se complementam na referência de um contexto religioso a uma situação política atual.
Na verticalidade, o enunciado proferido pelo soldado associa-se à imagem de Jesus na cruz, permitindo que se processe não só a junção de “ele” ao referente, mas também da correlação Lula, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT) e ex-presidente do Brasil, que não pode concorrer às eleições de 2018 por estar preso, e Jesus, além de dar ênfase ao fato de quem Jesus defendia (ladrões) e, por isso, não deveria haver nenhuma comoção. Analisando o sistema de saliência, verificamos que a imagem possui uma integração dos elementos visuais na cena do calvário: Jesus, cruz, soldado romano, seguidores, e a linguagem verbal, materializada na crítica à comoção gerada por alguém que defendia criminoso. Essa integração atrai o(a) interlocutor(a), no sentido de o(a) persuadir, por meio do uso da camada de significação conotativa. O sistema de enquadramento confirma a conexão dos elementos visuais na postagem, que destacam a reação do soldado romano ao choro das pessoas presentes. No entanto, percebemos que, nessa composição verbo-visual, os elementos se encontram agregados, formando um todo coeso e integrado.
Ainda no que diz respeito aos elementos verbais, observamos a formulação de uma pergunta retórica associada à negação, seguida de uma asserção que busca negar a comoção dos seguidores. A alusão a Lula e a seus seguidores faz-se pelo contexto que todos vivenciavam em que havia o “risco” de o petista vencer as eleições. A asserção instaura-se como argumento que busca persuadir os seguidores de Cristo a agirem em outra direção. Imagem visual e verbal encaminham, pela alusão, à desqualificação, à descaracterização do referente (Lula), associando-o a “defensor de bandido” e propondo uma mudança no frame anteriormente construído por esses seguidores. Pela linguagem verbal, mexe-se com os valores, com o sistema de crenças dessas pessoas que se mostravam aliadas de Cristo/de Lula, tentando convencê-las de que estão erradas, para que mudem de posição. Essa composição permite, repetimos, visualizar um discurso que conecta política e religião.
Na foto de capa, Figura 2, podemos verificar o uso dos sistemas propostos por Kress e van Leeuwen (2006)[9] de maneira inter-relacionada. Considerando o valor de informação, observamos os elementos, revelando os valores informacionais na construção do significado verbo-visual da esquerda para direita.
Assim, a partir da esquerda, temos a existência de uma composição de quatro imagens: a primeira apresenta um cartão de filiação ao partido comunista de Carlos Marighella, considerado o inimigo número um da ditadura6 com o carimbo entre parênteses indicando-o como efetivo; a segunda exibe uma foto de Lula preso no período ditatorial (cf. BATISTA, 2019)[16], trazendo abaixo a indicação do número de registro no DOPS que comprova a caracterização de prisioneiro e de inimigo da ditadura, buscando persuadir o interlocutor de que ele não deve ser eleito presidente. Essas duas imagens encontram-se como pano de fundo, sem destaque. Na terceira, Bolsonaro aparece em pé, segurando um instrumento com a bandeira do Brasil presa à ponta (cf. BATISTA, 2019)[16], destruindo a estrela do PT, que apresenta o símbolo comunista no centro. A imagem se encontra em destaque e com realce nas cores, em relação às imagens “esfumaçadas” dos opositores. Ao lado, como se fosse uma marca d’água, aparece a bandeira do Brasil, segura pelas mãos de alguém e, em seguida, observa-se Bolsonaro, novamente destacado, devido o tamanho de sua imagem em relação às outras, com os dedos em forma de V na direção de seus olhos.
As duas primeiras imagens relembram fatos sobre a esquerda e representam a informação conhecida – caracterizando os inimigos da pátria. No entanto, a informação nova que se destaca na postagem é a ênfase em um símbolo nacional e em um político que decide desqualificar para destruir o movimento ligado à esquerda no Brasil. O novo é reforçado pela imagem de Bolsonaro em destaque no lado direito, com os dedos em forma de V, mostrando os olhos bem abertos, indicativo de que ele está atento aos fatos sugeridos pelas imagens da esquerda.
Quanto ao sistema de saliência, constatamos que as imagens selecionadas reforçam a oposição desse grupo à ideologia de esquerda, ao comunismo, ao PT e encontram-se organizadas de modo a desconstruir/mudar o frame quanto aos valores do grupo opositor, para, em seu lugar, construir um frame calcado sobre os valores positivos do partido representado pela imagem de Bolsonaro, ou seja, uma “autoapresentação positiva” e uma “outro-apresentação negativa” (VAN DIJK, 2010)[17]. No enquadramento, ocorre um destaque que se dá pela imagem maior tomando boa parte do lado direito do Bolsonaro. Essa descontinuidade imagética promove a ênfase nele como uma figura que representa esse novo, a fim de persuadir o interlocutor a escolhê-lo.
Observa-se, assim que, além do fato de os elementos imagéticos prevalecerem, tem-se que todos esses elementos foram selecionados estrategicamente para persuasão dos interlocutores, em que se destaca a ocorrência de um jogo de desqualificação pelas qualidades negativas do opositor (Lula), que contrasta com a caracterização positiva de si (Bolsonaro).
A postagem da Burguesia Fede (Figura 3) apresenta uma composição semiótica, que denuncia a desigualdade social existente no Brasil. Dessa forma, com base em Bateman (2014), observamos que os eventos, nas duas imagens, não se apresentam completamente estáticos, porque os vetores visuais explícitos dinamizam as interpretações, criando uma relação de dependência com o enunciado verbal, apresentado logo abaixo:
.
Sobre desigualdade brasileira: de um lado o amigo íntimo de Temer carregando 500 mil reais em uma mala, destruindo o Brasil. Do outro, criança tentando salvar seus livros de enchente, agarrando-se ao futuro. Um mesmo país, duas malas, dois mundos totalmente diferentes.
.
Assim, na imagem à esquerda, vemos uma seta azul apontando para o rosto de um homem, vestido com um traje social e, em seguida, vemos um círculo vermelho na mala que ele carrega. No texto abaixo da imagem, encontramos a identificação do referente (o homem é um político) e o que ele leva na mala (dinheiro adquirido ilicitamente), justificando o porquê da seta e do círculo. À direita, temos a imagem de uma criança descalça, sentada sobre os próprios pés e abraçada a um saco que, possivelmente, contém o pouco que pôde salvar de uma enchente; ela está sendo transportada por uma madeira que flutua sobre as águas da enchente. Nessa imagem, há apenas uma seta apontando para o que transporta. A seguir, no texto, apresenta-se a informação sobre o outro referente (a criança) e o volume que ela leva no colo (seus livros).
Nas imagens, os vetores visuais dão destaque às bagagens, carregadas pelo homem e pela criança. Na formulação dos enunciados, o referente “malas” representa o objeto em comum nos dois mundos tão distintos, visto que, no contexto acionado pela imagem à esquerda, tem-se o desvio do dinheiro público, fato conhecido dos interlocutores e, à direita, a imagem junto aos enunciados verbais permitem observar a preocupação de uma criança de garantir a própria educação como base para uma vida melhor. Os dois modos semióticos combinados e concretizados no texto multimodal denunciam a desigualdade social, os mundos completamente diferentes que não se encontram, nem mesmo nas imagens, visto que as direções seguidas pelas personagens diferem. A caracterização dos referentes que contrastam pela condição social – homem político com enriquecimento ilícito e criança pobre – mexe com os valores dos interlocutores, promovendo a indignação, a partir da construção de um frame indicativo da situação absurda que assola o país.
Na Figura 4, temos a imagem do Palácio da Alvorada como cenário e as cores da bandeira do Brasil como marca d’água em que se pode ler o lema “Ordem e Progresso”. À frente, observamos Jair Bolsonaro e o General Mourão, vestidos com a armadura do homem de ferro7, porém, nas cores verde, amarelo e azul, no lugar da cor original, que é vermelha. A leitura da esquerda para direita permite observar a imagem de Bolsonaro em primeiro plano, acompanhado de seu vice, General Mourão. Observamos que a escolha imagética da armadura, o posto de general do vice e a patente de capitão do Exército que Bolsonaro possui reforçam o nacionalismo e a caracterização dos dois como heróis.
Acima da imagem de Bolsonaro e Mourão, o enunciado verbal com o lema da campanha dessa chapa, “BRASIL acima de tudo e DEUS acima de todos”, encontra-se escrita em caixa alta. Os termos “Brasil” e “Deus” apresentam-se com o dobro de tamanho em comparação às outras palavras, representando, assim, a ênfase ao nacionalismo e à religiosidade. Logo abaixo, verificamos outro enunciado “A nossa bandeira nunca será vermelha”, grafado nas cores verde e amarelo, com o objetivo de ressaltar o combate à esquerda, entendida por Bolsonaro como comunista, que é seu inimigo declarado, e que precisa ser desqualificado, para garantir que não se eleja. Além disso, observa-se que esses enunciados apresentam-se acima do lema da bandeira – que se visualiza esfumaçada - e em primeiro plano. A Página exalta seu caráter nacionalista nas escolhas lexicais e imagéticas, buscando persuadir, ao reforçar a “autoapresentação positiva”, contrapondo-se, automaticamente ao opositor, que não está diretamente representado na postagem, mas que é resgatado pelo contexto social à época pré-eleitoral, como uma forma de trazer à lembrança a caracterização que se faz pela “apresentação negativa do outro” (VAN DIJK, 2010)[17].
A postagem da Figura 5 foi divulgada antes do segundo turno das eleições de 2018 e utiliza a composição de dois modos semióticos - visual e verbal. Considerando o modo verbal, observamos a ocorrência de um convite ao interlocutor, visto que há dois enunciados escritos sobre fundo verde e em caixa alta, com letras amarelas (uma referência às cores da Pátria): na parte superior, “A PARTIR DE 2019 O BRASIL SERÁ UM NOVO PAÍS!”, sendo que o verbo “ser” no futuro e o predicativo do sujeito “um novo país” encontram-se em destaque em relação ao adjunto adverbial de tempo por estar escrito em letras maiores e em negrito, recebendo um destaque ainda maior, para ser enfático, não deixar dúvidas e persuadir o interlocutor. Nessa formulação, caracteriza-se o referente (Brasil) positivamente e a asserção encaminha para interpretação de mudança, advinda da vitória de Bolsonaro no pleito, convocando e buscando persuadir o eleitor a promover essa mudança, caracterizada como vitória, a partir do voto, como se observa pelos elementos verbais inscritos na parte inferior desse texto multimodal - “E VOCÊ PODE FAZER PARTE DESSA VITÓRIA!” Observa-se novamente o destaque pelo uso do negrito, enfatizando o que interessa para persuasão, a partir do direcionamento ao interlocutor (você) e pelo uso da locução verbal (poder fazer) que encaminha à ação.
No centro da imagem, há um militar olhando para um bebê que segura nos braços e que está envolto na bandeira do Brasil. Do lado esquerdo, próximo à cabeça do militar, podemos ler “VOLTAR A ORDEM E PROGRESSO”, escrito em letras brancas, mas em tamanho menor, caixa alta e no lado direito, “BOLSONARO PRESIDENTE”. Considerando essa composição verbo-visual, identificamos um forte nacionalismo na seleção dos elementos visuais (militar segurando firmemente o bebê brasileiro, como símbolo de proteção aos indefesos, à pátria) e lexicais (seleção do verbo de ação “voltar”, pressupondo que, pelo implícito, na conjuntura daquele momento político, não havia ordem, nem progresso. Podemos ainda destacar que há uma apologia à figura militar, como provedor de “Ordem e Progresso”, necessários à criança/Brasil. Assim, a composição multimodal afigurou-se extremamente persuasiva.
4. Discussão dos resultados
As análises permitem observar ocorrências em todas as cinco postagens que confirmam as posições dos autores estudados, como Kress e van Leeuwen (2006)[9], quanto aos sistemas que se inter-relacionam na constituição dos textos multimodais – valor da informação, saliência e enquadramento e que também encaminham à persuasão.
Constatamos o uso estratégico, quer pelos elementos visuais, quer pelos elementos verbais, da indicação de van Dijk (2003)[11] quanto à auto-representação positiva e/ou a representação negativa do outro, presentes nas postagens das figuras de 1 a 5, indicando seu valor persuasivo.
Observamos, ainda, a orientação argumentativa a partir dos elementos verbais, conforme posição de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2], em que destacamos a busca da persuasão por meio de elementos que qualificam e desqualificam o outro, pelo uso de seleção lexical (pronomes, verbos), por meio de pergunta retórica assimilada à negação, de asserções, de alusão, além de detectarmos que, estrategicamente, os elementos selecionados mexeram com valores e crenças (em todas as figuras analisadas). Nesse âmbito, retomando as pesquisas de Palumbo, Aquino e Bentes (2019)[13], as análises permitiram identificar a ação de buscar persuadir o interlocutor a construir ou a mudar frames determinados.
Podemos, pelas análises, confirmar a ocorrência do que se possa nomear como argumentação multimodal que consiste da junção do uso estratégico dos elementos verbais e visuais, em que se destaca um fortalecimento no teor persuasivo do texto multimodal, especificamente observado pelas postagens do Facebook.
5. Conclusão
A busca de como se materializa o processamento da persuasão em textos multimodais permitiu-nos observar estratégias que antes nos pareciam específicas da modalidade verbal e que agora as associamos às utilizadas no texto visual/imagético o que nos encaminhou à complexidade do texto multimodal, ainda mais quando veiculado pelas redes sociais, como foi o caso de nosso corpus, coletado a partir das postagens no Facebook. Os resultados corroboram a tese defendida, destacando-se, porém, a ocorrência de nuances referentes às posições diversificadas dos interlocutores frente a essa estrutura a que denominamos argumentação multimodal.
As estratégias utilizadas apresentaram-se constituindo um todo coeso e levando à unidade textual, conforme já observara Bateman (2014)[3], posição referendada por Silva e Marchon (2021)[7]. Cabe destacar que as estratégias utilizadas a partir da seleção de elementos visuais, segundo Kress e van Leeuwen (2006)[9], dos elementos verbais, como nos indicaram Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2], permitiram a ocorrência de uma orientação argumentativa determinada nas postagens selecionadas do Facebook. Podemos dizer que os diversos argumentos interagem numa dada postagem e que a argumentação multimodal é complexizada, fortalecida pelos elementos verbais e visuais que emprega e pelo modo como os utiliza estrategicamente. No caso do corpus analisado, especificamente, a escolha dos recursos utilizados dependeu da criatividade e do intento do produtor do conteúdo; mais ainda, do conhecimento que teve das crenças e dos valores do interlocutor que quer atingir, seja para reforçar uma posição, seja para criar um confronto, quando se trata, em especial, de partidos políticos antagônicos.
Com o advento das redes sociais e com as postagens de textos multimodais, outro olhar merece ser acrescentado às análises e que diz respeito à dimensão argumentativa desses textos, conforme proposta que apresentamos. Se as pesquisas de van Leeuwen (2001)[8] constituíram-se em marco importante para a compreensão do texto multimodal, a correlação dessas com os estudos de Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996 [1958])[2] permite alcançar a complexidade da produção desses textos, não só porque as estratégias argumentativas voltam-se aos elementos verbais, mas também por podermos detectar que elas direcionam-se aos elementos visuais e com eles compõem um todo na orientação argumentativa dos textos, no caso, postados no Facebook. Pelos resultados, entendemos ser plausível e necessária essa associação de teorias que, como comprovam nossas análises, são produtivas quanto aos resultados que se podem alcançar.
Referências
AQUINO, Zilda G.O. Conversação e conflito – um estudo das estratégias discursivas em interações polêmicas. Tese (Doutorado em Semiótica e Linguística Geral) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
BATEMAN, John. Text and image: a critical introduction to the visual/verbal divide. New York: Routledge, 2014.
BATISTA, Pollyana. Por que o Lula foi preso na ditadura militar? Terra. Educação. Disponível em: <https://www.estudopratico.com.br/por-que-lula-foi-preso-na-ditadura-militar/>. Acesso em 23 dez. 2019.
JEWITT, Carol; BEZEMER, Jeff; O’HALLORAN, Kay. Introducing Multimodality. London: Routledge, 2016.
KOCH, Ingedore G. Desvendando os segredos do texto. 5.ed. São Paulo: Cortez, 2006.
KRESS, Gunther. Visual and verbal modes of representation in electronically mediated communication: the potentials of new forms of text. In: SNYDER, I. (ed.). Page to screen: taking literacy into the electronic era. London: Routledge, 1998. pp. 53- 79.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Multimodal discourse: the modes and media of contemporary communication. London: Hodder Education, 2001.
KRESS, Gunther; VAN LEEUWEN, Theo. Reading images: the grammar of visual design. 2nd ed. London: Routledge; Taylor & Francis Group, 2006.
KRESS, Gunther. Multimodality: a social semiotic approach to contemporary communication. New York: Routledge, 2010.
MEMÓRIAS DA DITADURA. Carlos Marighela. Disponível em:
<http://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/carlos-marighella/>. Acesso em 23 dez. 2019.
PALUMBO, Renata. Referenciação e argumentação: a dinâmica nas orientações argumentativas em debates políticos televisivos. Dissertação (Mestrado em Filologia e Língua Portuguesa), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
PALUMBO, Renata; AQUINO, Zilda G.O; BENTES, Anna Christina. Frames e argumentação: analisando o discurso presidencial de Michel Temer pós-impeachment de Dilma Rousseff. (Con)textos Linguísticos, v. 13 n. 25, 2019.
PERELMAN, Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado de Argumentação – A Nova Retórica. Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins fontes, 1996 (1958).
PINTO, Josane D. F. O texto multimodal e os construtos identitário-ideológicos no discurso político do Facebook. Tese (Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.
SILVA, Welton P.; MARCHON, Amanda H. Argumentação multimodal: uma proposta teórico-metodológica. Acta Scientiarum. Language and Culture, v.43, n.1, Jan.-Jun.2021. Disponível em:
< https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciLangCult/article/view/56894>. Acesso em 16 set. 2021.
VAN DIJK, Teun A. Ideologia y discurso. Una introducción multidisciplinaria. Barcelona: Ariel, 2003.
VAN DIJK, Teun A. Discurso e Poder. 2.ed. Tradução Judith Hoffnagel; Karina Falcone. São Paulo: Contexto, 2010.
VAN LEEUWEN, Theo. Semiotics and iconograph. In: VAN LEEUWEN, T.; JEWITT, C. (ed.). Handbook of visual analysis. London: Sage, 2001. pp. 92- 118.