Lives presidenciais: reflexões iniciais sobre o discurso político digital
Resumo
O desenvolvimento de novas tecnologias da comunicação faz com que, cada vez mais, surjam novas práticas discursivas – bem como o inverso também se faz verdadeiro –, sobretudo em relação àquelas ligadas ao uso das redes sociais, que parecem promover um estreitamento da relação entre cidadãos e instâncias do poder democrático. A partir disso, como analistas do discurso, somos instados a nos questionar sobre as categorias que utilizamos para observar, principalmente, o discurso digital. Neste artigo, buscaremos compreender como a utilização de lives por parte do Presidente da República, Jair Bolsonaro, orquestram um rearranjo de práticas político-discursivas que podem se materializar em novos objetos de análise para a Análise do discurso no/do Brasil. Mais especificamente, buscaremos compreender em que medida adotar as lives como forma de “fonte de informação para o povo” faz com que haja um novo modo de se fazer política e de se criar um efeito de proximidade por meio de um discurso verdadeiro, em que a cena de enunciação instaurada opera, na ordem do discurso, com sentidos que delineiam a aproximação dos sujeitos, mas também o próprio regime de verdade. Para tal empreendimento, mobilizaremos o arcabouço teórico-metodológico da Análise do discurso pensada por Dominique Maingueneau e Marie-Anne Paveau.
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança Movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 271 p.
DIAS, C. Análise do discurso digital: sujeito, espaço, memória e arquivo. Campinas, SP: Pontes Editora, 2018.
FOUCAULT, M. Entrevista com Michel Foucault. In: M. FOUCAULT. Arte, epistemologia, filosofia e história da medicina: Ditos & escritos VII. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011, p. 157-168.
FOUCAULT, M. História da loucura e antipsiquiatria. Conferência pronunciada em maio de 1973. In: ARTIÈRES, Ph. et all. Michel Foucault. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
GREGOLIN, M. R. Análise do discurso e mídia: a (re)produção de identidades. Comunicação, mídia e consumo: São Paulo, vol. 4, n. 11, p. 11-25, nov. 2007.
MAINGUENEAU, D. Discurso e Análise do discurso. São Paulo: Parábola editorial, 2015a.
MAINGUENEAU, D. La philosophie comme institution discursive. Limoges: Editora Lambert-Lucas, 2015b.
MAINGUENEAU, D. Variações sobre o ethos. São Paulo: Parábola, 2020.
NIETZSCHE, F.W. Fragments posthumes. Automne 1887 – mars 1888. Oeuvres philosophiques complètes, XIII. Paris: Galimard.
PAVEAU, M-A. Technodiscursivités natives sur Twitter. Une écologie du discours numérique. Epistémè: revue internationale de sciences humaines et sociales appliquées/, Center for applied cultural science, Korea university, Séoul, 2013, 9, p.139-176.
PAVEAU, M-A. L’Analyse du discours numérique. Dictionnaire des formes et des pratiques. Paris: Hermann. 2017.
ROSANVALLON, P. La Légitimité Démocratique - Impartialité, réflexixité, proximité. Paris: Seuil, 2008, 384p.