Substituição de ser por haver nas construções existenciais do português: um estudo diacrônico

Elisângela GONÇALVES

Resumo

Este trabalho se volta para o estudo de mudanças que envolvem construções existenciais e possessivas no período que compreende os séculos XIII a XVI1/2, trazendo a contribuição de analisar tais mudanças sob uma perspectiva formal, tentando mostrar como se caracteriza a estrutura sintática das orações existenciais com os verbos ser e haver ao longo do tempo. Insere-se numa linha de pesquisa que parte do pressuposto de que as chamadas construções locativas (locativas, possessivas e existenciais) provêm de uma mesma estrutura subjacente (cf. LYONS, 1968; CLARK, 1978; BENVENISTE, 1976; FREEZE, 1992; KAYNE, 2006). Buscaremos explicar essas mudanças com base na noção de “competição de gramáticas” (KROCH, 1994). Tentaremos, todavia, adequar essa noção à de que haver seria derivado de ser por meio de movimento e incorporação (conforme proposta de FREEZE, 1992), pautando-nos num modelo não-lexicalista, como o da Morfologia Distribuída (HALLE & MARANTZ, 1993), segundo a qual os itens funcionais não vêm “prontos” do léxico, mas são obtidos por meio da combinação de traços no decorrer da derivação sintática. Este consistirá no diferencial desta pesquisa em relação a outras já desenvolvidas sobre as mudanças envolvendo esses verbos na história do português.