DINÂMICA SINCRÔNICA E DIACRÔNICA DA DERIVA DE ABERTURA DAS VOGAIS MÉDIAS TÔNICAS DO PORTUGUÊS

Eleonora C. Albano

Resumo

A distinção portuguesa entre as vogais médias abertas e fechadas é em grande parte inovadora. Com a perda do acento quantitativo latino, alguns contrastes desapareceram e outros emergiram via analogia, não só mórfica como fônica. A cadeia milenar de mudanças aí envolvidas pode ser entendida como uma deriva de abertura na posição tônica. Este estudo reconstrói a trajetória dessa deriva através da análise estatística de um corpus do português brasileiro falado atual. As distribuições de segmentos fônicos nos tipos e ocorrências do corpus são comparadas em diferentes ambientes prosódicos lexicais para mostrar que a deriva evolui de acordo com previsões de Zipf, mas responde a desequilíbrios do sistema racionalizáveis pelas noções de marca e carga funcional de Trubetzkoy. A sua atuação sobre neologismos, empréstimos e demais inovações é o lado zipfiano do quadro. A sua ação para restaurar a carga funcional dos contrastes na posição acentual e no tipo silábico não-marcados é o lado trubetzkoyano do quadro. A análise se completa com uma reconstrução do papel do detalhe fonético em atrelar a deriva à posição tônica durante a transição do acento quantitativo para o acento intensivo que vai do romanço ibérico ao galego-português. A síntese teórica e empírica por fim alcançada deve a sua inspiração aos modelos fonológicos dinâmicos atuais.