“O Português são três”: evidências empíricas para a hipótese de competição de gramáticas

Marco Antonio MARTINS

Resumo

Com base nos padrões empíricos de ordenação de clíticos em peças de teatro escritas por brasileiros nascidos no litoral do estado de Santa Catarina, descrevo e analiso, neste artigo, um processo de variação e mudança sintática que pode ser interpretado como a competição de diferentes gramáticas. Na escrita de autores nascidos no século 19, encontro padrões que instanciam (i) a gramática do Português Brasileiro (PB): próclise a V1 e próclise ao verbo não-finito em complexos verbais; (ii) a gramática do Português Europeu (PE): ênclise em orações finitas não dependentes com o verbo precedido por um sujeito, um advérbio não-modal ou um sintagma preposicional, não focalizados; e (iii) a gramática do Português Clássico (PC): construções DPclV e construções XclV com percentagens variáveis e inferiores a 50% e construções com interpolação em matriz. Com base nos resultados estatísticos, defendo que a ordenação de clíticos na escrita catarinense reflete um caso complexo de competição de três gramáticas do português: PC, PB e PE.