Neste texto, objetivamos compreender os sentidos e os desafios da escrita acadêmica dos discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT). Buscamos, assim, identificar o que se escreve e para que se escreve no ProfEPT e quais desafios os alunos enfrentam ao escrever academicamente no ProfEPT. Exploramos uma abordagem social do letramento e dos Letramentos Acadêmicos (STREET, 1984, LEA; STREET, 1998, IVANIČ, 1998). Este estudo é de natureza qualitativa, adota uma perspectiva etnográfica (GREEN; BLOOME, 1997) e integra uma pesquisa mais ampla que ocorreu durante o ano de 2020 em duas turmas do ProfEPT ofertadas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG) no campus Ouro Branco. A análise das condições de produção da escrita, nesse contexto de formação, evidencia que as práticas de escrita não se limitaram tão somente aos gêneros produzidos no contexto acadêmico (dissertação, projeto de pesquisa, produto educacional, artigo, resenha, resumo e fichamento), mas está relacionada também a práticas específicas da academia com usos e significados próprios, como a formulação de questões e a redação. Dentre outros aspectos observados, destacamos que o principal desafio enfrentado pelos discentes ao escrever academicamente no mestrado profissional relaciona-se com os aspectos identitários e, logo, intertextuais.
A produção escrita compõe um dos fatores que avaliam a qualificação dos pós-graduandos (PARIS, 2021
No decorrer desse percurso acadêmico, como produtor de texto, o mestrando depara com a necessidade de construir uma identidade social compatível com a sua inserção no meio acadêmico (BEZERRA, 2015). E pelo fato de ele já ter realizado um curso de graduação, há uma expectativa institucional, por parte dos professores e coordenadores de cursos, por exemplo, que esses alunos já saibam lidar com as diversas práticas de letramento que ocorrem num programa de pós-graduação
Ao tratar sobre essa expectativa num curso de doutorado, Paris (2021, p.19
Fiad (2013)
Considerando o mito apresentado por Fiad (2013) e as expectativas institucionais com relação às práticas de escrita dos estudantes ingressantes de um mestrado, este texto objetiva compreender os sentidos e os desafios da escrita acadêmica dos discentes do Programa de Pós-graduação em Educação Profissional Tecnológica
O ProfEPT é um programa de pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica, com um mestrado profissional em educação profissional e tecnológica em rede nacional, da área de ensino, reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC). Conforme Brasil (2018), o programa tem como objetivo proporcionar formação em educação profissional e tecnológica aos profissionais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
Recorremos a uma abordagem social do letramento e dos Letramentos Acadêmicos (STREET, 1984
Este estudo é de natureza qualitativa e adota uma perspectiva etnográfica (GREEN; BLOOME, 1997)
O artigo está estruturado em quatro seções. Na primeira delas, discutimos os modelos autônomo e ideológico de letramento que se apresentam a seguir. Na segunda seção, apresentamos o percurso teórico-metodológico da pesquisa. Continuando, analisamos os sentidos e os desafios da escrita acadêmica no ProfEPT. Finalmente, concluímos o artigo examinando implicações de nossa análise para as discussões sobre as práticas de escrita num mestrado profissional.
Baseamo-nos teoricamente nos Novos Estudos do Letramento (NEL). Esse grupo rechaça a perspectiva que trabalha “com a suposição de que o letramento por si só – autonomamente – terá efeitos sobre outras práticas sociais e cognitivas” (STREET, 2013)
Partindo desse princípio, os NEL rejeitam o modelo autônomo do letramento. Essa abordagem, conforme Street (2013)
A concepção descrita acima por Street (2013)
Em oposição ao modelo autônomo, Street (1984; 2013)
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[...] uma visão culturalmente mais sensível das práticas de letramento, pois elas variam de um contexto para outro. Esse modelo parte de premissas diferentes daquelas do modelo autônomo – ele postula, ao contrário, que o letramento é uma prática social, e não simplesmente uma habilidade técnica e neutra; que está sempre incrustado em princípios epistemológicos socialmente construídos. O modelo diz respeito ao conhecimento: as formas como as pessoas se relacionam com a leitura e a escrita estão, elas mesmas, enraizadas em concepções de conhecimento, identidade, ser. Está sempre incorporado em práticas sociais, tais como as de um mercado de trabalho ou de um contexto educacional específico, e os efeitos da aprendizagem daquele letramento em particular dependerão daqueles contextos específicos (STREET, 2013, p.53)
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Ao caracterizar o modelo ideológico de letramento, Street (1993)
O modelo ideológico de letramento concentra-se, portanto, nas práticas específicas de leitura e de escrita. Esse modelo enfatiza a importância do processo de socialização na construção do significado do letramento para os participantes e, por isso, considera as instituições sociais, além da escola, como espaços em que esse processo também tem lugar. Dentro desse modelo, Lea e Street (1998)
É nessa perspectiva que Ivanič (1998)
A noção de comunidade de discurso, para Ivanič (1998)
Considerando, então, a discussão teórica apresentada, no próximo tópico, iremos tratar sobre o percurso metodológico adotado neste estudo.
Durante o ano de 2020, realizamos uma pesquisa nas turmas de 2018 e 2019 do ProfEPT/IFMG com o objetivo de analisar as práticas de escrita desenvolvidas pelos mestrandos desse programa de pós-graduação. Para a realização da pesquisa, enviamos um questionário via
O grupo pesquisado foi composto por 14 mulheres e 12 homens. Com relação à faixa etária, identificamos que 10 discentes possuem entre 28 e 37 anos de idade. Na faixa etária entre 38 anos e 47 anos há um total de 10 discentes. Há apenas um discente com menos de 27 anos e cinco discentes com idade acima de 48 anos de idade. Com relação à formação acadêmica, notamos uma grande diversificação, como destacamos no Gráfico 1 a seguir:
Fonte: elaborado pela autora
Pelo Gráfico 1, verificamos que a maior parte dos alunos que participaram da pesquisa possui curso de licenciatura ou formação pedagógica, totalizando 56%. Os outros 44% dos discentes possuem bacharelado ou cursos tecnológicos. Dos 26 pesquisados, somente cinco são professores, sendo um professor de História, um de Inglês, um de Geografia, um de Física e um de Química. Esses professores atuam em instituições públicas municipais, estaduais e federais. Desses cinco docentes, escolhi três para participarem da entrevista. Selecionei como participantes mestrandos(as) de diferentes momentos do curso: dois participantes da 1ª turma, iniciada em 2018, e um participante da 2ª turma, iniciada em 2019. Os dois participantes selecionados da primeira turma do programa defenderam suas dissertações em 2020. O entrevistado da segunda turma estava na fase de qualificação e ainda não tinha iniciado sua pesquisa de campo. Essas entrevistas foram gravadas em áudio e foram descritas, analisadas e interpretadas segundo Wolcott (1994)
Na transcrição das entrevistas, os participantes foram identificados com nomes fictícios, escolhidos pela pesquisadora, de modo a garantir-lhes a confidencialidade das informações. As transcrições foram organizadas em unidades de mensagem que, segundo Castanheira e Green (2007, p. 33)
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos três participantes da pesquisa neste estudo:
Fonte: elaborado pela autora
PARTICIPANTE | FORMAÇÃO | ATUAÇÃO PROFISSIONAL | |
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Participantes da 1ª turma | Isaque, 35 anos. | Licenciado em Física. Especialização em Metodologia do Ensino de Matemática e Física. | Professor da rede estadual de ensino de Minas Gerais com 5 anos de experiência. |
Cleiton, 38 anos. | Licenciado em História. Especialização em Teoria e Métodos de Pesquisa em Educação. | Professor da rede municipal de Contagem e Ibirité com 10 anos de experiência profissional. | |
Participantes da 2ª turma | Wellington, 48 anos. | Licenciado em Letras com habilitação em Língua Inglesa. Especialização em Ensino de Língua Inglesa. | Professor da rede federal de ensino com 20 anos de experiência profissional. |
É importante destacar que tomamos como critério para escolha dos entrevistados, os seguintes aspectos: o local de atuação profissional, a formação acadêmica e a temporalidade em termos de atuação profissional como docente. Selecionamos, assim, um professor que atua na rede federal, um que atua na rede estadual e outro que atua na rede municipal. Com relação ao tempo de atuação docente, optamos por professores em início de carreira e docentes com muitos anos de experiência. No que se refere à formação acadêmica, elegemos perfis diferenciados: um das ciências exatas, um da ciências humanas e um da linguagem.
Entendemos que esse perfil diferenciado nos fornece elementos para a compreensão dos sentidos e dos desafios da escrita dos discentes do ProfEPT que atuam como professores nas diversas esferas do ensino público brasileiro. Há uma expectativa de que o mestrado profissional possa contribuir para a promoção da melhoria da qualidade do ensino nos diferentes níveis de escolarização e, por extensão, do trabalho com a escrita nas escolas públicas brasileiras.
Anteriormente, ao tratar dos modelos autônomo e ideológico de letramento, expus que o modelo ideológico reconhece a prática social implícita nos princípios socialmente construídos, pois os modos pelos quais as pessoas usam a escrita estão atrelados às concepções de conhecimento, à identidade e aos modos de ser e estar nas práticas sociais ou contextos particulares. Assim, neste artigo, buscamos compreender os sentidos e os desafios da escrita acadêmica dos discentes do ProfEPT, que são professores, a partir dos dados coletados no questionário e na entrevista e, em especial, nas primeiras questões realizadas aos participantes da pesquisa, quais sejam: Sabemos que, na universidade, produzimos/ escrevemos diversos gêneros textuais acadêmicos, quais são os principais gêneros produzidos por você no ProfEPT? Quais os principais desafios que você enfrentou na escrita desses textos? Você se recorda de um desses desafios que possa me narrar?
Partindo dessas perguntas, num primeiro momento, buscamos identificar o que se escreve e para que se escreve no ProfEPT. E, em seguida, almejamos compreender os desafios indicados pelos discentes ao escrever no curso.
Na universidade, nossas práticas de uso da língua, no caso desta pesquisa, a escrita, são relativamente estabilizadas pelo campo no qual os enunciados são produzidos e circulam: a própria esfera acadêmica. Assim, pelo relato dos discentes ocorridos por meio das entrevistas, foi possível perceber que os mestrandos produziram gêneros textuais que circulam no meio acadêmico. Para ter uma melhor visualização desses gêneros, elaboramos o Quadro 2, a seguir, que está organizado em quatro colunas. Na primeira coluna, identificamos o gênero nomeado pelo próprio participante da pesquisa; na segunda coluna, destacamos o nome do participante; na terceira, a unidade de mensagem; e, na última, apresentamos a função social do gênero apontada pelo próprio participante.
Fonte: elaborado pela autora
GÊNERO TEXTUAL | PARTICIPANTES | UNIDADE DE MENSAGEM | FUNÇÃO DO GÊNERO NA ESCRITA |
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Fichamento | Isaque | o fichamento/ foi algo/ que ajudou/ muito/ na condução/ na triagem/ posição do referencial teórico/ | Triagem do referencial teórico |
Resenha | Isaque | as resenhas [...] foram base/ na escrita da dissertação/ eu recorri/ algumas das resenhas/ que/ desenvolvi/ principalmente/ na disciplina de Bases Conceituais/ | Base para a escrita de outro gênero |
Resumo | Cleiton | Tinha um certa forma de resumo/ mas acho/ que/ nesse nível/ a gente nunca/ usa/ o termo/ resumo/ seria meio/ que/ uma análise crítica/ assim/ do texto/ | Análise crítica do texto |
Formulação de questão | Cleiton | Eu/ acho/ que a gente/ escreve/ muita/ reflexão/ sobre o/ que/ tá sendo/ abordado/ ali/ sobre/ um determinado/ assunto/ né/ então/ geralmente assim/ tinha/ duas formas/ de trabalho/ principais/ uma/ era assim/ a partir/ da referência/ bibliografia/ indicada/ geralmente/ indicava-se/ para a aula/ seguinte/ né?/ então/ na próxima aula/ a gente/ vai discutir/ esse/ indicava lá/ os textos/ e aí/ o nosso/ papel/ enquanto/ estudantes/ era ler/ ler os textos/ estudá-los/ pensar/ formular uma questão/ sobre o texto/ | Reflexão sobre o que está lendo |
Artigo | Isaque | Houve algo/ que/ eu/ resgatei/ da universidade/ que/ foi/ a publicação de artigos/ né/ a gente/ escreveu/ conseguiu/ duas/ atividades acadêmicas/ | Resgate da cultura universitária Participação de atividades acadêmicas |
Redação | Wellington | Eu me lembro que/ no começo do programa/ alguns professores/ já pediram que/ escrevessem uma redação/ qual seria/ uma de nossas inquietações/ partindo de experiências/ pessoais/ daquilo/ que a gente vive/ e/ no nosso/ trabalho [...] | Apresentar as inquietações a partir das vivências pessoais e profissionais. |
Memorial | Cleiton | [...] eu acho/ que é/ outro exercício bacana/ que nos faz refletir/ sobre o percurso/ e/ coisas/ que/ talvez a gente/ nem tinha pensando/ mas/ só/ seguindo/ o ritmo/ e a gente/ para pensar naquela/ escrita do memorial. | Reflexão sobre o percurso |
Projeto | Cleiton | [...] e/ aí/ teve uma parte/ do projeto/ também/. | Não indicado pelo participante |
Dissertação | Isaque | [...] e a dissertação/ propriamente dito/ | Não indicado pelo participante |
Produto educacional | Isaque | [...] o produto educacional/ também/. | Não indicado pelo participante |
Subdividimos o Quadro 2 em quatro categorias que foram marcadas com cores diferenciadas aleatoriamente, a saber: cinza, azul, laranja e verde. A cor cinza representa os gêneros que tiveram a função indicada pelos pesquisados como sendo os gêneros que permitem a triagem da bibliografia que se vai selecionar, tanto para a elaboração de algum trabalho científico, quanto para a atualização bibliográfica. É possível perceber que esses gêneros possibilitaram aos discentes refletir e realizar análise crítica do que estavam lendo. Dentre essas unidades de mensagem marcadas de cinza, destacamos a que foi dita por Cleiton: “
Na fala do Cleiton, acima, observamos uma certa confusão ao denominar o gênero. Parece-nos que para ele, o resumo não é feito num nível de mestrado, somente na Educação Básica. Essa percepção do pesquisado vai ao encontro de uma pesquisa realizada no nível fundamental de ensino por Schneuwly e Dolz (1999, p.14)
A cor azul destaca o artigo científico. Para Isaque, a produção desse gênero acadêmico o possibilitou resgatar sua cultura universitária, pois ele participou de dois eventos acadêmicos: um no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais e outro na Universidade de Viçosa. Essa percepção da função social do gênero artigo apontada por Isaque corresponde ao afirmado por Bezerra (2015, p.69)
Já a cor laranja refere-se aos gêneros, que segundo os pesquisados, tiveram a função de apresentar e de refletir sobre o percurso pessoal, profissional e acadêmico. As ditas “redação” e “memorial” foram solicitadas pelos professores na disciplina Seminário de Pesquisa. No ementário da referida disciplina, evidenciamos que essa discute atualidades das pesquisas em ensino e educação. Seminário de Pesquisa trata, também, das temáticas que envolvem as linhas de pesquisa do programa que tem como foco “o desenvolvimento de pesquisa aplicada aos processos de ensino, em espaços formais e não formais; ao desenvolvimento e à análise de materiais didáticos e ao uso de tecnologias para melhoria do processo de ensino e de aprendizagem” (BRASIL, 2018)
Analisando o ementário, percebemos a importância dos gêneros “redação” e “memorial” no contexto dessa disciplina visto que o aluno, ao participar do ProfEPT, realiza tão somente um teste com questões de múltipla escolha. Esses alunos não precisam apresentar um pré-projeto de pesquisa como ocorre na maioria das instituições de ensino que ofertam programa
Por último, a cor verde refere-se aos gêneros citados pelos pesquisados, mas que não foi indicada a função desses durante o curso. Talvez isso ocorra, dado que esses gêneros (projeto de pesquisa, dissertação e produto educacional) são os que norteiam todo o processo formativo do mestrando no ProfEPT. Em outras palavras, esses gêneros não estão relacionados a uma única disciplina e, sim, à etapas no processo formativo do mestrando O projeto de pesquisa orienta o início da trajetória acadêmica do estudante. Já o produto educacional e a dissertação são os gêneros que serão produzidos para que ocorra a defesa e, logo, o término do mestrado.
Com relação aos desafios enfrentados para escrever academicamente no ProfEPT, o discente Wellington nos narra que
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Na fala do pesquisado, observamos que, antes de ser professor, ele era locutor de rádio e, devido a isso, considerava que teria facilidade para escrever no ProfEPT. Porém, ao longo da sua trajetória no programa, observou que a escrita acadêmica difere do texto jornalístico. Talvez, para Wellington, a escrita acadêmica não é tão diretiva como a escrita jornalística. Essa sensação de Wellington vai ao encontro do afirmado por Lea (1999)
Ao dizer: “
Na mesma direção de Wellington, o discente Cleiton, ao discutir sobre as dificuldades enfrentadas para escrever academicamente no ProfEPT, nos aponta que
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A ênfase dada por Cleiton ao dizer “
Em outro trecho da entrevista de Cleiton, novamente, evidenciamos sua inquietação com relação ao ato de citar. Ele nos diz que
Destacamos do fragmento acima, as ênfases dadas por Cleiton por meio das palavras “INSISTIA” e “NISSO”. A insistência, para ele, foi dada numa determinada aula por um professor do ProfEPT quando esse estava ensinando sobre citação. Já “NISSO” refere-se ao ato de citar que, para o aluno, em certa medida, é desnecessário. A situação apresentada por Cleiton nos leva a pensar que o discente se opõe, nos termos de Chase (1988, p.15)
Dentro do jogo da escrita na universidade, que é a identidade de uma pessoa com autoridade, verificamos, ainda, na fala de Isaque, abaixo, esta ocorrência:
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Nesse fragmento, notamos que a banca de qualificação sugeriu que o discente fundamentasse o seu discurso, por meio de citações, para que ele pudesse ser aceitável à comunidade acadêmica. Ao tratar sobre essa necessidade de evocação de discursos já existentes e conhecidos, De Paula (2017, p.96)
Além dos aspectos intertextuais, constatamos na fala dos participantes da pesquisa elementos referentes a normatização dos textos acadêmicos. No trecho abaixo, Isaque sintetiza, por meio de dois elementos, os desafios enfrentados por ele ao escrever no ProfEPT:
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Nesse excerto, verificamos que, além dos aspectos referentes às questões de intertextualidade, observamos na fala do participante questões ligadas à normatização do texto acadêmico. É interessante destacar que, para o discente, não se trata somente da normatização, algo estrutural, como regras da ABNT e formatação, etc. Isaque tem clareza dos jogos que estão por trás das citações ao dizer:
Da mesma forma que Isaque, identificamos na fala de Wellington essa questão da normatização. Para ele,
Ao afirmar que “
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De modo geral, então, pode-se dizer que os manuais, e também muitas das práticas acadêmicas nas quais os estudantes são inseridos, privilegiam apenas a norma sem a problematização necessária da citação ou mesmo da identidade de autor, e sem “espaço de manobra”, ou seja, é o ensino e a prática de normas engessadas que negam o caráter dialógico da citação enquanto escolha identitária e interação necessária, o que leva a uma negação das vozes que permeiam o discurso, uma vez que é suficiente citar para se adequar às normas técnicas e acadêmicas. Logo, o risco dessa abordagem, comprovado nos dados apresentados pelos autores, é citar por citar, citar apenas para inserir uma voz consagrada no discurso com o objetivo principal de que este seja reconhecido na comunidade acadêmica, atentando apenas para aspectos estruturais e normativos. (DE PAULA, 2017, p.88)
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Esse perigo apontado por De Paula (2017)
Esse texto objetivou compreender os sentidos e os desafios enfrentados pelos discentes do ProfEPT, que atuam como professores, para escrever academicamente num mestrado profissional. O ProfEPT é um programa recém criado e tem como objetivo proporcionar a formação em educação profissional e tecnológica aos profissionais da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica.
A partir do levantamento dos gêneros textuais e das funções desses gêneros no contexto do curso, foi possível perceber que as práticas de escrita ocorridas no ProfEPT não se limitaram tão somente aos gêneros produzidos no contexto acadêmico (dissertação, projeto de pesquisa, produto educacional, artigo, resenha, resumo e fichamento), mas estão relacionadas também às práticas específicas da academia com usos e significados próprios, como a formulação de questões e a redação.
Com relação aos desafios enfrentados pelos discentes para escrever academicamente num mestrado profissional, observamos que os alunos (embora sejam graduados em áreas distintas do conhecimento: ciências exatas, ciências humanas e linguagens) indicaram tensões ao se referirem à escrita acadêmica. Tal fato é significativo, visto que havia uma expectativa de que o participante formado em Letras não apontasse desafios no que concerne à escrita acadêmica.
Outro aspecto relevante, quando discutimos sobre os desafios para escrever academicamente no ProfEPT, trata-se das questões ligadas à identidade; logo, intertextuais. Nesse contexto de formação, a citação é uma das modalidades de apropriação do discurso do outro. Verificamos que os estudantes incorporaram em seus discursos autores consagrados do meio acadêmico. Vimos que a identidade está ligada à interação cotidiana com os discursos acadêmicos institucionalizados e apreendidos em sala de aula, em textos, em discussões, na qualificação e outros. Ao fazer suas escolhas discursivas, o aluno está se alinhando a uma forma de escrita e construindo sua identidade afinada com aqueles que fazem escolhas similares. Por outro lado, notamos também oposição (CHASE, 1988)
Este artigo não intenta apontar caminhos que possam melhorar o ensino da escrita no contexto acadêmico. Contudo, entendemos que ele fornece indicadores aos professores e aos coordenadores de cursos de mestrados profissionais sobre qual é a condição letrada dos alunos que voltam para a universidade para realizar uma formação continuada, bem como sobre quais são suas expectativas em relação ao ensino da escrita nesse domínio, para que possam desenvolver estratégias mais eficazes que promovam o desenvolvimento das formas de ser, pensar, agir, escrever e ler próprias dessa esfera. Com relação à trabalhos futuros, apontamos a necessidade de pesquisas que se voltam para organização do currículo de cursos de pós-graduação, visto que essa formação não deve ignorar as dimensões escondidas na citação da voz do outro.
O ProfEPT é um programa de pós-graduação em Educação Profissional e Tecnológica, com um mestrado profissional em educação profissional e tecnológica em rede nacional, da área de ensino, reconhecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação (MEC). Conforme Brasil (2018), o programa tem como objetivo proporcionar formação em educação profissional e tecnológica aos profissionais da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), visando tanto a produção de conhecimento como o desenvolvimento de produtos, por meio da realização de pesquisas que integrem os saberes inerentes ao mundo do trabalho e ao conhecimento sistematizado. O programa tem como pressupostos fundamentais a pesquisa como princípio pedagógico e o trabalho como princípio educativo. Dessa forma, considera como campos teóricos o “trabalho”, a “educação” e o “ensino”, reforçando a necessidade de uma educação politécnica e universal.