No presente texto, resenhamos a conferência
In this text, we review the lecture
Neste texto, resenhamos a conferência
Magda Soares possui graduação em Letras Neolatinas (1953) e doutorado em Didática (1962) pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde é professora emérita da Faculdade de Educação. Soares é fundadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – CEALE, localizado na UFMG, e atua nas áreas de alfabetização, letramento, escrita, ensino, leitura e formação de professores, nas quais é referência em todo o Brasil. No início de sua carreira, Soares atuou por 10 anos em escolas públicas, o que a despertou para as dificuldades das crianças das camadas populares face à alfabetização. Já na UFMG, desenvolveu a pesquisa
Em sua fala, didática e prática, no Abralin Ao Vivo –
Soares principia sua fala reportando os fracassos do Brasil em termos de leitura, comprovados em avaliações nacionais e internacionais, como a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2015
Diante deste cenário, Soares acredita que estamos fazendo a pergunta inadequada para o problema do fracasso na alfabetização (resposta) – que vem sendo exclusivamente considerado uma questão de método. Contrariamente, para a professora, alfabetizar não é uma questão de método, mas de orientação da aprendizagem, considerando o desenvolvimento cognitivo e linguístico da criança. Nesse sentido, a pergunta norteadora ao problema da alfabetização no Brasil deve ser, nas palavras da conferencista: “Como devemos orientar o processo de aprendizagem do sistema de escrita alfabético e de habilidades de seu uso, respeitando as evidências científicas que nos dão as teorias do desenvolvimento cognitivo e linguístico da criança”?
Tendo isso em vista, Soares apresenta teorias que identificam fases no desenvolvimento cognitivo e linguístico de apropriação do princípio alfabético pela criança. Entre estas teorias, a conferencista destaca a psicogênese da escrita (FERREIRO e TEBEROSKY, 1986
Com base na psicogênese da escrita, articulada a processos linguísticos e cognitivos, Soares apresenta uma sistematização das fases que representam o percurso da criança na aquisição do princípio alfabético – desenvolvido em concomitância ao processo de letramento, que condiz com o que tem sido desenvolvido no projeto “Alfaletrar”, em Lagoa Santa (MG) (
Fonte: adaptado de Alfabetização (2020
Frente ao esquema, alfabetização consiste num processo de apropriação do princípio alfabético pela criança, partindo do conhecimento das letras até o nível da consciência grafofonêmica. Neste percurso, há uma fase chamada pré-fonológica, caracterizada pela garatuja e a escrita com letras; a fase da consciência silábica, com ou sem valor sonoro; e, por fim, a fase da consciência grafofonêmica, que envolve relações silábico-alfabética, alfabética e ortográfica.
O conhecimento das letras não é simplesmente ensinar o alfabeto, mas orientar a criança pensando no que ela precisa aprender e em que momento isso vai acontecer. A professora salienta que a criança deve ser orientada em todas as etapas a fim de reconhecer as relações fonema-grafema como um sistema de representação e não como código.
A criança precisa desenvolver coordenação motora para traçar letras maiúsculas e minúsculas; diferenciar letras maiúsculas de minúsculas, devendo conseguir relacioná-las; e, ainda, saber a ordem alfabética. A conferencista afirma que essas etapas devem ser feitas de forma sistemática, com o alfabetizador compreendendo o nível de dificuldade, uma vez que se trata de discriminação visual, e o nosso cérebro, que está preparado para a simetria, tem que reconhecer a assimetria das letras.
Ao longo de sua conferência, Soares sempre associa alfabetização a letramento, pois, segundo ela, os dois processos devem se desenvolver simultaneamente, ou seja, a criança aprende o sistema de escrita alfabética para utilizá-la em contextos sociais de usos da escrita. De modo ilustrativo e didático, a professora apresenta um esquema que mostra de que modo alfabetização e letramento estão encaixados (
Fonte: adaptado de Alfabetização (2020
A professora afirma que o processo de letramento significa aprender a ler, a compreender e a interpretar textos. Quanto a essa dimensão, Soares argumenta que o professor deve ter sensibilidade para escolher textos de diferentes gêneros textuais para mostrar os diferentes usos da escrita, considerando sempre o nível de complexidade. Além disso, a conferencista orienta que o professor prepare o texto antes da leitura, seja ela interativa ou independente, pensando em uma atividade para desenvolver as habilidades de compreensão e interpretação.
Entendendo alfabetização e letramento como concomitantes e processuais, Soares apresenta um quadro, desenvolvido durante um trabalho realizado por 12 anos com professores de Lagoa Santa (MG), que explicita as habilidades de leitura, interpretação e produção de textos a serem desenvolvidas nas etapas do ciclo de alfabetização e letramento e que precisam estar no horizonte do professor alfabetizador (
Fonte: adaptado de Alfabetização (2020
Para finalizar sua conferência, Magda Soares ressalta que alfabetização e letramento são processos que devem ocorrer simultaneamente e ao longo do desenvolvimento cognitivo e linguístico da criança. A professora destaca, ainda, a necessidade premente de reformulação dos cursos de pedagogia, de modo que evidências das múltiplas teorias acerca da alfabetização alcancem a formação docente e, por conseguinte, a sala de aula.