Neste texto, resenha-se a conferência da pesquisadora Dr.ª Natalia Levshina intitulada
This text is a review of the lecture entitled
Esta resenha discorre sobre a conferência da pesquisadora Dr.ª Natalia Levshina intitulada
Inicialmente, Levshina define eficiência como a razão entre custo (articulação e processamento, por exemplo) e benefício (transferência bem-sucedida de uma mensagem). Sobre a teoria da informação, a conferencista aponta que uma língua é eficiente quando permite ao falante transmitir mensagens com o mínimo de esforço, afirmando que quando a mensagem é previsível, menos código pode ser usado. A previsibilidade é medida pela informatividade de um conteúdo, que pode ser obtida pela expressão: I = -log2P (x). Levshina explica que a palavra “
Levhsina apresenta a lei de Zipf, na qual palavras mais frequentes tendem a ser mais curtas, como “
Levshina aponta, contudo, que não é somente a frequência que determina o tamanho das palavras. Ela apresenta os resultados de Piantadosi
Para finalizar a questão sobre articulação, eficiência e a teoria da informatividade, Levshina apresenta a variação morfossintática na qual existem padrões de eficiência. A conferencista cita a variação de marcação de caso no estudo de Kurumada e Jaeger (2015
Sobre processamento e eficiência, Levshina discute a ordem das palavras. A pesquisadora argumenta que existe evidência de que usuários da língua tentam diminuir o tamanho da dependência entre palavras relacionadas sintaticamente, permitindo o
Levshina reforça seu argumento mostrando dados do
No segundo bloco de sua fala, Levshina relaciona pragmática à eficiência, por meio da teoria dos atos de fala racionais. Sob essa perspectiva, os falantes agem de forma racional e eficiente (o falante faz suas escolhas baseando-se na probabilidade de um ouvinte literal poder corretamente compreendê-lo) e os ouvintes inferem o estado do mundo por meio da inferência Bayesiana a partir do que o falante disser. Levshina argumenta que é possível medir a utilidade/eficiência comunicativa ao se subtrair os custos comunicativos do falante (tempo e esforço) dos benefícios do falante (quão certo estará o ouvinte sobre o mundo pretendido, após ouvir uma frase).
No último bloco, Levshina discute desafios e possíveis soluções para a eficiência comunicativa. O primeiro desafio levantado é a relação entre eficiência e discurso: em uma comunicação não-verbal, na qual não há necessidade de ser explicito, não fica claro como medir a eficiência, mostrando que é preciso construir um quadro teórico e ferramentas para incluir a previsibilidade nesse tipo de situação em uma abordagem da teoria da informação. Isso porque é negativa a correlação entre o grau de explicitude e a ativação e acesso mental do referente, por exemplo, quando os falantes introduzem um novo referente no discurso, “Você sabia que Joana, a professora de inglês, foi demitida?”, em que foi usada uma expressão semanticamente rica (a professora de inglês) uma vez que a ativação e o acesso mental ao referente eram baixos.
Outros dois desafios levantados pela conferencista dizem respeito ao quanto os usuários da língua são realmente racionais e à variabilidade no raciocínio pragmático. Levshina cita Qing e Franke (2015) e Sikos
Já sobre a variabilidade, a conferencista, baseando-se em Franke e Degen (2016), afirma que alguns seres humanos não são bons em recursividade. Reforça seu argumento, apresentando um experimento de Valangendonck
Levshina aponta também como desafio o falante egocêntrico, apresentando, primeiramente, dois aspectos da redução fonética: ela independe do ouvinte (depende da frequência e da informatividade) e nem sempre é ajustada em relação ao ouvinte, dependendo da previsibilidade semântica e discursiva. Em segundo lugar, aponta a relação do falante egocêntrico com a variação gramatical, citando os resultados de Ferreira e Dell (2000), nos quais a conjunção integrante “que” é usada quando seguida de uma palavra menos acessível e não para evitar a ambiguidade.
Em seguida, relaciona a ordenação eficiente das palavras com o falante egocêntrico por meio de dois fatores: a) o princípio da localidade da informação, no qual palavras sintaticamente relacionadas tendem a se localizar próximas umas das outras e b) a iconicidade da contiguidade, em que formas que são semanticamente relacionadas tendem a ocorrer próximas umas das outras. Para a conferencista, então, parece que essa tendência à redução estaria relacionada somente ao falante.
Levshina apresenta também explicações alternativas para a lei de Zipf e para o fenômeno da marcação. Sobre o primeiro, apresenta o contraponto de Miller (1957), para quem resultados similares aos de Zipf poderiam ser encontrados com macacos. Para realizar o experimento bastaria a digitação aleatória de letras e o espaço em branco com uma probabilidade pré-determinada. Foi o que a pesquisadora fez, e comparou a frequência do tamanho dos caracteres na digitação aleatória com os
Para o fenômeno da marcação, Levshina apontou que Cristofaro (2019) verificou que construções no plural não era consequência da necessidade de desambiguizar, mas da própria sintaxe, como em construções distributivas, partitivas e expressões de multitude. No entanto, a conferencista ressalta que esse ponto de vista exclui línguas nas quais o plural não é marcado.
Devido a esses desafios a pesquisadora questiona se os fatores condicionantes da eficiência são definidos somente pela audiência, ou se seriam consequências de outras pressões cognitivas ou históricas. Uma solução possível, na visão de Levshina, seria o experimento com línguas artificiais. Ela detalha seu próprio estudo de 2019 com construções causativas. Os resultados desse estudo mostraram que os usuários da língua descreviam os eventos causativos mais frequentes com formas menores em maior frequência. Já os eventos raros, com formas maiores, mudando a língua aprendida, tornando-a mais eficiente.
Diante de todo o exposto, Levshina conclui: a) que é necessário distinguir o uso eficiente de uma língua e o uso de uma língua baseado em princípios de eficiência, e mostrar casos em que essas duas perspectivas se sobrepõem; b) que o experimento com aprendizagem de línguas artificiais pode contribuir para testar o potencial de formas causativas controlando-se previsibilidade e frequência; c) que a teoria da informação deve encontrar formas de incluir outros tipos de recursos modais; e d) que a racionalidade dos usuários da língua é superestimada.
De forma detalhada e com exemplos acessíveis ao grande público, Levshina consegue problematizar a questão da eficiência comunicativa, mostrando teorias consolidadas no campo, ao mesmo tempo em que as questiona. Aponta, também, áreas que podem ser exploradas, como a multimodalidade na teoria da informação e a teoria dos atos de fala racionais. Ademais, a conferencista apresentou, com evidências de estudos recentes, como experimentos com a aprendizagem de línguas artificiais podem contribuir para superar certos desafios, como controle de variáveis como racionalidade, previsibilidade e contexto.
O título original foi modificado para este no dia da conferência, conforme slides da autora.
Língua artificial usada nos filmes da franquia Star Trek.
Substantivo inanimado, marca de objeto (-o) está ausente: Sensei-ga shobosha(ø) ekimae-de mi-ta-yo. (O professor viu um carro de bombeiros perto da estação de trem.) (KURUMADA; JAEGER, 2015, p.156
Língua artificial falada pelo personagem Yoda nos filmes da franquia
A pesquisadora usa esse termo para se referir à digitação aleatória e ao argumento de Miller (1957), enfatizando que não usou macacos em seu experimento.