Esta resenha tem o objetivo de compartilhar questões centrais discutidas na mesa redonda promovida pela
This review aims at sharing the key questions discussed in the roundtable promoted by
A mesa
A primeira comunicação realizada por Marli Quadros Leite (USP), intitulada
Segundo Leite, a formação de um
Leite encerrou sua comunicação ressaltando que um dos resultados do enorme trabalho na organização de um
A segunda comunicação, de Neusa Barbosa Bastos (UPM/PUC-SP), intitulada
Um dos princípios de Koerner é a metalinguagem como instrumento utilizado pelo historiógrafo da língua e que leva em conta três aspectos: contextualização, imanência e adequação. A contextualização procura compreender um conhecimento sobre o campo de investigação e da história geral. A imanência corresponde a discussões sobre o objeto a ser investigado, podendo considerar objetos metalinguísticos e não metalinguísticos, por exemplo, ao investigar uma gramática, temos um objeto metalinguístico, porém é necessário levar em conta as leis educacionais do período, neste caso, o objeto não metalinguístico. Por fim, há a adequação, que busca possíveis diálogos entre aspectos de uma obra do passado com aspectos teórico-metodológicos do presente do pesquisador, se necessário.
Os principais pressupostos de Swiggers, apresentados por Bastos, são parâmetros e objetivos. Os parâmetros são: cobertura (período, campo geográfico, temática), perspectiva (interna ou externa) e profundidade (determinada pelo historiógrafo ou material). Além disso, Swiggers apresenta um triplo objetivo para o historiador do ensino de línguas: atitude reflexiva, formas descritivas e contextualização do ensino. Esses objetivos consistem em refletir a respeito do ensino de uma língua, descrever as formas utilizadas no ensino da língua e contextualizar a língua. A partir desses elementos, Swiggers constitui um quarto objetivo, a fim de apreender o modo com que os autores organizam seus argumentos na relação com os leitores.
Por fim, temos Sylvain Auroux, que está ligado também à questão da metalinguagem e considera os trabalhos sobre a história da linguística em três categorias: aqueles que constituem uma base documentária; aqueles homogêneos às práticas cognitivas que derivam; aqueles que voltam ao passado para legitimar uma prática contemporânea.
Ao analisarmos um material didático de escola básica, por exemplo, temos a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que norteia a produção desses materiais, mas em outras épocas estavam presentes outras leis e documentos oficiais. Sendo assim, é possível destacar que o entrelaçamento entre o material de ensino e o contexto histórico e educacional de cada época é essencial para as pesquisas dessa área, como defendido por Bastos. Posto isto, Koerner, Swiggers e Auroux são grandes influências, pois a partir dos seus princípios e critérios, somos capazes de nortear pesquisas de Ensino e HL.
A terceira comunicação contou com a fala de Ricardo Cavaliere (UFF), que trouxe à mesa o tema
O gramático, no conceito sapiriano, é um indivíduo que focaliza seu trabalho exclusivamente nas estruturas gramaticais do texto e, a partir da visão de um leigo, é visto como quem trata o texto com frieza, sem gosto pelo conteúdo. A partir de uma perspectiva pragmática, o leigo demonstra interesse pessoal por funções que lhe proporcionem retorno financeiro e, dentro dessa concepção, a função do gramático é mais fácil de ser entendida e aceita. O gramático, para o leigo, é o indivíduo que ensina a língua e tem bom desempenho no conhecimento e na aplicação dela. O leigo, geralmente, convive ou conviveu grande parte de sua formação educacional tendo como referência um gramático.
Por outro lado, a linguística não consegue demonstrar claramente, para o leigo, qual seria a função do linguista dentro de sua área e qual sua compensação financeira no exercício do seu trabalho. Assim, Cavaliere avançou na reflexão explicando que com um estereótipo estabelecido para o gramático, o leigo tem pleno entendimento do que um gramático faz, porém não faz ideia da função de um linguista.
O linguista fica cercado dentro de um ambiente acadêmico em que, apesar de ter consciência da relevância do seu trabalho, não possui visibilidade e importância reconhecida fora da comunidade acadêmica. O leigo não reconhece o linguista como um cientista e, por vezes, seus estudos são questionáveis, uma vez que se assume a dúvida por não confiar na perspectiva científica do trabalho do linguista, resultando, consequentemente, num distanciamento do interesse por parte do leigo nas ciências da linguagem.
Segundo Cavaliere, no Brasil, em particular, a rivalidade entre gramáticos e linguistas ocorreu em um contexto político, resultado do período do regime militar que teve início a partir da década de 1960. Nessa ocasião a universidade tornou-se símbolo de resistência ao regime e o linguista assumiu um papel de impulsionador do movimento de resistência, dentro do ambiente acadêmico; enquanto isso, o gramático, marcado por sua característica de domínio do texto, recebeu o estereótipo de protetor das normas do regime em vigor. O professor conclui que tal visão antagônica entre os papéis já não faz sentido atualmente e não é mais observada da mesma maneira.
A mesa
As oportunidades de discussões como esta mostram a importância de pensar a história do conhecimento linguístico de cada período, reforçando a importância do estudo historiográfico na pesquisa acadêmica e na formação de linguistas e professores de língua. Aspecto que, infelizmente, ainda não é compreendido dessa forma no campo das ciências da linguagem.