Este texto apresenta uma resenha crítica e colaborativa da conferência “Bases para uma pedagogia da variação linguística” proferida por Carlos Alberto Faraco (UFPR) e mediada por Raquel Meister Ko. Freitag (UFS) no evento Abralin ao Vivo –
This text presents a critical and collaborative review of the lecture Bases towards a pedagody of linguistic variation given by the linguist Carlos Alberto Faraco (UFPR) and mediated by Professor Raquel Meister Ko. Freitag (UFS) at the ABRALIN AO VIVO – LINGUISTS ONLINE, which was held by the Brazilian Linguistics Association, Abralin. Faraco argued for the bases towards a pedagogy of linguistic variation (FARACO, 2008; ZILLES; FARACO, 2015). The lecturer discussed basic sociolinguistic concepts as the notion of linguistic norms. He approached the principles and objectives of this pedagogic proposal, pointing out the difficulties of implementing it in the teaching of Portuguese language at elementary education. He also highlighted the advances in the pedagogic proposals based on a pedagogy of linguistic variation.
Estudos acerca da variação linguística não são incipientes no Brasil e uma proposta de ensino voltada à diversidade linguística não é novidade. A Sociolinguística brasileira tem um amplo conjunto de trabalhos descritivos que sistematizam e explicam a variação (cf. PAIVA; SCHERRE, 1999
A pedagogia da variação linguística defendida por Faraco se aproxima da Sociolinguística Educacional, proposta pela professora Stella Maris Bortoni-Ricardo (2004)
Não existem línguas fora das sociedades humanas. A diversidade linguística é reflexo da organização social. Faraco argumenta que entender a heterogeneidade da língua é entender a sociedade em que vivemos, sua história, sua cara socioeconômica e cultural, como destaca Dante Lucchesi (2015)
Nesse sentido, consoante a Faraco, cabe aos professores de língua portuguesa desenvolver uma pedagogia da variação linguística, integrada às demais dimensões do ensino de língua, com vistas a três grandes objetivos: i) conhecer e entender a variação linguística; ii) entender e respeitar a variação linguística; e iii) entender e transitar com segurança pelo universo da variação linguística.
Entretanto, Faraco reconhece que percorrer este caminho não é fácil e aponta os desafios imbricados na consecução desses objetivos. O conhecimento consistente da variação linguística é pouco disseminado entre professores de língua portuguesa e entre alunos dos cursos de Letras, já que eles muitas vezes saem sem entender suficientemente sobre variação linguística e sem sequer superar criticamente os estigmas sociais, contrariando o terceiro dos objetivos. Tendo em vista que o evento Abralin ao Vivo –
Na mesma direção, não é fácil enfrentar as representações do senso-comum acerca das normas linguísticas, baseadas numa prescrição de gramáticas tradicionais. Faraco traz ao debate a celeuma do livro didático
Faraco critica também o forte imaginário social que estigmatiza parte das variedades linguísticas e afirma que a nossa sociedade é extremamente polarizada. Por isso, é provável que a pedagogia da variação linguística seja recusada nas escolas, pois os dirigentes, professores, pais e até mesmo os alunos estão imersos no imaginário social que demoniza a variação, seja ela linguística ou social. Esse imaginário autoritário defende que a língua é homogênea e que todos devem falar igual, transformando a diferença linguística em marca de inferioridade. Assim, assumir uma pedagogia da variação linguística requer um compromisso político, um ativismo sociolinguístico pela construção de uma sociedade justa, democrática e pluralista.
Nenhuma variedade é linguisticamente superior à outra, mas, apesar de não haver hierarquização dessas variedades baseada em critérios linguísticos, há hierarquização construída histórica e socialmente. Perceber esse constructo histórico-social é uma revolução conceitual e valorativa que nos permite questionar e desconstruir essa hierarquização. E é no interior desse quadro que Faraco defende ser possível entender a existência da norma de referência pertinente a certas situações linguísticas e ser importante conhecer essa norma como parte do domínio das respectivas práticas e tradições em que ela é pertinente. Faraco argumenta que não existe conflito em adotar uma pedagogia da variação linguística e o ensino de uma norma. O professor propõe, dentro da própria pedagogia da variação linguística, o desenvolvimento de uma pedagogia da norma de referência – termo adotado em alternativa à expressão norma culta – a fim de escancarar que não há negação da norma de referência. Assim, os defensores da pedagogia da variação linguística devem garantir que os alunos, além de compreenderem e respeitarem a variedade linguística, tenham acesso à norma de referência, conhecendo e dominando suas funcionalidades e características, sobretudo no que tange à escrita monitorada.
Entretanto, o linguista argumenta que essa norma de referência deveria se relacionar com o que ele chama de português
Voltando aos desafios do ensino de língua portuguesa, Faraco diz que a escola deve garantir o domínio e o acesso ao português brasileiro
Em suas palavras finais, o linguista destaca os avanços no que tange às práticas pedagógicas baseadas na pedagogia da variação linguística, na figura das propostas da professora Silvia Rodrigues Vieira (UFRJ) (cf. VIEIRA, 2018)