Considerando as propriedades linguísticas que os
Logo, para o desenvolvimento deste estudo e atingir os objetivos traçados, o presente artigo apresenta fundamentação teórica, visando sustentar as abordagens feitas e dividido em (2.1) ‘Semântica Cognitiva e os PVs’, (2.1.1) ‘Um parecer geral da semântica cognitiva’, (2.1.1.1) ‘Esquemas Imagéticos’ e (2.1.2) ‘A metaforicidade dos PVs’. A partir disso, considera-se a ‘Metodologia e Análise’ e por conseguinte a ‘Discussão sobre a análise e considerações finais’ e ‘Referências bibliográficas’.
A preocupação inicial deste estudo era encontrar uma teoria que desse conta dos aspectos que envolvem os PVs, para então compreender como o fenômeno ocorre. Sendo assim, verificou-se na Linguística Cognitiva o suporte necessário por uma perspectiva não modular e ressaltar princípios cognitivos da linguagem, reunindo abordagens que compartilham hipóteses centrais, além de detalhar suas particularidades no que tange à linguagem humana.
Para tratar, mais especificamente, da semântica e metaforicidade dos PVs, faz-se necessário uma visão linguística enciclopédica
Num primeiro momento, ou ainda, na sua origem, as preposições eram utilizadas para demonstrar noções espaciais entre entes físicos. Porém, percebe-se que elas transcendem estas entidades, uma vez que a experiência física e espacial esteja corporificada.
Assim, nota-se a relação dos PVs, mais precisamente das suas partículas, com esquemas imagéticos, que são representações conceptuais abstratas derivadas da nossa interação diária e do mundo que nos cerca (EVANS E GREEN, 2006, p. 176). LINDNER (1981), LAKOFF (1987), RUDZKA-OSTYN (2003) E TYLER E EVANS (2003) concordam que o significado de um PV vai do concreto ao abstrato e que a metáfora serve como um
Neste capítulo a semântica será vista pela abordagem semântica cognitiva, uma ramificação da Linguística Cognitiva (LC), que assume a linguagem como uma faculdade mental e que as habilidades linguísticas são sustentadas por formas especiais de conhecimento (SAEED, 2003, p. 342). Considerando FERRARI (2011, p. 13), a expressão ‘linguística cognitiva’ circulava no meio linguístico desde 1960, porém foi por volta de 1980 que o termo passou a vigorar. Inicialmente, o termo ‘LC’ foi adotado por George Lakoff, Ronald Langacker, Leonard Talmy, Charles Fillmore e Gilles Fauconnier, um grupo de estudiosos que buscavam uma teoria que sustentasse as relações entre sintaxe e semântica, ao mesmo tempo que considerasse as relações entre forma e significado e se afastasse da perspectiva modular proposta pelo gerativismo.
Consequentemente, surge a semântica cognitiva em reação à visão objetivista de mundo, uma vez que linguistas cognitivos viam o significado linguístico como uma manifestação da estrutura conceptual que, de modo geral, são muito diferentes da visão tradicional. Os sistemas conceptuais são organizados por categorias
Alguns princípios caracterizam a abordagem semântica cognitiva, entre eles: (i) a estrutura conceptual é corporificada, ou seja, a natureza da organização conceptual emerge da experiência corpórea, (ii) a estrutura semântica é uma estrutura conceptual, uma vez que a estrutura semântica
O conhecimento em si é organizado em estruturas armazenadas na memória de longo prazo, nomeado por FILLMORE (1982) e LAKOFF (1987) modelos cognitivos idealizados, ou MCIs. É da organização que provém as estruturas das categorias, bem como os efeitos prototípicos. Cada MCI refere-se a uma estrutura complexa no qual envolve (i) estrutura proposicional (frames de Fillmore), (ii) estruturas de imagem esquemática (gramática cognitiva de Langacker), (iii) mapas metafóricos e (iv) mapas metonímicos (descritos por Lakoff e Johnson) (LAKOFF, 1987, p.68). Dessa forma, “o conhecimento é possível, pelo menos parcialmente, por causa das categorias da mente que se ajustam às categorias do mundo” (p. 297).
Sendo assim, passo a explorar um pouco sobre as estruturas de esquemas imagéticos (ou estruturas de imagem esquemática), bem como a metaforicidade dos PVs, já que estes parecem explicar os fenômenos que circundam os PVs.
Esquemas imagéticos são vistos como representações conceptuais relativamente abstratas que surgem diretamente de nossa interação diária e do mundo que nos cerca (EVANS E GREEN, 2006, p. 176). Por sua vez, não é abordado como uma estrutura inata do conhecimento, pois deriva da experiência sensorial perceptual (audição, tato, visão, movimento) e é pré-conceitual na sua origem, ou seja, são os primeiros conceitos a emergirem na mente humana, ancorado na experiência corpórea do homem no espaço físico. O que os faz ‘conceptuais’ e não puramente ‘perceptuais’ é pelo fato de prover conceitos conscientemente acessíveis. Considerando LAKOFF (1987, p. 454), um esquema pode ser visto como um protótipo generativo, que gera, aproxima e se enquadra a princípios gerais, definindo o grau dos membros constituintes. Esquemas de imagens consistem de padrões que se dão por instâncias repetidas da experiência corporificada. De modo geral, representam padrões esquemáticos que refletem domínios, como é o caso do CONTÊINER e TRAJETÓRIA, entre outros. Refletir domínios quer dizer sustentar projeções entre domínios conceptuais, característicos do uso metafórico e metonímico.
Pensando na aplicabilidade dos PVs, vale salientar a análise de BRUGMAN (1981, apud LAKOFF, 1987, p.454) a qual apresenta níveis de estruturas prototípicas para algumas preposições, desenvolvendo um estudo específico para a preposição
Desse modo, faz-se notável que este é o caminho, ou pelo menos um dos caminhos, para explicar o fenômeno ‘
Por meio da LC é possível identificar significados prototípicos e verificar como os significados adicionais são extensões metafóricas do sentido básico; pesquisas como as de LAKOFF E JOHNSON (1980) foram pioneiras ao considerar a metáfora no discurso do dia-a-dia. A aplicabilidade dessa abordagem em relação ao estudo das preposições vale também para TYLER E EVANS (2003).
Para compreender o que vem a ser a metaforicidade dos PVs faz- se necessário destacar alguns conceitos, como é o caso da ‘metáfora estrutural’, onde um conceito é estruturado metaforicamente em termos de um outro. Entretanto, há um outro tipo de conceito metafórico que organiza todo um sistema de conceitos no que diz respeito a outros, conhecido por ‘metáfora orientacional’. Este último fornece as orientações espaciais a um conceito e fundamenta-se na experiência física e cultural, podendo variar de uma cultura à outra (LAKOFF E JOHNSON, 1980, p. 14).
Sendo assim, toma-se como exemplo MORE IS UP / LESS IS DOWN: ‘
Além do que já foi reportado acima, a relação metáfora-coerência cultural merece ser salientada neste estudo. Tendo como exemplo UP-DOWN, consideremos alguns valores culturais da sociedade, embutidos na cultura de um povo, que são coerentes à metáfora (p. 22):
“Mais é melhor” é coerente com ‘MORE IS UP’ e ‘GOOD IS UP’, porém “menos é melhor” não é coerente;
“Maior é melhor” é coerente com ‘MORE IS UP’ e ‘GOOD IS UP’, porém “menor é melhor” não é coerente;
“O futuro será melhor” é coerente com ‘THE FUTURE IS UP’ e ‘GOOD IS UP’, porém “o futuro será pior” não é;
“Haverá mais no futuro” é coerente com ‘MORE IS UP’ e ‘THE FUTURE IS UP’;
“Teu status deveria ser mais alto no futuro” é coerente com ‘HIGH STATUS IS UP’ e ‘THE FUTURE IS UP’.
As metáforas, de acordo com LAKOFF E JOHNSON (1980, p. 46), estruturam em parte nossos conceitos diários e esta estrutura é refletida em nossa linguagem literal. Expressões da língua inglesa são literais ou idiomáticas, enquadrando-se às metáforas e parte da fala cotidiana das pessoas. Alguns exemplos:
- TEORIAS (e ARGUMENTOS) SÃO CONSTRUÇÕES:
“
- IDEIAS SÃO ALIMENTOS: “
Com relação à vida e à morte IDEIAS SÃO ORGANISMOS, tanto PESSOAS quanto PLANTAS.
- IDEIAS SÃO PESSOAS: “
- IDEIAS SÃO PLANTAS: “
A partir dos exemplos fornecidos, verifica-se que muitos PVs são usados metaforicamente, tanto por parte do verbo quanto por parte da partícula. RUDZKA-OSTYN (2003, p.3) afirma que saber o significado do verbo e o significado espacial da partícula torna a interpretação de um PV mais fácil, mas não o suficiente. Entretanto, mesmo os significados mais abstratos apresentam uma relação como significado espacial original.
No inglês, o significado literal de advérbios e preposições referem- se às noções espaciais. Apesar de poucas línguas conterem PVs, algumas metáforas ocorrem em quase todas as línguas como por exemplo a noção de ‘alto e baixo’, a qual apresenta uma metáfora conceptual
Com o propósito de averiguar as extensões metafóricas que envolvem os PVs, suas propriedades metafóricas e como as metáforas ocorrem e/ ou se caracterizam, busca-se analisar alguns PVs através de esquemas imagéticos. Neste sentido, este estudo apresenta algumas construções contendo as partículas de sentido espacial
Por conseguinte, busca-se averiguar as propriedades metafóricas dos PVs.
Logo, tendo em vista a importância dos estudos de LAKOFF E JOHNSON (1980) quanto a análise das partículas envolvidas, faz-se necessário examiná-las para só após discutirmos sobre o fenômeno.
Para os autores, orientações espaciais emergem do fato do corpo humano existir num meio físico. A partir disso, as metáforas orientacionais fornecem um conceito à orientação espacial. Neste sentido, faz-se alusão a como os conceitos metafóricos emergem da experiência física e cultural.
Abaixo são demonstradas as metáforas conceptuais sugeridas pelos autores na obra
FELIZ É UP; TRISTE É DOWN – ‘
Base física: Postura de desânimo acompanha tristeza e depressão, postura ereta acompanha estado emocional positivo.
CONSCIENTE É UP; INCONSCIENTE É DOWN – ‘
Base física: Humanos e a maioria dos outros mamíferos dormem deitados e ao acordarem levantam-se.
SAÚDE E VIDA SÃO UP; DOENÇA E MORTE SÃO DOWN – ‘
Base física: Doenças sérias nos forçam a deitar-se fisicamente. Quando você está morto, você está fisicamente pra baixo.
TER CONTROLE OU FORÇA É UP; ESTAR SUJEITO AO CONTROLE OR FORÇA É DOWN – ‘
Base física: O tamanho físico tipicamente correlaciona com força física e o vencedor num luta está geralmente no topo.
MAIS É UP; MENOS É DOWN – ‘
Base física: Adicionar mais de uma substância ou objetos físicos a um contêiner ou pilha, o nível se eleva.
EVENTOS FUTUROS PREVISÍVEIS SÃO UP - ‘
Base física: Normalmente olhamos na direção em que nos movemos (à frente, para o futuro). Quando um objeto aborda uma pessoa (ou vice- versa) o objeto parece ser maior. Desde que a superfície seja percebida como fixa, o topo do objeto parece mover-se acima do campo de visão da pessoa.
ALTO STATUS É UP; BAIXO STATUS É DOWN – ‘
Base física e social: Status é correlacionado com poder (social) e poder (físico) é UP.
GOOD IS UP; BAD IS DOWN – ‘
Base física para bem-estar pessoal: Felicidade, saúde, vida e controle – coisas que caracterizam o que é bom para uma pessoa – são todas UP.
VIRTUDE É UP; DEPRAVAÇÃO É DOWN – ‘
Base física e social: BOM É UP para uma pessoa, juntamente com a metáfora SOCIEDADE É UMA PESSOA – logo, ser virtuoso é agir de acordo com os padrões da sociedade/pessoas que mantém o bem estar. VIRTUDE É UP porque ações virtuosas correlacionam com o bem estar social do ponto de vista da sociedade/pessoas. Desde que metáforas com base social são culturais, é o ponto de vista da sociedade/ pessoas que são considerados.
A partir da análise de LAKOFF E JOHNSON (idem) averiguou- se que os conceitos acima envolvem uma metáfora, ou mais, numa configuração espacial, apresentando coerência orientacional no que tange outras metáforas. A coerência é proveniente dos valores culturais embutidos na sociedade. Além disso, verifica-se que as metáforas baseiam-se na experiência física e cultural que atribuem às suas extensões e facilitam a compreensão de conceitos; mesmo porque uma metáfora, considerada principal, pode prover outras e estender seu significado, diversificando ou não de uma cultura para outra.
Por conseguinte, verifica-se que há um real envolvimento de esquemas imagéticos em relação aos PVs evidenciando que a experiência é corporificada e promovendo a interpretação dos mesmos por meio de projeções metafóricas que partem de um domínio ESPACIAL (concreto) para um mais abstrato. Por exemplo: MAIS É
Nas palavras de LAKOFF (1980, p. 275), “esquemas imagéticos fornecem evidências importantes para conceitos abstratos que emergem de instâncias da experiência corpórea e projeções metafóricas de um domínio concreto para um abstrato”.
Todavia, a língua em si é metafórica e expressa alto nível de abstração, baseando no concreto e entidades físicas, ou seja, na experiência corporificada, o que possibilita interpretar os PVs a partir da semântica envolvida.
FERRARI, Lilian.
KOVÁCS, Éva.
KÖVECSES, Zoltán.
LAKOFF, George.
LINDNER, Susan.
RUDZKA-OSTYN, Brygida.
SAEED, John.
TYLER, Andrea; EVANS, Vyvyan.
VYVYAN, Evans; GREEN, Melanie.
Por esta perspectiva, a pragmática e a semântica não podem ser distinguidas, pois há um contexto que influencia na definição de uma palavra. A linguística enciclopédica abrange o conhecimento enciclopédico, que é o conhecimento de mundo, extralinguístico. Por este viés, o conhecimento é estruturado, o que fornece o acesso necessário ao inventário do conhecimento – para EVANS E GREEN (2006, p. 216) refere-se a um sistema estruturado de conhecimento, organizado como uma rede, onde nem todos os aspectos associados a uma única palavra tem o mesmo valor.
Para ROSCH (apud LAKOFF, 1987, p.7), as categorias, no geral, apresentam exemplos prototípicos e que todas as capacidades, especificamente humanas, desempenham um papel importante na categorização. “Categorias são categorias de coisas [...] Nós temos categorias para todas as coisas que podemos pensar. Mudar um conceito de categoria é mudar nossa compreensão de mundo” (LAKOFF, 1987, p. 9).
EVANS E GREEN (2006, p.164) definem estrutura semântica como o significado convencionalmente associado a outras palavras e outras unidades linguísticas.
“Each of us is a container, with a bounding surface and an in-out orientation. We project our own in-out orientation onto other physical objects that are bounded by sufaces” (Lakoff & Johnson, 1980, p. 29) - Esta citação permite compreender um pouco mais do que se trata a ‘experiência corporificada’.
A Teoria da Metáfora Conceptual, apresentada primeiramente por Lakoff e Johnson em
Alguns dos exemplos são propostos por Lakoff e Johnson (1980), outros são elaborados por mim.
Uma metáfora motivada refere-se a possibilidade de pareamento do domínio fonte para o alvo com base na experiência (LAKOFF, 1987, 178).