Revista da AbralinRevista da Abralin2178-7603Associação Brasileira de LinguísticaTipo de contribuiçãoANÁLISE SEMÂNTICA DO PREFIXO RE- EM VERBOS DO PORTUGUÊS BRASILEIROMeirellesLetícia LucindaCançadoMárciaBaronasRoberto LeiserWachowiczTereza CristinaPaganiLuiz ArthurUniversidade Federal de Minas Gerais Universidade Federal de São CarlosUniversidade Federal do Paraná131155180155-180http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
Através de um vasto levantamento de verbos do português brasileiro, fizemos uma análise detalhada do prefixo re- com ideia de repetição, a fim de delimitarmos o seu funcionamento. Mostramos que a ocorrência desse prefixo não é restrita por classes verbais específicas, como afirmam alguns autores, mas que ele ocorre preferencialmente com verbos que denotam o aspecto lexical de accomplishment e achievement, podendo também ocorrer com alguns verbos de atividade, desde que esses estejam ligados a VPs télicos e reversíveis. Ainda mostramos que, contrariamente ao que foi proposto por alguns autores, o escopo do prefixo re- não é sobre os subeventos de um verbo, uma vez que verbos monoeventivos também apresentam ambiguidade com a adição do prefixo.
Abstract
Through a vast survey of verbs in Brazilian Portuguese, we have completed a detailed analysis of the “re-” prefix conveying the idea of repetition, with the intent of delimiting how it works. We demonstrate that the occurrence of this prefix is not restricted to a specific group of verbal classes, as some authors have noted; however, it occurs preferably with verbs that describe the lexical aspect of accomplishment and achievement. But it can also occur with verbs of activity connected to telic and reversible VP’s. We also demonstrate that the scope of the “re-” prefix is not related to the subevents of a verb, as is proposed by some authors, as the monoeventive verbs also present ambiguity through the prefix.
Nas Gramáticas Tradicionais, a partícula re- é tratada como um prefixo de origem latina que carrega o sentido de repetição, sendo o conceito de prefixo definido como um elemento que toma um radical como base para formar novas palavras. Porém, ao analisarmos mais atentamente os verbos que se iniciam com esse prefixo, podemos perceber que nem sempre o re- vem aglutinado a um radical verbal, ou seja, nem sempre parece funcionar como um caso de prefixação, como ocorre em recuar, rechear e redigir. Além disso, apesar de grande parte dos verbos que começam com o prefixo re- apresentar a ideia de repetição, como em reabastecer, reabrir, reafirmar, existem outros que não apresentam tal sentido, como em reagir, reclamar, recorrer, etc.
Assim, o presente artigo pretende apresentar uma análise mais detalhada sobre o funcionamento da partícula re- como prefixo que se aglutina a verbos do português brasileiro, doravante PB, e suas contribuições semânticas, mas focaremos nossa atenção mais especificamente nos verbos em que o re- apresenta a ideia de repetição. É importante ressaltar que aquilo que estamos chamando de “ideia de repetição” diz respeito a verbos em que o re- possui o mesmo significado que a locução adverbial de novo, não estando incluído nesse grupo palavras como, por exemplo, recortar e remexer, uma vez que essas dão ideia de iteratividade, movimento contínuo.
Na seção 1, fazemos uma breve descrição sobre os grupos de verbos que apresentam o prefixo; na 2, mostramos que o re- não é sensível a uma análise por classes verbais semânticas, ao contrário do que propõem Marantz (2007), Oliveira (2009) e Medeiros (2012); na 3, apresentamos a proposta de Dowty (1979) sobre o funcionamento do prefixo em inglês e analisamos a proposta de Dowty (1979) nos dados do PB; na seção 4, mostramos o papel que a telicidade exerce sobre o prefixo re-, baseadas nas propostas de Smith (1997) e mostramos como a propriedade da reversibilidade (Lieber, 2004) pode ser útil para a explicação do funcionamento do re-; e na seção 5, concluímos o artigo.
1 Grupos verbais com o prefixo re- no PB
Usando o Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil (Borba, 1990), fizemos um amplo e meticuloso levantamento de todos os verbos que se iniciam com o prefixo re-, no PB. Construímos sentenças com esses verbos, que passaram por julgamentos de aceitabilidade feitos através dos exemplos de Borba (1990), da nossa intuição de falantes e de buscas no site Google. Também foram aplicados testes semânticos e sintáticos, como os testes aspectuais retirados de Dowty (1979) e a participação em alternâncias verbais, para podermos fazer uma ampla radiografia do funcionamento do prefixo estudado. Ao todo foram selecionados 321 verbos que foram divididos em quatro grupos distintos, segundo o tipo de ocorrência do re-.
Primeiramente, temos um grupo composto por verbos em que não há a ideia de repetição e em que o re- não se une a um verbo primitivo. Fazem parte dessa classe 127 verbos, tais como rebelar, receber, recepcionar, redimir, regar, etc. Vejamos que não há, pelo menos sincronicamente, um radical verbal primitivo e que esses verbos não podem ser interpretados como realizar uma ação novamente, ou seja, receber, por exemplo, não é *ceber de novo.
O segundo grupo é composto por verbos em que não há a ideia de repetição, entretanto há um verbo primitivo ao qual o re- se une. Fazem parte desse grupo 61 verbos, como reagir, rebater, recompensar, recorrer, reclamar etc. Notemos que, apesar de os verbos agir, bater, compensar, correr e clamar existirem sem a presença do prefixo, quando unidos a esse, nenhum deles denota a ideia de repetição.
O terceiro grupo é composto de verbos em que há a ideia de repetição, entretanto não usamos os verbos primitivos nas mesmas construções. Foram encontrados 14 verbos desse tipo, como recapitular, retocar, retornar, entre outros. Observemos que apesar de podermos falar algo como eu recapitulei toda minha vida, dificilmente realizaremos a mesma sentença com o verbo capitular: ? eu capitulei toda minha vida. O mesmo ocorre com os outros verbos: Ana retocou a maquiagem / ? Ana tocou a maquiagem, a revista retornou às bancas/ ? a revista tornou às bancas.
As três classes acima foram ilustradas brevemente com o intuito de realizarmos uma descrição do funcionamento do prefixo no PB. Entretanto, será o quarto grupo, o nosso objeto de estudo. Esse grupo é composto por verbos em que o re- se une a um radical verbal primitivo, equivalendo semanticamente à expressão adverbial de novo. Vejamos alguns exemplos:
(1) O João reabasteceu o carro.
(2) O mecânico realinhou o pneu do carro.
(3) O técnico reconfigurou o computador.
(4) O presidente redemocratizou o país.
Em (1), temos o verbo abastecer acrescido do prefixo re-, que forma um verbo composto interpretado como abastecer de novo; em (2), o verbo alinhar, acrescido do prefixo re-, com o sentido de alinhar o pneu do carro de novo; em (3), o verbo configurar, acrescido do prefixo re-, significando configurar o computador de novo; e em (4), o verbo democratizar, acrescido do prefixo re-, com o sentido de democratizar o país de novo. Fazem parte desse grupo 119 verbos3.
2 O prefixo re- e as classes verbais
Começaremos nossa análise, utilizando algumas propostas sobre o re-, já apontadas na literatura. Alguns autores afirmam que a ocorrência do prefixo re- está restrita a determinadas classes semânticas de verbos. Por exemplo, Oliveira (2009), baseada em Marantz (2007), afirma que, no caso dos verbos transitivos, “o re- descreve a recorrência da mudança de estado sofrida pelo sintagma determinante que complementa o verbo”. Assim, para que o prefixo re- possa ocorrer, o verbo ao qual ele será unido tem que selecionar sintaticamente um DP e semanticamente um evento de mudança de estado. Também Medeiros (2012), em sua análise sobre o re- no PB, propõe que tal prefixo ocorre em “predicados que incluam um estado decorrente de um evento”, gerando a repetição do mesmo. Portanto, a proposta dos autores é que a inserção do prefixo re- é sensível às classes semânticas dos verbos, mais especificamente, é sensível a verbos que denotem uma mudança de estado. Entretanto, o que exatamente seja uma mudança de estado não fica muito claro. Por exemplo, Medeiros (2012) argumenta, já identificando o problema dessa classificação, que reler e reempurrar poderiam ser tipos de mudança de estado. No caso de uma sentença como Ana reempurrou o carrinho do bebê, podemos imaginar que há um estado pressuposto, o local prévio onde o carrinho estava e para o qual foi “reempurrado”. Já no caso de reler, é possível que haja algum tipo de conceptualização na qual, após uma leitura, o objeto lido passe a ser, também, uma entidade da vida mental do leitor, uma representação ou interpretação nova do livro.
Assumir uma definição de mudança de estado de tamanha abrangência parece-nos enfraquecer a generalização proposta, pois será possível colocar muitos verbos dentro desses limites que não aceitarão o prefixo re-. Por exemplo, peguemos aleatoriamente três verbos como amadurecer, apodrecer, cegar. Seguindo essa linha de análise, poderíamos propor que a fruta madura, a fruta podre ou a pessoa cega mudaram de estados; contudo, parecem-nos bastante duvidosos (e não constam de dicionários) os verbos *reamadurecer, *reapodrecer e *recegar. Portanto, para verificar se realmente uma afirmação como essa se sustenta, um primeiro passo é propor uma definição exata do que seja uma mudança de estado.
Para tentar clarear essa noção, vamos usar uma análise semântica mais fina, baseada na linguagem de decomposição em predicados primitivos, proposta por Cançado, Godoy e Amaral (2013). As autoras propõem em seu trabalho que existem verbos que denotam mudança, mas que essas podem ser de quatro tipos, e não somente mudança de estado. E que especificar essas mudanças é relevante para uma série de propriedades da sintaxe. Para tal afirmação, elas se valem de uma ampla classificação de 862 verbos do PB, divididos em quatro classes, de acordo com suas especificidades semânticas e seus comportamentos sintáticos, que denotam algum tipo de mudança, incluindo aí os que denotam uma mudança de estado.
A primeira classe é a que elas denominam “classe de verbos de mudança de estado”. Os verbos pertencentes a essa classe acarretam o sentido de become ADJ (definição também dada por Parsons, 1990) e aceitam a alternância causativo-incoativa com ou sem o clítico se, como pode ser visto em (5):
(5) a. A soprano quebrou a jarra de cristal
b. A jarra de cristal ficou quebrada. (become ADJ)
c. A jarra de cristal (se) quebrou. (alternância causativo-incoativa)
Analisemos os exemplos dados por Medeiros (2012) e por Oliveira (2009) no âmbito dessa definição. Se os verbos que dão origem aos verbos com prefixo re- denotam uma mudança de estado, eles teriam que se comportar da mesma maneira que os verbos em (5):
(6) a. O menino leu o livro.
b. *O livro ficou lido. (become ADJ)
c. *O livro (se) leu.
(7) a. O garçom reconduziu a dama até a mesa.
b. *A dama ficou conduzida.
c. *A dama (se) conduziu até a mesa. (agramatical na leitura incoativa)
Através das sentenças em (6) e (7), vemos que os exemplos dados pelos autores não se sustentam em uma análise mais rigorosa. E, além do mais, fica fácil mostrar que mesmo alguns verbos típicos de mudança de estado não aceitam a hipótese da mudança de estado como restrição à ocorrência do re- :
(8) *A soprano requebrou a taça de cristal.
Se ignorarmos esse contra exemplo e afrouxarmos a hipótese para que verbos que denotam uma mudança qualquer (de lugar, de posse, etc) aceitem tal prefixação, ainda assim podemos mostrar que, na realidade, a prefixação com re- não é sensível às classes verbais.
Cançado, Godoy e Amaral (2013) propõem como outras três classes de mudança, a dos verbos de mudança de estado locativo, a dos verbos de mudança de lugar (location) e a dos verbos de mudança de posse (locatum). Os verbos de mudança de estado locativo acarretam ficar em um estado em um determinado lugar, são estritamente agentivos e não realizam a alternância incoativa:
(9) a. A Maria abrigou o idoso no asilo.
b. O idoso ficou abrigado no asilo.
c. *O idoso (se) abrigou no asilo. (agramatical na leitura incoativa)
(10) a. Os guerreiros asilaram a Helena no território troiano.
b. A Helena ficou asilada no território troiano.
c. *A Helena (se) asilou no território troiano. (agramatical na leitura incoativa)
Já os verbos de mudança de lugar acarretam que a entidade denotada pelo argumento interno do verbo passa a ficar em um determinado lugar, aceitando apenas um agente como argumento externo e não realizando a alternância incoativa:
(11) a. O soldado crucificou o ladrão.
b. O ladrão ficou na cruz.
c. *O ladrão (se) crucificou. (agramatical na leitura incoativa)
(12) a. O médico hospitalizou a paciente.
b. A paciente ficou no hospital.
c. *A paciente (se) hospitalizou. (agramatical na leitura incoativa)
Por fim, os verbos de mudança de posse acarretam que a entidade denotada pelo argumento interno verbal passar a ser provida de alguma coisa, aceitando também apenas um agente como argumento externo e não realizando a alternância incoativa:
(13) a. O guarda algemou o prisioneiro.
b. O prisioneiro ficou com algema.
c. *O prisioneiro (se) algemou. (agramatical na leitura incoativa)
(14) a. O menino açucarou o café.
b. O café ficou com açúcar.
c. *O café (se) açucarou.
Retomando os exemplos das classes acima, mostramos abaixo que a ocorrência do prefixo re- não está restrita ao tipo de classe semântica do verbo ao qual ele se une, de modo que nas três classes, pode ou não existir exemplos com re-:
(15) a. A Maria reabrigou o idoso no asilo.
b. ?Os guerreiros reasilaram a Helena no território troiano.
(16) a. *O soldado recrucificou o ladrão.
b. O médico ?reospitalizou a paciente.
(17) a. O guarda ?realgemou o prisioneiro.
b. *O menino reaçucarou o café.
Portanto, concluímos que denotar uma mudança de estado ou uma mudança qualquer não é uma restrição ao verbo aceitar a prefixação com re-. Com isso, vamos buscar uma resposta em outro nível de análise.
3 A análise de Dowty (1979) para re- no inglês
Para Dowty (1979), o significado do prefixo re-, em inglês, parece ser o mesmo do advérbio again (de novo), que é analisado por McCawley (1971; 1973) e Morgan (1969) como sendo um advérbio ambíguo. Dowty (1979) propõe que tal ambiguidade pode ser descrita em termos de duas leituras: uma externa e outra interna. De acordo com o autor, em verbos que denotam o aspecto lexical de accomplishment4, como é o caso de fechar, apenas a leitura interna é acarretada, enquanto a outra constitui uma implicatura. Em uma sentença como O João fechou a porta de novo, a leitura externa corresponde ao fato de o próprio João ter feito a ação de fechar a porta mais de uma vez; já a leitura interna acarreta apenas que a porta já estava fechada em uma situação anterior, sem a necessidade de ter sido o João quem a fechou.
Entretanto, Dowty (1979) nos mostra que a ambiguidade para sentenças modificadas pelo advérbio de novo é puramente estrutural, uma vez que se colocarmos o advérbio no início da sentença, não há mais dupla interpretação:
(18) De novo, o João fechou a porta.
Ao proferirmos a sentença em (18), só podemos interpretar que o João já havia fechado a porta anteriormente e teve que fechá-la de novo, ou seja, a leitura externa é a única presente.
Diferentemente, sentenças com o prefixo re- não podem ser tratadas como casos de ambiguidade estrutural, uma vez que a posição do mesmo é fixa. Assim, de acordo com Dowty (1979), o prefixo re- ocorre preferencialmente com verbos de accomplishment e achievement5, acarretando que o resultado ou estado final destes é verdade pela segunda vez, mas não significando necessariamente que toda a ação expressa pelo radical verbal primitivo ao qual o re- se une tenha ocorrido mais de uma vez. Vejamos o seguinte exemplo:
(19) O presidente Eurácio redemocratizou o país.
A sentença em (19) acarreta apenas que o país já havia sido democrático em um momento anterior e esse acarretamento é aquilo que Dowty (1979) chama de leitura interna. A leitura externa de que o próprio presidente Eurácio democratizou o país mais de uma vez é uma implicatura, ou seja, não é acarretada pela sentença. Isso é fácil de perceber quando dizemos uma sentença do tipo:
(20) O presidente Eurácio redemocratizou o país, que já havia sido democratizado por Lucas há 10 anos atrás.
Portanto, temos que, para o inglês, o re- ocorre com verbos de accomplishment e achievement, apresentando como acarretamento aquilo que Dowty (1979) chama de leitura interna e como implicatura, a leitura externa. Vejamos agora se o mesmo funciona para o português brasileiro.
3.1 A análise de Dowty (1979) e os dados do PB
Apesar de Oliveira (2009) e Medeiros (2012) também se valerem da análise de Dowty (1979), os autores associam as restrições propostas por esse último à propriedade de mudança de estado. No entanto, como já comprovamos, essa restrição não se sustenta. Ainda, Oliveira (2009) e Medeiros (2012) ilustram suas propostas com poucos exemplos, o que leva a uma limitada descrição da língua. O que faremos é uma análise mais ampla das propriedades semânticas de aspecto lexical para os nossos dados, fazendo com isso, também, uma descrição mais minuciosa do fenômeno, e constatando se realmente elas são restritivas às ocorrências com prefixo re- no PB. Aplicamos aos nossos dados, os testes de aspecto lexical propostos por Dowty (1979). Como resultado tivemos que, dos 119 verbos analisados, 104 denotam o aspecto lexical de accomplishment e 15 denotam o de achievement. Vejamos alguns exemplos desses testes. Verbos de accomplishment, quando postos no progressivo, acarretam que a ação expressa pelo verbo ainda não ocorreu, enquanto verbos de achievement nos dão ideia de iminência6:
(21) a. Carlos reformulou o trabalho.
b. Se Carlos estava formulando o trabalho, então Carlos não reformulou o trabalho.
(22) a. O guarda capturou o prisioneiro fugitivo.
b. O guarda estava capturando o prisioneiro fugitivo. (expressa iminência)
Verbos de accomplishment e achievement aceitam o advérbio temporal em x tempo:
(23) Carlos formulou o trabalho em duas horas.
(24) O guarda capturou o prisioneiro fugitivo em poucos instantes.
Verbos de accomplishment, quando combinados com o advérbio quase, formam uma sentença ambígua, indicando que o verbo possui mais de evento. O mesmo não ocorre para verbos de achievement:
(25) Se Carlos quase formulou o trabalho ou ele nem começou a formular, ou começou e parou a ação no meio.
(26) Se o guarda quase capturou o prisioneiro fugitivo, então ele não o capturou.
No entanto, é importante mencionar que, apesar de o re- ocorrer apenas com verbos de accomplishment e achievement, nem todos os verbos que denotam accomplishment e achievement podem ocorrer com o prefixo, como podemos ver nas sentenças a seguir:
(27) *Ana requebrou o vaso.
(28) *João rechegou na festa.
Em relação às leituras interna e externa, Oliveira (2009) e Medeiros (2012) concordam com Dowty (1979), afirmando que, em PB, o prefixo re- acarreta apenas a leitura interna nos verbos de accomplishment, ou seja, tem escopo apenas sobre o segundo subevento dos mesmos:
(29) Carlos reformulou o trabalho.
A sentença em (29) só acarreta que o trabalho já havia sido formulado anteriormente. A leitura de que o próprio Carlos o formulou mais de uma vez é uma implicatura.
No entanto, não estamos certas de o prefixo re- ter escopo somente sobre os subeventos de um verbo, como afirmam Dowty (1979), para o inglês, e Oliveira (2009) e Medeiros (2012) para o português. Verbos de achievement são monoeventivos, portanto não se esperaria que apresentassem ambiguidade com o prefixo, já que essa é gerada pelo fato de o re- poder ter escopo sobre o primeiro ou o segundo subevento dos verbos de accomplishment. Vejamos o exemplo:
(30) O guarda Leopoldo recapturou o assaltante.
O verbo capturar é um verbo de achievement que tem sua monoeventividade confirmada através de sua combinação com o advérbio quase (26). No entanto, quando combinado com o prefixo re-, esse verbo apresenta uma ambiguidade que pode ser descrita da seguinte forma:
(31)
a. O guarda Leopoldo recapturou o assaltante que já havia sido capturado pelo soldado Lucas em um momento anterior.
b. O próprio guarda Leopoldo capturou o assaltante mais de uma vez.
O mesmo tipo de ambiguidade ocorre para outros verbos de achievementque são transitivos, como é o caso de recomeçar:
(32) a. Pedro recomeçou o trabalho.
b. Pedro recomeçou o trabalho que Ana já havia começado antes.
c. O próprio Pedro começou o trabalho mais de uma vez.
Já o mesmo não ocorre para verbos de achievement intransitivos, como podemos observar em (33):
(33) O relógio reapareceu.
Notemos que esta sentença não é ambígua e isso ocorre devido ao fato de reaparecer ser um verbo intransitivo.
Com isso, nos parece que, na verdade, o prefixo re- tem escopo sobre outro tipo de estrutura, e não sobre subeventos. Verbos transitivos, quando combinados com o prefixo re-, apresentam duas leituras. Podemos dizer que apenas a leitura interna é um acarretamento, enquanto a leitura externa é uma implicatura.
Nossa análise encontra respaldo quando vemos que o mesmo ocorre com o advérbio de novo. Esse, por sua vez, é tido na literatura como ambíguo (McCawley, 1971, 1973; Morgan, 1969; Dowty, 1979), sendo utilizado como forma de atestar a presença de mais de um evento em determinados verbos (von Stechow, 1995, 1996). Porém, tendo o mesmo significado que o prefixo re-, o advérbio de novo não mede o número de eventos de um verbo, pois assim como o prefixo, tem escopo sobre outras estruturas, e não sobre seus subeventos. Isso explica porque certos verbos de atividade que são monoeventivos, como é o caso de martelar, por exemplo, formam sentenças ambíguas quando combinados com o advérbio de novo:
(34) O médico martelou o joelho do paciente de novo.
A sentença em (34) apresenta duas leituras: uma de que o próprio médico martelou o joelho do paciente mais de uma vez, ou de que o médico martelou o joelho do paciente que já havia sido martelado por outra pessoa, como podemos ver na sentença a seguir:
(35) O médico martelou o joelho do paciente que já havia sido martelado por uma enfermeira a poucos minutos atrás.
Feitas essas considerações, concluímos até aqui que o prefixo re-, em PB, ocorre com verbos de accomplishment e achievement, concordando assim com as análises de Dowty (1979) para o inglês e Oliveira (2009) e Medeiros (2012) para o PB. Porém, ao contrário do que apontam esses autores, o escopo do prefixo não é sobre os subeventos de verbos de accomplishment, mas sobre algum outro tipo de estrutura de verbos que denotam accomplishment e achievement. Entretanto, só com essas restrições, ainda não podemos fazer uma generalização que abarque todos os exemplos com re-, como mostramos em (27) e (28) e outros exemplos ao longo do artigo.
4 A telicidade e os dados do PB
Até este ponto da nossa análise, vimos que o prefixo re- não é sensível às classes verbais, e mais especificamente aos verbos de mudança de estado, mas sim ao aspecto lexical, de modo que este ocorre apenas com verbos que denotem accomplishment e achievement. No entanto, Smith (1997) aponta para o fato de o prefixo re- poder ocorrer com verbos de atividade, desde que eles denotem um evento télico7. A autora dá o seguinte exemplo:
(36)
a. *They redanced.
eles redançaram
b. They redanced the second number.
eles redançaram o segundo número
Constatamos também, para o PB, que certos verbos de atividade, quando inseridos em sentenças que denotam telicidade, podem ocorrer com o prefixo re-, como em reescrever, reler e repensar. Vejamos o exemplo a seguir:
(37)
a. Henrique escreveu a carta.
b. Henrique reescreveu a carta.
c. Henrique escreveu o dia todo.
d. *Henrique reescreveu o dia todo.
Em (37), podemos observar que o verbo escrever só aceita o prefixo re-, quando se encontra em situações télicas. O mesmo ocorre para reler e repensar em sentenças do tipo:
(38) a. Gisela releu o livro.
b. *Gisela releu a noite toda.
(39) a. Beto repensou o assunto.
b. *Beto repensou a noite toda.
Baseadas nesses exemplos, e assumindo que verbos que denotam accomplishments e achievements são télicos, poderíamos propor, mais genericamente, que a telicidade seria a maior restrição para a prefixação com re-.
Entretanto, constatamos ainda, para alguns exemplos do PB, que a telicidade sozinha não explica o funcionamento do re-, uma vez que temos outros verbos de atividade que não aceitam o prefixo, mesmo quando se encontram em sentenças que denotam eventos télicos:
(40) a. Xuxa nadou 3 Km.
b. *Xuxa renadou 3 km.
(41) a. Rômulo correu 18 km.
b. *Rômulo recorreu 18 km.
A nossa explicação para tal fato é que, como Amaral (2013) propõe, nadar 3 km e correr 18 km não constituem propriamente um VP. As expressões 3 km e 18 km, segundo a autora, não são objetos de nadar e correr, mas sim adjuntos dos mesmos, ou seja, esses verbos não aceitam uma leitura de accomplishment, como acontece com escrever, ler e pensar. Notemos ainda, que nadar e correr não apresentam ambiguidade quando combinados com o advérbio quase:
(42) Xuxa quase nadou 3 km.
(43) Rômulo quase correu 18 km.
Nas sentenças acima só temos a leitura de que a ação não foi terminada, ou seja, de que Xuxa parou de nadar antes de completar 3 km e de que Rômulo parou de correr antes de completar 18 km.
Como as expressões 3 km e 18 km são adjuntos e não argumentos, os exemplos em (40) e (41) não constituem VPs télicos e, por isso, não aceitam o prefixo re-. Assim, a melhor explicação para a ocorrência do re-, com ideia de repetição é assumir que o prefixo ocorre apenas em verbos que possuem o aspecto lexical de accomplishment ou achievement, ou em VPs télicos que possam ter uma leitura de accomplishment.
No entanto, ainda há verbos de achievement que não aceitam o prefixo re-, como *rechegar e *reexplodir.
4.1 A propriedade semântica da reversibilidade
Lieber(2004) mostraque há verbosde achievement e, consequentemente, télicos que não aceitam o prefixo re-, como: *reexplodir e *rechegar . Para essa autora, isso ocorre pois o re- adere a verbos que tenham um resultado reversível, o que justifica porque não podemos *reexplodir uma mesma bomba ou *rechegar em uma festa, por exemplo.
Essa restrição é capaz de explicar algumas agramaticalidades. Retomemos os verbos amadurecer, apodrecer e cegar. Todos os três são verbos de mudança de estado que podem denotar achievement ou accomplishment e, portanto, são télicos.
(43) a. O calor amadureceu a fruta. (accomplishment)
b. A fruta amadureceu. (achievement)
c. *O calor reamadureceu a fruta.
d. *A fruta reamadureceu.
(44) a. O calor apodreceu a fruta. (accomplishment)
b. A fruta apodreceu. (achievement)
c. *O calor reapodreceu a fruta.
d. *A fruta reapodreceu.
(45) a. A doença cegou o João. (accomplishment)
b. O João (se) cegou com a doença. (achievement)
c. * A doença recegou o João.
d. * O João (se) recegou com a doença.
No entanto, como vimos nenhum deles aceita o prefixo re- (*reamadurecer, *reapodrecer, * recegar). Com a proposta de Lieber (2004), podemos explicar isso, baseadas no fato de que nenhum desses verbos possui um resultado reversível, ou seja, não tem como fazer com que uma fruta, já madura ou podre, reverta seu processo para que possa amadurecer ou apodrecer de novo. Da mesma forma, não tem como fazer com que uma pessoa que esteja permanentemente cega volte a enxergar para que possa ficar cega novamente.
Contudo, o problema é que ainda há uma série de verbos que têm o aspecto lexical de accomplishment ou achievement, e que possuem resultado reversível, mas que, ainda assim, não foram encontradas ocorrências dos mesmos com o re-:
(46) ?João reapagou a luz do quarto.
(47) ?O gás tóxico reasfixiou o fugitivo.
(48) ?O diretor da faculdade reburocratizou a Pós-Graduação.
(49) ?O vírus recorrompeu o arquivo.
Notemos que todos os verbos de (46) a (49), apesar de serem interpretáveis, não são encontrados ou usados no PB. Também colocaríamos nessa lista os verbos conhecidos como psicológicos, embora Medeiros (2012) assuma que tais verbos aceitam a prefixação com re-. Não nos parece usuais ocorrências como ?repreocupar, ?reaborrecer, ?reirritar etc, apesar de serem verbos que denotam accomplishment e de terem uma natureza reversível.
Com isso, concluímos que, embora haja algumas restrições para o uso do prefixo re-, como as de ser um verbo que tenha o aspecto lexical ou se encontre em um VP que apresente uma leitura de accomplishment ou achievemente, apresentando um resultado reversível, o funcionamento de tal prefixo não pode ser totalmente explicado pelas mesmas. Isso nos mostra que há ainda uma série de idiossincrasias e outras questões, que não são de ordem semântica, envolvidas nesse fenômeno de prefixação.
Considerações finais
O trabalho aqui desenvolvido teve como objetivo fazer uma análise detalhada acerca do funcionamento do prefixo re- com ideia de repetição a fim de se tentar descobrir a que grupo de verbos esse pode se aderir para formar palavras derivadas. Ao todo, foram 119 verbos analisados.
Mostramos, primeiramente, através da proposta de Cançado, Godoy e Amaral (2013) para as classes verbais do PB, que o prefixo re- não é sensível à classificação semântica dos verbos que denotam mudança de estado, contrariamente as análises de Oliveira (2009) e Medeiros (2012). Entretanto, concordamos com os autores no que diz respeito ao fato de, em PB, o re- ter preferência por verbos de accomplishment e achievement.
Porém, diferentemente de Dowty (1979), Oliveira (2009) e Medeiros (2012), mostramos que o prefixo re- não tem escopo sobre os subeventos dos verbos de accomplishment, mas sim sobre algum outro tipo de estrutura, uma vez que verbos de achievement transitivos também apresentam ambiguidade quando combinados com o re-.
Ainda chamamos atenção para o fato de que uma análise que tente explicar as ocorrências do prefixo re- através da telicidade (Smith, 1997) não se sustenta, pois há verbos que, mesmo quando inseridos em sentenças télicas, não aceitam o re, como *renadar, *recorrer e *redançar.
Também mostramos que a proposta de Lieber (2004) a cerca da propriedade da reversibilidade pode ser útil na tentativa de se explicar porque certos verbos de accomplishment e achievement não aceitam o prefixo, como *reamadurecer, *rechegar, *reapodrecer, *recegar e *reexplodir.
Por fim, concluímos que, apesar de haver algumas restrições para o uso do de prefixo re-, como as de ser um verbo que tenha o aspecto lexical ou se encontre em um VP que apresente uma leitura de accomplishment ou achievement, apresentando um resultado reversível, o funcionamento tal prefixo não pode ser totalmente explicado pelas mesmas, de modo que outras questões, não semânticas, parecem estar envolvidas nesse processo de prefixação.
Referências
AMARAL, L. Os predicados primitivos ACT e DO na representação lexical dos verbos. 2013. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Faculdade de Letras, UFMG, Belo Horizonte, 2013.
BORBA, Francisco da Silva. Dicionário Gramatical de verbos do português contemporâneo do Brasil. Editora Unesp, São Paulo, 1990.
CANÇADO, M.; GODOY, L.; AMARAL, L. Catálogo de verbos do português brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados. Parte I - Verbos de mudança, Editora UFMG, Belo Horizonte, 2013.
DOWTY, David. Word Meaning and Montague Grammar: The Semantics of Verbs and Times in Generative Semantics and in Montague’s PTQ. Dordrecht: Reidel, 1979.
LIEBER, R. Morphology and lexical semantics. Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2004, p.135-153.
MARANTZ, A. Restitutive re- and the first phase syntax/semantics of the VP. MIT. Handout, 2007.
MCCAWLEY, James. Tense and Time Reference in English. In FILLMORE, C. J. and LANGENDOEN, D. T. (eds.), Studies in
Linguistic Semantics. New York: Holt, Rinehart and Winston, 1971.
_______Grammar and Meaning: Papers on Syntactic and Semantic Topics. Tokyo: Taishukan, 1973.
MEDEIROS, A. B. de. Considerações sobre o prefix re-. Alfa, São Paulo, 2012, v. 56, n2, p.583-610.
MORGAN, Jerry L. On the treatment of presupposition in transformational grammar. Chicago Linguist Society, 1969, v.5, p. 167–77.
OLIVEIRA, Solange Mendes. Aspectos da derivação prefixal e sufixal no português do Brasil. 2009. Tese de doutorado. UFSC, Florianópolis, 2009.
PARSONS, T. Events in the semantics of English. Cambridge (MA): MIT Press, 1990.
ROTHSTEIN, Susan. Structuring events: a study in the semantics of
SMITH, C. The Parameter of Aspect. Kluwer Academic Press, 1997. VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. Ithaca, NY: Cornell University Press, 1967.
VON STECHOW, A. On the Proper Treatment of Tense. In SALT V, eds. Teresa Galloway and Mandy Simons, 25: Cornell University, 1995.
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Apêndice
Verbos em que o prefixo re- equivale ao advérbio de novo:
Apêndice
1. Reabastecer
O João reabasteceu o carro.
2. Reabrir
Bruno reabriu a loja.
3. Reacender
Marcelo reacendeu a churrasqueira.
4. Reacomodar
Maria reacomodou o móvel na sala.
5. Reacostumar
Pedro reacostumou o filho a levantar cedo.
6. Readaptar
O mecânico readaptou a peça ao motor.
7. Readmitir
A empresa readmitiu o funcionário.
8. Readormecer
A avó readormeceu o bebê.
9. Readquirir
Ana readquiriu o apartamento.
10. Readmitir
A empresa readmitiu o funcionário.
11. Readquirir
Ana readquiriu o apartamento.
12. Reafirmar
João reafirmou a verdade.
13. Reagrupar
A professora reagrupou a turma.
14. Reajustar
Blenda reajustou o relógio.
15. Realimentar
A mãe realimentou o bebê.
16. Realinhar
O mecânico realinhou o pneu do carro
17. Realocar
O reitor realocou a verba do orçamento.
18. Reanimar
A chegada de Oscar reanimou a festa.
19. Reaparecer
O fantasma reapareceu para a garota.
20. Reaparelhar
Josué reaparelhou seu carro.
21. Reapossar
O índio reapossou sua terra.
22. Reaprender
O menino reaprendeu a jogar futebol.
23. Reapresentar
Maria reapresentou o trabalho.
24. Reaproximar
Ana reaproximou o móvel à parede.
25. Rearmar
O escoteiro rearmou a barraca no rio.
26. Rearrumar
A cabeleireira rearrumou a noiva.
27. Reassumir
Benedita reassumiu o cargo da empresa.
28. Reatiçar
O vento reatiçou o fogo na plantação.
29. Reativar
Maurício reativou a empresa.
30. Reatualizar
Ricardo reatualizou o estoque.
31. Reavaliar
O corretor reavaliou a casa.
32. Reavisar
Marcos reavisou Carlos da reunião.
33. Rebatizar
Bruna rebatizou o filho adotivo de Carlos.
34. Rebobinar
O pai rebobinou a fita.
35. Recair
Ana recaiu em tristeza. (metafórico)
36. Recapear
O governo federal recapeou a estrada.
37. Recapturar
A polícia recapturou o bandido.
38. Recarregar
Juliana recarregou o celular.
39. Recodificar
João Paulo recodificou toda a mercadoria.
40. Recolocar
Beatriz recolocou o fone no gancho.
41. Recomeçar
Marina recomeçou o trabalho.
42. Recompor
O flautista recompôs a música.
43. Recomprar
Pedro recomprou o mesmo carro
44. Reconciliar
A mãe reconciliou os filhos.
45. Reconduzir
O garçom reconduziu a dama até a mesa.
46. Recondicionar
Bento recondicionou o alto falante a falar.
47. Reconfigurar
Bento reconfigurou seu computador.
48. Reconquistar
Gisela reconquistou o papel de atriz.
49. Reconsiderar
Henrique reconsiderou sua decisão.
50. Reconsolidar
Lula reconsolidou o Brasil.
51. Reconstruir
O povo reconstruiu a cidade.
52. Recontar
O menino recontou todo o dinheiro.
53. Recriar
O artista recriou o quadro.
54. Redefinir
A mãe redefiniu a posição dos móveis.
55. Redemocratizar
O presidente redemocratizou o país.
56. Redescobrir
Isadora redescobriu sua beleza.
57. Redimensionar
O engenheiro redimensionou a maquete.
58. Redirecionar
O piloto redirecionou o avião.
59. Redistribuir
O pai redistribuiu a terra (entre os filhos).
60. Redividir
A professora redividiu a tarefa.
61. Redobrar
A empregada redobrou a roupa.
62. Reduplicar
Dilma reduplicou o preço da gasolina.
63. Reeditar
A editora reeditou o livro.
64. Reeducar
Carolina reeducou sua alimentação.
65. Reelaborar
Marcos reelaborou o projeto.
66. Reeleger
A população reelegeu Lula.
67. Reembarcar
Luma reembarcou no navio.
68. Reemitir
Sara reemitiu a nota fiscal.
69. Reempossar:
Carlos (se) reempossou da terra.
70. Reimprimir
Larissa reimprimiu o documento.
71. Reencarnar
A alma de Bruna reencarnou.
72. Reencontrar
Carlos reencontrou Ana um ano depois.
73. Reenrolar
Lucas reenrolou a fita.
74. Reensinar
O professor reensinou a matéria.
75. Reequipar
A mãe reequipou a casa com coisas novas.
76. Reerguer
O pedreiro reergueu o muro.
77. Reescrever
Sara reescreveu a carta para o pai.
78. Reestabilizar
Lula reestabilizou a economia do país.
79. Reestudar
O aluno reestudou toda a matéria.
80. Reexaminar
O médico reexaminou o paciente.
81. Refazer
Beto refez o trabalho.
82. Reflorescer
A planta refloresceu com a chuva.
83. Reformular
Luiz reformulou o projeto
84. Reintegrar
A Febem reintegrou o menor à sociedade.
85. Reinterpretar
Joana reinterpretou o papel de Madalena.
86. Reinaugurar
Amélia reinaugurou o restaurante.
87. Reingressar
Betânia reingressou na faculdade.
88. Reiniciar
O técnico reiniciou o computador.
89. Reinstalar
O menino reinstalou o jogo no laptop.
90. Reinstaurar
O pai reinstaurou a paz na casa.
91. Reinventar
Platão reinventou a retórica de Aristóteles.
92. Relançar
Araújo relançou a moda hippie no Brasil.
93. Reler
Mariana releu o livro.
94. Religar
Bruna religou a TV.
95. Remarcar
Márcia remarcou o encontro com Letícia.
96. Remodelar
Fabiana remodelou a jarra de barro.
97. Remontar
A criança remontou a maquete.
98. Renascer
A fênix renasceu das próprias cinzas.
99. Renegociar
Os comerciantes renegociaram o preço.
100. Reocupar
Luiz XV reocupou o trono.
101. Reordenar
A professora reordenou as crianças na fila.
102. Reorganizar
Rianny reorganizou seu quarto.
103. Reorientar
O cientista reorientou o satélite.
104. Repassar
O ator repassou o texto.
105. Repavimentar
A prefeitura repavimentou a rua da cidade.
106. Repensar
Miriam repensou o assunto.
107. Repintar
O pintor repintou o quadro.
108. Replantar
Fabiana replantou a árvore de maçã.
109. Repor
Marcela repôs o estoque da dispensa.
110. Repovoar
Noé repovoou a Terra (após o dilúvio).
111. Republicar
A editora republicou o livro.
112. Requentar
A mãe requentou o café.
113. Reestabelecer
O diretor reestabeleceu o nome da escola.
114. Retomar
Os republicanos retomaram o poder.
115. Revalidar
Lívia revalidou o contrato.
116. Revender
Rodrigo revendeu a casa.
117. Rever
Miriam reviu o trabalho.
118. Reviver
Laura reviveu a mesma história da mãe.
119. Reunificar
O governo reunificou a Alemanha.
A autora agradece o suporte financeiro da FAPEMIG (Bolsa IC)
A autora agradece o suporte financeiro do CNPq (Bolsa PQ) e FAPEMIG (Bolsa PPM).
Para uma maior clareza da descrição, anexamos esses dados em um apêndice final.
Vendler (1967) propõe a existência de quatro classes aspectuais do tipo lexical: atividades, estados, achievements e accomplishments. Estes últimos são verbos que indicam uma ação que se desenvolve no tempo, denotando um ponto de culminação e o ponto final.
Verbos de achievement são monoeventivos e télicos, descrevendo eventos que não se desenvolvem no tempo, ou seja, que são pontuais.
Realçamos que estamos utilizando o verbo sem o prefixo re-, pois a afirmação a ser testada é a de que o prefixo em questão ocorre com verbos que são de accomplishment e achievement
Segundo Rothstein (2004), ser um evento télico é ser um evento que tem um ponto final ou uma meta a ser alcançada.